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O fracasso bem sucedido

Por: Eliana Rezende Bethancourt

Numa sociedade performática, competitiva, consumista e muitas vezes vaidosa e hedonista, relatar ou admitir um fracasso parece ser algo impensável para alguém que pretenda ser bem sucedido. 

É importante dizer que o sucesso sempre será precedidos de inúmeros fracassos. 

Mas, não serve qualquer fracasso! É preciso que seja um fracasso bem sucedido, um que de fato deu certo. 

Explico:
Um fracasso bem sucedido é aquele que te trouxe aprendizados. Permitiu rever ideias, ações, estratégias, pensamentos. Obrigou-o a sair de fórmulas prontas e exaustivamente usadas para  um novo lugar, com novas perguntas e demandas por outras respostas. 

O fracasso bem sucedido funciona como uma catapulta, que em um primeiro momento o joga em um vácuo de onde não se espera nada. A sensação de vazio, de vaga, causa-nos uma sensação de tempo interminável. Do momento do lançamento até seu ponto de chegada há uma indescritível e interminável trajetória, que lhe revela o medo em todas as suas faces. Não há como voltar ao ponto inicial e o ponto de chegada é uma incógnita. Neste ponto de vácuo você pode encontrar formas de manter-se o mais ereto e procurar ganhar vantagem com o percurso. 

O que causa esse lançamento no vácuo pode ser um desemprego, uma mudança de carreira, um luto, a perda de bens ou da saúde. Importante é compreender que este ponto não é seu fim. Ele é apenas parte da trajetória. Se aprender deste momento, deste suposto fracasso, quando tudo parece perdido, desorganizado ou simplesmente ausente, estará na categoria que denomino de: fracasso bem sucedido

É óbvio que há muitas opções! 

Você pode transformar sua trajetória numa queda retumbante, fraturas expostas e totalmente sem condições de dar um passo sequer. Tudo é mesmo uma questão de entender como o tempo e a experiência se dão. Quando transforma suas ações em aprendizado terá conseguido produzir conhecimento, que nada mais são do que a experiência posta em prática. Se nada fizer com isso, será apenas um episódio traumático de sua existência, que marcará definitivamente o seu ponto de parada,  de desistência. Assumir a alternância dos eventos e do tempo é fundamental para fazer esta alquimia de transformar um fracasso em uma oportunidade segura, de fazer dar certo. 

Um exemplo muito bom é o que estamos vivendo neste momento de pandemia. Muitos profissionais perderam seu trabalho, ou passaram pela experiência da doença ou do luto. Isto, certamente fragiliza, preocupa e leva alguns ao desespero ou a tristeza profunda. Neste seu momento de vácuo não conseguem pensar além do momento imediato. E deixam de entender que; o percurso que fazem em sua catapulta pessoal, não durará toda a vida. Muitos dos que hoje perderam seus empregos ou posições provavelmente não as recuperarão. O número de empregos formais foi reduzido drasticamente, e para muitas empresas significará prosseguir sem o formato anterior. E neste ponto é que muitos profissionais devem entender que precisarão encontrar um novo caminho. O modelo mudou (paradigm-shift).

Eventualmente este novo caminho significará conviver com alguns fracassos. Como sairá de tudo isso é que mostrará se os fracassos fizeram seu papel de dar certo. 
Isto se chama ter um bom Quociente de Adversidades (QA). O termo foi criado pelo especialista em liderança, Paul Stoltz, presidente da Peak Learning, uma empresa de consultoria global fundada por ele em 1987, nos EUA. 

Não vou entrar aqui naquele discurso muito em voga, que se parece com a famosa auto-ajuda, pensamento positivo e outros termos que mais se assemelham ao de uma profissão de fé.
Não gosto desta mistura e a considero pouco qualificada. 
Vou pelo lado do pragmatismo que precisamos ter e demonstrar. É preciso Inteligência Emocional para entender o momento, se conhecer e verificar qual é o repertório que possui para enfrentar esta situação. Não vou dourar a pílula: muitos DEFINITIVAMENTE não se conhecem! E por isso é comum vermos a fila de desesperados quase que em cada ponto em que olhamos.  

Relembro aqui um outro artigo que escrevi sobre se “você tem carreira ou profissão?”. Isto porque de acordo com a resposta, seu tempo de trajetória neste vácuo pode ser maior ou menor, e a chegada com mais ou menos escoriações. O fato determinante aqui é: o que te diferencia dos demais, e o que faz com que você não caia numa vala comum que disputa a mesma coisa com muitos. Quando estamos diluídos numa multidão, rapidamente podemos ser preteridos por este ou aquele motivo.
Mas se temos algo que nos diferencie por completo, isto será determinante. 

Todas as áreas possuem, em maior ou menor grau, a necessidade de ser criativo.
Mas o que é ser criativo numa situação limite? A criatividade está ligada não a uma fórmula mágica que tudo resolva. Criatividade, em muitos momentos significa apenas e tão somente encontrar soluções diversas para coisas que sejam iguais. Significa encontrar um novo caminho entre ideias e conceitos, e novos conceitos a partir das mesmas ideias usando a própria experiência. Para isso, é óbvio que é preciso uma boa dose de flexibilidade e adaptação. O problema é que as pessoas tendem a ter o comportamento de manada para tudo: imitamos outros no que dizem, no que falam e até na forma de vestir.  Esquecemos de simplesmente fazer a pergunta: “e como seria fazer diferente disso?”.
Ou, a muito mais sintética e dura: “e se…”.
Além disso, a maioria atavicamente deseja ‘pertencer’ ao grupo, precisa se encaixar. Elas não conseguem entender que podem mudar as regras e alcançar objetivos maiores e mais interessantes. Se tudo o que você pensa e é, como profissional, tem que caber em um único formato, provavelmente terá muitas escoriações em sua chegada ao mundo pós-pandemia.

Em síntese e por partes: 

1. Conheça-se!
Se você não sabe quem é, e o que é capaz de realizar, pessoal ou profissionalmente, andará em círculos indefinidamente à espera que alguém lhe bata à porta para lhe oferecer um trabalho na matriz que você se colocou. 

O autoconhecimento definitivamente é fundamental para TODAS  as instâncias de sua existência, e porque seria diferente na seara profissional? 
Como pode achar que é outra pessoa que tem que te dizer como ela quer o seu trabalho?! Ou como pode esperar que este venha embrulhado numa caixa com fitilhos e laços com teu nome em um cartão? 

2. Seja Flexível
Provavelmente, o mundo pós-pandemia NUNCA mais será o mesmo no âmbito profissional. A sociedade sofreu um tranco de digitalização que levou para o território doméstico o desempenho de atribuições que só ocorriam em condomínios executivos. A empresas sobreviventes entenderão que podem enxugar custos e gastos de forma estrondosa em muitos setores. E o farão com certeza! Portanto, seja o mais flexível que puder na forma como se enxerga e como vê o desempenho de suas atividades.

Entenda que provavelmente tudo o que aprendeu nos bancos escolares ou em diferentes empregos não se aplicará mais. Se não se adaptar e for flexível o bastante, provavelmente se decepcionará e não sairá mais da fila da espera. Mais uma vez; o modelo mudou.

3. Diferencie-se
Se insiste em manter-se como sempre foi, estará provável e confortavelmente instalado em uma vala comum com outros milhares que pensam igual a você. 

O número de pessoas que de fato conseguem enxergar seu valor a partir das coisas que desenvolve e desempenha, é um imenso diferencial. As faculdades TODOS os anos despejam quantidades imensas de novos profissionais que acham que o diploma lhes deu uma profissão. Buscam sem trégua cursos, MBA, Mestrados, Doutorados, mas simplesmente não sabem o que fazer com o que supostamente aprenderam. Muitos tornam-se alunos profissionais, acumulando diplomas, certificados e bolsas, mas sem ser capazes de converter tudo o que supostamente aprenderam para uma carreira produtiva. Juntam-se aos milhões com diplomas pendurados e trabalhos que não tem nada a ver com o que estudaram. Portanto, olhe-se a fundo e veja como você pode usar o que aprendeu em sua formação e como pode transformar isso em algo diferente e criativo. Se não souber dar esta resposta, nenhum selecionador ou empregador saberá dar. Em vários casos, NÓS é que temos de mostrar o quanto eles precisam de nós. Se não soubermos como fazer ficaremos apenas com a ficha de preenchimento de vaga e nunca iremos à lugar nenhum. Aí culparemos empregadores, selecionadores, colegas, familiares pelo que nós não conseguimos. 
O mundo atual é feito de inúmeras carreiras que são interdisciplinares ou mesmo trabalhos que ainda não existem formalmente como profissão ou que tenha cursos formais oferecidos. Entenda como você pode aliar tudo o que já aprendeu a isso. Entenda que inúmeras profissões e ocupações simplesmente DEIXARÃO DE EXISTIR em pouquíssimo tempo. Se não tomar providências fará parte deste exercito crescente de desocupados sem possibilidades de ocupação ou integração. 
Está em suas mãos! 

4. Não mascateie
Não permita que o desespero o faça se transformar em um mascate. Daqueles que aceitam qualquer coisa e que se vende extremamente barato. Coloque limites ao que seja aceitável para a sua condição.

Em outro lugar, mas também não menos perigoso: não se prostitua. Respeite-se como profissional, saiba seu valor, o que faz e como o faz.

5. Dê-se o devido valor
Se você não se dá o devido valor, ninguém o fará por você. É preciso que você saiba exatamente o que faz, como faz e por quanto que faz. Aqui é o devido valor pelo que oferece. 

Há pessoas que pelo que oferecem ganham muito, e há muitos que ganham pouco pelo muito que fazem. 
É preciso saber se colocar, se valorizar e se respeitar como profissional. Se você não fizer isso provavelmente ninguém fará por você.  

6. Seja caprichoso
Um exemplo que gosto de dar aqui mesmo no LinkedIn quando analiso perfis que solicitam participação em Grupos. Muitos profissionais não demonstram capricho e cuidado em sua apresentação: não indicam o que fazem, como fazem. Em  alguns casos, não consigo saber nem o curso que a pessoas fez, pois ela só coloca o nome da instituição. Esquecem-se que devem valorizar o que estudaram e o que aprenderam. As fotos revelam pessoas que não estão em situações profissionais: alguns com ar desanimado, cansado, digitalização de fotos 3 X 4, cabelos molhados, vestidos para festas, acompanhados de maridos, esposas, filhos, carros. Olhem com atenção à tudo isso. Mostrem porque vocês merecem uma oportunidade e porque seu trabalho e a forma como o realiza são diferenciados. 

Sobre este tema abordei pontos a ser destacado no artigo: “Como escolher a foto adequada para perfil do LinkedIn

Você é seu melhor produto, portanto use uma vitrine adequada. 

7. Seja paciente
Nada acontece do dia para a noite. O seu fracasso bem sucedido precisa de tempo para acontecer!

Não irá adiantar ficar desesperado, abrir um perfil no LinkedIn e ficar pedindo peloamordedeus por uma vaga. Relações em redes sociais profissionais demoram para ser construídas. Não há imediatismo que caiba em sua necessidade. Portanto, procure lançar mão de um perfil destes para mostrar o seu melhor e de fato tirar proveito dos contatos que vier a ter. Se você está começando sugiro a leitura deste post: “LinkedIn para inciantes“. Será muito útil em te ajudar a construir uma estratégia pessoal de aproximação e busca de oportunidades.

8. Esteja atento
Como os seus erros se sucederão, esteja de olhos e ouvidos bem abertos e aprenda com eles. 

Deixe seus fracassos lhe ensinar a dar certo. 

Boa sorte com seus fracassos!

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Qual o valor de um Centro de Documentação e/ou Memória

Por: Eliana Rezende

Uma pergunta constante é a de qual valor pode haver em um Centro de Documentação e/ou Memória dentro de uma instituição já que estamos tão rodeados por informações que nos chegam de todos os lados.
Sua implantação não representaria um gasto e demanda desnecessários?
Afinal, qual seu valor e importância?

Importância e objetivos:
Implantar e manter um Centro de Documentação e/ou Memória pode ser um grande desafio institucional, mas ao mesmo tempo é item fundamental dentro de um Projeto de Memória Institucional, que tenha como preocupação o fortalecimento da Identidade e Cultura Organizacional.

As dúvidas são recorrentes e muitas, em especial sobre quais seriam suas funções e de que forma podem ser item de produção de Conhecimento e Inovação. Como estruturá-lo e mantê-lo passam a ser preocupações recorrentes. Daí a necessidade de um trabalho interdisciplinar e linkado ao DNA da instituição.

Alcance:
Os Centros de Documentação (CEDOC) extrapolam o universo documental das Bibliotecas, embora possam conter material bibliográfico (que será sempre e unicamente aquele relacionado à temática na qual o Centro é especializado), e aproximam-se do perfil dos arquivos, na medida em que recolhem originais ou reproduções de conjuntos arquivísticos. É por isso uma instituição híbrida com desafios de amplos alcances e com a lida de diferentes suportes.

Um Centro de Documentação e Referência diferencia-se de um arquivo na medida em que este se torna um repositório de informação para profissionais de diferentes áreas que se ocupem de um determinado ramo do conhecimento. Tem um potencial de transformar-se em Centro de Referência, no sentido de ser o local para onde convergem todo tipo de arquivo, em conjuntos documentais de diferentes suportes, sempre voltados para o mesmo tema, e que facilita, em última instância, a pesquisa dos usuários. Assim, encontramos audiovisuais, fotografias, livros, jornais, revistas, microfilmes, mapas, plantas, gravuras, negativos flexíveis, negativos em celulose e vidro, e outros..

Numa hierarquia, diríamos que o Centro de Documentação (CEDOC) possui maior alcance que uma Biblioteca e que um Arquivo. Isto porque possuem conjuntos bibliográficos, arquivísticos e até museológicos e arqueológicos, em alguns casos.

É natural em sua formação possuir documentos museológicos, hemerográficos, iconográficos, textuais, audiovisuais, entre outros. E, devido a esta característica, necessariamente precisará “beber” das metodologias oriundas das diferentes áreas como a a arquivística, a história, a museologia, e biblioteconomia entre outras.

Nem sempre o Centro de Documentação (CEDOC) tem como objetivo a preservação da memória ou a pesquisa histórica. Muitos estão vinculados à pesquisa em outras áreas ou à produção e prestação de serviços a usuários internos e externos. Neste caso, pode se configurar um Centro de Referência (CR) para as área em que atuam.

Importante destacar que a principal missão de um Centro de Documentação (CEDOC) é o apoio à pesquisa: seja ela institucional ou acadêmica. Seu papel não é o de substituir a gestão arquivística de acervos permanentes, que possuem fins administrativos e/ou probatórios e que, no caso da documentação pública, cumpre legislação vigente. Utilizá-lo desta forma seria um desvirtuamento de seus objetivos e funções.

Os primeiros passos de uma implantação
A natureza e vocação de um Centro de Documentação (CEDOC) sendo a pesquisa e referência, implica a definição de sua abrangência e recorte temático, espacial e cronológico.

Isto se dá pela abrangência documental permitida na sua configuração. Colocar tais recortes favorecerá a qualidade das referência geradas. Quanto mais abrangente, provavelmente, mais superficiais serão suas informações.
Em geral, o primeiro passo a ser dado é a definição do que chamamos “Linha de Acervo”, que é exatamente o universo do seu recorte e sua área de atuação. Por exemplo: estudos sobre a cidade, educação, saúde, sustentabilidade, indústria têxtil, etc. Em que período? Começo do século XIX. meados do século XX, 2ª metade do século XX, e assim por diante….

Estas definições darão ao Centro de Documentação (CEDOC) aporte e consistência diante de outros fornecedores de dados e informações. Legitimarão seu universo de atuação, bem como as políticas de ampliação do acervo.

Apesar disso, tais Linhas de Acervo não são rígidas a ponto de não sofrerem processos de flexibilização. Vez por outra, poderão mover-se em uma ou outra direção sofrendo adequações, acréscimos ou mesmo reconfigurações a partir de demandas de usuários e público alvo.

Definidas as Linhas de concentração, é hora de definir o âmbito das ações que o Centro de Documentação (CEDOC) desenvolverá. É neste ponto que se definem estratégias de cursos, oficinas, workshops, seminários, congressos, conferências, publicações diversas, exposições (fixas, itinerantes, virtuais), fac-símiles de documentos, assessorias e/ou consultorias técnicas a outras instituições.
Atentar para tais ações reforça a vocação para a pesquisa e produção de conhecimento que se espera de um Centro de Documentação (CEDOC).

Torna-se evidente que, pela abrangência de suportes e documentos, de ações a serem desenvolvidas e universo de atuação, o perfil profissional exigido dos que atuarão neste Centro de Documentação (CEDOC) deverá ser múltiplo e interdisciplinar. No entanto, está longe de representar o universo de um único tipo de profissional. Quanto mais flexível e interdisciplinar maiores as chances de obtenção de bons resultados à frente de uma instituição como esta.

Alguns cuidados
Um Centro de Documentação (CEDOC) não pode converter-se em uma colcha de retalhos ou um gabinete de curiosidades! Facilmente, e até por desconhecimento na maior parte das vezes, começam a ser reunidos em seu interior quinquilharias que pouco ou nada tem que ver com o que se determinou como Linha de Acervo.

A constituição do acervo, e dos objetos que o integram, deve obedecer critérios técnicos estabelecidos quando da definição do âmbito e alcance do Centro de Documentação (CEDOC). Sua ampliação é paulatina e sempre se guiará por tais critérios. Isso evitará dispersão e gastos desnecessários envolvendo espaço físico, tempo de tratamento técnico e recursos humanos e tecnológicos.

É importante destacar que um Centro de Documentação (CEDOC) não precisa reunir TUDO sobre sua área de atuação. Não é um órgão acumulador, mas deve ser antes de tudo um referenciador: fornecendo a maior quantidade possível de informações sobre sua área de cobertura.

Ser referenciador também não deve significar ser um duplicador! É importante que um Centro de Documentação (CEDOC) não seja um duplicador de informações, reproduzindo tudo o que já existe em outros acervos. Valendo-se de tecnologias digitais pode fornecer as informações que se encontram em outras instituições ou Base de Dados, sem reproduzir desnecessariamente acervos ou documentos.

E aqui entra uma palavra de cautela: a digitalização utilizada para fins de ampliação de acervo deve ser tomada com cuidado. Mais do que isso, deve ser uma ferramenta utilizada com parcimônia e eventualmente, como política de preservação documental, favorecendo o acesso sem permitir manipulações indevidas de originais raros, por exemplo.

Apesar de oferecerem muitas potencialidades e possibilidades, as ferramentas tecnológicas disponíveis hoje em dia podem não trazer todos os benefícios possíveis por ausência de uma boa estruturação e metodologia de trabalho. Por isso, todo o cuidado em seu planejamento é fundamental.

Centros de Documentação em tempos web
Algumas instituições possuem dúvidas sobre como criar este espaço físico, mas também um espaço virtual onde possa ser visitado e consultado por aqueles que estão distantes. Precisamos ter alternativas para isso.

Em um mundo tão digitalizado vem sendo questionado a existência ou não de um acervo físico e meios pelos quais um Centro de Documentação possa ser virtual e estender suas fronteiras para além de um espaço estritamente físico, eles extrapolam muros institucionais e geram visibilidade, valorizando a cultura institucional.

As tecnologias da informação podem apoiar projetos de implantação de Centros de Documentação (CEDOC) ao mesmo tempo que as funcionalidades da WEB 2.0 contribuem para a disseminação, compartilhamento e colaboração tanto de matérias-primas como de produtos. Em todos os casos, muitas decisões precisam ser tomadas.

As tecnologias hoje disponíveis propiciam diferentes meios de divulgação com um alcance nunca antes imaginado. E, quando bem estruturados, possuem um custo benefício interessantíssimo.

A fluidez dos meios digitais faz com que as pessoas em geral olhem para as tecnologias como sendo a panaceia para todos os problemas de divulgação que uma Instituição possa ter.
No entanto, as coisas não são bem assim.

É um equívoco achar que um espaço virtual demandará menos trabalho, ou apenas facilidades. Todo o trabalho bruto de referenciamento e tratamento técnico será mantido, alterando-se apenas as formas de veiculação e acesso. Em alguns casos podemos afirmar que um espaço virtual poderá ter ainda mais acessos e buscas e demandará até a necessidade de possuir um atendimento que sirva às necessidades de estrangeiros. A web é uma uma porta aberta ao mundo e não à uma rua local. Por isso é preciso tomar em conta isso.

Além disso, há decisões que envolvem a disponibilidade e acesso de acervos. Dentre as muitas questões cito algumas cruciais:
Se houver um banco de dados como se dará o acesso? E no caso de imagens originais? Como cuidar de aspectos relacionados à autoria e créditos?
Em caso de exposições virtuais como serão? Qual a periodicidade para sua atualização?
E as formas de contato e atendimento aos usuários/pesquisadores?
Em relação aos cursos, oficinas, workshops, exposições, conferências, publicações: como serão sua veiculação? Estarão abertos em canais online?

Todas são questões que precisam ser pensadas ainda na fase de planejamento e periodicamente deverão ser repensadas de acordo com erros e acertos, que sempre ocorrem.

O que é definitivo, e que podemos afirmar com certeza, é que a partir desta nova concepção de uso da Web o mundo das bibliotecas e locais que detém informação organizada e estruturada passou a se movimentar na direção do usuário. Esteja ele onde estiver!

Se de um lado este sentido de colaboração inovou e começou um processo irreversível de interação, de outro colocou o desafio da segurança de que estes conteúdos estarão acessíveis e disponíveis no tempo, cuidando integralmente e com o respeito devido ao sigilo, preservação e acesso.

O Centros de Documentação (CEDOC) lidam com documentos que em sua maior parte são permanentes e, portanto, com necessidades de perenidade, longevidade, segurança e autenticidade a serem garantidas.
As coisas ficam ainda mais complicadas quando falamos não apenas de textos, mas imagens, audiovisuais e outras possibilidades de links e hipertextos.
A funcionalidade de muitos recursos só é possível em determinada configuração.
Se não forem estruturados de forma que contemplem a obsolescência poderemos ter um rico material que estará fadado à impossibilidade de utilização futura para diferentes fins.

Quando pensamos em períodos para a obsolescência falamos em períodos que em geral não excedem os 5 anos.
E isso, para documentos permanentes, não significa rigorosamente nada!
O termo “longa permanência” pode ser definido por períodos não inferiores a 100 anos.

Por isso, é fundamental um bom planejamento e estratégia de escolha consciente envolvendo o quê preservar, para quê e para quem e com quais objetivos.

O que tomar em consideração para Centros de Documentação (CEDOC) em ambientes digitais?

Em primeiro lugar deve-se definir qual tecnologia a ser utilizada. E nesta escolha o mais importante é definir um sistema robusto e que tenha sido amplamente usado.
Evite as últimas “novidades” no mercado. Tenha certeza da solidez e robustez destas tecnologias, sua manutenção e custos.
Pense que o mais caro em tecnologia não é sua aquisição inicial, mas a sua manutenção no decurso do tempo. Em especial se os documentos forem de caráter permanente.

Atente para os dados reunidos e a forma escolhida para sua disponibilização e divulgação.
1. Se não houver uma preocupação efetiva, com o tempo o que você terá em poucos anos é uma base de dados inútil e sem possibilidades de uso e produção de conteúdos, conhecimento ou inovação.
A tônica principal em verdade não é o acesso e sim a autenticidade dos documentos digitais no decurso do tempo. Acesso acaba sendo o fator mais simples em uma cadeia extremamente longa e importante, e seu ápice é sem dúvida fornecer garantias de que estes documentos são autênticos e que não sofreram alterações e adulterações. O investimento, sem dúvida, é na segurança da informação. Sem ela, poderemos apenas acumular o que será apenas lixo digital.

2. Elaboração de uma política clara de preservação e conservação de documentos em suportes físicos e digitais, com previsão de prazos de guarda e com quais utilizações nas diferentes ferramentas tecnológicas disponíveis pela Instituição;

3. É necessário, portanto, uma visão mais curatorial de todo o processo.
Tendo claro todos os limites que um projeto se defronta e já iniciá-lo tendo ações bem delineadas, flexíveis e adequadas às nossas reais circunstâncias de recursos humanos, financeiros e tecnológicos.

Dos fins
De tudo o que se disse, o fundamental é ter em conta que todo este trabalho de base, inter e multidisciplinar visa antes de tudo a reunião de informações para a produção de conhecimento. Só aí que o Centro de Documentação (CEDOC) cumprirá sua verdadeira vocação.

Como podemos ajudar?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para o desenvolvimento e a aplicação da Gestão Documental e Memória Institucional em empresas de diferentes segmentos e suas áreas de atuação.

Além de podermos orientar boas práticas em relação ao uso de ferramentas tecnológicas com vistas a preservação e conservação física e digital dos documentos.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer.

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Uso de tecnologias como Política de Preservação de Patrimônio Cultural

Por: Eliana Rezende

Em outro post esclareci o que a Gestão Documental pode representar para as instituições do ponto de vista de racionalidade e transparência administrativa.

Nesta oportunidade, vou tratar do valor de políticas de preservação de patrimônio cultural-documental  de acervos históricos dentro das instituições e de que forma são importantes como meio de garantir que informações contidas em documentos de diferentes suportes tenham asseguradas sua permanência através do tempo, para beneficio da produção de conhecimento, pesquisa, cultura e inovação.

Com esta responsabilidade e preocupação, é que as diferentes tecnologias disponíveis no mercado, têm se transformado em coadjuvantes num trabalho que possui duas frentes: de um lado, a disponibilização de informação de qualidade em tempo reduzido, ao mesmo tempo em que, possibilita que políticas de preservação e conservação se efetivem.

A noção de patrimônio é interessante quando pensamos a massa documental existente no interior das instituições.
O conceito de patrimônio vem se alargando contemporaneamente e neste sentido pode tomar, não apenas, a produção humana (obras de engenharia, monumentos, tecnologias, etc) , mas toda a produção emocional e intelectual das sociedades (música, poesia, acarajé, entre outros). Assim, o patrimônio é um bem cultural que permite que possamos conhecer melhor a sociedade e o mundo que a cerca, desde que estes sejam capazes de vencer o tempo.

Como forma de auxiliar nesta definição, apresento de forma sintética como todos estes termos polissêmicos podem ser entendidos.
Confira:

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E é exatamente este o desafio que se coloca aos profissionais que atuam com documentos que necessitam ter uma guarda de longa duração.
Como atuar de forma eficiente e eficaz realizando todo o trabalho de manutenção de acervos com políticas de preservação e conservação de documentos, ao mesmo tempo em que se garante o acesso às informações que tais registros contém?
Como garantir que a informação seja preservada em quaisquer que sejam os seus suportes, e que as mesmas sejam utilizadas como meios para a criação de inovação e conhecimento?

Ministrando Oficina de Preservação e Conservação Fotográfica

Indubitavelmente, o que se coloca como prioritário nesta sociedade é quais serão os critérios para definir que informações têm relevância suficiente para justificar seu alçamento à posteridade através de investimentos em recursos humanos, tecnológicos e financeiros para sua manutenção.

O que fica de todo o exposto acima é que a noção essencial a ser explicitada é a de preservação e conservação de documentos.
Sinteticamente e de forma didática,  poderíamos definir cada uma delas da seguinte forma:

Preservação = ações de prevenção da deterioração e que tem como principal objetivo o de proteger e salvaguardar o Patrimônio. É composta por técnicas preventivas que envolvem o manuseio, acondicionamento, transporte, exposição e o controle ambiental.

Conservação = caracteriza-se pelo conjunto de intervenções diretas, realizadas na própria estrutura física do bem cultural, com a finalidade de tratamento, impedindo, retardando ou inibindo a ação nefasta ocasionada pela ausência de uma preservação. É composta por tratamentos curativos, mecânicos e/ou químicos, tais como: higienização ou desinfestação de insetos ou micro-organismos, seguidos ou não de pequenos reparos

Oficina de Preservação, Conservação e Restauro de Documentos

As duas ações, se realizadas enquanto políticas, garantem a integridade e manutenção do patrimônio existente no interior de instituições e, em nosso caso específico, os acervos documentais em seus diferentes suportes.
Com este caráter são também chamadas de ações de conservação preventiva, cujo objetivo principal é não permitir que os documentos tenham que sofrer processos de restauração, que representam maiores custos e demandas especializadas.

Além destas preocupações, a importância de ações contínuas e coerentes coloca-se como condição fundamental. Não adiantaria criar inúmeras ações sem garantias que possam ter continuidade, ou mesmo que se consumam recursos em demasia em uma direção, esquecendo-se completamente de outras (não adiantaria embalagens de boa qualidade quando o local em que os materiais estão guardados é inadequado).

Daí a necessidade de definir prioridades e planejar o futuro: estabelecendo programas e projetos que se desdobrem e que possuam como principal objetivo a permanência, ao mesmo tempo em que a preservação e conservação estejam garantidas.

Oficina de Preservação, Conservação e Restauração de Documentos

Este trabalho só é bem sucedido quando se conhece de perto as necessidades e demandas internas e externas dos usuários, e possui um trabalho minucioso, pautado em um cronograma realizável .

Um cronograma de trabalho aplicado às reais necessidades dos usuários viabiliza passos e aponta caminhos a serem seguidos com metas claras e objetivas. Não se perde tempo com aquilo que não importa ao mesmo tempo em que se enxergam rapidamente áreas de gargalos e realizações.

De tudo o que se disse, têm-se que a disponibilização de acervos via informatização vem sendo um trabalho árduo, com inúmeras reflexões sobre a aplicabilidade de tecnologias aos acervos históricos em geral e o cumprimento de requisitos mínimos de preservação e conservação digital.
Não será somente a tecnologia a fazer isso!

A discussão sobre este e outros temas relacionados, segue em outras postagens.

Enquanto isso, conheça a solução especialmente desenvolvida pela ER Consultoria | Gestão de Informação e Memória Institucional para implantação de Projetos de Preservação e Conservação de Documentos e Fotografias.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer.

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1ª versão deste post publicada originalmente no meu Blog, o Pensados a Tinta.

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Os Historiadores e suas fontes em tempos de Web 2.0

Por: Eliana Rezende

Em geral, textos que abordam o ofício do historiador pretendem trazer em seu bojo aprofundamento de questões metodológicas ou mesmo de caminhos investigativos.

Devo confessar que não é meu intento!

A proposição aqui é muito mais expor uma inquietação provocativa e lançar aos futuros historiadores questões em relação ao seu trabalho e investigação com as fontes produzidas na contemporaneidade de princípios do século XXI.

É da minha lida com a preservação e conservação de fontes documentais para posterior consulta e produção de pesquisas que suportam investigações e caminhos que este ensaio nasceu.

Tais preocupações com acervos em diferentes instituições impõem a reflexão e aplicação de metodologias e procedimentos que garantam o acesso à informação contida em documentos sob os mais variados suportes para as gerações futuras.

O historiador lida com fontes: pequenos indícios deixados voluntária ou involuntariamente que atravessam épocas, transpõem espaços, vencem intempéries, descasos, o tempo e as muitas formas de deterioração intrínseca e extrínseca de seus suportes. Encontram diferentes usos, e em vários casos funções e pertencimentos que são próprios do fazer-se “prova” ou “testemunho”.  r: Eliana

Artífices que tecem intrincados caminhos deixados por fontes prováveis e improváveis, os historiadores transformam-se em porta-vozes de um tempo… de uma trajetória feita por questões e investigações. Conexões são feitas e refeitas, caminhos investigativos desbravados à luz de diferentes métodos e matrizes teóricas. Em muitos casos, o caminho é árduo e construído a partir de hiatos, de não-ditos, de silêncios e omissões. Tece-se a construção de uma trama que circunda um objeto fazendo disso a História, nem certa, nem errada, apenas por um ângulo ou prisma diverso.

Em todos os casos, tais registros da atividade humana em toda a sua complexidade são fixados em diferentes suportes e por toda a História encontraram suas formas de perenidade para mais adiante sofrerem o trabalho crítico de pesquisa e crivo.

Diante de tal complexidade laboriosa e detalhada que cada fonte solicita e da quantidade de suportes e de registros de que dispomos, oferece-se ao olhar pesquisador ampla gama de produtos que servirão como fonte de pesquisa e matéria-prima para a História.

Coetâneos em sua essência, nossa sociedade vive a construção de um novo paradigma sobre a forma como produz conteúdos e informação.

Tomo de empréstimo o sentido de coetâneo proposto por Duque (2011):

“[…] Coetâneo, aqui, abriga o significado do que é contemporâneo e ao mesmo tempo integrante de contexto de vanguarda social, política, econômica, técnica e científica […].”

É o uso intensivo de tecnologias de informação e de comunicação que tem diferenciado nossa sociedade de princípios do século XXI e que, sem dúvida, imporá aos profissionais de diferentes áreas de conhecimento e, em especial, para o nosso caso as Ciências Humanas, o desafio de encarar escritas e trilhas que vão muito além do que se supôs até então.

Objetivo oferecer ao leitor alguns questionamentos sobre o universo de atuação profissional das Ciências Humanas em tempos de imediaticidade, produção em massa e, ao mesmo tempo obsolescência e transitoriedade de suportes. Inquietações de ofício partilhadas com pares: da quantidade que suplanta em muitos casos a capacidade de assimilação e registro, que inviabiliza reflexões posteriores de algo que não mais estará ali aguardando por séculos para ser analisado.

Esse é o mundo em tempos de Web 2.0, 3.0 e em vias de transformar-se numa versão 4.0.

A conversa e seus desdobramentos seguem em outros posts, que você pode conferir aqui:

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Publicado originalmente no Blog Pensados a Tinta

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