Por: Eliana Rezende Bethancourt

Há tempos venho pensando, e com certo incômodo que a partir do desenvolvimento de ferramentas com fins claros de determinar perfis, gostos, nichos e vontades dos consumidores uma lógica perversa se deu e tornou-se um limitador.
Observe:
Todas as vezes que realizamos uma busca, qualquer que seja, imediatamente algoritmos começam a selecionar quais as respostas que são as nossas preferidas, e dia-a-dia, pesquisa após pesquisa começam a aprender sobre nosso perfil, nossos gostos e desgostos. Isso por si só não seria o problema. O problema piora logo a seguir, pois para haver uma customização de nossos gostos e preferências, quase sempre somos levados aos mesmos lugares e quase que invariavelmente, às mesmas velhas respostas. É a famosa existência dentro de uma bolha.

Quase sem notarmos estamos fornecendo um padrão de comportamento que ao incluir determinadas opções exclui uma outra gama de possibilidades e alternativas diversas.

Vista sob esta ótica, a internet é portanto, finita e cerceada.
Explico:
As opções são infinitas até a primeira pergunta lançada em um buscador. A partir daí somos levados a andar por caminhos escolhidos por nós e armazenados por algoritmos. Quanto mais eficientes forem, mais nos tirarão possibilidades e caminhos inusitados. Andaremos em círculos, visitando sempre os mesmos lugares, pessoas, respostas, atividades, temas…

Nesta construção, as possibilidades de inovação e de sermos apresentados a algo completamente novo e diferente reduzem-se cada vez mais, a quase zero.

Uma vitória para as áreas de Marketing que querem em verdade vender um produto, ao mesmo tempo em que nos transforma em um. Embalados e vendidos ao mercado para sermos potenciais consumidores deste e daquele produto. Os algoritmos acabam por tornar a liberdade um produto quadrado e previsível, repetido infinitamente.

É uma lógica sem benefícios para nós usuários em uma primeira instância, mas com certeza a todo o conjunto da sociedade em um nível e alcance ainda maiores.

Ao acontecer esta lógica de mercado, ergue-se o muro contrário a toda e qualquer possibilidade de produção de Conhecimento e Inovação de forma espontânea. A internet, seus algoritmos e buscadores, fazem o contrário do que Conhecimento e Inovação necessitam. Afinal excluem o novo, o diferente, o inusitado. Levam-nos sempre aos mesmos lugares e por consequência às mesmas respostas e caminhos. Sair deste circulo vicioso e tortuoso requer por parte do que busca Conhecimento e Inovação um esforço extra: significará muito autoconhecimento.
Precisará se ter consciência do quanto está limitado dentro destes caminhos para tentar fugir desta  lógica cega e consumista tão favorecida por algoritmos, e tão amplamente usada pelo Marketing em geral.
E ainda não incluo aqui um outro conceito que é o de invenção. Muitas vezes até confundido com inovação. Mas que não é o caso aqui.
A inovação não necessariamente requer uma invenção! Na maior parte das vezes ela exige muito menos de quem a propõe, já que esta baseia-se em algo que já existe e faz simplesmente uma adequação, ampliação, um novo uso. Mas mesmo tomando-se a conceituação de inovação neste sentido, ainda temos muita limitação gerada pela forma como hoje buscadores e diferentes áreas se utilizam destes algoritmos.

Daí a afirmação que, ao invés de estarmos com alto grau de desenvolvimento tecnológico e de grandes descobertas, na verdade andamos às voltas com os mesmos lugares, respostas, caminhos. Em pouco tempo teremos um universo feito de restrições potenciais que só poderão ser quebradas por sujeitos conscientes e independentes. Algo cada vez mais raro, já que as pessoas cada vez mais delegam a botões, buscadores e algoritmos o que pensam ser a melhor escolha. O estatuto de “verdade” que grandes buscadores como Google alcançam no imaginário popular é avassalador e ao mesmo tempo destrutivo enquanto potencialidades.

E mesmo para as áreas de Marketing, que em teoria deveria prezar muito a inovação, ver-se-ão em pouco tempo igualmente restritas a um dado espaço e com um determinado perfil de usuário/cliente. E o que é mais grave: com quase ou nada a oferecer de novo, já que as grandes inovações tenderão cada vez mais a ser recusadas pela massa complacente de apertadores de botões e mesmices.

De outro lado, esta mesmice a que me refiro não se encontra apenas dentro da internet, encontra-se também nos meios que usamos para a utilizarmos. É só prestar atenção: desde que foram inventados computadores e celulares temos exatamente as mesmas telas, botões, funções.
Olhe os teclados: sempre os mesmos, olhe a sua sequencia…sempre as mesmas.
Observe o que cada tecla faz, e descobrirá que são sempre as mesmas coisas.
Os computadores não deixam de ser as mesmas caixas retangulares que nossos avós viram nascer a televisão, ou retroagindo um pouco mais os rádios. Telas escuras que reproduzem sons e imagens…
É uma caixa onde entretenimento é oferecido para se passar o tempo.

Até mesmo a forma de usarmos o telefone, suas teclas e sons são exatamente as mesmas e que já vem de muito longe, provavelmente desde a máquina de escrever. Não importa se seu aparelho é um iPhone de última geração ou aquele vendido em qualquer galeria de contrabando… não há inovação! Funcionam exatamente da mesma maneira. E o pior de tudo, é que não haverá mudanças substanciais. Em verdade, tais tecnologias precisam ser pobres, medíocres para que possam ser consumidas em larga escala. Trabalhar para a inovação aqui é segundo esta ótica, contraproducente. Como inovar a tal ponto que as pessoas simplesmente deixem de consumir porque não sabem como utilizar?
Donde se deduz que temos a tecnologia não para inovar, mas para atrofiar mentes e comportamentos, nada além disso.
Simples assim…

E ainda precisamos falar das “prisões” propiciadas por plataformas, aplicativos e outros brinquedos. Mantém entretidos e dispersos boa parte destes usuários desavisados. Assim, gigantes como Facebook mantém reféns seus usuários impedindo que saiam de seus domínios, não permitindo, por exemplo, que vídeos, matérias e outros recursos sejam notados por seus algoritmos. O usuário, sem perceber, só lê, assiste e visualiza o que é produzido e gerado ali dentro. E de lá só sai quando seu aparelho é desligado por falta de carga, pois em geral, as pessoas nem desligam mais seus aparelhos.
A sensação que tenho olhando isso tudo é a de que ofereceram uma prisão numa ilha com grades de frente para o mar. Esta é imagem que tenho. O prisioneiro ali dentro acha que tem um horizonte imenso à sua volta, no entanto está ali só e aprisionado.

A lógica do aprisionamento se repete atualmente com o uso de infinitos tipos de APP (aplicativos), alguns denominados super aplicativos como os que vem sendo utilizado na China. Neles TODAS as suas ações cotidianas podem ser feitas: de compras de legumes, pagamentos de contas, solicitação de transporte e movimentações bancárias, entre outras coisas. A contrapartida é ceder TODOS OS SEUS DADOS. Com isso, você se torna o grande produto do mundo em mercado. As implicações para este caso são muitas e variadas e nos colocam sob o impacto de uma rendição voluntária para o acesso às pretensas facilidades oferecidas: em todos os casos perda nossa segurança, privacidade só para começar.

Como dito por Lionel Bethancourt: “a tecnologia que nos deveria dar asas, acaba por nos impor grilhões”, e acrescento: com nosso consentimento e busca.

Mas então, como lidar contra estes hábeis limitadores? Sendo mais críticos e atentos que eles.
O objetivo deles é claro. Cabe a todos como inteligências individuais buscar caminhos diversos sem ter apenas a atitude passiva de seguir e consumir. A inteligência humana PRECISA, para sobreviver, ser melhor e maior do que as supostas inteligências artificiais. É esta inteligência humana que potencializa o maior de todos os nossos legados: a criatividade, que só se manifesta em toda sua plenitude quando a liberdade está presente oferecendo amplitude e diversidade de visões.

Sem esta liberdade criativa o único produto que teremos será o ‘ouro de tolos’.

É para se pensar…

Como podemos ajudar?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para o desenvolvimento e aplicação da Gestão de Conhecimento para a produção de Conhecimento e Inovação. Além de podermos orientar boas práticas em relação ao uso de ferramentas tecnológicas com vistas a produção e tramitação de documentos digitais.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer.

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* Versão revista e atualizada de post publicado originalmente do meu Blog, o Pensados a Tinta

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One thought on “Algoritmos: os hábeis limitadores

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