Por: Eliana Rezende

Em geral, textos que abordam o ofício do historiador pretendem trazer em seu bojo aprofundamento de questões metodológicas ou mesmo de caminhos investigativos.

Devo confessar que não é meu intento!

A proposição aqui é muito mais expor uma inquietação provocativa e lançar aos futuros historiadores questões em relação ao seu trabalho e investigação com as fontes produzidas na contemporaneidade de princípios do século XXI.

É da minha lida com a preservação e conservação de fontes documentais para posterior consulta e produção de pesquisas que suportam investigações e caminhos que este ensaio nasceu.

Tais preocupações com acervos em diferentes instituições impõem a reflexão e aplicação de metodologias e procedimentos que garantam o acesso à informação contida em documentos sob os mais variados suportes para as gerações futuras.

O historiador lida com fontes: pequenos indícios deixados voluntária ou involuntariamente que atravessam épocas, transpõem espaços, vencem intempéries, descasos, o tempo e as muitas formas de deterioração intrínseca e extrínseca de seus suportes. Encontram diferentes usos, e em vários casos funções e pertencimentos que são próprios do fazer-se “prova” ou “testemunho”.  r: Eliana

Artífices que tecem intrincados caminhos deixados por fontes prováveis e improváveis, os historiadores transformam-se em porta-vozes de um tempo… de uma trajetória feita por questões e investigações. Conexões são feitas e refeitas, caminhos investigativos desbravados à luz de diferentes métodos e matrizes teóricas. Em muitos casos, o caminho é árduo e construído a partir de hiatos, de não-ditos, de silêncios e omissões. Tece-se a construção de uma trama que circunda um objeto fazendo disso a História, nem certa, nem errada, apenas por um ângulo ou prisma diverso.

Em todos os casos, tais registros da atividade humana em toda a sua complexidade são fixados em diferentes suportes e por toda a História encontraram suas formas de perenidade para mais adiante sofrerem o trabalho crítico de pesquisa e crivo.

Diante de tal complexidade laboriosa e detalhada que cada fonte solicita e da quantidade de suportes e de registros de que dispomos, oferece-se ao olhar pesquisador ampla gama de produtos que servirão como fonte de pesquisa e matéria-prima para a História.

Coetâneos em sua essência, nossa sociedade vive a construção de um novo paradigma sobre a forma como produz conteúdos e informação.

Tomo de empréstimo o sentido de coetâneo proposto por Duque (2011):

“[…] Coetâneo, aqui, abriga o significado do que é contemporâneo e ao mesmo tempo integrante de contexto de vanguarda social, política, econômica, técnica e científica […].”

É o uso intensivo de tecnologias de informação e de comunicação que tem diferenciado nossa sociedade de princípios do século XXI e que, sem dúvida, imporá aos profissionais de diferentes áreas de conhecimento e, em especial, para o nosso caso as Ciências Humanas, o desafio de encarar escritas e trilhas que vão muito além do que se supôs até então.

Objetivo oferecer ao leitor alguns questionamentos sobre o universo de atuação profissional das Ciências Humanas em tempos de imediaticidade, produção em massa e, ao mesmo tempo obsolescência e transitoriedade de suportes. Inquietações de ofício partilhadas com pares: da quantidade que suplanta em muitos casos a capacidade de assimilação e registro, que inviabiliza reflexões posteriores de algo que não mais estará ali aguardando por séculos para ser analisado.

Esse é o mundo em tempos de Web 2.0, 3.0 e em vias de transformar-se numa versão 4.0.

A conversa e seus desdobramentos seguem em outros posts, que você pode conferir aqui:

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Publicado originalmente no Blog Pensados a Tinta

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