Por: Eliana Rezende
O que seria uma ação de preservação adequada? Seria a preservação uma forma de recriar de forma artificial o espaço urbano, excluindo e levando para longe aquilo que é considerado inadequado ou indesejável? A discussão pode ser longa e enveredar por muitos caminhos.
Em geral, tem-se a falsa noção de que uma ação de preservação ou tombamento é tornar tudo limpo e arrumado, afastar da paisagem tudo o que seria considerado marginal e social ou culturalmente inadequado.
Em verdade, as coisas não são bem assim. Talvez o caminho seja esclarecermos algumas noções fundamentais. Escolho para tanto falar sobre os conceitos de Preservação, Conservação, Restauração e Tombamento, além do que seja Patrimônio. Tais conceitos podem ser utilizados por diferentes áreas, e portanto, opto por estabelecer noções que sejam mais abrangentes. Para tanto, convido todos à leitura do slideshare abaixo onde procuro explicitar conceitos e definições fundamentais para a análise que farei a seguir:
[slideshare id=145341774&doc=conceituando-definindo-patrimonio-190513195016]
A noção de preservar tem que ver com uma atitude de prevenção, é algo que se estende a modos que implicam uma conscientização que pode ser de um grupo, uma pessoa ou uma instituição.
Por outro lado, o tombamento é uma medida, um ato legal, no sentido de fazer com que a preservação se dê. Em geral é a primeira de uma série de ações. Nesse sentido, e com esta perspectiva, a Preservação é algo muito mais abrangente, e é bom que se diga, que nada tem a ver com uma museificação do lugar. Ao contrário, boas ações de preservação inserem a população local e dão um sentido de apropriação e uso do espaço.
O objetivo da Preservação longe de transformar-se em um empecilho é, antes de tudo, garantir às gerações futuras um passado, que é composto multifacetadamente, por aspectos que tomam toda a sua cultura de modo que seja um Patrimônio.
Gosto de uma definição de Gilberto Gil (poeta que sabe usar as palavras como ninguém):
“pensar em patrimônio agora, é pensar com transcendência, além das paredes, além dos quintais, além das fronteiras. É incluir as gentes, os costumes, os sabores, os saberes. Não mais somente as edificações históricas, os sítios de pedra e cal. Patrimônio também é o suor, o sonho, o som, a dança, o jeito, a ginga, a energia vital e todas as formas de espiritualidade da nossa gente. O intangível, o imaterial.”
Falando sobre isso, assista ao vídeo de Carlos Fernando Delphim, do IPHAN, falando sobre Patrimônio Natural e suas diferenças e semelhanças com o Patrimônio Cultural:
A relação de comunidade e o uso de seus espaços e suas histórias auxiliam nesse trabalho de preservação da cultura local, regional e nacional, e dá um sentido de uso para patrimônios materiais e imateriais. Afinal, é patrimônio não apenas aquilo que é edificado. Toda e qualquer forma de manifestação cultural pode ser considerada patrimônio. E neste sentido, também necessitam ser preservados.
Para entender melhor esta vertente de patrimônio e suas relações com a memória e identidade de um sociedade assista Márcia Sant’Anna falando sobre Patrimônio Imaterial:
Felizmente, vejo ventos de mudança e, com uma concepção que se alia à sustentabilidade, muitos projetos dão vida nova à antigas funções.
Em relação à políticas de preservação e tombamento, há de fato muitos interesses e desinteresses.
De outro lado, há a total desinformação por parte de proprietários e até de comunidades inteiras em relação ao patrimônio cultural e material que muitas dessas edificações possuem. É um problema de educação cultural e até de empreendimento. Se orientados, vários projetos assim podem reverter para proprietários e em muitos casos para comunidades inteiras.
O caminho, considero longo, mas não impossível de ser seguido.
Cada vez mais nossas cidades estarão envelhecendo e se não entendermos que o novo e o velho podem conviver sem um suplantar o outro não teremos futuro e nem passado! De concreto, e sei que é algo que nenhum de nós quer ou precisa: é de uma cidade museificada.
Por outro lado, aspectos que têm a ver com o DNA da cidade precisam, e devem, ser mantidos para que sua identidade se mantenha. Talvez esse seja o grande desafio e em nome do que áreas interdisciplinares devam colocar a sua criatividade e inventividade.
Um pressuposto que era próprio do século XIX, e do qual Paris foi a cobaia, foram as políticas de Houssman, onde acreditava-se que de tão ruim tudo deveria vir abaixo! Munidos de pólvoras e homens com suas ferramentas, a cidade ruiu. Em seu rastro várias outras cidades seguiram o mesmo caminho dentre os quais estão Buenos Aires, Rio de Janeiro do Prefeito Pereira Passos e Nova York.
Considero que todas as ações devem tomar em conta seu entorno, seu contexto de formação, a população que vive e circula e suas relações geográficas, históricas e culturais. Tudo o que escapa a isso parece-me sem sentido e despossuído de valor e com poucas chances de perdurar. Quando essas relações são tomadas em conta as possibilidades de configurar-se como legado benéfico são grandes.
Como historiadora, vejo muito mais o valor que os espaços propiciavam enquanto sociabilidades e trocas (sejam elas de quaisquer natureza: culturais, políticas, comerciais, entre outras) e os espaços arquitetônicos como a materialização de fazeres e viveres. Se pensarmos será essa urbanidade vivida e pulsada em cada rua, em cada edificação, que trará valor para além dos aspectos imobiliários. Uma lembrança para este caso é o que ocorreu em São Paulo com o Bexiga e mesmo à Nova Luz. São importantes fontes de mensuração disso.
Quando pensamos uma das variáveis para valor entramos de novo na forma, uso e ocupação dos espaços através do tempo. As movimentações de fronteira entre os espaços e a “necessidade imobiliária” de empurrar à margem o que não tem valor monetário é outro dos problemas, em especial quando o patrimônio arquitetônico, está tendo outro valor de uso, ocupação e transito social (caso específico do comércio da Santa Ifigênia e da área de venda e consumo de craque). A decadência social em geral acompanha a dos espaços arquitetônicos e em geral de outras praças e ajuntamentos.
De fato, projetos chamados de preservação, mas que engessam e de certa forma descaracterizam e museificam espaços não fazem sentido à preservação como um todo e a cidade especificamente. Exatamente por ela conter fortes elementos vivos e de interatividade.
São muitos os critérios e variáveis essenciais para estudos de viabilidade neste sentido, que devem ser feitos de forma prévia e nunca imediatista. Infelizmente, vemos que isso ocorre a conta-gotas.
Como podemos ajudar?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para o desenvolvimento e aplicação de princípios para a Projetos de Preservação e Conservação de Patrimônio Documental e Fotográfico em instituições de diferentes segmentos e suas áreas de atuação. Além de podermos orientar boas práticas em relação à produção documental em diferentes suportes com principal atenção à práticas de conservação preventiva com o objetivo de evitar consequências de processos de deterioração.
Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer.
________________
Referências:
Algumas Reflexões sobre Preservação de Acervos em Arquivos e Bibliotecas
A Construção do Conceito de Patrimônio Histórico: Reconstrução e Cartas Patrimoniais
Posts relacionados:
Uso de tecnologias como Política de Preservação de Patrimônio Cultural
Patrimônio Cultural e Responsabilidade Histórica: uma questão de cidadania
Planejamento Estratégico e Responsabilidade Histórica
Memória Institucional: ferramenta de Gestão Estratégica
Memórias Digitais em busca da Eternidade
Juniorização e perda de Capital Intelectual nas Organizações
Museus: Faces e Fases de uma Metrópole
***
Siga-nos:
No LinkedIn
© 2021 ER Consultoria em Gestão de Informação e Memória Institucional
Todos os direitos reservados
A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610/1998).