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Dias Escuros em Tempos molhados

Por: Carlos Drummond de Andrade – Correio da Manhã, 14/01/1966*

Por: Eliana Rezende Bethancourt**

Os dias escuros
“(…) Amanheceu um dia sem luz – mais um – e há um grande silêncio na rua.
Chego à janela e não vejo as figuras habituais dos primeiros trabalhadores.
A cidade, ensopada de chuva, parece que desistiu de viver.
Só a chuva mantém constante seu movimento entre monótono e nervoso.


É hora de escrever, e não sinto a menor vontade de fazê-lo. Não que falte assunto. O assunto aí está, molhando, ensopando os morros, as casas, as pistas, as pessoas, a alma de todos nós. Barracos que se desmancham como armações de baralho e, por baixo de seus restos, mortos, mortos, mortos.
Sobreviventes mariscando na lama, à pesquisa de mortos e de pobres objetos amassados. Depósito de gente no chão das escolas, e toda essa gente precisando de colchão, roupa de corpo, comida, medicamento.
O calhau solto que fez parar a adutora.
Ruas que deixam de ser ruas, porque não dão mais passagem. Carros submersos, aviões e ônibus interestaduais paralisados, corrida a mercearias e supermercados como em dia de revolução.

O desabamento que acaba de acontecer e os desabamentos programados para daqui a poucos instantes.
Este, o Rio que tenho diante dos olhos, e, se não saio à rua, nem por isso a imagem é menos ostensiva, pois a televisão traz para dentro de casa a variada pungência de seus horrores.
Sim, é admirável o esforço de todo mundo para enfrentar a calamidade e socorrer as vítimas, esforço que chega a ser perturbador pelo excesso de devotamento desprovido de técnica. Mas se não fosse essa mobilização espontânea do povo, determinada pelo sentimento humano, à revelia do governo incitando-o à ação, que seria desta cidade, tão rica de galas e bens supérfluos, e tão miserável em sua infra-estrutura de submoradia, de subalimentação e de condições primitivas de trabalho?
Mobilização que de certo modo supre o eterno despreparo, a clássica desarrumação das agências oficiais, fazendo surgir de improviso, entre a dor, o espanto e a surpresa, uma corrente de afeto solidário, participante, que procura abarcar todos os flagelados.

Chuva e remorso juntam-se nestas horas de pesadelo, a chuva matando e destruindo por um lado, e, por outro, denunciando velhos erros sociais e omissões urbanísticas; e remorso, por que escondê-lo?

Pois deve existir um sentimento geral de culpa diante de cidade tão desprotegida de armadura assistencial, tão vazia de meios de defesa da existência humana, que temos o dever de implantar e entretanto não implantamos, enquanto a chuva cai e o bueiro entope e o rio enche e o barraco desaba e a morte se instala, abatendo-se de preferência sobre a mão de obra que dorme nos morros sob a ameaça contínua da natureza; a mão de obra de hoje, esses trabalhadores entregues a si mesmos, e suas crianças que nem tiveram tempo de crescer para cumprimento de um destino anônimo.

No dia escuro, de más notícias esvoaçando, com a esperança de milhões de seres posta num raio de sol que teima em não romper, não há alegria para a crônica, nem lhe resta outro sentido senão o triste registro da fragilidade imensa da rica, poderosa e martirizada cidade do Rio de Janeiro (…)”.

Rio de Janeiro – 1966

Não, não a História não se repete…a História não é cíclica. Nós humanos que gostamos de nos repetir em nossos erros vezes sem conta.

Aprendemos pouco com o que o Tempo nos deu e teimamos em ocupar espaços que não nos pertencem, em cobrir caminhos que margeiam rios, encostas. Teimamos em alterar itinerários, desmatamos e largamos cicatrizes imensas em territórios que não possuem como se proteger a não ser permitir que corredeiras se façam.
As águas que escorrem misturam-se a terra que rapidamente vira lama e esta como uma onda pegajosa arrasta construções, objetos e pessoas quase sem diferenciar cada um deles pela força que os consegue arrastar. Deixa atrás de si um rastro de destruição, perdas e mortes.
E é assim que todos os verões sabemos que a chuva chegará dentro de uma grande nuvem negra, que se desabotoará por encostas e atingirá prontamente aqueles que nem sempre por escolha estão ali. E assim, ano após ano contamos nossos mortos e ouvimos as promessas que NUNCA se cumprirão de que haverá moradias e lugares decentes para todos.

Tal como nos diz o poeta são nos dias escuros que percebemos que a luz que nos deixou trouxe a água que enche ruas, bueiros e leva tudo o que encontra. Serão estas águas que carregarão os corpos de trabalhadores urbanos e suas casas insalubres e farão subir as estatísticas das vidas que foram interrompidas. Acontece que vidas interrompidas são projetos de existência que não se deram, que não ocorreram e NUNCA poderão ser confundidos com estatísticas de inundações, deslizamentos ou desabamentos.

A cidade, os leitos de rios e córregos transbordam e acabam por refletir a forma como eles próprios são maltratadas, usados e desrespeitados. O lixo produzido e jogado por janelas ou despejados em esgotos ilegais auxiliam no acúmulo do que será despejado logo à frente quando estes encontrarem barrancos e barracos.

Os elementos são muitos e variados e cada sociedade e tempo traz seus elementos que comporão as crônicas do dia seguinte, que parece se repetir indefinidamente… não adianta culpar a História… é preciso aprender com ela para simplesmente parar de se repetir…

São Sebastião – São Paulo Fevereiro de 2023

______________
* A enchente a que o poeta se refere é a ocorrida na cidade do Rio de Janeiro em 1966, que resultou em 250 mortos e mais de 50 mil desabrigados.
** A escolha de publicar a crônica do poeta se deu pelos volumes de chuva no Litoral de São Paulo em Fevereiro de 2023 onde choveu em 14 hs e 683 mm de chuva. O maior índice pluviométrico da História do país até aquela data.

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O Sequestro das Palavras

Por: Eliana Rezende Bethancourt

Há momentos em que as palavras adormecem.
Calam-se, não conseguem dar as mãos para formar uma ciranda de sentidos, sentimentos, argumentos, convicções, ideias, utopias.
Seu silêncio faz-se tão alto que torna-se ensurdecedor e nos põe diante de nossa total incapacidade de com elas travar combate.

Fortes e destemidas as palavras nos auxiliam a pôr em trânsito nossas ideias e sentimentos mais profundos. São ferramentas que materializam o subjetivo que nos habita. São tijolos que constroem: de pensamentos a projetos, de sentimentos a desencantos.

Colocadas lado à lado e numa ciranda perfeita podem estimular e aglutinar pares, atrair sentimentos similares, fortalecer combalidos, dar esperança a desesperançados.
Mas quando elas parecem secar é como um deserto que nos toma. Nele apenas o desconforto das temperaturas, os ventos que mudam tudo de lugar e que possuem poderes de movimentar montanhas inteiras, soterrando e sufocando tudo o que está em seu caminho.

As palavras que enchem páginas com seus contornos de símbolos, sinais, formas e ideias são solicitadas em determinados momentos mais do que em outros.
Por exemplo, espera-se em geral, que transcorrido um ano inteiro e às vésperas do inicio de um novo ano expectativas e esperanças se renovem e encontrem ares para se expandir e contagiar. As palavras aqui deveriam ser veículo de estímulo e de esperança.

Mas especialmente no dia de hoje para mim é um dia de palavras silenciosas (disse isso em 1º de Janeiro de 2019, quando da posse do inominável jb e a repito hoje – 07 de Setembro de 2022 na data que deveria ser de comemoração do Bicentenário de nossa Independência).
A mente, aquela que constrói as palavras pressentia naquele momento tempos de tempestade e obscurantismo que permanecem ainda hoje em data que poderia ser uma celebração da nossa História. Temos ares que matam as palavras ou as fazem natimortas.

Nestes tempos, não há respeito ou apreciação pela palavra polida, límpida e lapidada. É um tempo de poucos recursos semânticos, de prazer na desconstrução de ideias, pessoas, reputações, com desprezo pelo diferente, divergente.
Tempos de ode à ignorância e ao pensamento fácil e populesco.
Um tempo onde símbolos são sequestrados e colocados num não lugar de representação e representatividade.

Mas, como nenhum movimento pode por si só extinguir o que é como rio, as palavras voltarão com certeza ante a diversidade.
É o inverno das palavras, que adormecerão aguardando a sua primavera para florir em grandes botões e explosão de cores. Estarão, nesta fase de hibernação, confortada por mais palavras, só que desta feita escrita por outros pares, outras mentes, outros arquitetos do saber. Armazenadas em relicários, que convencionamos chamar livros e que tornam-se fiéis depositários de séculos de pensamento humano e histórico.
É aí no conforto destas palavras que aguardarei as minhas.

Sei que símbolos são forjados e a História não se constrói numa data. Como as camadas que segmentam rochas a História vai se sobrepondo e sendo depositada, e com as palavras conseguimos construir seu caminhar através dos Tempos.

De pronto espero acontecimentos.
Não estou nem esperançosa, nem feliz.
Mas sei também que a História não é feita de um e nem de poucos, e com certeza ela permanecerá, por mais que se tente retirar dela significados, ideias, pessoas, símbolos. E nesta tarefa da permanência e imanência que as palavras garantem que a História se perpetue, para além de seus detratores.
O que direi portanto aos que como eu sentem-se expropriados de suas palavras?

Desejo que a aspereza dos dias mostrem caminhos criativos para que as mentes se libertem ainda mais. Que os pensamentos se fortaleçam e edifiquem com robustez para que as palavras não deixem de ser pensadas, ditas, escritas, disseminadas. Serão nossa fortaleza em tempos de crueza.

Enquanto as palavras não chegam e como forma de conforto, escolho encerrar com o canto que vem dos povos da floresta. São duas mulheres indígenas que nos oferecem essa maravilha: Djuena Tikuna e a Tainara Kambeba. Ouça, encante-se e emocione-se!

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A casa que habito

Por: Eliana Rezende Bethancourt

Por muitos anos, e para alguns, o empreendimento de uma vida é ter um lugar físico que possa chamar de seu: é aquele pedaço de chão, aquele conjunto de blocos, pedras, concreto e cores, que juntos configuram o espaço denominado de: “casa”.

Mas, caminhando pela vida e pela existência, percebo que há moradas que fazem muito mais sentido e que nos dão o sentido exato deste “habitar”.
A “casa” toma assim um sentido figurado e pode ser metáfora do espirito que temos e carregamos como nosso.

O espirito que nos habita possui todas as características que são fundamentais para manter nossa existência.
Se bem fundado é forte: suporta intempéries, dificuldades, desastres, catástrofes, imprevistos.
É lugar de quietude quando tudo à volta parece vociferar e bradar.
É ponto de luz quando tudo parece sucumbir à escuridão e penumbra.
É lugar de paz quando tudo parece uma interminável batalha.

Mas afinal, muitos não se apercebem que este lugar tão precioso necessita ser cuidado.
O espaço onde nosso espírito habita é um empréstimo da existência. Apenas temos que zelar por ele. E ao partirmos, o entregamos: muito provavelmente do modo como vivemos, em boas ou más condições de acordo como escolhemos viver.
Assim, se bem administrada, a casa que habitamos vai se transformando em fortaleza e lugar de resistência. Lá o espírito crescerá, se fortificará, entenderá e completará aquela que é a sua missão.

A casa que habito já possui mais que meio século e nela me refugio quando tudo o que lhe é externo lhe contradiz, desrespeita, vocifera. Mas suas janelas se abrem e deixam entrar aqueles que a conseguem iluminar porque trazem com sua presença luz o calor que colore dias e que são capazes de acalentar mesmo em meio à tempestades.

Os anos passados trazem isso de bom: um sentido de permanência e imanência do que verdadeiramente importa e a compreensão de que o que verdadeiramente conta é o que está dentro. Lá não precisa que se acumulem bens extravagantes e materiais. Será lugar de conforto para quem deseja expansão da alma e alargamento do espírito.

A casa que habito está no dia de hoje em contemplação: comemora mais um ciclo de 365 dias de abrigo numa jornada de muitos dias e outros ciclos. Tem sido um lugar onde minha alma atraca e encontra segurança e paz. É ponto de pouso onde meu espírito se alarga.

Comemora comigo?

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* Post atualizado de texto publicado originalmente no meu Blog, o Pensados a Tinta

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Leve sua alma para passear: dê-se tempo!

Por: Eliana Rezende Bethancourt

O tempo é sempre a grande preocupação de tudo e de todos.
Sempre temos a sensação de que nos escapa por entre os dedos, e por mais que aparentemente vivamos, menos nos sobra dele.

O tempo, logo se constata, não pode ser simplesmente medido por ponteiros e horas que insistem em correr através dos dias e anos em que nossa vida parece fatiada, retalhada, esmiuçada.
Como dar aos nossos dias tempo?
Como fazer com que, de tantos minutos infinitos, tenhamos de fato vida vivida e não tempo perdido, consumido, desperdiçado?

Fico aqui pensando que o melhor que podemos fazer, aos nossos corridos dias, é dar tempo e vida às nossas existências levando nossa alma para passear.

Mas como se passeia com a alma?
Como fazer isso se muitas vezes o corpo está aprisionado em congestionamentos, transportes, baias de trabalho, ou num sem número de compromissos?!

Dar descanso e passeio a alma pode significar destinar-nos tempo para coisas simples que dão a mente a possibilidade de expandir-se.
É este espaço que nos damos que pode favorecer ao alargamento do espirito e a expansão de nossa criatividade.

Por isso, encontre o tempo que muitas vezes é expropriado de nossas vontades. Encontre-o e o distribua por pequenas doses de prazer diário.
Descubra o que para você dá prazer aos sentidos.

Liberte-se de relógios, agendas, e celulares por alguns minutos ao dia. Seja seu maior e melhor companheiro. Caminhe simplesmente olhando o que há à sua volta. Perceba pessoas, animais, plantas, movimentos coletivos de pessoas, multidões ou meros indivíduos.

Quanto maior for o espaço social em que está, maiores serão os estímulos e possibilidades, trazendo com ele o desperdício pelo excesso. .
Concentre-se!
Não mergulhe na multidão para ser só mais um. Faça isso conscientemente e perceba-se nas suas diferenças.
Aprecie um bom café sentado em um cantinho interessante ou numa esplanada com uma vista que valha à pena. Aquiete-se! Coloque-se em descanso.
Simplesmente conecte-se com você.
Ouça o som do silêncio.
Alcance o som da sua alma.

Busque atividades simples que possam lhe dar prazer e alguma dose de endorfina: passeie ou brinque com seu cachorro, nade, corra, ande de bicicleta ou a pé….perceba os seres vivos em grande e pequena escala: olhe o céu, procure estrelas, constelações, planetas, encontre as imagens que as nuvens te mostram ao passar e passear suavemente sobre o céu.
Abaixe os olhos e veja as miniaturas que habitam o seu jardim: os trajetos de formigas, os pousos de borboletas, os pássaros nas árvores, as rãs em brejos…
Encontre a beleza de vidas aquáticas e as formas diversas que lhe apresentam de se mover, comunicar… seus coloridos e sons.

Procure uma esplanada, uma janela, uma vidraça…enquadre o mundo por ela e perca-se com um café ou uma taça de vinho.
A contemplação não exige praticamente nada. Apenas seu olhar e imaginação contemplativa.
As palavras são desnecessárias e a companhia chega a ser supérflua, pois nos tirará o sentido deste mergulho interno com nossa alma.

Alimente sua mente com leitura que lhe agrade, descubra uma nova receita, um drinque feito de sabores e cores diversas, um novo percurso (ao invés de sempre seguir pelos mesmos lugares e rotas).
Surpreenda-se levando sua mente para lugares em que nunca esteve. Disponibilize-se!
Fuja de algoritmos favoritando sempre as mesmas coisas.
Ouse ousar!

Cumprimente quem cruza seu caminho. Experimente um sorriso, vez por outra, para alguém que simplesmente lhe dirija o olhar. Descubra que se sorri também com os olhos.

Todos estes gestos não demandam tempo no sentido horário. Em geral, pouquíssimos minutos podem dar-lhe uma satisfação imensa e não terá subtraído nada do que sejam suas responsabilidades. Mas terá posto vida ao seu tempo.

Em pouco tempo, se dará conta que não precisa de dias específicos para se dar tempo e passear com sua alma.
Todos os dias serão dia de dar-se tempo e alargar-se.

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* Post escrito revisto e atualizado a partir de publicação original do meu Blog, o Pensados a Tinta

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Trincheira das Palavras

Escrito e lido por: Eliana Rezende Bethancourt

Desafiam, instigam, maquiam… e, certamente provocam verdadeiras plásticas em sentidos, coisas, objetivos e relações.
Palavras que carregavam seu sentido e essência veem-se alteradas e/ou modificadas em uma forma de sequestro de significados, numa assepsia acéfala e às vezes, perversa .

A provocação aqui está em exatamente mostrar o quanto palavras foram extirpados dos nossos dicionários, e passaram a sofrer um processo de assepsia pela escrita e pela fala.
Termos, por exemplo, como velhice e morte passam a sofrer um processo de domesticação e afastamento como sendo algo abjeto, mesmo sendo parte de algo natural e que de fato fecha um ciclo do que integra a chamada existência. Em alguns casos, se transformam em termos tabus, considerados inapropriados à diferentes ocasiões.

Defendo o uso de tais palavras, livre de trincheiras, plásticas, maquiagens!

Por isso, em relação a estes termos como envelhecimento e morte quero tudo o que delas fazem parte. Se viver e envelhecer significar ter as marcas que o tempo me fez (quer na face, quer na alma), a experiência acumulada pela velhice dos meus anos e porque não dizer que quero a Boa Morte… no sentido da dignidade do encontro com um fim, porque não as usar?
Que eu possa ter a dignidade e naturalidade de viver isso tudo sem intermediários em seu momento final: tubos, máquinas ou mesmo palavras que roubem o sentido daquilo que de fato se vive.
Pois morrer e envelhecer são parte, negar isso é contradizer o que é natural.

Nossa sociedade está se habituando a mudar nomes como uma interferência asséptica, esquecendo-se que, envelhecer e morrer, possuem seus sentidos e significados, mudar as palavras não tira o sentido que eles têm.

Por isso, sou adepta de me chamarem como a vida assim quis. E se estiver velha, que me chamem de velha!

Talvez uma das formas que as usam para não enfrentar posicionamentos é exatamente nominar as coisas de outras formas. O enfrentamento não ocorre e as trincheiras das palavras servem apenas para dar sentidos outros ao que verdadeiramente se sente.

A sociedade que persegue a beleza das formas e a juventude infinita, se esquece de que o tempo é sinônimo do acúmulo e que para a maioria dos casos deveriam tornar as pessoas melhores, mais tolerantes e com uma capacidade de interação maior, sem agressividades ou desrespeitos.

Infelizmente o tempo não faz isso a todos e ferir pelas palavras passa a ser um meio subalterno de tentar chamar atenção para si. Donde chamar velho será xingamento. Forma amiudada de querer ser superior, pois mais jovem. Este recurso servirá apenas para pôr luz sobre as dificuldades de lidar consigo próprio e com o outro, nas relações pessoais, sociais, interpessoais e profissionais.

A velhice e a morte são faces da mesma moeda chamada vida e tê-las conosco é sinal de que entendemos o que todo um ciclo significou. É a moeda de troca que nos dá o simples direito de existir.

Certa vez um integrante de Grupo, o Professor Emicles Manguinho Filho, me disse algo lindo: que na Bahia (mais especificamente no interior), comunga-se com essa forma de pensar, porém, os poetas interioranos, na sua simplicidade, usam como sinônimo para o idoso do texto o termo “veiança“.
Achei absurdamente fantástico isso!
Longe de ser uma maquiagem que tenta trazer uma plástica de sentido, “veiança“,  ao contrário é uma bela palavra, em especial se tomarmos o seu sentido de produção cultural. Algumas palavras funcionam como roupagem e adorno para o sentido do que queremos transmitir.

Assim, “veiança” é uma delícia de fato!

Mas no mundo corporativo não é bem assim.

É comum o uso de palavras que chegam emprestadas de outras línguas, que camuflam e sofisticam fazeres sem conteúdo: a falácia da igualdade de programas de inclusão mal conduzidos, que acabam por segregar os diferentes; a responsabilidade social reduzida à uma ação assistencialista à comunidades, passando longe do ideal de desenvolvimento; o discurso da qualidade de vida no trabalho, enquanto se extrai sangue diretamente da jugular dos executivos, consultores e funcionários… são contradições que escancaram o que de fato se esconde atrás de trincheiras de palavras usadas apenas como camuflagem.

Nestes espaços, seus velhos são chamados de sêniors e rapidamente o mercado tenta substituir seus cabelos brancos por Júniors, recém chegados de seus MBAs. 
Velhos e jovens deveriam ser complementares, imprescindíveis uns aos outros na vida e nas organizações. E não vale dizer, por exemplo, que os velhos são a experiência enquanto os jovens trazem a inovação. Gerir capital Intelectual nas organizações fará com que haja simbiose e valor destas relações. Sem preconceitos.

Para este caso, estamos diante de fronteiras invisíveis criadas e tecidas nos espaços sociais, culturais e até profissionais. Os rótulos procuram enquadrar, segregar, e em vários casos, funcionam para manter ao longe o que é considerado indesejado ou inadequado aos objetivos de grupos, corporações ou indivíduos.
Numa cultura que se sustenta por consumo, substituição e juventude a qualquer preço, ser velho ganha o sentido de ultrapassado e passível de receber uma plástica de rótulos e funções.

Talvez por isso, ocorra a substituição do “sênior” por um “jovem talento” (palavras que tentam sanear espaços corporativos, dando-lhe um verniz feito de novos termos para velhos nomes, funções ou atribuições). Sênior e Júnior não podem ser tomados como antônimo um do outro! E cada dia mais Capital Intelectual é simplesmente posto fora do mercado de trabalho para ser substituído por “sangue novo”. Escrevi largamente sobre isso no artigo ‘Juniorização e perda de Capital Intelectual nas Organizações

Mas há muito mais.

A reflexão neste sentido é fundamental e nos deve fazer pensar. É fato que não mudamos uma sociedade inteira da noite para o dia, mas criar zonas de crítica e percepção é o mínimo que se deve esperar de profissionais atuantes e preocupados com a sua inserção, e a de outros.

Há também uma outra abordagem.

Há um componente que é a dimensão de autorrepresentação e de como as pessoas querem ser vistas.
As pessoas tendem a pôr ressalvas e não gostar que lhe chamem velho. Toma-se como uma forma menor de adjetivar, já que convivemos numa sociedade em que a tirania do sempre novo se impõe como necessidade de aceitação.
Isso de fato preocupa.

Vejo a necessidade de (re)significação no sentido de utilização de um termo que não merece “saneamento ou assepsia”, merecia ter seu sentido inicial. O que ocorre é que essa (re)significação deve partir do individuo, de se assumir como tal, em primeiríssimo lugar e, sem culpa ou desculpas utilizar socialmente o termo aos demais quando for o caso.
Mas sem dúvida, a escrita para consumo social coloca dia-a-dia o emprego das palavras, seus significados e apropriações culturais e sociais.
O escrito nunca é igual ao lido, e por ter a interpretação do outro pode gerar ruídos.

Me inquietam relações, sejam elas sociais, culturais, profissionais e até as midiáticas!
Para além do humano dou especial atenção a escrita e as muitas manifestações possíveis de comunicar pensamentos, ideias e as trocas, em especial as simbólicas: já que nossas moedas de troca e valor passam essencialmente pelo pensamento partilhado e compartilhado.

Por esta minha postura, já me disseram que isso seria conformismo: me render à velhice e à morte.
Mas não é conformismo. É simplesmente considerar que é parte de um grande ciclo. E que como tais merecem ter começo, meio e fim.

Não aceitá-las pode gerar em alguns certo amargor e isso não é bom nem para o individuo, nem para os que o cercam. Se tomarmos como parte, a velhice, passa a ser libertadora.
Aprendemos que somos os nossos melhores e mais presentes companheiros e que quando todos se forem, nós estaremos ali habitando nossa alma e povoando nossos mundos que existem por meio de nossos pensamentos.
Nos libertamos do compromisso de “o que você vai ser quando crescer?”. Nos libertamos da ansiedade de não saber o que resultará de nossas vidas, os amores que teremos, a vida que viveremos. Já fizemos e trilhamos o caminho da nossa história. Não há projeções inalcançáveis adiante. Haverá sim, possibilidades concretas a partir do autoconhecimento adquirido com a experiência dos anos. Não nos impomos tarefas que sabemos, não seremos capazes de realizar. E descobrimos que o maior de todos os luxos é o Tempo que temos para dedicar a nós e ao que aprendemos a gostar no decurso dos anos. As cifras não fazem sentido e o que fica de bom é tudo o que foi plenamente vivido, e não necessariamente o que nos foi remunerado.

É bom saber que o Tempo pode ser um grande aliado da vida que temos e da existência que partilhamos. E quiçá das rugas que teremos. Nesta linha de aceitação e compreensão que a vida nos marca e pinta da forma que ela quer, fiz comigo mesma o exercício de assumir os tons que a vida me pintou. E assim ganhei nos primeiros meses de 2021 em período pandêmico os tons prateados que contam um pouco da história construída e vivida até aqui. É a escrita do Tempo deixando seus traços no meu corpo: é a Escrita do Tempo sem trincheiras, máscaras ou disfarces.

A antropóloga Miriam Goldemberg, em suas pesquisas sobre o comportamento humano, colheu que o mais importante seria a qualidade das rugas e não a sua quantidade. Disse ela que o riso e o sorriso continuado, provoca rugas, porém, rugas com orientação para cima; diferentes das rugas convencionais.

Acho que só se pode brincar assim os que tem assumidos os seus anos! Aqueles que têm lá suas dificuldades tentam maquiar, “botocar”…esconder… Quem já não viu a exposição que chega a ser patética de pessoas que querem ter uma idade que não têm: pintam o cabelo, os cortam como quando tinham 20 anos, ou pior: usam as roupas desse tempo e ainda insistem com a sessão juvenil das lojas de departamento!?
Saber rir das próprias limitações é também se ver como velho, mas nem por isso como algo a ser descartado sem importância! Se dê valor e se respeite não como algo a ser descartado, mas como alguém pleno, inteiro, que basta a si próprio e que parou de estar preocupado com o que os outros pensam sobre você. Lembre-se que todas a vidas que viveu estão lá, no fundo dos teus olhos e podem ser alcançados com as memórias que te pertencem e que foram guardadas para tais momentos.

Uma vez me disseram algo que só agora entendo: “Eliana, minha cabeça pensa como quando eu tinha 20 anos… meu corpo é que tem 70!”. Inúmeras vezes me olho no espelho e me lembro exatamente do que eu pensava aos 5 anos de idade, quando minha altura só permitia que eu visse meus olhos refletidos no espelho da cômoda do quarto da minha mãe. Acho que a mente não envelhece… o corpo é que não entende bem e segue acumulando os anos!

Mas se assim é, porque então mudar seus nomes? Usemos as palavras para significar o que precisam significar. Não as usemos como trincheiras para esconder ou maquiar.

Afinal, quem precisa de plástica para as palavras?

*Adento Pós-Pandemia

Quando este post foi escrito em sua primeira versão a pandemia por COVID19 era apenas uma ficção científica.
Lido no contexto de pós pandemia o texto precisa ser redimensionado.
A morte nos chegou de forma abrupta e retirou de muitos o direito ao que chamei acima de “Boa Morte” (aquela que ocorre de forma a respeitar a naturalidade deste acontecimento). Muitos a encontram sem os intermediários necessários (medicamentos, respiradores) e não tiveram escolha ou qualquer possibilidade de paz no momento de partir. Famílias destroçadas não puderam fazer uma despedida como seria de se esperar e os lutos se arrastam em intermináveis dores.
Por isso, é preciso compreender o texto acima num contexto de normalidade e escolhas. Algo muito diferente de um momento pandêmico onde a morte chega breve, abrupta, sem escolhas e não como parte de um ciclo natural.

* *Post atualizado de publicação feita originalmente no meu Blog, o Pensados a Tinta.
Se desejar Ouça eu ler para você (escolha a opção abrir com: Music Player for Google Drive) da versão original.

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Ceda lugar ao novo

 Por: Eliana Rezende Bethancourt

Em uma sociedade onde consumir é a regra, ter e ostentar seja o natural, parece estranho falar em ceder espaço.
Proponho substituir a tão batida palavra desapego, por ceder espaço, dar lugar.
A palavra desapego teria um significado muito interessante, mas de tão usada e repetida parou de ter o sentido que se esperaria dela. Como tantas outras palavras, perdeu valor por ser moeda fácil e de quase nenhuma aplicação.

Ceder lugar dá ao desapego o sentido mais próximo do seu significado original.
Ao falar em ceder lugar, parto de uma constatação muito simples: as pessoas em geral distraem-se muito com o ter e esquecem-se do ser.
E explico porque considero o ter uma tremenda perda de energias:

O que temos não podemos levar a todas às partes, já o que somos vai conosco pela vida, pelo tempo e espaço. Por isso sempre é bom arranjar meios para simplesmente ser“.  (Eliana Rezende Bethancourt)

Os entulhos espirituais, emocionais ou materiais devem, por força de nossa saúde e bem estar, ser eliminados.

Aqui faço uma metáfora simples que é da minha área profissional e que se aplica com propriedade à vida: os documentos em um trabalho de Gestão Documental obedecem uma Temporalidade. Transcorridos o tempo e suas funções são eliminados, e somente os de muito valor são preservados para à posteridade, num para sempre eterno.
Com este processo garantimos que apenas aquilo que tem valor sobreviva ao tempo, e o restante, que ocupa recursos e espaços desnecessários são entregues ao seu fim.

Imagine que maravilha poder olhar para uma relação que nos desgastou, um emprego que nos sugou, uma pessoa que nos vampirizou, e simplesmente dar-lhes um tempo limitado. Feitos todos os estragos e aprendizados em nossas existências, partirem sem deixar rastros!
E nós, por outro lado, sem permanecermos num infinito retorno e amargor desses desencontros. Entenderíamos como apenas algo que tinha uma função, e que tendo sido cumprida cederia a vez à próxima aprendizagem. 

Se fôssemos capazes de definir prioridades para as nossas vidas e saber desapegar-nos daquilo que não importa, interessa ou acrescenta, estaríamos sempre leves para cada novo que chegasse. 

Penso na vida, um pouco, como um longa viagem e que como tal não permite excesso de bagagem. Todos sabem o que uma mala com sobrepeso representa numa longa viagem, não é mesmo? Quase sempre, um esforço desmesurado que ao fim não vale o que nos custa.

Os inexperientes descobrem, à duras penas, que não adianta levar uma mala cheia, que voltará quase sempre sem ter sido mexida, e que os pesos e contrapesos darão apenas dores musculares e taxas extras nos aeroportos.

Pense a vida como aquela ponte que nos leva de uma margem à outra. Ninguém pensaria em sobre ela construir um prédio com fundações. Uma ponte é apenas caminho, passagem. Seu objetivo é nos levar de um ponto a outro. Não se fixa residência sobre uma ponte! Assim é a vida. Um caminho que deve ser feito de mãos livres, mente, coração e olhos abertos, ouvidos atentos a tudo o que for apresentado aos sentidos.

Em geral, tal como as malas arrastadas por uma viagem inteira, as mãos, os corações e as mentes ocupadas em carregar os entulhos passados não permitem que estejam abertas para receber o Novo da vida. Como aceitar algo com as mãos, se elas estão presas e seguram algo que já passou?

É preciso se convencer que não se pode seguir pela vida acumulando e tendo tudo.
Escolhas precisam e devem ser feitas, e quando aprendemos esse desapego simples que é até de se questionar sobre se de fato precisamos mesmo daquele parafuso ali naquela gaveta, sentimos uma liberdade de ser que não se compara a compulsão do ter.

Um exemplo muito simples mostra esta compulsão pela posse e ostentação futura: as pessoas viajam e em vários casos, em vez de tentar sentir sua viagem, seus odores e sabores, ficam disparando fotografias para todos os lados e a distração em fotografar os tira da concentração de viver o momento.
Querem uma imagem para postar na rede. Clicam rapidamente para ter o consentimento de esquecer.
Desapego aqui seria preocupar-se em fixar imagens e sensações em si… e não em um gadget!
E de novo temos o sentido do que é o ter e o ser.
Ao término da viagem haverá uma coleção de imagens, mas e a verdadeira viagem, aquela que é um deslocamento da alma e dos sentidos? Será reduzidas a imagens e selfies? Tão pouco, não é? Isso para mim é o maior exemplo de pobreza. Ainda que as imagens sejam de pores do sol pelo mundo!

O horizonte do desapego é largo, e pode incluir tantas coisas.
Se bem conduzido, passará longe de ser perda! Ao contrário, será extremamente rico e para alguns chegará a ser libertador.

Mas não falo apenas daquela bolsa, sapato, roupa ou brinquedo tecnológico. Falo de sentimentos, pessoas, empregos, funções que já não nos servem mais e que insistimos em mantê-las nos armários de nossas existências, quer por medo de não encontrar substituto, quer por medo de sermos rapidamente substituídos e descobrir que afinal, nem éramos assim tão indispensáveis.

É preciso compreender que podemos achar que temos a posse de algo, mas em verdade somos possuídos. Somos possuídos por medos, inseguranças, fragilidades. A posse longe de dar conforto e segurança aprisiona, tira objetivos e se transforma em uma gaiola que temos a chave, mas temos medo de usá-la.

Descobrir que o melhor que temos está dentro, e, pode ir junto por toda a parte, é o melhor dos aprendizados.
Infelizmente alguns levam a vida a toda e não aprendem essa lição e a do acúmulo lhe toma toda a existência.

Assim, se você passou um ano inteiro sem calçar um sapato, usar uma bolsa, uma roupa fantástica que você pagou os tubos, não ligou uma única vez para aquela pessoa, talvez seja um forte indício de que você precisa exercitar o desapego. Se passou um ano inteiro, perdeu todas as oportunidades que poderia ter, e portanto, definitivamente não precisa disso para si.

Ceda espaço… ceda lugar ao novo.
Faça isso tudo circular nos armários, gavetas, garagens, na vida!
Afinal, tudo é um empréstimo que a vida te deu: usufrua, sem apego apenas com discernimento.

* Post publicado originalmente no meu Blog, o Pensados a Tinta

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Tempo: Valioso e Essencial

Por: Eliana Rezende Bethancourt

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Não contem a ninguém: mas hoje faço Aniversário.
É a passagem do Velho Senhor dos Tempos em mais uma ronda. Alcança-me os anos e mostra-me a conta dos meus dias.
Penso sobre tudo e concluo que a vida é mesmo sábia. Nos dá os anos para que não vivamos tudo de uma só vez. Viver, portanto, é ter a paciência para moldar um espírito inteiro!
Olhando para frente, e para trás, parece-me que tenho muito menos a viver do que já vivi. Eles passam e ganhamos certas coisas, na exata medida que outras se vão.
É a Lei das compensações:

Aos 18 meses de idade

Se a pele perde viço, os pensamentos ganham razão. Os bons argumentos se fazem desta.
Se o tônus do corpo se perde a mente e as ideias ganham contornos e robustez. Sabem que precisam ser edificadas fortes para que firmes se sustentem.
Se o corpo pode falar, o silêncio ao lado da escuta pode ser bom conselheiro. Descobre-se o verdadeiro sentido de se ter dois ouvidos e apenas uma boca: é preciso sempre ouvir mais do que falar.

Se as paixões não são avassaladoras, há o terno calor do amor companheiro que aquece e segue por onde quer que possamos ir.

Se os olhos precisam de óculos, a perspicácia ganha agudeza. Enxerga-se adiante num futuro que ainda é esboço, nas entrelinhas de gestos, de não ditos.
Descobrimos que em toda nossa trilha, com tantas idas e vindas, cada um de nossos dias foi vivido em nossa exclusiva companhia. O Tempo nos faz solidários e generosos com o que somos. Estaremos juntos até a última de nossas respirações. Assim nada de animosidades, rancores, maus sentimentos. O maior de todos os amores deve ser gentil, suave e sem culpas ou arrependimentos: é de nós para nós mesmos.

Substituem-se sonhos por realizações. Na ronda do Tempo percebemos o que fomos e o que nos tornamos e como a alquimia dos sonhos transformou nossas vidas, materializou projetos, redimensionou ideais. Criou pontes entre passado, presente e futuro.
Tudo em perfeita sincronia para que os anos nos cheguem e tenhamos o que barganhar.
Muito interessante e sábio.

Do outro, e até porque os anos passam e o saldo tende a diminuir rapidamente, não temos tempo a perder. O Tempo nos faz saber que correr para enriquecer é o remédio para todas as doenças. E que o lucro obtido será gasto para comprar a cura das doenças acumuladas pelo estresse, noites mal dormidas, trânsito pesado, reuniões intermináveis.
Não se lucra quando se subtrai.

O Tempo é valioso e essencial, tece-nos a trama de quem somos, nos dá memórias e vinca nossa identidade pelas eras e pelos espaços por onde trafegamos, portanto:

Não há Tempo para se perder com a fogueira de vaidades e com coisas sem importância.
… . É sim, Tempo para cultivar generosidades;
Não há Tempo para se ocupar de existências alheias.
… . É sim, Tempo de colher o que se plantou;
Não há Tempo para discussões sem proveito ou lutas insanas.
… . É sim, Tempo das almas maduras que buscam apenas o essencial;
Não há Tempo para perder com invejas, fúrias, preconceitos, mesquinharias (físicas ou espirituais)
… . É sim, Tempo de sedimentar o que de fato foi construído;
Não há Tempo para desejos de vingança ou ganâncias.
… . É sim, Tempo de perpetuar para não esquecer nossa brevidade no lapso tempo/espaço;
Não há Tempo para disputas, melindres ou guerras de egos e poder.
… . É sim, Tempo para alargar o espírito.

Enfim, não há Tempo para mediocridades e posses. Não servirão de nada para o lugar que iremos!

Talvez o caminho ao final seja de novo inverso: nascemos sem nada (física, mental, material, espiritualmente) e deveríamos, se aprendemos algo do Tempo, levar de volta um espírito alargado.

Se ao nascer começamos a morrer, olhando-se de lá para cá, talvez ao morrer começamos a nascer daqui para lá.

Sigo pensando que quero que meus anos passem, para que ao final possa dizer no meu Testamento:

Não deixo bens…
Não acumulei nem construí nada que possa ser roubado ou destruído.
Não possuo nada de valor material para ser perdido.
Não tenho nada que possa ser penhorado, trocado, vendido

Tenho apenas: 
Voltas que dei pelo mundo
Encontros delas resultados;
Amores vividos, 
Caminhos compartilhados,
Escolhas e mudanças de rumos e rotas
Paisagens que vi pelas janelas, em todos meus deslocamentos.

Culturas que conheci
Templos que entrei
Arquiteturas que vi
Pontes que atravessei
Muralhas que adentrei
Ruas por onde andei;

Mares que naveguei
Odores e sabores que experimentei
Pores-do-sol dourados que assisti
Amanheceres de luz que vi
Gotas de chuva caídas em dias quentes de verão
Luas de prata e douradas suspensas com meus pensamentos distantes
Tons de outono
Sombras frondosas e folhas em matizes sépia
Horizontes cor de esmeralda
Céus estrelados de dois hemisférios;

Sons que escutei
Brisas que senti
Músicas que dancei
Brindes que fiz
Vinhos que amei
Livros que li;

Vistas de sonhos sendo construídos
Quadros e esculturas que apreciei
Pensamentos que arquitetei
Linhas que escrevi
Tramas que teci
Ligações que estabeleci
Sorrisos que distribui;

Desculpem-me todos…
Os erros que cometi.
Não tive tempo de acumular artigos

Estive todo tempo ocupada em Viver!…

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Memória Institucional: ferramenta de Gestão Estratégica

Por: Eliana Rezende

Para quê um Projeto de Memória Institucional?
Vivemos em um mundo tão voltado para o exterior e para as aparências que imaginar que os anos nos trarão maiores e melhores condições para nos relacionarmos com nossas ideias, parece ser mesmo uma grande vantagem. Uma sociedade que luta constantemente para manter a juventude, lida mal com a passagem do tempo.

Em geral, muitos descobrem, por exemplo, que a escrita ou produção intelectual neste momento da existência encontra poder criativo muito maior e que há agilidade de ideias: a alma liberta-se e todos ganham.

O repertório que trazemos conosco não envelhece jamais.

Estamos sempre recriando e renovando: mesmo que sejam ideias antigas, pois o olhar de hoje carrega outras experiências que no momento anterior não tínhamos. Ter essa perspectiva liberta e mostra que o tempo é mesmo um grande aliado de nossas existências, e que o corpo é apenas um invólucro que carrega nosso verdadeiro tesouro.

Fantástico ter a exata noção de que, tal como um músculo, o cérebro quando exercitado, nunca deixa de responder. E que o tempo, aliado às experiências vividas e experimentadas, podem fornecer conexões muito mais certeiras do que as que ocorrem nos jovens: já que estes contam apenas com o que lhes é extrínseco. Ainda aprenderão a transformar vivências em experiência.

São de fato, os artifícios que o tempo e a existência nos oferecem e brindam.

Importante pensar o tempo não como um caminho de perdas!
Pode e deve ser um caminho de transcendência, já que maduros deixamos as inseguranças e inexperiências próprias da juventude para trás. Ganhamos a possibilidade de aliarmos experiência com ação.
E isso, cá entre nós, é o caminho para alargamento do espírito!

A passagem do tempo pode fazer muito mais do que trazer linhas de expressão: vinca a alma e nos talha. Lapida-nos para melhorar. É neste contexto que a Memória Institucional colabora com as organizações: colhe os frutos maduros desenvolvidos no decurso dos anos.

É isso que as instituições precisam e devem perceber.
Nossa sociedade está envelhecendo e manter-se-á por muito mais tempo em período de maturidade do que o seu contrário. Vale a pena redimensionar conceitos e valores. Só assim este benefício se estenderá a pessoas, organizações e comunidades.

Memória Institucional como caminho para fortalecer Identidade e Cultura Organizacional
A necessidade de abordar este tema se dá porque recentemente muitas empresas começaram a investir em suas memórias institucionais e rapidamente encantaram-se por projetos que, muitas vezes, deixam de ter a visão e a perspectiva adequada. Ou seja, que relacionem a instituição ao seu tempo, ao seu meio social e cultural, mais do que apenas produtos de marketing.

Memória Institucional é um trabalho interdisciplinar.
A interdisciplinaridade, neste caso, é necessária para não resumir a Memória Institucional à coleta de depoimentos, uma Linha de Tempo, um livro ou uma exposição.

Depoimentos e Linhas de Tempo são ferramentas, mas não resumem todo um projeto. Tomadas neste sentido, são apenas perfumaria, que pouco ou nada acrescentam à cultura organizacional. Um trabalho consistente pode ser feito não com os olhos voltados para o passado, mas sim perspectivando e construindo o futuro a partir dos alicerces do passado e das necessidades do presente.

Os produtos de um Projeto de Memória Institucional devem ser compreendidos, como um meio eficaz para a manutenção da informação com vistas à gestão organizacional. Pode servir, sim, à pesquisa para produção de conhecimento, inovação e tomadas de decisões estratégicas e, quanto maior o seu alcance, mais decisivo o seu papel na construção, e definição, de uma Identidade Institucional e sua inserção na sociedade.
Decidir o quê perpetuar e o quê esquecer estão intimamente relacionados à ideia de construção de uma Identidade. Isso vale para os casos individuais, mas vale também para as Instituições.

É a partir destas estratégias de movimentos entre esquecer e lembrar que as instituições irão construindo a Identidade que querem perpetuar e expor.
E também, é sempre bom que se diga: esta Memória constitui-se e reconstitui-se a partir de necessidades presentes. O momento presente coloca demandas e perguntas que buscarão respostas em um passado filtrado a partir do presente. As memórias emergirão a partir daí.
Da mesma forma, a partir do conjunto formado por instalações, máquinas, equipamentos, pessoas e missões que uma Instituição se firma e se põe e, impõe ao mercado, aos funcionários e a toda à sociedade. Este conjunto é considerado Patrimônio Institucional. E as pessoas em seu interior são seu Capital Intelectual.

Portanto, um Projeto de Memória Institucional visa fixar, divulgar e preservar a História de uma instituição ao mesmo tempo em que reúne, organiza e disponibiliza fontes e informações contidas em seus documentos, armazenados em diferentes suportes (fotografias, filmes, áudios, textos).

Reforço a noção de que a Memória Institucional não pretende ser a reconstituição de algo que não existe mais, mas o seu contrário: pretende ser a identidade do que o tempo e a experiência de todos trouxeram à Instituição.
Neste sentido, quando falamos em Memória Institucional estamos falando de um conjunto de experiências que, reunidas, dão a dimensão e os contornos de uma instituição no tempo e no espaço.
É a História, que é viva se constituindo.
Por isso, todos são tão importantes e contam tanto!
Seja generoso em partilhar e compartilhar suas memórias quando solicitado, ajudando a fortalecer os caminhos de identidade de sua instituição.

A quem serve um Projeto de Memória Institucional?
A todas as instituições que, além de possuir um acervo documental de referência e memória, reconheçam seu potencial de fortalecer a identidade institucional, valorizar o capital intelectual e consolidar a cultura organizacional.

Ações de um Projeto de Memória Institucional e como a ER Consultoria pode auxiliá-lo:

  • Definir qual caminho seguir
  • Como pensar em um Projeto de Memória Institucional?
  • Como ir além da simples “perfumaria”?
  • Como utilizar as metodologias de Storytelling e História Oral?
  • Como através de um Projeto de Memória divulgar e fortalecer a imagem corporativa/institucional?
  • De que forma o Projeto de Memória Institucional pode valorizar o capital intelectual, gerando Conhecimento e Inovação?

Minha experiência me dá condições para analisar e propor soluções compatíveis com as suas necessidades. Além de poder orientar e capacitar colaboradores, in company e on line.
Muitas destas perguntas poderão ser respondidas.

Entre em contato pela nossa página, pelo e-mail ou pelo telefone (55.11) 4215-1924 para elaborarmos um Projeto totalmente customizado de acordo com as demandas de sua instituição.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer.

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Profissionais na maturidade como ativo organizacional

Por: Eliana Rezende

Tempos atrás lia sobre como o cérebro de meia-idade pode ganhar habilidade surpreendentes conforme envelhecemos, mas isso não ocorre para todos. Apesar disso, uma ressalva: só quem sempre manteve hábitos saudáveis e vida intelectual ativa conseguem essa tão desejada superativação.

O cérebro parece escolher dar menos atenção ao lado ruim da vida.

Há nisso mais inteligência e sabedoria do que um cérebro jovem talvez seja capaz de perceber.
Acho fantástica essa perspectiva que a vida, o tempo, nossos neurônios e toda essa composição podem oferecer a nosso intelecto e a nossa essência.

O tema sempre encontra eco: até porque todos os que se mantém com atividades sentem essa forma que a vida encontra para dar-nos dias ao mesmo tempo em que o intelecto deixa de competir com o físico, e descobrimos que apesar das marcas da vida, a sabedoria dos anos nos faz bem melhores.

Dá-nos um certo apaziguamento da alma saber que crescer em anos não significa necessariamente perder!

Esse raciocínio nos dá uma outra perspectiva de vida. Afinal, vivemos em um mundo tão voltado para o exterior e para as aparências que imaginar que os anos nos trarão maiores e melhores condições para nos relacionarmos com nossas ideias parece ser mesmo uma grande vantagem. Uma sociedade que luta constantemente para manter a juventude, lida mal com a passagem do tempo.

No decurso de minha experiência profissional, lidando muitas vezes com a coleta de depoimentos em Projetos de Memória Institucional, recebo inúmeros relatos de pessoas que se sentem aos 60, 70, 80 e até 90 anos com mais vigor mental e intelectual do que anteriormente nas suas existências. Pense Oscar Niemeyer.

A juventude, por mais irônico que pareça, traz mais sobressaltos e inquietações.

Daí pensarmos a relação íntima e altamente produtiva entre senescência e conhecimento. O casamento de ambos traz às organizações possibilidades incríveis e trazem às mesmas o que se chama de capital intelectual nas organizações.

Conheça um pouco sobre um e outro:

Em geral muitos descobrem, por exemplo, que a escrita ou produção intelectual neste momento da existência encontra poder criativo muito maior e que há agilidade de ideias: a alma liberta-se e todos ganham.

O repertório que trazemos conosco não envelhece jamais.
Estamos sempre recriando e renovando: mesmo que sejam ideias antigas, pois o olhar de hoje carrega outras experiências que no momento anterior não tínhamos.
Ter essa perspectiva liberta e mostra que o tempo é mesmo um grande aliado de nossas existências, e que o corpo é apenas um invólucro que carrega nosso verdadeiro tesouro.

Fantástico ter a exata noção de que, tal como um músculo, o cérebro quando exercitado, nunca deixa de responder. E que o tempo aliado às experiências vividas e experimentadas podem fornecer conexões muito mais certeiras do que as que ocorrem nos jovens: já que estes contam apenas com o que lhes é extrínseco. Ainda aprenderão a transformar vivências em experiência.

São de fato, os artifícios que o tempo e a existência nos oferecem e brindam.

Importante pensar o tempo não como uma caminho de perdas! Pode e deve ser um caminho de libertação, já que maduros deixamos as inseguranças e inexperiências próprias da juventude para trás.
Ganhamos a possibilidade de aliarmos experiência com ação. E isso cá entre nós é o caminho para alargamento do espírito!

E isso que as instituições precisam e devem perceber. Nossa sociedade está envelhecendo e manter-se-á muito mais tempo em período de maturidade do que o seu contrário. Vale a pena redimensionar conceitos e valores. Só assim este beneficio se estenderá à pessoas, organizações e sociedades.

De tudo, o que sei é que importa bem pouco qual seja o artifício dos neurônios em festa e confraternização outonal: o que conta mesmo é que não estejam em fuga como tantos profetizavam.

Com isso as passagens das cifras numéricas que insistimos em chamar de anos sejam apenas e tão somente cifras, e para o bem de todos descobrimos que é bom “ler” o mundo com todos os nossos neurônios mais maduros e sensíveis.
São flores e frutos do outono de nossas existências!

A passagem do tempo pode fazer muito mais do que trazer linhas de expressão: vincam a alma e nos talham. Nos lapidam para melhorar.
Oxalá seja sempre assim!

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* Publicado originalmente no Blog Pensados a Tinta

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