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Você tem Carreira ou Profissão?

Por: Eliana Rezende Bethancourt

Uma pergunta simples: “você tem uma carreira ou uma profissão?”
A pergunta tão simples de ser feita encontrará por parte de muitos alguma dificuldade em relação as duas coisas. 
Alguns poderão achar que se trata da mesma coisa. Afinal, estudei e me formei em algo e trabalho com isso. Mas em verdade, existe uma distância imensa entre uma coisa e outra. Olhar para sua trajetória e perceber qual é a sua situação será muito importante para determinar seu grau de satisfação e sucesso pessoal. 
Nos últimos tempos, em especial no período da pandemia e pós-pandemia tenho notado um grande afluxo de pessoas se inscrevendo no LinkdIn. Algumas extremamente ansiosas, outras chegando ao grau de desespero. Mas em muitos casos chegam a este ponto por não entenderem de fato o que desejam para as suas existências. 

Vejamos:  
Se utilizarmos um dicionário e buscarmos a raiz da palavra “profissão” teremos o sentido daquilo que você professa, as diferentes atividades que você precisa realizar e que são reunidas de forma sequencial compõem o que se chama profissão.  
Em geral, a profissão pode começar cedo e já nos primeiros anos de formação se aprende as tais atividades fundamentais para o desempenho de suas funções numa ou outra área. A escolha de um curso ou área de conhecimento dentro de um curso superior não lhe dá automaticamente a garantia de uma carreira. A propósito, os cursos universitários estão à anos-luz do que seja uma carreira. Mas podem propiciar caminhos e trilhas para encontrar qual espaço irá ocupar com as ferramentas que a universidade lhe der. Por isso, cada oportunidade precisa ser bastante explorada: escolha uma boa universidade, procure se engajar em projetos de pesquisa e desenvolva sua habilidades. A profissão obtida com seu diploma pode chegar rápido. Talvez 4 ou 5 anos depois de seu ingresso na universidade. 
A carreira, entretanto virá bem depois….
A carreira, vai sendo construída no decorrer da vida profissional. Representa o conjunto de suas conquistas, as histórias de sucesso que você colecionou no desempenho de suas atividades. Mas, ela também é composta por todos os seus tropeços, insucessos, equívocos e aprendizados daí decorrentes. 
A carreira em verdade é um fazer-se que não pára de ser construído. É um caminho onde, partilhas acontecerão, a partir dos que cruzarem seu caminho trazendo ou retirando coisas de você.  
Dito isso, fica fácil de perceber que ao ter uma profissão você pode ter em sua concepção um trabalho que lhe dá sobrevivência, desempenha funções, mas por si só não há a garantia de sentir-se preenchido, realizado, satisfeito. E talvez por isso, grande parte das pessoas encaram o que fazem como trabalho (no sentido de labor, de dificuldade). As horas dos dias são contadas e os fins de semana são esperados com grande ansiedade. O salário acaba sendo a única motivação, e talvez por isso, alguns só pensam em ganhar mais como forma de conseguir se levantar todos os dias para fazer provavelmente as mesmas coisas por anos a fio. Em alguns casos, e dependendo da pessoas, estas atividades tornam-se de tão repetitivas automáticas. A pessoa empresta seu corpo à função e muda-se para bem longe dali com a mente que vagueia.

Por outro lado, quem constrói uma carreira não tem pressa. Não conta seus dias pelas horas que passam. Sua métrica está em superar-se sempre. Em vários casos, considera um privilégio o que faz e a remuneração apenas uma troca, sem valor no sentido do que entende como verdadeiro valor. O espírito é inquieto e a busca de novos desafios uma constante. 
O melhor dos mundos em verdade é quando a pessoa, ao desempenhar seu papel profissional começa a construir sua carreira. Aí o contentamento e auto-realização serão a recompensa. A construção de uma carreira é um projeto que toma tempo e é um empreendimento para uma vida inteira. A carreira precisa que seu titular seja talhado, dia após dia. 

Alguns dirão: a carreira não é uma questão de talento?
Muita gente sai em busca de um diploma e descobre que isso por si só não basta! Há outras variáveis a considerar e construir uma carreira leva tempo, exige esforço, dedicação e algum talento.
Em outros casos, a escolha de uma carreira passa apenas por cifras e vejo muitos vestibulandos consultando tabelas de salários achando que um diploma lhes garantirá as cifras. Quando o diploma vem e a realidade profissional surge, em muitos casos não há contracheque que dê felicidade e realização ao individuo. E aí de ser um engenheiro no papel para um motorista de Uber na vida prática é um pulo!

E isso nos leva a pensar algo muito importante: Carreiras não são transmitidas de pais para filhos! É usual que alguém muito bem sucedido, com uma carreira brilhante queira que seus filhos sigam seus passos. Se esquecendo que a carreira não vem junto com código genético. E aí temos uma procissão de jovens que escolhem o que de fato não queriam só para não desagradar a família. Aí seu diploma lhe dará simplesmente uma profissão e um trabalho que terá que desempenhar pelo resto de sua vida. 
A carreira necessariamente é uma escolha pessoal e intransferível. Infelizmente, acaba acontecendo quando ainda somos muitos jovens e sem experiência de absolutamente nada. Daí que muitos acabam mudando suas rotas. A carreira precisa ser um projeto de vida, e como tal exige paixão. Só quem é muito apaixonado abdica de horas livres, fins-de-semana, passeios ou outras “tentações” para desenvolver algo relacionado ao seu trabalho. Mas como ter claro qual seu projeto de vida quando se tem apenas 17 ou 18 anos de idade?!
Quando isso tudo não é tomado em conta, o que vemos são pessoas que quicam por todos os lados, fazem milhares de cursos, trabalham em muitos lugares e estão sempre descontes, frustradas e sempre achando que não ganham o suficiente. Exaustas resolvem simplesmente trabalhar e aguardar o dia que tudo passe. E em momentos de grande desemprego e dificuldades são as que mais ficam “desesperadas”, pois o único sentido que davam às suas vidas que era a remuneração financeira não existe mais. Os que tem apenas uma profissão quando estão sem trabalho se sentem desempregados e sem perspectivas. 

Provavelmente aquele que tem uma carreira sentirá as dificuldades financeiras como todos os outros. Mas já terá aprendido que é apenas uma fase e que tudo o que fez continua a lhe pertencer. Não se sente sem perspectivas, e muito provavelmente estará com a mente ocupada no próximo projeto. Compreende que sua profissão não é um fim em si mesma, mas é um meio: para satisfação pessoal e autorrealização.  
Tudo isso para dizer que uma carreira se faz com autoconhecimento. Não serão terceiros a fazer isso por você. E por isso, pode acontecer que as pessoas percam vários anos de sua vida simplesmente tentando. Alguns sem sucesso. E outros, bem aventurados atingindo o sucesso e a satisfação dada por sua carreira e não pelo seu diploma.

Construindo uma carreira em tempos de pós pandemia
Às vezes, momentos de crise favorecem um auto-exame e reflexão sobre as opções feitas até então. Estar sem trabalho pode ser uma excelente oportunidade de pensar como começar a trilhar ou fortalecer sua carreira. É importante compreender que nos tempos atuais a segmentação de áreas de saberes está cada vez mais diluída, e que ao buscar desenvolver sua carreira terá que aprender a dialogar e interagir com diferentes áreas. O mundo  precisa de pessoas que saibam se situar tanto em relação à sua carreira como em relação ao mundo em que está.  Exatamente porque o diploma não oferece a ninguém uma carreira, deixo para efeito de autoconhecimento e como um exercício prático a elaboração de seu IKIGAI.   
Na cultura de Okinawa, Japão, há um conceito muito simples e profundo, com infinitas camadas, conhecido como IKIGAI (生き甲斐). Em uma tradução aproximada, significa “razão de viver”. 
Aqui você tem a mandala de IKIGAI:

Perceba que as cores e os círculos representam aspectos de sua vida. O objetivo é que você encontre algo que ama para fazer, que seja importante para o mundo e que ainda te paguem para fazer isso. 
Agora para compreender a forma adequada de preencher o seu IKEGAI e a sua importância para o tema que tratamos deixo este vídeo: 

Também como forma de auxiliar em seu caminho, deixo um diagrama das principais características que os profissionais devem buscar neste caminho de construção de uma carreira

E aqui deixo apenas um lembrete: o seu currículo acaba sendo a fotografia do estágio em que se encontra entre o que é uma carreira ou profissão. Ele faz uma radiografia e mostra a qualquer um como você vem se relacionando com seu diploma e com sua atuação. Por isso, para qualquer bom selecionador listas intermináveis de cursos não significarão preparo. Eles deverão estar inseridos em um fio condutor chamado carreira. Disposto aleatoriamente, só mostrarão o quanto ainda não sabe para onde vai. Ou se vai… Poderá simplesmente indicar que ainda não se encontrou.

Outros poderão mostrar que a pessoa se encontra em limbo do qual não consegue sair. Perdeu-se em algum lugar e não encontrou seu caminho.

Reforço que não há erro em se ter uma profissão. Ela deve sim ser uma opção, e não a ausência dela. Não pode ser significado de que não se interessa ou que simplesmente desistiu. Nada de errado com quem apenas busca o dinheiro ou status decorrente.

De novo, são escolhas.

E como gosto de dizer: “você faz suas escolhas, e suas escolhas fazem você

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