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Consumidores ou Coletores de Informação?

Por: Eliana Rezende

Será que pensar dói? Será algo incapacitante?

Tome o tema como uma “provocação” sadia…

O ponto de partida do autor Neal Gabler, da Universidade do Sul da Califórnia é uma constatação desconcertante: vivemos em uma sociedade vazia de grandes ideias, leia-se, conceitos e teorias influentes, capazes de mudar nossa maneira de ver o mundo.

Em sua argumentação, nós anteriormente coletávamos informações para construir conhecimento. Procurávamos analisar e explicar o que havia à nossa volta. E a partir daí construíamos grandes ideias: conceitos e teorias capazes de mudar a compreensão do mundo.

Em sua perspectiva, o que vem inviabilizando a produção de conhecimento é exatamente o excesso de informação. Numa inversão não muito qualitativa, substituímos a produção de conhecimento pelo excesso de informação. Em contrapartida, tudo o que não pode ser rapidamente transformado em lucro é abandonado rapidamente.

Quando li este artigo em um voo, fiquei pensando em todos os temas possíveis e prováveis que o autor levantou em apenas uma página.

Daria muitas discussões. Por isso, meu “desafio provocativo”.

Não pude parar de pensar sobre o que temos hoje em potencial tecnológico e o quanto estamos “limitados” quando comparados aos grandes revolucionários do pensamento ocidental. E aqui não precisamos retroceder toda a história da humanidade. Podemos ficar apenas com a produção intelectual dos séculos XIX e XX.

A ideia de termos nos transformado em consumidores de informação parece ser procedente; hoje em dia a urgência informacional por quantidades abissais de informação, parece levar ao fosso da limitação e exteriorização de ideias.

Defrontamo-nos cada vez mais com uma nova demanda que é a de saber como lidar com tanta informação. Caberá iniciarmos um processo que levará outras tantas décadas que é o de saber lidar interdisciplinarmente e compartilhadamente com essa grande massa informacional que tem possibilidades de transformar-se em conhecimento e inovação.

Quem viver verá!

Fico normalmente do outro lado, em muitos casos oriento trabalhos de Pós-Graduação e é muito usual perceber que os alunos procuram sempre um caminho mais curto ou cômodo. É bem verdade que não temos vida fácil, sempre com múltiplas tarefas e funções. Mas é absolutamente necessário e imprescindível parar, pensar… refletir.

Sempre procurar a interlocução: seja com quem está ao nosso lado, seja um autor de décadas ou séculos atrás. As formas de questionar e pensar o mundo ainda devem nos mover curiosamente em várias direções. Nem o mundo, nem as respostas estão prontas!

O conhecimento nunca é algo fechado e hermético. Está sempre em constante evolução e construção. Por isso, espaços de troca como estes (leia-se blogs, Grupos de discussão, etc.) são tão importantes!

De outro lado, e aqui mais um ingrediente colocado:

Um dos grandes problemas para a produção e profundidade de ideias está ligado a uma certa tendência à passividade ou comodidade frente ao dado.

Frequentemente notamos essa comodidade no formato de divagação frente à uma tela, por exemplo.

Temos formado uma geração passiva frente a ecrãs, onde a maior rapidez conseguida está nas teclas digitadas. E estas, quase sempre, para redigir simples fonemas ou  emoticons (série de caracteres tipográficos para exprimir sentimentos e estados de espírito).

Considero que o excesso de estímulos faz isso com as pessoas quase que sem se aperceberem disto:  há sempre uma quantidade muito grande de informações, mas que plaina sobre uma superfície. São horizontais e quase nunca se aprofundam ou verticalizam. A profundidade em geral é a de uma lâmina.

Haja visto hoje em dia a proliferação de textos curtos, enxutos já que o leitor não consegue ficar muito tempo atento se a leitura exigir um número maior de parágrafos e ideias…

Costumo sempre repetir aos alunos que no caso de uma investigação de pesquisa, o mais importante não são quantas perguntas se faz a um objeto, mas sim quais são estas perguntas.

Em todo processo de análise criativo e de produção de conhecimento, o como é muito importante.

É deste como que a problematização se faz. É ela que revela qual o valor do que produzimos.

É inegável que por onde o mundo caminhou não há mais volta.

Creio que não queremos voltar a nada, antes, contudo, queremos resgatar algumas coisas que ficaram lá atrás.

Lia outro dia e pensava exatamente sobre a dita robotização (do sérvio, escravidão) do mundo.

A tecnologia e todos os seus recursos são fantásticos, mas não podem (ou devem?) gerar dependência, nem escravização. O Homem é um ser pensante em sua essência e é preciso estimular esta capacidade de interlocução, questionamento, crítica (análise) construtiva, pensamento por conexões.

Infelizmente tem-se delegado às ferramentas tecnológicas esta “labor”.

Como estimular sem ser retrógrado?

Acho que uma das formas é simplesmente pensarmos por nós e “contaminarmos” quem estiver à nossa volta. Instigar, gerar curiosidade e aceitar a recíproca!

Veja, não se trata de provocar criticamente de forma desrespeitosa, mas simplesmente instigar com a intenção de crescer e fazer crescer a consciência crítica em nós e nos outros.

As vias possíveis, acredito, sejam a busca de um enriquecimento de repertório feito do que gostamos e até do que não gostamos (não podemos analisar e criticar o que não conhecemos!), abandonar alguns “pré-conceitos” e deixar que o outro venha ao nosso encontro com suas ideias e perspectivas.

O espaço de um grupo de discussão ou de um blog, como este, por exemplo, pode ser riquíssimo!

Apesar disso, algumas vezes vejo Grupos e Blogs preocupados em apenas jogar novas informações e deixam de ir ao ponto mais rico de tudo: aprofundar discussões! Incentivar os Debates e instigar a que novas ideias se produzam.

O dito “conhecimento” parece ser coisa fácil de alcançar: algumas tecladas no Google parecem satisfazer a maioria. Mas volto a dizer: o que temos muito fartamente são informações sem filtros, critérios ou profundidade. Conhecimento é outra coisa! Conhecimento não é Informação.

O mundo contemporâneo tem se satisfeito em fazer tabula rasa de quase tudo e em especial o que se refere ao conhecimento.

Conhecimento é alguma coisa que “custa”!

Custa empenho, esforço, dedicação pessoal. E num mundo onde o consumo e a pressa se alinham parece que há um certo descompasso em sua busca.

Mas como gosto de dizer: ainda acredito muito nas pessoas e vejo que não podemos generalizar. Há sempre aqueles que nos fazem crer que ainda vale a pena instigar… e ver “crescer”!

A docência prova-me isso sempre.

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Publicado originalmente no Blog Pensados a Tinta

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