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Juniorização e perda de Capital Intelectual nas Organizações

Por: Eliana Rezende

“Os tempos são outros e renovar é preciso”, um mantra que vem se repetindo cada vez mais.
Por caminhos diversos, empresas e instituições estão vivendo, no Brasil e no mundo, um processo de substituição de grandes gurus por pequenos guris. Este processo atroz de descarte de capital intelectual impacta toda a sociedade e a forma como esta retém valores.

Os primeiros, que representam a experiência acumulada, a vivência de práticas e um olhar perspicaz e holístico pelos segundos: afoitos, sempre com pressa e, em geral… inexperientes. Boa parte de sua bagagem resume-se a notas de rodapé obtidas em anos de formação e pós-graduação como alunos profissionais (alguns parecem se especializar em acumular bolsas e títulos sem fim, e nunca encarar o mercado de trabalho, daí a expressão aluno profissional)
São produto de um mundo compartimentado, feito de teclas e muitos sons que produzem dispersão: seres aparentemente multitarefas, mas que em verdade possuem uma grande dificuldade de concentração e acuidade/profundidade nas relações, abordagens e intervenções. Em muitos casos, falta-lhes a flexibilidade eloquente de quem com empatia se antecipa aos problemas e as dificuldades  compondo saídas e alternativas satisfatórias, sem prejuízos ou perdas.

E diante disso, que nos vemos numa grande encruzilhada: ao praticar a ‘juniorização’ com vistas à redução de custos e de forma muitas vezes indiscriminada, as organizações estão plantando dificuldades que colherão muito em breve.

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Ao partir, os mais experientes levam consigo aquilo que de maior valor e ativo uma organização pode ter: seu Capital Intelectual. Este não pode ser transmitido por osmose. Necessita de tempo… Afinal a principal virtude destes é a sabedoria atrelada à experiência: e aqui não há receitas rápidas…há o fio do tempo tecendo tramas que sustentarão as fibras do bom caráter de um líder equilibrado e respeitado.

Quando uma organização não percebe isso, perde potenciais que nunca verá crescer.

Infelizmente, nos últimos anos tenho tido oportunidade de assistir em muitas organizações do que chamei acima, de um verdadeiro bota-abaixo de gurus por guris. Pressa, atropelo, presunção, improvisação são os primeiros produtos.

A seguir, uma tentativa pífia de bota-abaixo para, num ato de pura insegurança, querer substituir a experiência pregressa pelo dito “novo e eficiente”. Em verdade, na maioria das vezes o novo não é tão novo assim, e a dita eficiência é mais um sinônimo de precipitação. O espaço destruído torna-se estilhaço e fazer brotar em terra arrasada leva tempo.

Se as instituições se apercebessem de que mora neste Capital Intelectual o verdadeiro valor das organizações muitos problemas seriam evitados. Não seria preciso reinventar a roda.
Mas na prática é o que vemos…

É neste cenário que cada vez mais fica claro para mim que Projetos de Memória Institucional, se bem conduzidos, propiciam de um lado o fortalecimento da Cultura e Identidade Organizacional e de outro favorecem a valorização do Capital Intelectual presente nas organizações. Esta costura fina tornará juniores melhores pois a experiência de um beberá na energia do outro.

O trabalho daí surgido é interdisciplinar e empático, favorecendo e tecendo relações pelo tempo e pela experiência. Não há meio de não resultar. O dividendo será uma organização que soube se manter no Tempo por meio da troca. Sem dúvida, em tempos de tanta escassez um verdadeiro feito!

Esses funcionários antigos e experientes são a melhor mentoria que um jovem profissional poderia ter, e sem dúvida com um valor agregado superior a qualquer MBA.

É preciso pensar que o Capital Intelectual funciona como um repositório humano onde informações valiosas que propiciariam a produção de novos Conhecimentos e Inovação estão ali depositados. Acessá-los é abrir a porta de um grande tesouro institucional.

Além disso, utilizar a Memória Institucional como valorização do Capital Intelectual das organizações resultará em auxiliar a sanar uma dificuldade sempre constante quando se fala em Gestão de Conhecimento, que é a de se achar que a escolha de ferramentas resolverá por si só a produção e circulação de Conhecimento. O que não é fato. A opção por ferramentas sem um trabalho prévio de fortalecimento da Cultura e Identidade Institucional trará opacidade a todo o processo e os resultados esperados dificilmente chegarão. Daí a noção que desenvolvi e argumentei no post “O Desafio das Soluções na Era da Informação”.

A Memória Institucional, por possuir um cabedal interdisciplinar, fornecerá condições adequadas para a circulação do Conhecimento nas organizações, tal como representada na figura a seguir:

Metodologia ER para Memória Institucional , Capital Intelectual e Gestão do Conhecimento.

A Memória Institucional se colocaria como elemento aglutinador e central, favorecendo as trocas, em especial as intangíveis. Daí nossa opção por uma representação gráfica de bolhas: podem sem vistas, dimensionadas, relacionadas, interseccionadas, mas se tocadas de forma inadequada rompem-se e desfazem-se. É esta a metáfora que melhor exemplifica o trabalho meticuloso e altamente eficiente que a Memória Institucional pode alcançar.

Mas afinal, o que seria o Capital Intelectual?
Entre tantas definições hoje feitas e por diferentes áreas, opto por escolher a que define Capital Intelectual como sendo a somatória dos ativos tangíveis e intangíveis que estão relacionados aos que dão sentindo intelectual às suas ações. Mais do que ativos materiais compostos por máquinas, ferramentas e mesmo valores monetários, os ativos intangíveis que tem em sua criatividade seu principal valor são agentes potencializadores de produção de conhecimento organizacional, já quem por meio de seu conhecimento acumulado são capazes de gerar e distribuir informações para que mais conhecimento e inovação se dê. São portanto, Patrimônio Intelectual.

Diante disso, é explicita a importância destes para toda e qualquer instituição, sem importar seu ramo de atividade ou porte.

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Cada indivíduo neste todo organizacional compõe uma memória que é coletiva da organização e que se assenta no tripé: aquisição, retenção e recuperação da informação (Walsh e Ungson, 1991). Observe, segundo os autores citados como isto se dá:

“(…) Relativamente ao processo de retenção os autores apresentam um elenco de seis “caixas de retenção” da informação, sendo cinco delas internamente à organização e uma externa, conforme a seguir:

indivíduos – só os indivíduos compreendem a relação causa efeito, o porquê de uma decisão, eles retêm informações baseado em suas próprias experiências e observações;
cultura – modo aprendido de perceber, pensar e sentir sobre os problemas e que é transmitido para os membros da organização;
transformação – há informação incorporada nas várias transformações que ocorrem na organização, exemplo matéria prima transformada em produto acabado;
estrutura – reflete e armazena informação sobre a percepção do ambiente da organização;
ecologia – experiências interpessoais de empregados são afetadas pelo leiaute físico da organização, exemplo local mal iluminado gera baixa produtividade e conflitos; e, finalmente,
os arquivos externos – empregados antigos retêm grande quantidade de informações sobre a organização, especialmente sobre o tempo em que nela atuaram. (…)”

Relação entre Capital Intelectual e Memória Institucional

É neste momento que um Projeto de Memória Institucional com vistas a valorização de Capital Intelectual passa a fazer toda a diferença no âmbito institucional.

Anteriormente, em outro post que fiz sobre Memória Institucional disse que:

“(…) a partir do conjunto formado por instalações, máquinas, equipamentos, pessoas e missões que uma Instituição se firma e se põe e, impõe ao mercado, aos funcionários e a toda à sociedade. Este conjunto é considerado Patrimônio Institucional. E as pessoas em seu interior são seu Capital Intelectual.
Neste sentido, quando falamos em Memória Institucional estamos falando de um conjunto de experiências que, reunidas, dão a dimensão e os contornos de uma instituição no tempo e no espaço.(…)”.

Por isso, a intersecção Memória Institucional e Gestão de Conhecimento se dão no trabalho de valorização do capital intelectual das organizações. É o trabalho sensível de lidar com a experiência e a história que dará sustentação, direção e objetivos sólidos à uma organização e a fará distinguir-se das demais, não apenas pelo valor monetário expresso em cifras, mas por valores muito mais caros e valiosos, intangíveis em sua maior parte.

As empresas que saem na frente em compreender o valor deste bem intangível dentro de suas organizações conseguem fortalecer sua Identidade e Cultura Organizacional por manter viva as suas raízes e origem: de onde vieram e com quais objetivos e para onde pretendem chegar. A ponte entre este passado de surgimento e seu futuro está exatamente nas mentes destes que compõem o Capital Intelectual da organização. Os cérebros maduros de uma organização são de fato seu maior ativo e valor:
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Conforme citei antes no post: “Profissionais na maturidade como ativo organizacional“:

“(…) Fantástico ter a exata noção de que, tal como um músculo, o cérebro quando exercitado, nunca deixa de responder. E que o tempo aliado às experiências vividas e experimentadas podem fornecer conexões muito mais certeiras do que as que ocorrem nos jovens: já que estes contam apenas com o que lhes é extrínseco. Ainda aprenderão a transformar vivências em experiência.
São de fato, os artifícios que o tempo e a existência nos oferecem e brindam. 
Importante pensar o tempo não como uma caminho de perdas! Pode e deve ser um caminho de libertação, já que maduros deixamos as inseguranças e inexperiências próprias da juventude para trás. 
Ganhamos a possibilidade de aliarmos experiência com ação. E isso cá entre nós é o caminho para alargamento do espírito!
E isso que as instituições precisam e devem perceber. Nossa sociedade está envelhecendo e manter-se-á muito mais tempo em período de maturidade do que o seu contrário. Vale a pena redimensionar conceitos e valores. Só assim este beneficio se estenderá à pessoas, organizações e sociedades.(…)”

A valorização do capital intelectual por meio de um Projeto de Memória Institucional significa não ser apenas uma efeméride a mais na organização, mas de fato um meio de produzir conhecimento sem descartar nem desperdiçar os valores existentes.

É esta costura indelével entre a experiência e a juventude que os Projetos de Memória Institucional agregam valor ao Patrimônio Intelectual das organizações e as ajudam a mostrar a si mesmas e a sociedade que estão inseridas o que são, de onde vieram e para onde vão com os cérebros que possuem na sociedade onde estão inseridos. É assim que a instituição praticará a Responsabilidade Histórica para com a sociedade que a acolheu e absorveu.

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Referências:
WALSH, James P.; UNGSON, Gerardo Rivera. Organizational Memory. Academy of Management Review, v.16, n.1, pp. 57-91, 1991.

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Como desenvolver um Projeto de Memória Institucional que atenda demandas de valorização de Capital intelectual e Gestão de Conhecimento e como a ER Consultoria pode auxiliá-lo:

  • Definir qual caminho seguir
  • Como pensar em um Projeto de Memória Institucional com olhar interdisciplinar?
  • Como relacionar Gestão de Conhecimento e Memória Institucional para valorização de Capital Intelectual numa organização?
  • Como um trabalho interdisciplinar de Memória Institucional pode fortalecer a Cultura e Identidade da Instituição ao mesmo tempo em que organiza e distribui informação para a geração de Conhecimento e Inovação?
  • Como utilizar as metodologias de Storytelling e História Oral?
  • Como através de um Projeto de Memória divulgar e fortalecer a imagem corporativa/institucional?

Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para auxiliá-lo na organização da Informação produzida hoje. De forma a poder ser instrumental para as futuras gerações, ao mesmo tempo em que se constitui como matéria-prima para que a Memória e Identidade Institucional se fortaleçam, e a Cultura Organizacional se mantenha através do tempo.

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