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Você ainda Escreve Cartas?

Por: Eliana Rezende Bethancourt

Provavelmente se você for de uma geração que passou pelo analógico dirá que parou há muito tempo. E se for de uma geração um pouco mais recente dirá que NUNCA escreveu ou recebeu uma carta que não fosse um aviso de cobrança ou um cartão magnético.

Apesar disso, houve um tempo em que as cartas possuíam um ritual de produção e atenção. Eram artefatos para os sentidos. Muitos poderão se lembrar dos envelopes perfumados? Lembram-se deles?  Mas e agora, quando muitos não fazem ideia do que seja este tipo de troca?

Continue comigo por estes caminhos de memórias e sensibilidades, e quem sabe, se inspire!

Vejamos:

As formas de escrita sempre encontraram diferentes suportes e as cartas tal como os diários, representam uma forma de escrita ordinária onde imprime-se com o que se sente. As tintas, papeis, selos formam um conjunto que dizem tanto como as palavras. A materialidade dá as palavras um sentido de eternidade, de permanência.

Por isso, como historiadora meu olhar se fixa em detalhes que me informam sobre  remetente e receptor, sobre contextos de produção, circulação e guarda de formas documentais únicas e pessoalizadas. Registram fortemente laços, emoções e compõe junto com tantos outros o que história se chama de cultura material.

Para além disso, a relação com a escrita neste caso específico, é uma relação tátil e de afetos. Sob esta ótica, chegava a ser ritualística e envolvia um tempo cíclico composto de começo, meio e fim (não apenas em sua produção, mas em todo o circuito envolvendo o recebimento e sua guarda). Exigia uma composição que ia desde a escolha do tipo do papel, a tinta, o cunhar as palavras de próprio punho (em muitos casos, exercício árduo de boa caligrafia, praticada como arte ou prece em diferentes civilizações: como a árabe, chinesa, egípcia, mesopotâmica), a busca de um envelope que não alterasse o conteúdo fragilizado por formas de dobras e, óbvio: filas nos correios, compra de selos, o uso das colas e finalmente o encontro com uma caixa que servisse de fiel depositária até que esta encontrasse seu destinatário.

O recebedor da carta inspecionava quem lhe havia remetido, de onde, em que data e há quanto tempo ela viajava ao seu encontro, os selos e carimbo de registro indicavam o local e data de postagem, e por uma aritmética simples se sabia o tempo transcorrido entre envio e recebimento. Havia caminhos trilhados que seguiam por rios, mares, trilhas e montanhas. Podia levar dias ou até mesmo meses. A escrita em traços duráveis e em espaço íntimo trafegava por espaços públicos, de mão em mão, de pessoa em pessoa até o seu destinatário.
De fato uma grande elaboração!

Com tal caminho lento e tortuoso, sua leitura merecia igualmente uma liturgia: por isso não seria aberta em qualquer lugar ou diante de olhares inquiridores ou curiosos. Uma carta sempre significou algo pessoal e absolutamente privado, de interesse apenas ao seu destinatário. O melhor lugar poderia ser um escritório, uma sala, um quarto ou um canto qualquer num jardim ou espaço de conexão entre remetente e recebedor. Era ali, neste espaço quase sagrado, dado que privado, que era lida, relida e muitas vezes guardada afetuosamente entre os principais valores pessoais de cada um. Algumas continham o perfume dos papéis e até objetos que eram-lhes acessórios (pétalas, desenhos, e outros objetos que teciam com a carta os seus sentidos). A resposta quase nunca imediata necessitava do tempo da elaboração. Era preciso buscar todos os utensílios da escrita para além das palavras que expressavam de fato o sentido ao dito. A conexão propiciada entre tais objetos e os laços representados foram, no decorrer da história largamente representados por ficções literárias, teatrais e até cinematográficas. Sempre serviram de pano de fundo para enredos de afetos, amores, intrigas, ciúmes e todos os sentimentos mais humanos possíveis.

Como historiadora, todo este trânsito é fascinante e passível de muitas “leituras”. São modos de viver, pensar e produzir culturalmente: modos de estar. Uma carta tem a marca da cultura material que a produziu e por isso, é detentora de uma materialidade que conta algo único. Se inscreve no tempo e com todas as técnicas e tecnologias que este tempo possui: a letra cursiva que se debruça sobre um tipo de suporte composto pelo papel, pelo envelope, pelos selos, pela tinta e caneta utilizada. Mas também se inscreve como um conjunto de ideias e pensamentos justapostos para comunicar sentimentos, ordens, deveres, saberes, e tudo o mais que se possa compartilhar de forma pessoal e intimista.

Hoje, em tempos de tanta imediaticidade e consumo, tudo passa muito rápido, com economia silábica e fonética. As palavras deixam de ser pensadas e as correspondências giram em torno do imediato. Roubou-se a aura da palavra cunhada e da magia que seus complementos tinham (os selos, os papéis, os timbres, as tintas, o rebuscado de letras e formas, sua sinuosidade e curvas particulares).

A comunicação fonética é feita de modo a favorecer uma economia silábica para tipos impressos de formas mecanizadas, homogênicas e universais, produzidas com tintas de toners recicláveis em papéis produzidos massiva e monotonamente na mesma cor, padrão e gramatura. Em geral, tais escritos não chegam, além da materialidade digital e só em alguns casos conhecem as tintas. Seu tráfego vem por meio de trilhas digitais, que não levam mais que alguns segundos para chegar ao seu receptor. As informações destas mensagens, seus contextos de produção e circulação chegam através de metadados e com a passagem do tempo se perdem numa malha de desimportância, sufocada pelo acúmulo constante de mensagens que se justapõem.

Escrevi muitas cartas (imagine o trabalho que tive pelo tanto que sou prolixa!!!), recebi muitas e experimentei o prazer de estar longe do Brasil e aguardar ansiosa que alguma me chegasse. No período coexistia com e-mails, mas cartas ainda circulavam como última resistência a um mundo que insistia em mudar ante nossos olhos.
A adaptação houve. mas ainda tenho muito vincada em mim a experiência da escrita de próprio punho e as cartas para envio e comunicação.

Em meu ofício como historiadora e arquivista, já tive às mãos cartas escritas por pessoas que morreram há séculos, e tenho que dizer que é uma emoção ver ali a tinta impressa com a energia dos punhos de alguém como, por exemplo, Mário de Andrade. A forma como a caneta tinteiro modifica seus tons e como o papel vai ganhando um tom sépia à medida que o tempo passa. Uma carta em um acervo ganha tons e odores do Tempo e não fica indiferente a ele. É como ter entre os dedos notas de um passado pego num lapso de tempo no aqui e agora.

Os tempos hoje são outros:

Desaparecimentos e perdas são usuais e muitas vezes, temos a ingrata surpresa de descobrirmos que nossos conteúdos digitais foram para além das nuvens.

Obsolescências, superficialidades… pressa. São muitos os males que atingem nossas comunicações. Como disse, a relação é tátil e sensorial própria de um tempo que talvez tenha passado. Para nós, homens e mulheres de um tempo de transição, é às vezes difícil verificar como tudo passou tão rápido por nós.

Apesar de tudo, tento pensar que a qualidade dos textos se preserva e que apenas os suportes se alteraram. Mas infelizmente, todo o código social e cultural em torno dessas produções se alterou para sempre. O tempo dirá com quais resultados. Acho que o principal componente de todo este ritual de sensibilidades e cuidado era exatamente o Tempo e atenção dispensada ao seu preparo. Um verdadeiro mosaico de muitos prismas e sensações.

Você poderia perceber a atenção em cada detalhe material: o papel escolhido e sua textura, a tinta enquanto espessura e cor, letras trêmulas ou incisivas, as formas de dobra e até o tipo de envelope. Era tempo dispendido para comprar um selo, ir até uma agência dos Correios e lá postar. Tudo denotava cuidado, esmero, atenção e principalmente um dos recursos mais escassos que temos: tempo.

Hoje, a volatilidade é grande. Com os meios digitais apascentou-se o espírito ansioso. Mas, e todo o “conjunto da obra”? Como referir a emoção que, às vezes tínhamos quando víamos o carteiro? Lembro-me de ter corrido atrás deles algumas vezes com receio de que minha carta não chegasse.

Bons tempos…

Como falar disso a um natodigital?! Eles de fato não saberão, infelizmente, como é isso. Não serão nunca capazes de compreender o significado disso tudo, especialmente porque sua relação com o mundo tem muito mais que ver com toques, teclas. Enviar e apagar estão no mesmo espaço que os tipos gráficos para a escrita.

Acho que uma amarração fantástica para este tema sejam os filmes “O carteiro e o Poeta”  e “Central do Brasil” . O sentido das cartas que tecem vida é uma deliciosa lembrança e uma forma belíssima da ficção encontrar a escrita.

Estamos no mundo atual vendo a conformação de uma nova relação com as formas de escrita, seus suportes e os modos pelos quais nos relacionamos com nossas correspondências ordinárias. É um patamar de mudança cultural, e por isso é tão afeito aos nossos esquemas sensoriais. E por ser sensorial, imprime em nós muitas emoções e sensações. Não há nada de errado em uma forma ou outra. O que de fato importa é que a comunicação se estabeleça. Óbvio está que se vier com mais elementos que alimentem o sensorial, melhor! Anteriormente tínhamos todo um conjunto de códigos de posturas, que davam uma forte dimensão de “valor” ao que imprimíamos em tinta, era uma escrita de próprio punho com as inconstâncias e oscilações do que nos vinha pela alma. Hoje a escrita padronizada e eletrônica tira isso e muitas outras coisas… mas é uma passagem, e como tal precisa ser trilhada…

A experiência da escrita, interlocução e troca é uma das grandes aliadas no alargamento do espírito. Nos oferecem olhares que de onde estamos não enxergamos. Por isso, o tempo despendido em cada comentário, em cada correspondência tem valor agregado que não possui cifras, é intangível. 

O tempo da vida e as palavras que a nomeiam dão formas ao sentido e ao vivido pensado.  Nominar é, em última instância, “trazer à existência”. São com as palavras que expressamos ideias, sentimentos, projetos, sonhos, expectativas, reflexões, tecemos críticas e construímos pontes entre o sensível e o visível. Tudo isso as tintas fazem por nós. De punho ou em um jato de tinta contam ânimos e prismas de mundo. Com elas construímos e partilhamos o saber e o conhecimento. Construímos mundos…

Nas cartas havia todo o conjunto de sentidos que partiam junto com os escritos e daí talvez toda a sua magia. Eram remetidos com elas pedaços de nossas existências compostas, muitas vezes, com folhas secas, pétalas, fotografias, bilhetes de ingresso de lugares incríveis e até beijo feito em batom! Elas são de fato auxiliares sensoriais por onde nossas memórias encontram as vias de acesso ao passado.

Por isso, considero as cartas, tanto quanto fotografias e demais objetos de cultura material como de valor inestimável, e no interior das instituições devem ser consideradas pelo que são: Patrimônio Cultural/Documental que precisa ser preservado e cuidado para as gerações futuras. Informam, vincam e fortalecem a Cultura e Identidade destas Instituições e são a garantia de que vencerão o Tempo.

Por isso, se possui um acervo com tais preciosidades, não hesite em nos contatar. Teremos um prazer imenso em ajudar a como tratar e fazer falar tais mensageiros do Tempo.

COMO PODEMOS LHE AJUDAR?
Se você possui um acervo que seja Patrimônio Cultural/Documental e não sabe como zelar por ele, entre em contato com a ER Consultoria. Teremos enorme prazer em pensar numa Solução customizada para as suas demandas, ou para o tratamento técnico documental de acervos documentais e fotográficos e sua preservação e conservação.

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* Versão revista e atualizada de post publicado originalmente no meu Blog, o Pensados a Tinta

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O Valor do Conteúdo: uma reflexão

Por: Eliana Rezende Bethancourt

A questão da produção, circulação e valor do conteúdo em ambientes digitais é um tema que interessa muito e que é fundamental quando pensamos os ambientes em que estamos inseridos, sejam eles institucionais, públicos ou privados, sejam os meios educacionais e culturais. Em outras oportunidades, falei sobre qual seria o perfil do Gestor de Conhecimento e o que seria a Curadoria de Conteúdos: quem faz e como faz.

Nesta oportunidade especificamente não me refiro à produção de Conhecimento.
Para mim, tal produção requer algo muito mais aprofundado do que a mera explicitação de conteúdo em ambiente web. Tais conteúdos são relevantes para a circulação de informação e ideias, num ambiente mais ágil que pode levar eventualmente seus consumidores e interlocutores à uma reflexão, que pode originar a produção de uma abordagem mais elaborada. Esta sim podendo ser considerada a produção de Conhecimento, que em geral, será comunicada a partir de artigos acadêmicos e/ou científicos, e que portanto, de maior fôlego para veículos próprios para isso e que alcançarão um público mais especializado e gabaritado para interação e divulgação na sociedade.

É preciso que se diga que o mundo em web oferece muitas possibilidades para a produção de conteúdo, muitos deles bastante relevantes, mas como não transformar nossa produção apenas em ruído? Como não permitir que tal produção de conteúdo signifique, apenas e tão somente, mais registros e informações que se convertem em infointoxicação, um excesso que apenas causa ruído e não favorece aquilo que chamamos de valor? Entropia.

Facilidade e imediaticidade tornam os conteúdos, muitas vezes, massivos, repetitivos e na maior parte das vezes muito raso. Muitos não chegam a dois ou três parágrafos mal desenvolvidos e/ou suportados por bons argumentos e consistência.

De tanto ver chego a conclusão que os conteúdos em ambiente web oferecem pelo menos três dimensões de produção e propagação. Seriam elas:

Primeira, a dimensão horizontal, que é aquela que ao produzir conteúdos busca-se em outros sites e portais mais informação. É um universo de produção onde se aglutinam informações sobre informações para deles extrair mais conteúdo. Em geral, esta dimensão procura, nos seus iguais, informações para ou contestá-las ou fortalecê-las aliando-se a elas. O esforço aqui é muito mais quantitativo e por aproximação. Mas na maior parte dos casos não representa um diálogo. Neste horizonte, se não se tomar os devidos cuidados, o que acabará ocorrendo é uma cópia simplificada e rasa, ou ainda pior: um plágio por pura preguiça ou má fé.
Neste universo, o produtor ao invés de inspirar-se nos conteúdos encontrados e mostrar outras abordagens, ou aprofundar os mesmos, simplesmente cola e copia.

Segunda, a dimensão vertical. Nela há um maior aprofundamento dentro de uma determinada linha temática. A verticalização aprofunda na medida em que esquadrinha, disseca e verticaliza cada uma de suas variáveis ou aspectos. Em geral, o recurso à verticalidade dentro de um site ou portal é aprofundar temas levantados de forma superficial na abordagem horizontal citada acima. Representa, em verdade, uma tentativa de adensar alguns aspectos onde a horizontalidade não permitiu.
Quando este exercício é bem executado a produção de conteúdo começa a ganhar consistência e valor. Aqui o produtor não é um mero reprodutor do que encontrou. Começa a buscar conexões possíveis e avança, ainda que em uma única direção.
O cuidado aqui é não tornar-se monotômico e falar SEMPRE DA MESMA COISA. Isso irá dar a sensação de que o produtor de conteúdo ao invés de ser um especialista é alguém com profundos receios e inseguranças, e que só é capaz de se movimentar dentro de um quadrado bem delimitado de ideias e concepções. Acabará por também limitar e circunscrever seus leitores, que diante de tantas ofertas migrará para outra parte por começar a achar que nunca há novidades e que sempre tem-se a impressão de já ter lido aquele conteúdo.
Note que aqui o conteúdo talvez seja mesmo bom, mas a monotomia oferecida fará com que o desinteresse passe a predominar e o valor deste conteúdo diminuirá cada vez mais.

E, por último temos a dimensão transversal, que é exatamente a busca de expandir ideias para além de suas fronteiras e encontrar em informações correlatas formas de ‘alargar’ conteúdos. Neste caso, entendo que uma ou mais linhas de verticalização serão cruzadas e expandidas em outras direções a partir de outros conteúdos produzidos por outros. Assim funciona de forma muito parecida com os recursos de hipertextos que usamos em várias circunstâncias.
Para a produção de conteúdos esta dimensão é que possui maiores chances de produzir conteúdos relevantes, interessantes e diversos.
Aqui o produtor de conteúdo mostrará ousadia e estará incessantemente se desafiando e desafiando seus leitores à novos horizontes e ideais. A imaginação e curiosidade serão seus maiores trunfos, tanto sua quanto de seus leitores. Sua imaginação criativa e curiosidade o lançarão há novos horizontes que o desafiarão a estudar e conhecer outros caminhos e possibilidades, de outro lado, a sua curiosidade o alimentará na mesma proporção que seus leitores serão incentivados à ela.
Atingir este ponto é altamente compensador e os resultados visíveis.

Esta estratificação permite que a informação seja produzida e trafegue por várias instâncias, e que em especial, atenda diferentes públicos e melhore seus objetivos. Apesar disso tudo, aflige-me a superficialidade que os tempos de web oferecem. Anteriormente esta produção tinha apenas um matiz que era a forma escrita. Rapidamente ganhou formatos de hipertextos e links, para seguir por outros formatos como os podcats, vídeos sua febre mais atual, as lives. Independente daquilo que seja seus meios ou suportes de veiculação, algumas perguntas necessitam ser feitas:

Não teríamos que ir mais longe e mais fundo?
Pode ser, mas como ir contra toda uma tradição onde o mundo é compartimentado em pequenos extratos e partes, a que se chama especialização?

O que se passa?

Este compartimento esquadrinhado que o “Saber” acabou nos colocando nos leva a um ponto de limitação. O grau de especialização tornou as pessoas muito mais suscetíveis a saberem cada vez mais de uma coisa só, e este é apenas um lado da questão.
De outro lado, e não menos importante, está a defesa desta compartimentação devido às inúmeras concepções sobre o que vem a ser conhecimento.

A produção de conteúdo objetiva sempre atender um determinado público, e este a cada dia é mais diversificado na mesma proporção em que é desatento. As pessoas, que em geral, são as receptoras destes conteúdos: basicamente planam sobre os temas que são de seu interesse quicando aqui e ali sem de fato se concentrar no que busca.

Há ainda os que definitivamente não sabem o que procurar. Simplesmente esperam lançar uma palavra e lá encontrar, tanto as perguntas quanto as respostas, mesmo que não sejam as suas.

Fico muito preocupada ao constatar que há uma massa monumental de pessoas que mesmo longe de áreas de formação, mas sim inseridas no mundo social, também acabam por preferir parcelas segmentadas de tudo. Um planar sobre tudo e uma real impossibilidade de seguir profundamente algo.

O ambiente web e todas as suas potencialidades deveriam fazer as pessoas conseguir ir mais longe, mais fundo e com muito menos fronteiras e limites. No entanto, o que vejo se configurando nesse ciberespaço é exatamente o contrário disso tudo. Talvez tenha sido essa a minha motivação de proposição: afinal porque está sendo cada vez mais difícil encontrarmos conteúdos relevantes? O que falta?
Porque será que cada vez mais as pessoas deixam de se importar e até preferem que os conteúdos sejam cada vez mais sintéticos, em nome de uma pressuposta objetividade?
É a irrelevância o maior objeto de consumo?

Mas Conhecimento não é consumo!
E aí temos um nó górdio. Nossa atual civilização se importa muito pouco com o Conhecimento. A informação massificada e generalizada à toque de uma ‘Goolgada’ leva as pessoas tanto a consumir como a produzir platitudes. A preguiça intelectual é generalizada e mantém conteúdos massificados, rasos e rápidos. As lives nos dias de hoje, tem sido um bom exemplo de platitude com pressa à mistura. A ânsia de achar que “inova” com uma resposta rápida para consumo imediato leva ao engodo de uma proliferação sem sentido e medíocre de lives para tudo e qualquer coisa. Cansam pela proposta rudimentar de repetir o mais do mesmo.

E ainda há a preguiça da produção de conteúdo de valor e original. A sociedade do copia e cola tem muitos problemas no que concerne a produção de ideias inéditas ou que ofereçam abordagens diversas das que estão em voga. Aí é muito comum nos deparamos com o pior que a produção de conteúdos pode conter: o plágio.

A questão de autoria na produção e valor do conteúdo

Atualmente a noção de autoria e produtor de conteúdo parecem confusas e se notarmos até a Lei de Direitos Autorais votada no Brasil em 1998 apresenta sérias confusões em relação a isso. Já que o produtor, em especial na web, faz isso com espírito de compartilhamento, doação em beneficio de uma “coisa pública”. Em geral, não está preocupado com a autoria porque acredita que essa é apenas uma variável entre muitas possibilidades.

Ou seja, de um lado há a ideia da generosidade de doação por parte de uns e a má fé irresponsável por parte de outros, onde deixa de creditar uma ideia, um pensamento e assim por diante.

Fica claro portanto, que há muitas interfaces a ser tomada em consideração na produção de conteúdo.

Mas produzir conteúdo não é tudo! Sou adepta de que é preciso produzir com qualidade.
Não consigo pensar na produção de conteúdo como sendo algo sem interesse, verticalidade e profundidade, ainda que para um post que integrará um portal ou um site ou mesmo uma live.

É óbvio que é necessário criar formas de registro simples, eficientes, acessíveis e -insisto neste ponto – altamente compartilháveis, seria uma solução. Mas por outro lado, e também muito importante, seria necessário mudar a atitude dos mortais em relação ao acesso a estes registros, estas informações, e desses conhecimentos gerados.

De um lado, teríamos uma atitude que deveria ir na direção de ser capaz de veicular informações sólidas, mas de forma acessível para que cada vez mais pessoas se interessem pela consistência. Aqui a questão de saber comunicar é fundamental. A magia está em tornar simples e palatável algo que definitivamente é profundo e complexo. A mediação aqui do produtor de conteúdo é fundamental. É dele a função de agregar valor ao que expõe. Fazendo isso produz-se um círculo virtuoso de valor e não um circulo vicioso de platitudes que não servem para quase nada.

O produtor de conteúdo tem que compreender que seu papel é comunicar ideias relevantes. Pode ser um eficiente mediador entre a circulação de informação e a produção de conhecimento.

Por isso, cada vez mais sinto falta do sentido de humanismo ao qual me filio e gosto de adotar, ou seja, esse sentido de que não se deve excluir nunca. Temos sim que comunicar e intercambiar áreas, saberes, perspectivas. Oferecer sempre portas para que mais descobertas se deem. Não cabe ao produtor de conteúdo a última palavra. Ele é apenas um veículo, um facilitador para que mais conteúdo seja produzido, ainda que seja na direção oposta à sua.

Este mundo segmentado, compartimentado e fechado em si não pode ir muito longe ou avançar a outros horizontes. Quando deixarmos ruir todos esses compartimentos e muros, erguidos por vaidade ou ignorância, aí sim o Conhecimento será definitivamente algo democrático de ser alcançado e sonhado por ampla parcela de pessoas e/ou organismos.

Como podemos ajudar?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para auxiliá-lo na melhor configuração de uma Arquitetura de Informação para o seu Portal Institucional ou mesmo em como proceder a produção e curadoria de conteúdos que de fato atinja seu público alvo.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer.

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Empatia e gentileza: para quê, para quem e porquê?

Por: Eliana Rezende Bethancourt

Há tempos quero falar sobre estas duas características, cada vez mais raras e quase sempre tão confundidas. A dificuldade se dá exatamente porque no mundo corporativo elas parecem ceder vez a outras palavras que ultimamente estão virando moda, como por exemplo: inovador, criativo, pró-ativo, entre outras.

De outro lado, empatia e gentileza são características que não estão no rol de termos monetizáveis. E ainda mais: não nascem como virtude e nem se adquirem ao se frequentar uma escola. Não estão à venda, nem são itens de consumo rápido, obtido por entregas via cartão de crédito. Sua maior característica é a gratuidade voluntária e extensiva, sem esperar portanto, nada de volta. Daí talvez sua grande dificuldade de ser aplicada numa sociedade tão consumista e capitalista, onde valor está sempre ligado à monetização. Não é este o caso aqui.

São qualidades ligadas diretamente ao autoconhecimento que cada um pode e deve desenvolver. É uma entre tantas competências comportamentais que deveríamos nos esforçar a ter e demonstrar.

As dúvidas se avolumam e questões sobre para quê, porquê e a quem são grandes, em especial em tempos de coronavírus onde diuturnamente tais qualidades são testadas na capacidade de todos em praticá-las nas suas diferentes facetas de existência social.

Partindo de tanta dificuldade, resolvi iniciar minha busca pelos dicionários. As interpretações são muitas e várias, suas aplicações alcançam um número ainda maior. Mas das definições que vi escolhi estas:

“Gentileza é a qualidade do que gentil, do que é amável. Gentileza é uma amabilidade, uma delicadeza praticada por algumas pessoas.
A gentileza é uma forma de atenção, de cuidados, que torna os relacionamentos mais humanos, com menos rispidez. Quem pratica a gentileza não tem má vontade, não é indiferente e sim é cuidadosa, distinta e delicada.
As gentilezas devem ser praticadas com lhaneza, ou seja, com sinceridade e simplicidade, pois melhoram o convívio entre as pessoas.”

Para empatia o significado é assim descrito:

“Empatia significa a capacidade psicológica para sentir o que sentiria uma outra pessoa caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela. Consiste em tentar compreender sentimentos e emoções, procurando experimentar de forma objetiva e racional o que sente outro indivíduo.
A empatia leva as pessoas a ajudarem umas às outras. Está intimamente ligada ao altruísmo – amor e interesse pelo próximo – e à capacidade de ajudar. Quando um indivíduo consegue sentir a dor ou o sofrimento do outro ao se colocar no seu lugar, desperta a vontade de ajudar e de agir seguindo princípios morais.
A capacidade de se colocar no lugar do outro, que se desenvolve através da empatia, ajuda a compreender melhor o comportamento em determinadas circunstâncias e a forma como o outro toma as decisões.
Ser empático é ter afinidades e se identificar com outra pessoa. É saber ouvir os outros, compreender os seus problemas e emoções. Quando alguém diz “houve uma empatia imediata entre nós”, isso significa que houve um grande envolvimento, uma identificação imediata. O contato com a outra pessoa gerou prazer, alegria e satisfação. Houve compatibilidade. Nesse contexto, a empatia pode ser considerada o oposto de antipatia.
Com origem no termo em grego empatheia, que significava “paixão”, a empatia pressupõe uma comunicação afetiva com outra pessoa e é um dos fundamentos da identificação e compreensão psicológica de outros indivíduos.
A empatia é diferente da simpatia, porque a simpatia pode é maioritariamente uma resposta intelectual, enquanto a empatia é uma fusão emotiva. Enquanto a simpatia indica uma vontade de estar na presença de outra pessoa e de agradá-la, a empatia faz brotar uma vontade de compreender e conhecer outra pessoa.
Na psicanálise, por exemplo, a empatia significa a capacidade de um terapeuta de se identificar com o seu paciente, havendo uma conexão afetiva e intuitiva.”

 

Buscar no dicionário foi a forma de procurar mostrar que, tanto uma quanto a outra, não tem nada a ver com educação ou quaisquer modalidades atribuídas ao espírito cortês e romântico que se espera de casais apaixonados. Gentileza, não se pratica dando bom dia, pedindo com licença, por favor, obrigado. Muito menos é enviar flores com cartão, abrir a porta do carro, segurar a porta do elevador.
Isso tudo é desejável, mas está apenas na categoria de boa educação.

Gentileza e empatia definitivamente são outra coisa. Elas envolvem uma real percepção de quem seja o outro. Enxergá-los em sua plenitude e verdade, e respeitá-los apesar de, ou por isso. É ter pelo outro a mesma consideração e respeito que deve ter por si mesmo. Antes e acima de tudo, ter a capacidade infinita de simplesmente saber se colocar no lugar do outro em certas circunstâncias. Um exemplo disto pode ser lido no post “O trabalhador Invisível“, que escrevi

Saber ter palavras que em vez de ferir como lâminas, sejam antes de tudo um bálsamo que alivia e até cura. Significa ser bom ouvinte. Atento e cuidadoso, que saiba colocar cada palavra no seu devido lugar.
Ser gentil é saber andar sem armas. É saber conciliar todos em torno do que realmente interessa. Mesmo quando os ânimos estão em uma panela de pressão.

Gentileza e empatia são modos de ser, estar, agir, enxergar o mundo, a vida e as pessoas.

 

Daí dizer que gentileza e empatia vão muito além de boa educação ou cortesia aplicada às etiquetas e convívios sociais. Elas não constam nos currículos escolares exatamente porque tem a ver com sistemas de valores pessoais e éticos, que se exprimem num desejo sincero de contribuir para que o mundo e as relações à sua volta sejam mais humanas e tragam mais contentamento.

Quem as exerce é por natureza uma pessoa que pratica a justiça. Mas não apenas a que lhe beneficia, mas especialmente a que toma em conta os outros.

Gentileza e empatia envolvem não apenas aquele vestígio impessoal do tipico cumprimento “e aí, como vai?” e já virando as costas antes que a resposta seja devolvida. Significa o interesse de um olhar frontal, sincero com ouvidos atentos. É doar seu tempo.

Elas têm seu espaço em todas as circunstâncias de vida, sejam pessoais, profissionais, familiares ou digitais. Isso porque todos somos, ou deveríamos ser, apenas um. Praticadas no trabalho ou com pessoas que nos veem alguns minutos por dia são muito mais fáceis. Mas, e com aqueles que dividimos o teto, as paredes, a vida?

A gentileza e empatia estão, sem dúvida, ligadas ao autoconhecimento que cada um precisa ter de si e do mundo que o cerca. Sem ele, no máximo a pessoa será apenas e tão somente educada.

E você? Como tem exercitado a gentileza e empatia na sua vida?
Fez isso hoje? Fez ontem?

Seguirá fazendo?

Pergunto pois em tempos de pandemia de coronavírus estamos assistindo uma “corrida” desesperada de muitos pelo “primeiro EU”. Contrariando tudo o que seja gentileza e empatia, alguns seres humanos mostram sua pior face e em momentos extremos chegamos a ficar chocados. A empatia é exercício diário e cotidiano que não escolhe a quem nem como. Simplesmente deve ser um esforço pessoal de aprimorarmos em nós e confiar na possibilidade de uma contaminação positiva.

* Post publicado originalmente no meu Blog, o Pensados a Tinta e atualizado para esta publicação.

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Algoritmos: os hábeis limitadores

Por: Eliana Rezende Bethancourt

Há tempos venho pensando, e com certo incômodo que a partir do desenvolvimento de ferramentas com fins claros de determinar perfis, gostos, nichos e vontades dos consumidores uma lógica perversa se deu e tornou-se um limitador.
Observe:
Todas as vezes que realizamos uma busca, qualquer que seja, imediatamente algoritmos começam a selecionar quais as respostas que são as nossas preferidas, e dia-a-dia, pesquisa após pesquisa começam a aprender sobre nosso perfil, nossos gostos e desgostos. Isso por si só não seria o problema. O problema piora logo a seguir, pois para haver uma customização de nossos gostos e preferências, quase sempre somos levados aos mesmos lugares e quase que invariavelmente, às mesmas velhas respostas. É a famosa existência dentro de uma bolha.

Quase sem notarmos estamos fornecendo um padrão de comportamento que ao incluir determinadas opções exclui uma outra gama de possibilidades e alternativas diversas.

Vista sob esta ótica, a internet é portanto, finita e cerceada.
Explico:
As opções são infinitas até a primeira pergunta lançada em um buscador. A partir daí somos levados a andar por caminhos escolhidos por nós e armazenados por algoritmos. Quanto mais eficientes forem, mais nos tirarão possibilidades e caminhos inusitados. Andaremos em círculos, visitando sempre os mesmos lugares, pessoas, respostas, atividades, temas…

Nesta construção, as possibilidades de inovação e de sermos apresentados a algo completamente novo e diferente reduzem-se cada vez mais, a quase zero.

Uma vitória para as áreas de Marketing que querem em verdade vender um produto, ao mesmo tempo em que nos transforma em um. Embalados e vendidos ao mercado para sermos potenciais consumidores deste e daquele produto. Os algoritmos acabam por tornar a liberdade um produto quadrado e previsível, repetido infinitamente.

É uma lógica sem benefícios para nós usuários em uma primeira instância, mas com certeza a todo o conjunto da sociedade em um nível e alcance ainda maiores.

Ao acontecer esta lógica de mercado, ergue-se o muro contrário a toda e qualquer possibilidade de produção de Conhecimento e Inovação de forma espontânea. A internet, seus algoritmos e buscadores, fazem o contrário do que Conhecimento e Inovação necessitam. Afinal excluem o novo, o diferente, o inusitado. Levam-nos sempre aos mesmos lugares e por consequência às mesmas respostas e caminhos. Sair deste circulo vicioso e tortuoso requer por parte do que busca Conhecimento e Inovação um esforço extra: significará muito autoconhecimento.
Precisará se ter consciência do quanto está limitado dentro destes caminhos para tentar fugir desta  lógica cega e consumista tão favorecida por algoritmos, e tão amplamente usada pelo Marketing em geral.
E ainda não incluo aqui um outro conceito que é o de invenção. Muitas vezes até confundido com inovação. Mas que não é o caso aqui.
A inovação não necessariamente requer uma invenção! Na maior parte das vezes ela exige muito menos de quem a propõe, já que esta baseia-se em algo que já existe e faz simplesmente uma adequação, ampliação, um novo uso. Mas mesmo tomando-se a conceituação de inovação neste sentido, ainda temos muita limitação gerada pela forma como hoje buscadores e diferentes áreas se utilizam destes algoritmos.

Daí a afirmação que, ao invés de estarmos com alto grau de desenvolvimento tecnológico e de grandes descobertas, na verdade andamos às voltas com os mesmos lugares, respostas, caminhos. Em pouco tempo teremos um universo feito de restrições potenciais que só poderão ser quebradas por sujeitos conscientes e independentes. Algo cada vez mais raro, já que as pessoas cada vez mais delegam a botões, buscadores e algoritmos o que pensam ser a melhor escolha. O estatuto de “verdade” que grandes buscadores como Google alcançam no imaginário popular é avassalador e ao mesmo tempo destrutivo enquanto potencialidades.

E mesmo para as áreas de Marketing, que em teoria deveria prezar muito a inovação, ver-se-ão em pouco tempo igualmente restritas a um dado espaço e com um determinado perfil de usuário/cliente. E o que é mais grave: com quase ou nada a oferecer de novo, já que as grandes inovações tenderão cada vez mais a ser recusadas pela massa complacente de apertadores de botões e mesmices.

De outro lado, esta mesmice a que me refiro não se encontra apenas dentro da internet, encontra-se também nos meios que usamos para a utilizarmos. É só prestar atenção: desde que foram inventados computadores e celulares temos exatamente as mesmas telas, botões, funções.
Olhe os teclados: sempre os mesmos, olhe a sua sequencia…sempre as mesmas.
Observe o que cada tecla faz, e descobrirá que são sempre as mesmas coisas.
Os computadores não deixam de ser as mesmas caixas retangulares que nossos avós viram nascer a televisão, ou retroagindo um pouco mais os rádios. Telas escuras que reproduzem sons e imagens…
É uma caixa onde entretenimento é oferecido para se passar o tempo.

Até mesmo a forma de usarmos o telefone, suas teclas e sons são exatamente as mesmas e que já vem de muito longe, provavelmente desde a máquina de escrever. Não importa se seu aparelho é um iPhone de última geração ou aquele vendido em qualquer galeria de contrabando… não há inovação! Funcionam exatamente da mesma maneira. E o pior de tudo, é que não haverá mudanças substanciais. Em verdade, tais tecnologias precisam ser pobres, medíocres para que possam ser consumidas em larga escala. Trabalhar para a inovação aqui é segundo esta ótica, contraproducente. Como inovar a tal ponto que as pessoas simplesmente deixem de consumir porque não sabem como utilizar?
Donde se deduz que temos a tecnologia não para inovar, mas para atrofiar mentes e comportamentos, nada além disso.
Simples assim…

E ainda precisamos falar das “prisões” propiciadas por plataformas, aplicativos e outros brinquedos. Mantém entretidos e dispersos boa parte destes usuários desavisados. Assim, gigantes como Facebook mantém reféns seus usuários impedindo que saiam de seus domínios, não permitindo, por exemplo, que vídeos, matérias e outros recursos sejam notados por seus algoritmos. O usuário, sem perceber, só lê, assiste e visualiza o que é produzido e gerado ali dentro. E de lá só sai quando seu aparelho é desligado por falta de carga, pois em geral, as pessoas nem desligam mais seus aparelhos.
A sensação que tenho olhando isso tudo é a de que ofereceram uma prisão numa ilha com grades de frente para o mar. Esta é imagem que tenho. O prisioneiro ali dentro acha que tem um horizonte imenso à sua volta, no entanto está ali só e aprisionado.

A lógica do aprisionamento se repete atualmente com o uso de infinitos tipos de APP (aplicativos), alguns denominados super aplicativos como os que vem sendo utilizado na China. Neles TODAS as suas ações cotidianas podem ser feitas: de compras de legumes, pagamentos de contas, solicitação de transporte e movimentações bancárias, entre outras coisas. A contrapartida é ceder TODOS OS SEUS DADOS. Com isso, você se torna o grande produto do mundo em mercado. As implicações para este caso são muitas e variadas e nos colocam sob o impacto de uma rendição voluntária para o acesso às pretensas facilidades oferecidas: em todos os casos perda nossa segurança, privacidade só para começar.

Como dito por Lionel Bethancourt: “a tecnologia que nos deveria dar asas, acaba por nos impor grilhões”, e acrescento: com nosso consentimento e busca.

Mas então, como lidar contra estes hábeis limitadores? Sendo mais críticos e atentos que eles.
O objetivo deles é claro. Cabe a todos como inteligências individuais buscar caminhos diversos sem ter apenas a atitude passiva de seguir e consumir. A inteligência humana PRECISA, para sobreviver, ser melhor e maior do que as supostas inteligências artificiais. É esta inteligência humana que potencializa o maior de todos os nossos legados: a criatividade, que só se manifesta em toda sua plenitude quando a liberdade está presente oferecendo amplitude e diversidade de visões.

Sem esta liberdade criativa o único produto que teremos será o ‘ouro de tolos’.

É para se pensar…

Como podemos ajudar?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para o desenvolvimento e aplicação da Gestão de Conhecimento para a produção de Conhecimento e Inovação. Além de podermos orientar boas práticas em relação ao uso de ferramentas tecnológicas com vistas a produção e tramitação de documentos digitais.

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* Versão revista e atualizada de post publicado originalmente do meu Blog, o Pensados a Tinta

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Relação entre Cultura Organizacional e Memória Institucional

Por: Eliana Rezende & Lionel C. Bethancourt

O termo Cultura Organizacional é amplamente usado no mundo corporativo, mas na maior parte das vezes apenas como um chavão sem que os envolvidos definitivamente atentem para o quê de fato significa, como se relaciona com a instituição, e como esta em última instância refere-se à Memória Institucional.

O objetivo deste post é tentar esclarecer conceitualmente um e outro termo e de que forma a instituição, possuindo clareza sobre o que são, possa trabalhar para fortalecer sua Identidade.

Assim sendo, comecemos por tentar definir o que seja Cultura Organizacional.
Em primeiríssimo lugar é preciso dizer que o termo pode ser considerado polissêmico, e neste sentido possuir várias acepções. Escolho portanto, a definição que melhor esclarece, do ponto de vista de minha atuação, o mesmo.

Cultura Organizacional, são os valores e comportamentos que contribuem para o ambiente social e psicológico únicos de uma organização.

A Cultura Organizacional inclui as expectativas da organização, suas experiências, sua filosofia e os valores que a mantém unida, e é expressa na sua auto-imagem, seu funcionamento interno, as interações com o mundo exterior, e suas expectativas futuras. Baseia-se em atitudes compartilhadas, crenças, costumes e regras explicitas e tácitas que foram desenvolvidas ao longo do tempo e são consideradas válidas.

O termo Cultura Organizacional, também chamada de Cultura Corporativa, é evidente:

  1. Nos modos da organização conduzir seus negócios, tratar seus funcionários, seus clientes e a comunidade em geral;
  2. Em que medida há liberdade e é permitido a tomada de decisão, o desenvolvimento de novas ideias e a expressão pessoal;
  3. Em como o poder, e o fluxo de informações, flui através de sua hierarquia, e;
  4. No quanto os funcionários são comprometidos com os objetivos coletivos.

É fundamental pois, afeta a produtividade e o desempenho da organização, e fornece orientações sobre o atendimento ao cliente e serviço, qualidade e segurança dos produtos, atendimento e pontualidade, e preocupação com o meio ambiente, seu contexto. Mas não apenas isso, ela também se estende aos métodos de produção, marketing, práticas de publicidade, e a criação de novos produtos.

Por todas estas características, vemos que é única para cada organização. E exatamente por esta exclusividade específica é uma das coisas mais difíceis de se alterar e/ou modificar. É única porque está imbuída daquilo que chamamos a Identidade Instituição, como uma digital. Mas está lá, e a cada vez que uma instituição se “reconhece” em suas práticas e modos de atuar reforça esta Identidade.

De outro lado, a Cultura Organizacional se relaciona muito com a Memória Institucional, pois esta lhe diz e mostra os caminhos já trilhados. Mostra de onde veio e aponta sua trajetória futura a partir das escolhas realizadas no presente. É portanto, fruto de uma História construída e constituída no tempo.
Pensada desta forma, a Memória Institucional transforma-se em ferramenta de gestão estratégica para o fortalecimento da Cultura Organizacional.

Em outro artigo expliquei como a Memória Institucional é Ferramenta de Gestão Estratégica e sua importância em ser levada à sério pelos responsáveis pela Gestão Organizacional. Fazer isso, mostra que a instituição tem maturidade e age com Responsabilidade Histórica com seu legado e na herança que preserva e mantém para as gerações futuras. Em dois artigos desenvolvi esta concepção: Patrimônio Cultural e Responsabilidade Histórica: uma questão de Cidadania e o outro Planejamento Estratégico e Responsabilidade Histórica. 
Diante disso, podemos deduzir que: a Cultura Organizacional, a Memória Institucional, a Gestão de informação  são fundamentais para uma boa Gestão Estratégica e se decupam, uma dentro da outra, para a empresa fazer sentido do seu contexto, produzindo em última instância Inovação e Conhecimento. Como se observa, os temas são interdisciplinares, e indicam por parte de gestores a fundamental postura de olhar flexível, inter e multidisciplinar. Sem este olhar muito se perde e pouco se constrói no tempo. Pondo em risco a manutenção da Instituição como relevante e pertencente à uma conjuntura que se perpetua pela história.

Políticas simples e rápidas que preocupam-se apenas em “poupar recursos”, atingir metas e conseguir balanço anual positivo são altamente limitadas e limitantes. Estrategicamente história institucional não se faz com planilhas. Sua construção é árdua e a perenidade não se dará apenas e tão somente por resultados econômicos positivos. Facilmente estes dados se esfacelam e NADA sobrará sobre quem de fato edificou e fundou estas organizações. A inteligência histórica destes gestores será validada pelo grau de permanência de sua Instituição no Tempo. 

Como podemos ajudar?

Se a sua organização precisa reforçar sua Cultura e Identidade Institucional e aceita o compromisso de ter Responsabilidade Histórica ao realizar isso, nos contate. Teremos imenso prazer em pensar como realizar isso a partir de um Projeto de Memória Institucional. Ao mesmo tempo, poderemos pensar em formas de zelar por seu Patrimônio Cultural/Documental.
Ao realizar isso, cuidamos da Memória Institucional garantindo que a cultura e a identidade organizacional se solidifiquem, ao mesmo tempo em que auxiliamos nas formas como a informação possa estar acessível, organizada e em locais próprios como Centros de Documentação e/ou Memória.

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Museus: Faces e Fases de uma Metrópole

Por: Eliana Rezende

Como poderíamos, por meio de determinados ícones de arquitetura e cultura, entender uma metrópole?

Experimente fazer isso com alguns deles.
Comecemos por dois. Com acervos e localização à parte, os prédios da Pinacoteca do Estado de São Paulo e o MASP (Museu de Arte de São Paulo) podem nos trazer pistas interessantes sobre a metrópole e suas faces. Contam-nos boas histórias de um outro tempo e da criatividade e determinação de seus arquitetos e idealizadores.

Um é representante de uma arquitetura tradicional de princípios do século XX, com projeto do escritório de Ramos de Azevedo (1896-1900) e que no decurso do tempo sofreu diversas reformas e intervenções. A última delas ocorrida na década de 1990, durante a gestão de Emanoel Araújo como diretor da instituição. E de um projeto de recuperação do prédio assinado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha.

O outro é representante de uma arquitetura moderna.
Em 1958, a arquiteta Lina Bo Bardi projeta o edifício da avenida Paulista, atual sede do museu. Foi inaugurado em 1968 com a presença da rainha Elizabeth II da Inglaterra, logo após a morte de seu fundador, Assis Chateaubriand (1892-1968).

Pensar estes dois prédios é de fato pensar de que forma o cosmopolitismo de São Paulo perpassa bairros, épocas e composições. Olhar o vão livre do MASP é espreitar sob um janela de 74 metros estendida sobre o asfalto e de alguma maneira tomada pelos paulistanos e por suas construções em concreto à sua volta. Tem uma linguagem que, para mim que sou leiga, é limpa, linear, moderna, sem excessos ou rebuscados.

A Pinacoteca é fruto de um prédio que pareceu, no decurso do tempo, ser fruto de uma constante reforma, e que por empenho de muitos, com um acervo impecável e uma programação irrepreensível, tornou-se uma referência do coração da cidade. Plantada numa área histórica, se impõe como um edifício que salta aos olhos e que para nós paulistanos, dá uma sensação de nos sentir em casa. Carrega em si todas as nossas contradições urbanóides. A sensação de luminosidade e espaço em seu interior contrastam com uma cidade sufocada por trânsito, congestionamentos de carros e de almas que tem em suas bordas toda a marginalidade e decadência do craque, da prostituição.

De fato, duas pauliceias: prazer estético e contradições para todos os que por elas passam.

O vão livre do MASP a cada dia parece menor em vão e mais ocupado em gentes. Espaço de constantes manifestações e ocupações, é palco de vida pulsante.

Para além disto, o MASP parece ser o signo de toda a nossa contradição: um esforço de ser moderno, viver com suas dificuldades, usos e abusos heterogêneos de espaços, riqueza cultural e patrimonial, em meio a um poder público omisso e ausente. Sua riqueza de acervo contrasta com problemas estruturais de múltiplas gestões e muitas ausências de políticas culturais e financeiras. De fato, temos no MASP a expressão de tudo junto: essa Pauliceia sôfrega por tantos problemas, ritmos e possibilidades.

A Pinacoteca e todo seu conjunto arquitetônico, em torno da Luz, tem uma vitalidade histórica contrastante com tantos problemas sociais e de ocupação à sua volta. Mas é uma ilha de prazer estético e entrar dentro dela parece nos levar para outro tempo… outra sensação. É um ponto de oxigenação para mentes e meio de encontrar diálogos para formas e estéticas.

Icônicos em composição, ocupação, funções e atribuições revelam as muitas contradições que só uma megalópole como São Paulo tem.

Mas as faces e as fases de Sampa não são apenas estas.
Podem estar no caleidoscópio de outros ícones que se espalham pela cidade e que dão conta de outros trechos de longas histórias.

Um terceiro exemplo é o Museu Paulista, mais conhecido como o Museu do Ipiranga.
O arquiteto e engenheiro italiano Tommaso Gaudenzio Bezzi foi contratado em 1884 para realizar o projeto de um monumento-edifício. O estilo arquitetônico, eclético, foi baseado no de um palácio renascentista, muito rico em ornamentos e decorações.

Seu acervo riquíssimo dá ao seu conjunto arquitetônico ainda mais interessência e prazer estético. Escadarias internas e externas, colunas e tetos adornados, ladeado por belos jardins planejados e inspiradores. O primeiro projeto paisagístico, por exemplo, é de 1909 do belga Arsênio Puttemans. Nos anos 1920 o jardim foi remodelado, desta vez pelo alemão Reinaldo Dierberger. Leia mais aqui, sobre a importância de tais projetos paisagísticos na construção da identidade nacional e suas relações com os espaços urbanos.

É de fato um museu que se derrama por seu entorno e que acolhe todos os que fazem de seus jardins uma extensão de suas próprias casas. Permite por meio de suas calçadas e jardins uma comunicação interessante entre os espaços de dentro e de fora. Democrático nos seus sentidos de uso, via a diversidade de utilizadores encontrar-se todos os dias com pesquisadores em busca de seu acervo documental e rica biblioteca.

Sem dúvida, está entre o mais querido e lembrado por todos os que visitam ou moram na cidade.
Mas também é outro museu que vive de contradições tal como os citados acima. Infelizmente para todos nós, foi o que teve o mais trágico destino dos últimos tempos.
Teve suas portas fechadas às pressas e só tem previsão de reabertura em 2022, para salvaguardar conjunto arquitetônico, bem como suas obras e acervo.

Mas, e quando a arte deixa as edificações e as paredes que as circunscrevem e toma a rua num nítido transbordamento de muros?

São Paulo também conhece muito bem esse fenômeno. A Vila Madalena corporifica esse transbordamento por becos e ruelas. O grafitti ganha os muros e revela um museu a céu aberto. As fronteiras tão marcadas por projetos desenhados, que guardam obras e expressões artísticas intramuros se dissipa: o muro e a rua passam a ser molduras para seus artistas e sua comunicação com e pela cidade.

A cultura neste sentido, deixa suas marcas na malha urbana e dialoga com os espaços desta. O grafitti se espalha pelos muros do bairro usando a cidade como seu suporte principal. Técnicas, temas e artistas se revezam nos olhares de transeuntes-consumidores. Uma via de comunicação entre os que vão e os que vêm.

No bairro, uma viela se tornou um ponto turístico na região, é a rua Gonçalo Afonso, chamada de Beco do Batman que é totalmente grafitada, onde não se encontra praticamente um espaço para mais desenhos, por isso, periodicamente os trabalhos são substituídos.

Conheça um pouco mais do Beco do Batman na Vila Madalena, através da reportagem “Outras Coisas”, Do programa da TV Uniesp sobre o roteiro cultural do bairro:

De tudo o que vimos tem-se que a cidade e seus museus são espaços de apropriação multicultural. Por meio destas apropriações, tais sujeitos fornecem uma nova cartografia que se impõe aos diferentes espaços aqui analisados. Representam também formas que se alteram pelo tempo e espaço, não apenas edificado, mas social e cultural.

É só prestarmos atenção como a arquitetura eclética e de paisagismo construído com vistas à criação de uma identidade nacional presente no edifício do Museu Paulista, ganha um novo contorno na proposta do prédio da Pinacoteca do Estado, que é tradicional, como o são toda a concepção de cidade que cresce ao seu entorno. Uma cidade que ainda busca em matrizes europeias, formas, gostos e ornatos.

Num nítido processo de busca de despojar-se de todo esse passado, o projeto arquitetônico do MASP traz uma nova dimensão de linhas e traços. Abandona os rebuscados. Busca nas linhas retas e de material moderno sua edificação. Plantado em meio a casarões de barões de café, para começar a comunicar-se com seu entorno: acolhe e é acolhido por outros elementos de construção à sua volta. Ergue-se e constitui-se um marco de uma metrópole contemporânea, assumindo formas que dão-lhe mais usos e funções.
É concreto e cor sobre asfalto e gentes.

E só a partir daí que a maturidade urbana permite o encontro da arte com os muros de ruas, becos, ruelas. A Pauliceia encontra formas de expressão não apenas circunscrita por paredes e projetos, mas pelas ruas desenhadas por habitantes e ocupações: sem projetos ou linhas. A arte libertou-se de todas as amarras e encontra expressão por tintas, pinceis e spray, molduradas por blocos simples de cerâmica ou concreto.
A Vila Madalena materializa esse escape cultural.

Daí tantas faces e fases. Escolha a sua!
 

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Patrimônio Arquitetônico: Preservar não é apenas Tombar!

Por: Eliana Rezende

O que seria uma ação de preservação adequada? Seria a preservação uma forma de recriar de forma artificial o espaço urbano, excluindo e levando para longe aquilo que é considerado inadequado ou indesejável? A discussão pode ser longa e enveredar por muitos caminhos.
Em geral, tem-se a falsa noção de que uma ação de preservação ou tombamento é tornar tudo limpo e arrumado, afastar da paisagem tudo o que seria considerado marginal e social ou culturalmente inadequado.

Em verdade, as coisas não são bem assim. Talvez o caminho seja esclarecermos algumas noções fundamentais. Escolho para tanto falar sobre os conceitos de Preservação, Conservação, Restauração e Tombamento, além do que seja Patrimônio. Tais conceitos podem ser utilizados por diferentes áreas, e portanto, opto por estabelecer noções que sejam mais abrangentes. Para tanto, convido todos à leitura do slideshare abaixo onde procuro explicitar conceitos e definições fundamentais para a análise que farei a seguir:

[slideshare id=145341774&doc=conceituando-definindo-patrimonio-190513195016]

A noção de preservar tem que ver com uma atitude de prevenção, é algo que se estende a modos que implicam uma conscientização que pode ser de um grupo, uma pessoa ou uma instituição.

Por outro lado, o tombamento é uma medida, um ato legal, no sentido de fazer com que a preservação se dê. Em geral é a primeira de uma série de ações. Nesse sentido, e com esta perspectiva, a Preservação é algo muito mais abrangente, e é bom que se diga, que nada tem a ver com uma museificação do lugar. Ao contrário, boas ações de preservação inserem a população local e dão um sentido de apropriação e uso do espaço.

O objetivo da Preservação longe de transformar-se em um empecilho é, antes de tudo, garantir às gerações futuras um passado, que é composto multifacetadamente, por aspectos que tomam toda a sua cultura de modo que seja um Patrimônio.

Gosto de uma definição de Gilberto Gil (poeta que sabe usar as palavras como ninguém):

pensar em patrimônio agora, é pensar com transcendência, além das paredes, além dos quintais, além das fronteiras. É incluir as gentes, os costumes, os sabores, os saberes. Não mais somente as edificações históricas, os sítios de pedra e cal. Patrimônio também é o suor, o sonho, o som, a dança, o jeito, a ginga, a energia vital e todas as formas de espiritualidade da nossa gente. O intangível, o imaterial.”

Falando sobre isso, assista ao vídeo de Carlos Fernando Delphim, do IPHAN, falando sobre Patrimônio Natural e suas diferenças e semelhanças com o Patrimônio Cultural:

A relação de comunidade e o uso de seus espaços e suas histórias auxiliam nesse trabalho de preservação da cultura local, regional e nacional, e dá um sentido de uso para patrimônios materiais e imateriais. Afinal, é patrimônio não apenas aquilo que é edificado. Toda e qualquer forma de manifestação cultural pode ser considerada patrimônio. E neste sentido, também necessitam ser preservados.
Para entender melhor esta vertente de patrimônio e suas relações com a memória e identidade de um sociedade assista Márcia Sant’Anna falando sobre Patrimônio Imaterial:

Felizmente, vejo ventos de mudança e, com uma concepção que se alia à sustentabilidade, muitos projetos dão vida nova à antigas funções.

O que é preciso que se diga é que são muito mais iniciativas de consciência de um grupo do que de valores monetários. Óbvio que precisamos dos dois! Mas as boas ideias e iniciativa nesse sentido precedem toda e qualquer forma de valor monetário.
A concepção mais recente de preservação é interessante exatamente por tomar em conta contextos e tessitura de vida dos espaços nas vidas sociais de cada comunidade. Se tomada em sua verdadeira acepção todos tem muito a ganhar. Acho uma área rica e interessante exatamente pelos olhares multidisciplinares que são necessários.

Em relação à políticas de preservação e tombamento, há de fato muitos interesses e desinteresses.

De um lado, por responsabilidade do estado, há uma imposição que deixa o proprietário sem recursos financeiros e numa situação difícil, com imóvel sem cuidado e muitas vezes impossibilitado de ser ocupado quer comercialmente, quer residencialmente. É um ônus sem qualquer bônus ou incentivo.

De outro lado, há a total desinformação por parte de proprietários e até de comunidades inteiras em relação ao patrimônio cultural e material que muitas dessas edificações possuem. É um problema de educação cultural e até de empreendimento. Se orientados, vários projetos assim podem reverter para proprietários e em muitos casos para comunidades inteiras.

O caminho, considero longo, mas não impossível de ser seguido.

Cada vez mais nossas cidades estarão envelhecendo e se não entendermos que o novo e o velho podem conviver sem um suplantar o outro não teremos futuro e nem passado! De concreto, e sei que é algo que nenhum de nós quer ou precisa: é de uma cidade museificada.

Por outro lado, aspectos que têm a ver com o DNA da cidade precisam, e devem, ser mantidos para que sua identidade se mantenha. Talvez esse seja o grande desafio e em nome do que áreas interdisciplinares devam colocar a sua criatividade e inventividade. 

Um pressuposto que era próprio do século XIX, e do qual Paris foi a cobaia, foram as políticas de Houssman, onde acreditava-se que de tão ruim tudo deveria vir abaixo! Munidos de pólvoras e homens com suas ferramentas, a cidade ruiu. Em seu rastro várias outras cidades seguiram o mesmo caminho dentre os quais estão Buenos Aires, Rio de Janeiro do Prefeito Pereira Passos e Nova York.

 (Bota-abaixo de Pereira Passos no Rio de Janeiro)

Considero que todas as ações devem tomar em conta seu entorno, seu contexto de formação, a população que vive e circula e suas relações geográficas, históricas e culturais. Tudo o que escapa a isso parece-me sem sentido e despossuído de valor e com poucas chances de perdurar. Quando essas relações são tomadas em conta as possibilidades de configurar-se como legado benéfico são grandes.

Como historiadora, vejo muito mais o valor que os espaços propiciavam enquanto sociabilidades e trocas (sejam elas de quaisquer natureza: culturais, políticas, comerciais, entre outras) e os espaços arquitetônicos como a materialização de fazeres e viveres. Se pensarmos será essa urbanidade vivida e pulsada em cada rua, em cada edificação, que trará valor para além dos aspectos imobiliários. Uma lembrança para este caso é o que ocorreu em São Paulo com o Bexiga e mesmo à Nova Luz.  São importantes fontes de mensuração disso.

Quando pensamos uma das variáveis para valor entramos de novo na forma, uso e ocupação dos espaços através do tempo. As movimentações de fronteira entre os espaços e a “necessidade imobiliária” de empurrar à margem o que não tem valor monetário é outro dos problemas, em especial quando o patrimônio arquitetônico, está tendo outro valor de uso, ocupação e transito social (caso específico do comércio da Santa Ifigênia e da área de venda e consumo de craque). A decadência social em geral acompanha a dos espaços arquitetônicos e em geral de outras praças e ajuntamentos.

De fato, projetos chamados de preservação, mas que engessam e de certa forma descaracterizam e museificam espaços não fazem sentido à preservação como um todo e a cidade especificamente. Exatamente por ela conter fortes elementos vivos e de interatividade. 

São muitos os critérios e variáveis essenciais para estudos de viabilidade neste sentido, que devem ser feitos de forma prévia e nunca imediatista. Infelizmente, vemos que isso ocorre a conta-gotas.

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Referências:
Algumas Reflexões sobre Preservação de Acervos em Arquivos e Bibliotecas
A Construção do Conceito de Patrimônio Histórico: Reconstrução e Cartas Patrimoniais

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De Cadeados e Criptografia aos Tempos de WhatsApp

Por: Eliana Rezende

Em 2016 foram uma, duas, três vezes e milhões de brasileiros sendo penitenciados por uma decisão togada que revelava além de uso desproporcional de força um equívoco provocado por desinformação começada na toga e concluída em praça pública.

Não creio ser necessário entrar no mérito da questão judicial que de um lado pressionava a empresa detentora do serviço (WhatsApp) e a questão de quebra de sigilo de contas de contraventores ou punição de milhões de inocentes.

O que me chamava a atenção naquele momento, e ainda hoje, era a desinformação sobre o assunto da criptografia por parte dos que julgam e promulgam sentenças. Algo crasso e imperdoável. Emitiram pareceres que caberiam bem no século XIX, ou no XX sem web. Mas nos dias de hoje?!

Para além de tudo significar ferir diretamente o que determinava o Marco Civil Regulatório da Internet no Brasil e o artigo nº 13 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos de uma única vez.

Todo o mal entendido e as consequências dele decorrentes giravam em torno do desconhecimento do que vinha a ser criptografia.

Mas afinal: o que é mesmo criptografia?

Se formos ao dicionário, a definição mais completa seria:

“(….) Conjunto de regras e técnicas utilizado para cifrar, para codificar a escrita, transformando-a num tipo de código incompreensível para quem não está autorizado a ter acesso ao seu conteúdo. (…)”

A palavra criptografia vem do grego e é formada por duas palavras: “kryptós” que significa oculto e “gráphein” que significa escrever. Ou seja, é uma escrita escondida.

A técnica em si não é nova e remonta às civilizações clássicas gregas, romanas e egípcias que criptografavam seus escritos para impedir que inimigos tomassem conhecimento de seus escritos. Exemplo disso é a necessidade de pesquisadores decodificarem inscrições para compreenderem escritos diversos de tabuletas à tumbas.

A criptografia funciona como se fosse um embaralhamento de dados. E tal como ocorria em tempos passados, o objetivo é tornar seguro o conteúdo da informação trocada entre partes.

O grau de segurança de uma criptografia esta na quantidade bits utilizados para encriptação. Já que um sistema de encriptação que contenha 8 bits oferece um universo de 256 combinações diferentes. Atualmente utilizam-se 128 bits (que são combinações de números e letras).

Para se ter uma ideia, no modelo 128 bits, para se conseguir decodificá-los seriam necessários 40 computadores trabalhando simultaneamente durante 20 anos ininterruptamente! Isto do ponto de vista de um meio onde a fragilidade e volatilidade predominam é fundamental para garantir a segurança das partes.

De um ponto de vista mais técnico, diríamos que a criptografia pode ser simétrica e assimétrica e envolve uma série de procedimentos para cada um destes casos. Como não é objetivo deste post explanar tecnicamente isto sugiro a leitura para maior entendimento e mais fontes de bibliografia e consulta o texto “Segurança, Criptografia, Privacidade e Anonimato”.

Graficamente a criptografia pode ser exemplificada da seguinte forma:

Ou seja, o conteúdo das informações trocadas ficam disponíveis apenas entre os envolvidos, como se houvessem cadeados que as trancassem e apenas a chave que cada um tem as abre e decodifica.

Agora vejamos o caso do WhatsApp

Recentemente a ferramenta enviou mensagens a todos seus usuários informando que estaria sendo utilizada a criptografia de ponta-a-ponta. Provavelmente foi uma mensagem assim que você recebeu no seu celular, e que continua a receber toda vez que acrescenta um novo contato:

O que de fato este tipo de criptografia significa?

A chamada “criptografia de ponta-a-ponta” do WhatsApp assegura que somente as pessoas que estão se comunicando possam ler o conteúdo trocado. Ninguém mais consegue fazê-lo, nem mesmo o próprio WhatsApp.

Este formato de segurança, apesar de questionado para os casos de uso ao crime é uma grande segurança para usuários comuns e que representam a esmagadora a maioria de utilizações. Claro que crimes podem ser cometidos, mas interferir neste caso significa por em xeque a segurança de milhões de usuários. Algo prezado e alvo de muitos lutas e debates para que passassem a existir.

Por envolver tantos milhões de pessoas e negócios é uma relação onde o custo benefício precisa ser medido de forma responsável.

Como o próprio STF vem se manifestando, este tipo de punição a milhões de pessoas é desproporcional.

De minha parte, acrescento que, ignorante por parte de quem julga e inconsequente perante a punição de milhões de usuários que nada tem com o ocorrido. Não se pune 100 milhões de pessoas por causa de UM contraventor!

Além do mais, as decisões de bloqueio tomam a ferramenta como se a mesma funcionasse como um telefonema. O que nossos togados se esquecem, é que apesar de ser usada em um aparelho celular, a ferramenta está longe de possuir as características tão usuais de grampos telefônicos.

Se criminosos se comunicam da cadeia usando a ferramenta, o problema que precede ao seu uso, e este sim de competência das autoridades, é o de celulares nos presídios!

Enquanto soluções tecnológicas que atendam de um lado o direito à privacidade e sigilo de uns e, de outro, o praticante de delito, não estiverem disponíveis e sem prejuízo a ninguém, é preciso que togados usem de bom juízo e entendam os tempos que julgam, os meios tecnológicos e o seu alcance social. As decisões não podem ser unilaterais, autoritárias nem desproporcionais. Fazer isso fere a essência do que seja praticar o Juízo e a justiça.

Julgar, tomando em conta um único aspecto e perder de vista o alcance e prejuízo social de todos, em nome de um é uma irracionalidade torpe e sem sentido. A imagem da justiça com uma venda nos olhos parece se aplicar com precisão nestes casos.

Como podemos ajudar?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para o desenvolvimento e aplicação de procedimentos para a Preservação Digital e Repositórios Digitais Confiáveis em empresas de diferentes segmentos e suas áreas de atuação. Além de podermos orientar boas práticas em relação ao uso de ferramentas tecnológicas com vistas a produção e tramitação de documentos digitais.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer

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Saiba mais:
Para compreender um pouco mais sobre os usos e aplicações da criptografia nos dias de hoje, assista o vídeo “O que é Criptografia”.

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Digitalização não é Solução. Entenda Porquê

Quando falamos em “digitalização” as perguntas são sempre muitas e a confusão ainda maior.
Abro este artigo fazendo uma afirmação que pode, em um primeiro momento, gerar algum desconforto para uma infinidade de pessoas e profissionais, que acreditam que, ao recomendar digitalização estão apresentando solução para diferentes situações.
A confusão pode ser rapidamente desfeita se deixarmos claro, de uma vez por todas, o que seja uma “Solução” e como esta se distancia do que seja uma “Ferramenta”. Para isso, os convido a ler um post que escrevi intitulado “O Desafio das Soluções na Era da Informação”, onde explicito esta diferença. Textualmente digo:
“(…)  Ferramenta é sempre pensada para ser simples, barata e de aplicação pontual e restrita. Depende só de você fazê-la funcionar.
Serve a uma determinada função e praticamente se encerra em si mesma. Por sua simplicidade e facilidade de aplicação tende a ser barata e tem resultados rápidos e bem mais limitados. Não adianta dourar a pílula: ferramenta tem valor restrito exatamente por possuir alcance igualmente restrito.
Isso em si não é um defeito, ou problema.
A ferramenta nasce da demanda pontual e busca atender esta, no menor tempo possível e com os melhores resultados possíveis, dentro deste universo. (…)”
“(…) As Soluções acontecem no tempo e a partir de muito estudo, análise e customização entre demandas, necessidades e possibilidades. É enfim, uma nova maneira de fazer ou gerenciar fluxos de trabalho. (…)”
Esclarecido isto, devemos passar à outra zona de confusão:
Em geral, a digitalização sempre é oferecida como sendo uma caixa de Pandora, onde todos os problemas em relação à produção, guarda e gestão de documentos estariam solucionados. Mas como muitos já aprenderam e, a duras penas, isto nem sempre acontece.
Guarde bem isso:
Documento digital – Documento originalmente codificado em dígitos binários, acessível por meio de sistema computacional.
.

Documento analógico – Toda e qualquer informação registrada em suporte estável e materializado. Exemplos: um livro, uma carta, uma fotografia em suporte de papel, uma gravação VHS de áudio e vídeo, fitas k-7, um documento micrográfico, um caderno de notas, uma tábua de argila com caracteres cuneiformes, as pinturas rupestres nas paredes de Altamira.

Esclarecidos ambos, agora é o momento de definirmos o que vem a ser a digitalização:

De forma sintética diríamos que digitalização é o processo pelo qual um documento analógico é convertido em digital a partir de um dispositivo, tal como um scanner. Apesar disso, o documento gerado não poderá ser considerado original, e sob nenhuma circunstância poderá substitui-lo para efeitos de prova ou de fonte histórica, devendo o documento original ser preservado.

Há duas possibilidades e usos da digitalização, com finalidades e aplicações bastante específicas. Uma, é seu uso a acervos imbuídos de valor probatório ou histórico. Outra, bem diferente, para usos e aplicações em rotinas organizacionais.

Copista medieval

A digitalização em casos de acervos históricos ou documentação probatória

A digitalização, conforme citado acima, tem como foco principal facilitar o acesso, a divulgação e a preservação de acervos, em especial aqueles que tem valor histórico e necessitam estar protegidos de manuseio excessivo ou inadequado. Podem sim ser utilizados como política de preservação e conservação documental, como expliquei no meu artigo “Uso de Tecnologias como Preservação de Patrimônio Cultural”. Nele apresento algumas considerações fundamentais a se tomar em conta quando esta for a situação.

Por favorecerem a tramitação em forma digital transforma-se em excelente meio de divulgação e usos, como: compartilhamentos, e-mail ou mesmo para integrar portais, sites e exposições virtuais, mas não podem ser considerados uma substituição pura e simples do original. O original, que possui valor legal ou histórico, não poderá ser eliminado após sua digitalização.
O documento analógico original é imbuído do valor, que em História, chamamos de Cultura Material, onde o todo do documento constituído por suas informações e suportes também constituem o que se considera Patrimônio Documental.

A digitalização em rotinas organizacionais

Os usos e aplicações da digitalização nas rotinas organizacionais estão sempre mais ligadas ao acesso a determinadas informações e a “suposta economia” em substituir documentos analógicos, o que já expliquei ser um equívoco gigantesco.

Ainda neste universo de utilização reafirmo que a digitalização de grandes volumes representa um erro estratégico e de gestão, já que mudar o formato não significa organizar. Falei disso no meu artigo:“Porque Documento Digitalizado não é Documento Digital”.

Mesmo em rotinas administrativas o uso massivo e indiscriminado da digitalização causa mais problemas e dificuldades e transforma-se em uma bomba relógio à medida que o tempo passa. Por isso, é preciso estabelecer previamente uma política séria de gestão documental e tomar as decisões a partir daí.

Papiro antigo

Em geral, a digitalização pode ocorrer em diferentes etapas da Gestão Documental, sem contudo, substituir a mesma. Em todo caso, e do ponto de vista legal, a digitalização representa apenas, e tão somente, uma cópia, como ocorria anteriormente com fotocópias reprográficas. Sua maior e principal vantagem é ser um meio eficaz para transmitir informações por meios digitais, como é o caso do e-mail. Ela não possui valor legal, e muito menos substitui qualquer original.

Algumas considerações fundamentais a cerca do uso da digitalização:

O universo de produção documental é vasto, e não se pode perder de vista que há documentos que requerem muito mais atenção ao se analisar políticas de digitalização.
É o caso dos documentos com guardas permanentes e de valor histórico. Neste ponto a discussão precisa, e deve, ganhar outro contorno. Diferentes variáveis precisam ser tomadas em conta. O acesso dos mesmos não deverá ser pensado de forma imediata apenas. O tempo precisará ser considerado e a obsolência mora neste caminho.

Um exemplo desta preocupação, pode as ser ações de digitalização para grandes massas ou volumes de fotografias.
De novo, tal digitalização não pode ser considerada como uma Solução.
A digitalização de imagens não dispensa os processos de identificação e tratamento técnico das imagens, que para efeito de documentação histórica possuem um grau de detalhamento que os programas hoje utilizados passam muito distantes. Pirotecnias a parte, do ponto de vista técnico-metodológico, estão longe de ser uma solução de guarda permanente, ou mesmo como fonte de pesquisa histórica e produção de conhecimento.
Repito o que falo incessantemente: o problema não são as ferramentas em si, mas o que é feito com elas e os procedimentos em seu entorno. Em geral, os que fornecem e os que consomem tais ferramentas pouco sabem para além de uma digitalização (tornando o produto do seu trabalho apenas mais do mesmo, duplicando e acumulando sem sentido documentos que poderiam ser tratados de uma outra forma e com um grau muito mais interessante de assertividade).

Livro maia

O que ocorre em geral, quer por desconhecimento ou por boa fé de uns e má fé de outros, é que muitas empresas contratantes destes serviços esperarem que a ferramenta tecnológica resolva seus problemas de organização documental. No entanto, é importante que se ressalte, que tais soluções tecnológicas não representam o trabalho de Gestão Documental, que necessita de maior cabedal, elaboração de normas e procedimentos muito mais amplos. Tal como o nome indica tais soluções são apenas e tão somente uma ferramenta dentro de um universo muito mais amplo que é a Gestão Documental.

É sempre bom ressaltar que a digitalização necessita de um trabalho de organização, pois, se houver um caos no meio físico apenas estaremos trocando o suporte: de físico para digital.

Tabuletas romanas

Digitalização não resolve problemas nem de organização e nem de busca!

Além disso, a digitalização não resolve uma gama imensa de ações que estão diretamente ligadas à Gestão Documental, como: elaboração e aplicação de tabelas de temporalidade documental, cumprimento de prazos prescricionais estabelecidos em legislação para diferentes documentos, politicas de preservação, sigilo e acesso a documentos.

Mesmo nos casos de digitalização para simples tramitação precisa-se estabelecer critérios e hierarquização. Digitalizar indiscriminadamente tudo pode ser um tiro no próprio pé. Gerará um aumento do que simplesmente não interessa e que do ponto de vista de busca/consulta não se justificará. Em breve constará nas estatísticas de lixo eletrônico.

Outro grande equívoco é acreditar que a digitalização oferecerá a panaceia de resolver um dos maiores problemas dos Arquivos, que é sua falta de espaço, por meio da eliminação de documentos físicos. O que juridicamente torna-se inviável devido a uma ausência de legislação que autorize uma situação como esta.

Por questões de ampla obsolescência, a simples substituição de documentos físicos por digitalizados, ou mesmo digitais, não significa economia de custos. Ela obriga a ações de preservação que representam custos elevados para manutenção das mídias para garantir o acesso aos mesmos. Investimentos em tecnologia que envolvem políticas de preservação digital custam recursos financeiros, humanos e tecnológicos pelo tempo, e em geral as pessoas se esquecem disto. Simplesmente consideram os custos iniciais e deixam de olhar pela perspectiva do tempo.
Para entender melhor isto que cito sobre a obsolescência leia o post que escrevi intitulado: “Memórias Digitais em Busca da Eternidade“.

Reforço a noção de que projetos de digitalização precisam de recursos financeiros que garantam a aquisição, atualização e manutenção de versões de software e hardware, como forma de cumprir requisitos funcionais estabelecidos pelo CONARQ, que garantam a preservação e o acesso a tais documentos, a médio e longo prazo, sem prejuízo de qualquer ordem. Ou seja, a digitalização está longe de significar economia a troca de nada. Ela exige investimento e recursos tecnológicos e humanos através do tempo. Sem pausa ou descanso!

Calendário maia

Vejo em todo este processo, de discussão e elaboração de estratégias, uma excelente oportunidade de mostrar o quanto é importante um trabalho multidisciplinar não apenas para solucionar problemas presentes, mas como também para prevenir problemas no futuro.

Em verdade, reafirmo a importância e necessidade de um planejamento que tome em conta todos estes aspectos e atenção, muita atenção para não se deixar ‘encantar’ por algo que pode trazer mais problemas e passa bem longe de ser uma Solução para as suas demandas. Consulte sempre um profissional que tome em conta todas as variáveis possíveis e tome em conta seu tipo de documentação, demanda e público alvo. Planejamento sem compulsão, deslumbramento ou pressa são fundamentais.
A digitalização se bem empregada tem excelentes resultados. Como um bom medicamento, indicado por um profissional que tenha claro seu emprego a partir de o diagnóstico certeiro pode trazer excelentes resultados. Mas a automedicação neste caso pode ser fatal.

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Referências:
Legislação

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Direto ao ponto: Gestão Documental e a Babel Algorítmica 
Porque Documento Digitalizado não é Documento Digital 
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Direto ao ponto: Gestão Documental e a Babel Algorítmica

Por: Eliana Rezende

Por largo tempo em minha carreira tenho me dedicado à Gestão Documental, Preservação e Conservação de Acervos, Organização de Arquivos. Em muitos casos, este trabalho antecedeu a tudo o que temos hoje em relação a tecnologias e ferramentas.  Talvez por isso, aprendi a lidar com documentação tomando em conta seu universo de produção, circulação e armazenamento. Talvez por isso, tenha aprendido a lidar com documentação tomando em conta seu universo de produção, circulação e armazenamento inicialmente em formatos que ainda eram analógicos e posteriormente em seus suportes digitais.

A mudança de suportes em si não é um problema, mas sim a forma em que lidaremos com eles no tempo, em especial se estamos preocupados com sua permanência e acesso no Tempo.

Observo que muitos se encantam por supostas “soluções” de GED e ECM acreditando piamente que a partir da aquisição das mesmas todos os seus problemas estarão resolvidos. Gosto sempre de repetir que são apenas ferramentas, e por conta disso, não trazem soluções a quem quer que seja. As empresas e instituições esquecem-se de que não é a ferramenta que lhes dirá o quê e como fazer!
Se a instituição não sabe como produz, a quem serve, e porquê necessita deste ou daquele documento, poderá adquirir ferramentas com bites de ouro, nada será resolvido.

Insisto muito que Ferramenta não é Solução

Ainda é preciso dizer, que oferecer acesso às informações é muito pouco para uma suposta ferramenta. Veja: acesso todo meio digital dá, em maior ou menor grau. Diria até, que temos um excesso de informações nos meios digitais. O maior problema que de fato temos que combater é a forma como tais informações são produzidas, processadas, utilizadas e armazenadas no tempo. Se não tomarmos os devidos cuidados estaremos cercados apenas e tão somente de lixo, com uma ínfima parte de informações de fato relevantes e que gerarão “riqueza”. Portanto, é preciso que os responsáveis pela Gestão Documental nas organizações entendam de uma vez por todas que uma ferramenta que oferece pastinhas, caixinhas e fluxos em sua interface não traz absolutamente nada de inovador. Quem trará valor à uma ferramenta são àqueles que sabem exatamente o quê querem, como querem, porquê querem e em que tempo. Aqui não é a ferramenta a fazer nada pela organização.

A solução, enfim, precisa ser encontrada pelos produtores e usuários da informação nos ambientes organizacionais. Não existem receitas prontas ou que caibam em todo e qualquer caso. Cada situação, em cada ambiente e com o público específico de utilizadores e/ou clientes terão demandas diversas que não cabem em estratégias massivas.

Não é possível pensar em Gestão Documental de forma reduzida a documentos digitalizados (muitas vezes, usados com numeração automática em PDF) e pendurados em pastas ou fluxos. Em um espaço reduzidíssimo de tempo ninguém encontrará mais nada. Pois a digitalização desenfreada e sem critérios levará o caos já existente em formato analógico para o formato digital.

É fundamental ter claro que todo o trabalho de refino e busca de informação deverá ser embasado em técnicas de indexação com vocabulário controlado.

É neste ponto que procuro auxiliar às organizações: definir melhores estratégias e caminhos para que a produção, circulação e armazenamento da informação se dê com vistas à produção de conhecimento e inovação. Para que a informação armazenada seja de fato localizada dentro de uma lógica que faz sentido a todos os que necessitam de tais informações.
Não há mágicas! Há apenas trabalho.

Não serão ferramentas tecnológicas que trarão coesão, sentido, agilidade aos processos de Gestão Documental. Será exatamente a definição de uma política de Gestão Documental aliada à Políticas de Preservação Digital que farão isso. Devemos entender política, como algo que possui continuidade e que deve possuir uma boa arquitetura de construção, como forma de trazer solidez ao resultados e garantias de que se faz o melhor possível. Aqui o ponto é muito importante, já que muitas instituições que necessitam realizar a Gestão Documental são órgãos públicos que precisam cumprir aspectos legais. A complexidade neste universo aumenta, e muito, pois, para além do acesso precisamos nos preocupar com aspectos relacionados à sigilo, segurança, autenticidade. Em especial se os documentos também estão em formato digital.

Definitivamente não há soluções simples ou fáceis. Todas exigem rigor e amplo domínio de procedimentos técnicos, jurídicos, tecnológicos. Daí que é muito importante não se seduzir por uma mera ferramenta tecnológica. Há muito mais envolvido!

A Política de Gestão Documental deve ser compreendida de forma sistêmica e tal como é estabelecida em lei. Como forma de auxiliar nesta compreensão preparei este slideshare.

Veja:

[slideshare id=jPGq4FsVKVVhjY&w=595&h=485&fb=0&mw=0&mh=0&style=border: 1px solid #CCC; border-width: 1px; margin-bottom: 5px; max-width: 100%;&sc=no]

De tudo o que disse, e o que verdadeiramente conta é a necessidade de compreendermos de uma vez por todas que processos digitais envolvem a digitalização da sociedade. É preciso que simplesmente entendamos que o grande motor de mudança nas organizações  na forma como geram, buscam e guardam suas informações está nas pessoas. São elas que trarão o gênio da inovação e das soluções verdadeiramente inteligentes dentro das organizações e não ferramentas vendidas como solução!

Se continuarmos a utilizar os mesmo paradigmas de sempre não obteremos resultados satisfatórios. Não podemos pensar em gestão documental com pressupostos de séculos passados usando arquivos e ficheiros em ambientes digitais. O mundo hoje oferece a experiência da digitalização de meios, formatos, pessoas, relações, com dados que armazenados e cruzados geram informações e estas são localizadas por algorítimos. É uma trama que altera completamente as relações entre produtores e usuários da informação.

A babel algorítmica precisa de um dialeto próprio que comunique e interligue objetos e objetivos. Ao mesmo tempo, se não houver um bom trabalho de enriquecimento deste “vocabulário” teremos uma ferramenta entediante e repetitiva (pois assim são todos os algorítimos).
Aqui está a lógica que a boa Gestão Documental necessita buscar.

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