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História Oral: o que é? para que serve? como se faz?

Por: Eliana Rezende

A questão sobre o que vem a ser História Oral, como pode ser utilizada pelas instituições e de que forma deve ser realizada é um tema que interessa a diferentes áreas e profissionais.

Neste artigo, procurarei tecer considerações acerca de sua utilização, metodologias, aproximações e diferenças, bem como sua importância em Projetos de Memória Institucional com vistas à valorização de Capital Intelectual e o fortalecimento da Cultura e Identidade nas Instituições.

Os relatos orais são amplamente utilizados em diferentes áreas, mas para o recorte deste artigo ficarei concentrada dentro da minha própria área de atuação que é sua circunscrição no âmbito das Ciências Humanas.

A chamada História Oral é amplamente utilizada pelas Ciências Humanas, e é caracterizada pela coleta de depoimentos com pessoas que testemunharam conjunturas, processos, acontecimentos, modos de ser e de estar dentro de uma sociedade ou instituição. Para efeito didático pode estar dividida em três gêneros distintos: a tradição oral, a história de vida e a história temática.

Explicando cada uma delas:

Tradição Oral caracteriza-se pelo testemunho transmitido oralmente de uma geração para outra. São exemplos disso metodologias, por exemplo, que são capazes de resgatar tradições rurais e urbanas como cantigas de roda, brincadeiras e histórias infantis. Isso porque esta tradição precede à escrita e podem ser encontradas em sociedades bastante antigas ou mesmo comunidades que não passaram pelo processo de escrita. São exemplos disso comunidades ribeirinhas, indígenas, agricultoras, entre outras.

Já a História Oral não pode ser confundida com História de Vida. Esta última é um relato autobiográfico onde a escrita está ausente, e, portanto, não pode ser chamada de autobiografia. A História de Vida concentra-se na história pessoal de um indivíduo contada por ele próprio. É, portanto, um relato pessoal, que em geral percorre toda a existência desta pessoa: do nascimento até o momento presente.
Em alguns casos, e como parte de Projetos de Memória, opta-se por este tipo de relato e a história da pessoa percorre todos os momentos de sua vida e o momento em que encontrou-se com a instituição à qual o projeto faz parte. É interessante esta opção, já que apesar do projeto ser sobre uma determinada instituição, a importância de uma história de vida pode ser ainda maior. Um exemplo disso é a figura de um fundador. Este personagem tem grande importância para a existência da Instituição, mas sua trajetória anterior e de vida podem ter um significado ainda maior.

De outra sorte, há a chamada História Oral Temática, que em geral, é feita com um grupo de indivíduos em torno de um determinado evento ou movimento vivido por todos. São perspectivas individuais de sujeitos inseridos em um mesmo contexto.
A utilização desta forma de coleta de depoimento pode possuir aspectos positivos e negativos. O aspecto positivo é o de que uns poderão disparar gatilhos de lembranças e detalhes poderão ser muito melhor esmiuçados à luz de muitos olhares. Mas também poderá ocorrer o seu contrário: eventualmente alguém com maior poder de fala ou influencia poderá silenciar outras vozes e memórias. São comuns depoimentos desse tipo no caso de movimentos populares, sindicais, religiosos ou culturais, entre outros. Neste caso, a importância maior está no tema, e não nas individualidades. O interesse é o maior número de informações possíveis sobre o tema a partir das multiplicidades de olhares.

Definitivamente caberá ao pesquisador uma capacidade intuitiva e metodológica bastante grande para não se perder em uma ou outra possibilidade, e conseguir se valer da melhor forma possível. Com o agravante que aquele momento é único, e provavelmente não se repetirá.

Diante disso, você poderá estar se perguntando:

Mas afinal, podemos afirmar que História Oral é uma metodologia de trabalho?

Bem, ela poderá ser considerada um método de investigação, fonte de pesquisa ou técnica para produção e tratamento de depoimento, entretanto, sua classificação dependerá da orientação dada ao trabalho.

Vejamos um exemplo:

Quando a história oral é utilizada como forma de conhecer um período, conjuntura ou instituição, ela será entendida como uma metodologia de trabalho mas, a partir do momento que essas informações sejam utilizadas, tais relatos constituirão a bibliografia de uma pesquisa posterior.
Ou seja, de acordo com o encaminhamento da pesquisa e seus usos. E poderá ser ao mesmo tempo mais do que uma coisa. O fundamental é que o pesquisador tenha muito claro o que quer e assim conduzir cada forma com o rigor metodológico que precisará ter. Para cada uma das situações a condução das ações e os procedimentos deverão ser específicos.

Um ponto muito importante de ser destacado é que a produção de um depoimento é um trabalho conjunto entre depoente e entrevistador/pesquisador onde juntos produzem um documento. Após a geração deste documento, que deve obedecer a um método e sequência de trabalho próprio da história oral, é necessário estabelecer critérios técnicos para a sua guarda, sigilo e acesso. Ressalto que o produto deste depoimento é um documento histórico, e portanto, de valor permanente. Nunca poderá ser eliminado. Além de ser um importante repertório de matéria bruta para usos infindáveis de subprodutos.

Considerar o depoimento como documento toma em conta minha definição, de que “qualquer informação registrada em um suporte se constitui documento”, de acordo com a imagem a seguir:

Há diferença entre um depoimento e uma entrevista?

Em linhas bem genéricas podemos afirmar que sim!

Em geral, a entrevista é utilizada pelas áreas de Comunicação e obedece a  uma pauta previamente estabelecida, com objetivos claros e definidos a priori.

Numa entrevista nunca se busca ir muito além da pauta, especialmente, por questões de tempo e disponibilização aos meios de comunicação que a produziram e, normalmente, atendem sempre a urgência de um fato. É habitual que as perguntas saiam prontas da reunião de pauta, e em poucos casos são feitas de improviso. E normalmente quando isso ocorre costumam atender um insight de momento, que muitas vezes pode interromper uma linha de raciocínio ou mesmo uma direção de pensamento. Em caso de pessoas menos inexperientes isso pode significar um corte fundamental na construção do ritmo das ideias do entrevistado, gerando perdas aos eventuais interessados e ao registro como um todo. Ao observarmos boa parte dos casos de entrevistas deste tipo, notamos o quanto o silêncio é importante e como o entrevistador perde chances de exercê-lo.

Com o depoimento precisa e deve ser diferente. Em geral, faz-se um roteiro inicial para entrevista, mas este pode ser alterado de acordo com a interação entre depoente e entrevistador. O roteiro neste caso passa longe de ser uma lista semelhante a um interrogatório. É apenas um norteador que deve ser usado como bússola. O depoimento respeita a sequência memorialística do depoente, valorizando seus silêncios e não ditos.  Nesse tipo de depoimento, o depoente nunca deve ser interrompido. O entrevistador é antes de tudo um ouvinte!

Daí que NUNCA um entrevistador deve ser ou estar ansioso. Sua ansiedade pode tolher o curso das águas caudalosas da memória. E isso para um registro que pretende ser histórico é imperdoável.
Por isso, aquele que colhe o depoimento não é um entrevistador, é um ouvinte! Aqui está a grande e significativa diferença.

Insisto que o responsável pela coleta do depoimento deve ser alguém sensível, empático e tranquilo. Será como um porto seguro para que as memórias do depoente possam atracar. Oferecerá segurança ao que lhe está oferecendo seus tesouros no formato de memórias tecidas pelo tempo: seu bem mais precioso.
É com este olhar e com esta atitude que o ouvinte deve se colocar.

Foi no tempo que as memórias foram tecidas, e é com tempo e sem pressa que elas devem ser ouvidas…

Seguindo sobre a história oral seria importante você saber que:

Sua introdução no Brasil deu-se a partir dos anos 1970 e encontrou força nos anos 1990. Deste crescimento surgiu a criação em 1994 da Associação Brasileira de História Oral, e em 1996 foi criada a Associação Internacional de História Oral.

Desde os seus primórdios a história oral firmou-se como um instrumento de construção da identidade de grupos em processo de transformação social.

A história oral é caracterizada por uma série de procedimentos no pré, no curso e pós-depoimento. Isso porque a definição de quem, porquê e como deve obedecer a critérios pré-estabelecidos de relevância e sentido ao que se quer pesquisar ou preservar.

Em geral, a opção pela história oral dentro de uma instituição ocorre com alguns objetivos pré-definidos. Dentre os quais citamos:

  1. Registrar os relatos das personalidades que, direta ou indiretamente, partilharam determinado período, tema, ou instituição;
  2. Recuperar dados e informações sobre fatos e episódios importantes para a história institucional;
  3. Constituir um acervo que sirva às consultas, para posterior pesquisa e produção de conhecimento.
  4. É preciso que se tenha em mente que o equacionamento entre história x memória nestes casos, resulta em uma nova “construção do passado, mas pautada em emoções e vivências”, já que os eventos da memória são retomados a partir de experiências passadas com o filtro da atualidade.

Sugiro que aprofunde seus conhecimentos sobre o tema. Você pode obter informações sobre todos os passos necessários à coleta do depoimento, suas diferenças e procedimentos, consultando o Manual do CPDOC no link abaixo, tal leitura será útil para a nossa Unidade que trata sobre metodologias adequadas:

Alberti, Verena. Manual de História Oral.

Abra-o e leia-o na íntegra aqui:

Na sua leitura tenha atenção sobre os aspectos relacionados à metodologia de produção do depoimento e de que forma esta se adequaria às realidades de sua instituição ou às suas concepções de projeto. Fazendo desta forma, sua leitura passa a ter uma direção metodológica e não apenas informativa.

As experiências do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil – CPDOC / FGV  continuam a fornecer importantes relatos sobre a experiência de colher e tratar depoimentos. Por isso, sugiro que leia o artigo “Tratamento das entrevistas de história oral no CPDOC”, de Alberti (2005), disponível aqui:

No caso dessas leituras, é importante ressaltar que para além das discussões entre História, Memória e Psicologia, todo um universo que considera os aspectos técnicos e tecnológicos deve ser tomado em conta. Muitas vezes o fascínio pela possibilidade de colher depoimentos tira a nitidez do que todo o processo significa.

As tecnologias hoje disponíveis facilitam em muito a coleta de depoimentos, por outro lado colocam inúmeros desafios em relação à sua perenidade que o artigo trata de forma meticulosa e acertada. Considere tais aspectos ao pensar sobre a elaboração de um Projeto de Memória Institucional quando for o caso.

Sugiro atenção em relação aos campos definidos para compôr a identificação do depoimento. Defina com antecedência quais serão estes campos, como deverão ser preenchidos e de que forma sua acessibilidade estará garantida em especial considerando aspectos relacionados à obsolescência tecnológica. A leitura atenta do artigo de Alberti auxiliará na estruturação destas necessidades.

Não há uma única forma de estruturar depoimentos de história oral. Mas alguns cuidados podem e devem ser tomados na fase de elaboração e execução do projeto. Transcrevo alguns destes cuidados, apresentados no artigo “História Oral e Memória: a construção de um perfil de Historiador-Etnográfico”, de Éder Silveira e que você, se desejar, pode ler na íntegra aqui:

(…) A entrevista se configura como principal instrumento (ou técnica) do método de História Oral. Para realizá-la, não há uma única receita ou diretriz. Contudo, cita-se algumas observações convergentes nas obras de THOMPSON (2002), ALBERTI (2004; 2005) e ZAGO (2003) que orientam o pesquisador na produção de entrevistas no método da História Oral:

  1. Ter consciência de que não existe neutralidade do pesquisador desde a escolha pelo tipo de entrevista a qualquer outro instrumento de coleta de dados ou fontes.
  2. Respeitar os princípios éticos e de objetividade na pesquisa, lembrando que nenhum método dá conta de captar o problema em todas as suas dimensões. Todas as conclusões são provisórias, pois podem ser aprofundadas e revistas por pesquisas posteriores.
  3. O pesquisador não deve se apropriar da entrevista somente como uma técnica de coleta de dados, mas como parte integrante da construção do objeto de estudo.
  4. A entrevista compreensiva não tem uma estrutura rígida, isto é, as questões previamente definidas podem sofrer alterações conforme o direcionamento que se quer dar à investigação. Dar preferência a perguntas mais abertas e um roteiro flexível.
  5. Reservar um tempo relativamente longo para a realização da entrevista.
  6. Durante a entrevista é válido ter um diário de campo onde se possa fazer anotações das reações, posturas e impressões do entrevistado, dificuldades nas informações obtidas, o que provocaram suas lembranças, novidades nas informações ou conteúdo, informações obtidas em off, etc.
  7. Uso de elementos que evoquem a memória do entrevistado como fotografias, recortes de periódicos e menção a fatos específicos podem facilitar o desenvolvimento do trabalho.
  8. Construir fichas que organizem e orientem as futuras fontes orais. Deve-se privilegiar dados como o nome do entrevistado, número da entrevista que vai representar dentro do universo da pesquisa, idade do entrevistado, endereço, local onde foi gravada a entrevista, nome do entrevistador, idade, profissão, religião, datas das entrevistas realizadas com o informante, em que fitas (previamente numeradas) estarão gravadas as entrevistas, em que páginas da transcrição se encontrarão referências a determinados temas e se há alguma restrição ao acesso das informações.
  9. No início da entrevista, gravar informações como: nome do entrevistado, do(s) entrevistador (es), data, local e finalidade do trabalho.
  10. Providenciar um Termo de Consentimento Informado, onde fique bem claro ao entrevistado:
    1. as finalidades da pesquisa;
    2. nome do informante e número de documento pessoal, como RG;
    3. se a divulgação da entrevista oferece riscos ou prejuízos à pessoa informante;
    4. a permissão ou não permissão da divulgação do nome do informante (caso não seja permitido, orienta-se que se produza uma declaração para este fim no verso deste termo, sendo assinado por ambas as partes (pesquisador e entrevistado), podendo o informante optar por um pseudônimo;
    5. cedência dos direitos da participação do entrevistado e seus depoimentos para a pesquisa em questão;
    6. abdicação dos direitos autorais do entrevistado e de seus descendentes;
    7. data e assinatura do termo pelo participante e pesquisador – torna-se importante nesse item, anexar ao termo que será assinado por ambas as partes, a transcrição da entrevista. (…)  Silveira (2007)

Realizado o depoimento, vem o momento de indexá-lo de modo a facilitar sua posterior pesquisa. De novo, o exemplo do CPDOC merece ser considerado. Como forma de pensar em formas de indexação para o caso da história oral proponho a leitura do artigo “Princípios de indexação de entrevistas de história oral” de Brando,que você lê aqui:

Mas, todo este trabalho não faria qualquer sentido se a divulgação não alcançar seus objetivos: registrar as informações de maneira a atender às demandas de produção de conhecimento e/ou inovação em diferentes áreas de conhecimento.

Para esta tarefa, o mundo contemporâneo tem oferecido inúmeras ferramentas e possibilidades. Se usadas de forma coerente e consciente trarão inúmeros benefícios.

Muitos subprodutos um Projeto de Memória Institucional pode oferecer: de exposições permanentes à itinerantes, livros comemorativos, sites, portais, workshops, seminários, boletins, calendários, entre outros. Em todo caso, o cuidado e o zelo na elaboração do projeto devem estar refletidos e mostrar a importância e o respeito às memórias ali reunidas.

Os produtos devem refletir o valor reunido de experiências e da identidade institucional.

Simples assim…
*
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*Esta é uma versão revista e atualizada de um post publicado originalmente no meu Blog, o Pensados a Tinta
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Qual o valor de um Centro de Documentação e/ou Memória

Por: Eliana Rezende

Uma pergunta constante é a de qual valor pode haver em um Centro de Documentação e/ou Memória dentro de uma instituição já que estamos tão rodeados por informações que nos chegam de todos os lados.
Sua implantação não representaria um gasto e demanda desnecessários?
Afinal, qual seu valor e importância?

Importância e objetivos:
Implantar e manter um Centro de Documentação e/ou Memória pode ser um grande desafio institucional, mas ao mesmo tempo é item fundamental dentro de um Projeto de Memória Institucional, que tenha como preocupação o fortalecimento da Identidade e Cultura Organizacional.

As dúvidas são recorrentes e muitas, em especial sobre quais seriam suas funções e de que forma podem ser item de produção de Conhecimento e Inovação. Como estruturá-lo e mantê-lo passam a ser preocupações recorrentes. Daí a necessidade de um trabalho interdisciplinar e linkado ao DNA da instituição.

Alcance:
Os Centros de Documentação (CEDOC) extrapolam o universo documental das Bibliotecas, embora possam conter material bibliográfico (que será sempre e unicamente aquele relacionado à temática na qual o Centro é especializado), e aproximam-se do perfil dos arquivos, na medida em que recolhem originais ou reproduções de conjuntos arquivísticos. É por isso uma instituição híbrida com desafios de amplos alcances e com a lida de diferentes suportes.

Um Centro de Documentação e Referência diferencia-se de um arquivo na medida em que este se torna um repositório de informação para profissionais de diferentes áreas que se ocupem de um determinado ramo do conhecimento. Tem um potencial de transformar-se em Centro de Referência, no sentido de ser o local para onde convergem todo tipo de arquivo, em conjuntos documentais de diferentes suportes, sempre voltados para o mesmo tema, e que facilita, em última instância, a pesquisa dos usuários. Assim, encontramos audiovisuais, fotografias, livros, jornais, revistas, microfilmes, mapas, plantas, gravuras, negativos flexíveis, negativos em celulose e vidro, e outros..

Numa hierarquia, diríamos que o Centro de Documentação (CEDOC) possui maior alcance que uma Biblioteca e que um Arquivo. Isto porque possuem conjuntos bibliográficos, arquivísticos e até museológicos e arqueológicos, em alguns casos.

É natural em sua formação possuir documentos museológicos, hemerográficos, iconográficos, textuais, audiovisuais, entre outros. E, devido a esta característica, necessariamente precisará “beber” das metodologias oriundas das diferentes áreas como a a arquivística, a história, a museologia, e biblioteconomia entre outras.

Nem sempre o Centro de Documentação (CEDOC) tem como objetivo a preservação da memória ou a pesquisa histórica. Muitos estão vinculados à pesquisa em outras áreas ou à produção e prestação de serviços a usuários internos e externos. Neste caso, pode se configurar um Centro de Referência (CR) para as área em que atuam.

Importante destacar que a principal missão de um Centro de Documentação (CEDOC) é o apoio à pesquisa: seja ela institucional ou acadêmica. Seu papel não é o de substituir a gestão arquivística de acervos permanentes, que possuem fins administrativos e/ou probatórios e que, no caso da documentação pública, cumpre legislação vigente. Utilizá-lo desta forma seria um desvirtuamento de seus objetivos e funções.

Os primeiros passos de uma implantação
A natureza e vocação de um Centro de Documentação (CEDOC) sendo a pesquisa e referência, implica a definição de sua abrangência e recorte temático, espacial e cronológico.

Isto se dá pela abrangência documental permitida na sua configuração. Colocar tais recortes favorecerá a qualidade das referência geradas. Quanto mais abrangente, provavelmente, mais superficiais serão suas informações.
Em geral, o primeiro passo a ser dado é a definição do que chamamos “Linha de Acervo”, que é exatamente o universo do seu recorte e sua área de atuação. Por exemplo: estudos sobre a cidade, educação, saúde, sustentabilidade, indústria têxtil, etc. Em que período? Começo do século XIX. meados do século XX, 2ª metade do século XX, e assim por diante….

Estas definições darão ao Centro de Documentação (CEDOC) aporte e consistência diante de outros fornecedores de dados e informações. Legitimarão seu universo de atuação, bem como as políticas de ampliação do acervo.

Apesar disso, tais Linhas de Acervo não são rígidas a ponto de não sofrerem processos de flexibilização. Vez por outra, poderão mover-se em uma ou outra direção sofrendo adequações, acréscimos ou mesmo reconfigurações a partir de demandas de usuários e público alvo.

Definidas as Linhas de concentração, é hora de definir o âmbito das ações que o Centro de Documentação (CEDOC) desenvolverá. É neste ponto que se definem estratégias de cursos, oficinas, workshops, seminários, congressos, conferências, publicações diversas, exposições (fixas, itinerantes, virtuais), fac-símiles de documentos, assessorias e/ou consultorias técnicas a outras instituições.
Atentar para tais ações reforça a vocação para a pesquisa e produção de conhecimento que se espera de um Centro de Documentação (CEDOC).

Torna-se evidente que, pela abrangência de suportes e documentos, de ações a serem desenvolvidas e universo de atuação, o perfil profissional exigido dos que atuarão neste Centro de Documentação (CEDOC) deverá ser múltiplo e interdisciplinar. No entanto, está longe de representar o universo de um único tipo de profissional. Quanto mais flexível e interdisciplinar maiores as chances de obtenção de bons resultados à frente de uma instituição como esta.

Alguns cuidados
Um Centro de Documentação (CEDOC) não pode converter-se em uma colcha de retalhos ou um gabinete de curiosidades! Facilmente, e até por desconhecimento na maior parte das vezes, começam a ser reunidos em seu interior quinquilharias que pouco ou nada tem que ver com o que se determinou como Linha de Acervo.

A constituição do acervo, e dos objetos que o integram, deve obedecer critérios técnicos estabelecidos quando da definição do âmbito e alcance do Centro de Documentação (CEDOC). Sua ampliação é paulatina e sempre se guiará por tais critérios. Isso evitará dispersão e gastos desnecessários envolvendo espaço físico, tempo de tratamento técnico e recursos humanos e tecnológicos.

É importante destacar que um Centro de Documentação (CEDOC) não precisa reunir TUDO sobre sua área de atuação. Não é um órgão acumulador, mas deve ser antes de tudo um referenciador: fornecendo a maior quantidade possível de informações sobre sua área de cobertura.

Ser referenciador também não deve significar ser um duplicador! É importante que um Centro de Documentação (CEDOC) não seja um duplicador de informações, reproduzindo tudo o que já existe em outros acervos. Valendo-se de tecnologias digitais pode fornecer as informações que se encontram em outras instituições ou Base de Dados, sem reproduzir desnecessariamente acervos ou documentos.

E aqui entra uma palavra de cautela: a digitalização utilizada para fins de ampliação de acervo deve ser tomada com cuidado. Mais do que isso, deve ser uma ferramenta utilizada com parcimônia e eventualmente, como política de preservação documental, favorecendo o acesso sem permitir manipulações indevidas de originais raros, por exemplo.

Apesar de oferecerem muitas potencialidades e possibilidades, as ferramentas tecnológicas disponíveis hoje em dia podem não trazer todos os benefícios possíveis por ausência de uma boa estruturação e metodologia de trabalho. Por isso, todo o cuidado em seu planejamento é fundamental.

Centros de Documentação em tempos web
Algumas instituições possuem dúvidas sobre como criar este espaço físico, mas também um espaço virtual onde possa ser visitado e consultado por aqueles que estão distantes. Precisamos ter alternativas para isso.

Em um mundo tão digitalizado vem sendo questionado a existência ou não de um acervo físico e meios pelos quais um Centro de Documentação possa ser virtual e estender suas fronteiras para além de um espaço estritamente físico, eles extrapolam muros institucionais e geram visibilidade, valorizando a cultura institucional.

As tecnologias da informação podem apoiar projetos de implantação de Centros de Documentação (CEDOC) ao mesmo tempo que as funcionalidades da WEB 2.0 contribuem para a disseminação, compartilhamento e colaboração tanto de matérias-primas como de produtos. Em todos os casos, muitas decisões precisam ser tomadas.

As tecnologias hoje disponíveis propiciam diferentes meios de divulgação com um alcance nunca antes imaginado. E, quando bem estruturados, possuem um custo benefício interessantíssimo.

A fluidez dos meios digitais faz com que as pessoas em geral olhem para as tecnologias como sendo a panaceia para todos os problemas de divulgação que uma Instituição possa ter.
No entanto, as coisas não são bem assim.

É um equívoco achar que um espaço virtual demandará menos trabalho, ou apenas facilidades. Todo o trabalho bruto de referenciamento e tratamento técnico será mantido, alterando-se apenas as formas de veiculação e acesso. Em alguns casos podemos afirmar que um espaço virtual poderá ter ainda mais acessos e buscas e demandará até a necessidade de possuir um atendimento que sirva às necessidades de estrangeiros. A web é uma uma porta aberta ao mundo e não à uma rua local. Por isso é preciso tomar em conta isso.

Além disso, há decisões que envolvem a disponibilidade e acesso de acervos. Dentre as muitas questões cito algumas cruciais:
Se houver um banco de dados como se dará o acesso? E no caso de imagens originais? Como cuidar de aspectos relacionados à autoria e créditos?
Em caso de exposições virtuais como serão? Qual a periodicidade para sua atualização?
E as formas de contato e atendimento aos usuários/pesquisadores?
Em relação aos cursos, oficinas, workshops, exposições, conferências, publicações: como serão sua veiculação? Estarão abertos em canais online?

Todas são questões que precisam ser pensadas ainda na fase de planejamento e periodicamente deverão ser repensadas de acordo com erros e acertos, que sempre ocorrem.

O que é definitivo, e que podemos afirmar com certeza, é que a partir desta nova concepção de uso da Web o mundo das bibliotecas e locais que detém informação organizada e estruturada passou a se movimentar na direção do usuário. Esteja ele onde estiver!

Se de um lado este sentido de colaboração inovou e começou um processo irreversível de interação, de outro colocou o desafio da segurança de que estes conteúdos estarão acessíveis e disponíveis no tempo, cuidando integralmente e com o respeito devido ao sigilo, preservação e acesso.

O Centros de Documentação (CEDOC) lidam com documentos que em sua maior parte são permanentes e, portanto, com necessidades de perenidade, longevidade, segurança e autenticidade a serem garantidas.
As coisas ficam ainda mais complicadas quando falamos não apenas de textos, mas imagens, audiovisuais e outras possibilidades de links e hipertextos.
A funcionalidade de muitos recursos só é possível em determinada configuração.
Se não forem estruturados de forma que contemplem a obsolescência poderemos ter um rico material que estará fadado à impossibilidade de utilização futura para diferentes fins.

Quando pensamos em períodos para a obsolescência falamos em períodos que em geral não excedem os 5 anos.
E isso, para documentos permanentes, não significa rigorosamente nada!
O termo “longa permanência” pode ser definido por períodos não inferiores a 100 anos.

Por isso, é fundamental um bom planejamento e estratégia de escolha consciente envolvendo o quê preservar, para quê e para quem e com quais objetivos.

O que tomar em consideração para Centros de Documentação (CEDOC) em ambientes digitais?

Em primeiro lugar deve-se definir qual tecnologia a ser utilizada. E nesta escolha o mais importante é definir um sistema robusto e que tenha sido amplamente usado.
Evite as últimas “novidades” no mercado. Tenha certeza da solidez e robustez destas tecnologias, sua manutenção e custos.
Pense que o mais caro em tecnologia não é sua aquisição inicial, mas a sua manutenção no decurso do tempo. Em especial se os documentos forem de caráter permanente.

Atente para os dados reunidos e a forma escolhida para sua disponibilização e divulgação.
1. Se não houver uma preocupação efetiva, com o tempo o que você terá em poucos anos é uma base de dados inútil e sem possibilidades de uso e produção de conteúdos, conhecimento ou inovação.
A tônica principal em verdade não é o acesso e sim a autenticidade dos documentos digitais no decurso do tempo. Acesso acaba sendo o fator mais simples em uma cadeia extremamente longa e importante, e seu ápice é sem dúvida fornecer garantias de que estes documentos são autênticos e que não sofreram alterações e adulterações. O investimento, sem dúvida, é na segurança da informação. Sem ela, poderemos apenas acumular o que será apenas lixo digital.

2. Elaboração de uma política clara de preservação e conservação de documentos em suportes físicos e digitais, com previsão de prazos de guarda e com quais utilizações nas diferentes ferramentas tecnológicas disponíveis pela Instituição;

3. É necessário, portanto, uma visão mais curatorial de todo o processo.
Tendo claro todos os limites que um projeto se defronta e já iniciá-lo tendo ações bem delineadas, flexíveis e adequadas às nossas reais circunstâncias de recursos humanos, financeiros e tecnológicos.

Dos fins
De tudo o que se disse, o fundamental é ter em conta que todo este trabalho de base, inter e multidisciplinar visa antes de tudo a reunião de informações para a produção de conhecimento. Só aí que o Centro de Documentação (CEDOC) cumprirá sua verdadeira vocação.

Como podemos ajudar?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para o desenvolvimento e a aplicação da Gestão Documental e Memória Institucional em empresas de diferentes segmentos e suas áreas de atuação.

Além de podermos orientar boas práticas em relação ao uso de ferramentas tecnológicas com vistas a preservação e conservação física e digital dos documentos.

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Porque Documento Digitalizado não é Documento Digital

Por: Eliana Rezende

A afirmação pode parecer muito simples, mas ainda causa muita confusão na mente das pessoas. Em primeiro lugar, precisamos esclarecer que documento digital e documento digitalizado não são a mesma coisa e nem possuem as mesmas características e objetivos.

Perceba a diferença:
Digitalização – Pode ser definida como o processo de conversão de documento analógico para o formato digital por meio de dispositivo apropriado, como um escâner.
Documento digital –  É um documento codificado em dígitos binários, acessível por meio de sistema computacional.Ele nasce desta forma, sem nunca ter passado pelo formato analógico.

Simplificando, temos que enquanto o documento digital nasce em meio digital e é definido por códigos binários, o documento digitalizado vem de um documento original analógico, que para ter uma melhor tramitação é digitalizado utilizando-se um dispositivo como uma câmara digital ou um Scanner.

O fato indiscutível é que a digitalização ganhou muitos adeptos pela facilidade oferecida de fazer documentos antes analógicos poder ser transmitidos por e-mails. Agiliza o acesso à informação, ao mesmo tempo em que favorece seus tramites. Isso é fato. É preciso apenas darmos a ela seu devido lugar e aplicação.

O documento digitalizado não possui qualquer valor legal, e apenas reproduz o que um documento analógico é, tal como cópias reprográficas o fazem.
São destituídos de valor legal ou de prova.

O documento digital por sua vez, para assim ser considerado NUNCA poderá ser impresso. Do contrário, será considerado um documento analógico como outro qualquer. Sua principal característica é o de nascer, tramitar, ser armazenado e até ser eliminado única e exclusivamente em meio digital. O que acaba nos levando a conclusão de que praticamente em 98% dos casos as instituições não possuem documentos digitais, mas sim documentos digitalizados.

O grande benefício do documento digital é que ele pode ter valor legal por ser rastreado e quando possuir os atributos como autenticidade, integridade exigidos em situações de prova. Isso porque possuem metadados que fornecem todas as indicações que garantem sua fidedignidade e autenticidade.

Como optar por um ou outro?
Como se nota, cada um dos termos possui horizontes diversos.
E que, como tais, possuem aspectos positivos e negativos, vantagens e desvantagens.

Em geral, a digitalização pode ocorrer em qualquer uma das diferentes etapas de um trabalho de Gestão Documental, muito mais como forma de favorecer o acesso aos documentos, ou mesmo como parte de uma política de preservação de originais. Em especial quando estes possuam valor histórico e precisem ser protegidos de fragilidades geradas pelo uso excessivo ou inadequado.
Nos casos de documentação de valor permanente, histórico ou de longa permanência (períodos entre 5 e 50 anos) políticas claras de preservação digital devem ser pensadas pelas instituições, para que sérios riscos de perda ou dano não ocorram.
A digitalização nestes casos possui apenas um valor restrito e deve ser usada com moderação e como parte de um planejamento de longo prazo.

Em todo caso, e do ponto de vista legal, a digitalização representa apenas e tão somente uma cópia, como ocorria anteriormente com fotocópias reprográficas. Sua maior e principal vantagem é ser um meio eficaz para transmitir informações por meios eletrônicos, como é o caso do e-mail.

Insisto em lembrar que ela não possui valor legal, e muito menos substitui seu original. E o que nunca é demais reafirmar: documentos digitais precisam obedecer prazos de guarda tal qual documentos analógicos, e portanto, se um documento tiver que ser guardado por 50, 100 anos ou para sempre em formato analógico também deverá ser armazenado em meios digitais por igual período.

São nestes casos que a política de preservação digital precisa ser elaborada. Não adianta a compra pura e simples de uma ferramenta tecnológica! Ela se mostrará mais problema do que solução.
Daí o post que escrevi “O Desafio das Soluções na Era da Informação“, onde deixo claro que ferramenta NUNCA será uma Solução.

Agora, caso seus documentos possuam um uso restrito e com uma temporalidade curta (prazos inferiores a 5 anos), a digitalização pode ser uma excelente forma de otimizar processos e disponibilizar a informação, sem impor questões mais sérias em relação à preservação digital.

Como podemos ajudar?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para o desenvolvimento e aplicação da Gestão Documental e Memória Institucional em empresas de diferentes segmentos e suas áreas de atuação. Além de podermos orientar boas práticas em relação ao uso de ferramentas tecnológicas com vistas a produção e tramitação de documentos digitais.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer.

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A Jovem, e surpreendente, Gestão da Informação

Por: Lionel C. Bethancourt

O que é Gestão de Conhecimento, afinal?
Em 1994, Davenport definia a Gestão de Conhecimento como: “o processo de coleta, distribuição e uso efetivo do conhecimento” (Knowledge management is the process of capturing, distributing, and effectively using knowledge). Que é usada ainda até hoje, mudando uma ou outra palavra, aqui e ali.

E a Gestão de Informação?
Ainda teremos o fato da diferenciação entre informação e conhecimento. Muitas áreas cinzas e confusões. Primeiramente; informação não é conhecimento!
Dados são um conjunto de valores ou ocorrências em estado bruto com o qual são obtidas informações.
Informação é (qualquer) dado, ou conjunto de dados, com significado para o usuário-consumidor.
Conhecimento é a capacidade de processar essa (qualquer) informação com outros dados e informações e dela fazer uso prático, gerando ao mesmo tempo novas informações e dados.
Só para complicar, a informação é uma (1) coisa e o conhecimento é seu fractal (1n).
A escolha é sua; Mandelbrot ou Julia, não importa.

Quando falamos em jovem, imediatamente nos vêm à cabeça, não somente a juventude cronológica mas também a inovação. A juventude como estado e a inovação como conceito abstrato. No imaginário, acreditamos que ambas vem sempre juntas.

A gestão se dá a partir do momento em que, em qualquer sistema, se faça necessária a coleta, organização, compartilhamento e guarda de informação. Neste caso específico, para ter condições de melhores decisões estratégicas. Convenhamos que a gestão de informação se formaliza desde o momento em que os documentos são organizados pelos motivos que forem. Documentos organizados em bibliotecas, documentos organizados por temas, documentos guardados ou separados em coleções; atas, volumes científicos, recibos de contas, cartas de amor, etc.

Logo, nos surpreendemos ao aliar juventude à gestão de informação, pois por definição, parece paradoxal que ela possa ser jovem, nova e, ao mesmo tempo, tão velha que tenha uma história documentada, tão grande, ou talvez mais, do que a história da própria humanidade.
Visto que, uma sem a outra, não existe. Mesmo apesar dessa nossa ignorância.
(Também não vemos o ar, no entanto, sabemos que ele está ai.) O documento em si já é um fruto de escolha (coleta + organização) e compartilhamento. As informações contidas no documento foram propositalmente escolhidas e separadas das outras.
E isto em qualquer documento é igual.

A história da humanidade documentada em documentos e os documentos testemunhas da história da humanidade. O fato simples de criar documentos, exige antes, uma hierarquização e organização de dados e informações. Tornando-os acessíveis ao usuário-consumidor.
Isto é gestão de informação, não de conhecimento.
Logo, jovem, nos pareceria um contrassenso, mas vamos convir, a juventude nunca é a mesma. Enquanto a gestão de informação, não somente acompanha, como muitas vezes ela mesma é promotora da emergência dos movimentos ditos ‘jovens‘.

Vejamos como isso acontece quando, por exemplo, na Era Digital, os avanços são documentados ANTES de ser assimilados pelos seus usuários-consumidores. Todas as novidades que mudem o comportamento “jovem” são resultado de documentações anteriores.

E aqui… a surpresa. Quando, por fim, entendemos o que acontece à nossa frente.

Como podemos ajudar?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para auxiliá-lo na melhor configuração de um Projeto de Gestão de Informação com vistas à produção de Conhecimento.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer.

Referências: 
Arjan Ten Cate, Knowledge management – A Theoretical Framework and Implementation at the “big four”, TCC da Faculteit der Economische Wetenschappen Erasmus Universiteit Rotterdam, 2016.
Davenport, T.H. et al., Building Successful Knowledge Management Projects at http://www.providersedge.com/docs/km_articles/building_successful_km_projects.pdf

Davenport, T.H., Some Principles of Knowledge Management at http://www.strategy-business.com/article/8776?gko=f91a7
Koenig, M.E.D., What is KM? Knowledge Management Explained at http://www.kmworld.com/Articles/Editorial/What-Is-…/What-is-KM-Knowledge-Management-Explained-82405.aspx
Milton, N., Knowledge Management FAQ at http://www.knoco.com/knowledge-management-FAQ.htm
Wilson, T.D. (2002) “The nonsense of ‘knowledge management‘” Information Research, 8(1), paper no. 144   [Available at http://InformationR.net/ir/8-1/paper144.html]
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O Valor da Gestão Documental para as Empresas

Por: Eliana Rezende Bethancourt & Lionel Bethancourt

Quando falamos em dados, sempre estaremos lidando com números astronômicos. 90% dos dados que há no mundo hoje foram criados nos últimos dois anos e, agora, a cada dois anos, o mundo dobra a taxa em que os dados são produzidos. “Segundo a sexta edição da pesquisa DOMO em 2018, mais de 2,5 quintilhões de bytes são criados todos os dias (domo.com). E, no ano de 2020, estima-se que 1.7MB de informação serão criados a cada segundo, por pessoa, no mundo”.

A verdade é  que estamos vivendo uma revolução no setor de dados. O que impulsiona essa revolução, além da abundância de dados disponíveis atualmente, são as tecnologias fundamentais que alteram a forma com que coletamos, armazenamos, analisamos e transformamos as informações.

Se olharmos de uma perspectiva mundial, as estatísticas ficam realmente interessantes, observe:

  • O IDC estimou que em 2020, as transações comerciais na internet, que incluem B2B and B2C alcançariam US$ 450 bilhões por dia.
  • A Walmart atende mais de 1 milhão de transações de clientes por hora, e elas são importadas a vários bancos de dados que contêm mais de 2.5 Petabytes de informação.
  • No distante ano de 2008, a Google processava 20 Petabytes (20,000Tb) de dados por dia.
  • AT&T tem um banco de dados que com 312 Tb de tamanho, incluindo gravações de 1.9 trilhões de ligações telefônicas.
  • Há 30 bilhões de peças de conteúdo compartilhado no Facebook mensalmente com 2,85 bilhões de usuários.
  • Mais de 100 horas de conteúdo de vídeo são carregadas à YouTube a cada minuto.
  • No ano de 2013, segundo Chris Flores, diretor de comunicação para o Grupo Windows da Microsoft, foram criados 500 bilhões de documentos no Office!
  • Segundo Gil Press (Forbes), de 2010 a 2020, a quantidade de dados criados, capturados, copiados e consumidos no mundo aumentou de 1,2 trilhão de gigabytes para 59 trilhões de gigabytes, um crescimento de quase 5.000%.
  • Segundo a International Data Corporation IDC a taxa composta de crescimento anual (CAGR) de cinco anos até 2024 dos dados criados, capturados, copiados e consumidos no mundo; a quantidade de dados criados nos próximos três anos será maior do que os dados criados nos últimos 30 anos. E não apenas isso. Em 2024, os dados de entretenimento representarão 40% do Global DataSphere e a produtividade / dados incorporados serão 29%, parcialmente paralisados ​​pela dinâmica do COVID-19.
  • Ainda nesta esteira temos a produção massiva de dados por pessoas e empresas por meio de redes móveis e nuvens, quer por trabalho, quer diversão gerando uma massa imensa de dados e informações que compõem ora lixo, ora informação relevante que precisa ser distinguida e usada. O universo de produção de dados audiovisuais com fins de recreação, segurança ou trabalho é uma realidade que aumenta de forma absurda os dados de pessoas e organizações.
  •  Em 2021 já tínhamos mais de 2.29 bilhões de usuários no YouTube que a cada minuto, sobem 500 horas de vídeo distribuídos por cerca de 1 bilhão de canais.
  • O Instagram possui 1,22 bilhões de usuários ativos
  • A presença em redes sociais e perfis digitais acumulam inúmeros dados e é comum empresas e instituições também possuírem tais perfis e não terem o devido cuidado com os mesmos. Lembrando que representam partem substancial do que seja sua Memória Institucional.

Mas a pergunta que todos nos fazemos é: em que ritmo e velocidade produzimos documentos hoje? E ainda: precisaremos deles por quanto tempo?
E ao precisar, encontraremos?
E se, em formato digital, conseguiremos abri-lo?

Sabemos que os dados estão aumentando, mas será que sabemos o que realmente isto significa para nossos negócios? Segundo a Fathom Consultoria, dados pobres custam aos negócios 20-35% da sua renda operacional, com dados ruins custando aos negócios americanos US$ 600 bilhões anualmente.

Em estudo recente patrocinado pela Xerox Corporation, chegou-se a conclusão que:

  • 90% das organizações não têm controle sobre os valores gastos anualmente sobre a produção de processos/tarefas que envolvem documentos;
  • 82% das organizações acreditam que os documentos são essenciais para o sucesso das operações organizacionais;
  • 70% dos executivos afirmam que uma Gestão Documental ineficiente, torna a organização mais lenta, e;
  • 45% do tempo dos executivos é utilizado com documentos (produção, acesso, recuperação, uso, etc.)

Se você está envolvido nas operações de TI na sua organização, pergunte-se:

  • Estamos coletando e armazenando os dados corretamente?
  • Usamos os dados coletados para melhor gerenciar nossos negócios ou dos nossos clientes?
  • Qual nossa confiança em tomar decisões baseadas nestes dados?
  • O que fazem nossos competidores? Lançaram campanhas direcionadas à nossa base de clientes?
  • E por último, mas não menos importante: se vamos conseguir uma vantagem competitiva sobre nossa concorrência e ofertar uma experiência única aos nossos clientes, será que os dados que temos e produzimos nos ajudam neste propósito?

E, se você é produtor-usuário de dados e informações pergunte-se:

  • Para quê serve a Gestão Documental numa empresa?
  • Existe Gestão Documental na nossa empresa?
  • A quem cabe a responsabilidade da Gestão Documental?
  • Como estabelecer políticas de Gestão Documental?
  • Quais são os seus benefícios e retorno?
  • Como definir prazos e locais para guardar informações?
  • Como filtrar, hierarquizar e localizar informações relevantes?
  • Como estabelecer critérios para segurança, sigilo e acesso às informações?
  • Ferramentas e tecnologia resolverão meus problemas de Gestão de Documental?
  • Como identificar o que de fato preciso?
  • Como multiplicar conhecimento a partir de dados e informações nos documentos que produzimos?

Apesar da importância e volume representada pela informação digital ou mesmo mantida em ambientes físicos, existe um amplo desconhecimento do que uma Tabela de Temporalidade Documental (TTD) e um Código de Classificação dos Documentos (CCD) podem fazer por uma documentação a ser gerida. O que acaba acarretando um aumento nos custos operacionais das empresas, afinal despende-se em recursos (humanos, tecnológicos e em espaços) tanto físicos quanto digitais. Guardando documentos além do tempo necessário e perdendo documentos importantes para a tomada de decisões estratégicas. Independente de se possuir ferramentas tecnológicas ou não.
Indo além: acabam ocupando espaços caros com o que, às vezes, não importa e perdendo aqueles que são verdadeiros tesouros de Patrimônio Cultural/Documental, que servem ao fortalecimento da Cultura, Identidade e Memória Institucional.

Gestores que ignoram a Gestão Documental como parte essencial dos processos organizacionais incorrem no erro básico de ingerência. Subaproveitam valor contido nas informações presentes nos documentos sob sua responsabilidade. Cuidar de informações significa cuidar de TODOS os seus suportes (sejam eles físicos ou digitais) e com toda a complexidade que cada um deles representa do ponto de vista de guarda, sigilo e acesso.

A ER Consultoria possui metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para a aplicação da Gestão Documental e Memória Institucional em empresas de diferentes segmentos e suas áreas de atuação.

Veja nosso Portfólio de Cases   e o que nossos clientes tem a dizer

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* Post revisto e atualizado em Julho/2021

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Fotografia como Documento e Narrativas Possíveis

Por: Eliana Rezende*

Pare, pense e responda:
Você vai fazer uma longa viagem, somente poderá levar uma mala de mão com alguns pertences. O quê você levaria, quais objetos seriam sua escolha? O que seria fundamental?

Em 1995, a Secretaria de Saúde do Estado de New York, desativou o Sanatório Mental de Willard, em Syracuse. um edifício de arquitetura vitoriana que abriu suas portas em 1893. Antes de concluir o fechamento, o funcionário Bev Courtwright, foi incumbido de fazer uma vistoria para determinar o que poderia ser recuperado (antiguidades, mobília, etc.). Ao executá-la, o funcionário abriu a porta de um dos sótãos, e descobriu um tesouro: uma coleção de mais de 400 malas (429, mais precisamente) com pertences de antigos pacientes da instituição, datando de 1910 até fins dos anos 1960.

Craig Williams adquiriu as malas para o Museu do Estado de New York e as incorporou à Coleção Permanente da instituição. No ano de 2003 ela originou uma exposição que o fotógrafo Jon Crispin pode ver e interessou-se em documentar através de registros fotográficos tais pertences. Contar um pouco desses pacientes que, a partir de um dado momento de suas vidas foram internados e viveram ali até suas mortes. Poderiam ser trilhas para as histórias prováveis desses pacientes a partir daquilo que carregaram consigo no momento de sua internação.

A escolha deste argumento para meu post não foi aleatória. O caso aqui utilizado como mote para o post é exatamente o quê alguém que estava sendo confinado em um manicômio levaria consigo… ou quem sabe o fariam levar para uma viagem que provavelmente não teria volta.

Belíssimo sob esse aspecto, pois aponta uma certa quantidade de valores tangíveis e intangíveis e que só fazem sentido ao seu possuidor. De qualquer forma, podemos inferir possibilidades, intenções, trechos de uma história nem dita nem escrita, apenas disposta em retalhos como num caleidoscópio.

De outra parte, e não menos sedutor para mim que sou historiadora e também arquivista, é o sentido que tal documentação de cultura material pode ajudar a tecer trilhas de existências que se foram. Achei de uma criatividade sensível incrível a proposta do artista e a forma delicada com que lançou luz aos objetos para que, combinados entre si, fossem crônica do pensado e vivido por um paciente recluso devido aos fantasmas mentais que os habitavam.

São imagens fortes, apesar do ensaio ter um quê muito sensível.
Olhar por essas frestas das histórias por trás dessas malas e de seus pertences, saber sobre seus pacientes, seus nomes e histórias pregressas é mesmo uma experiência muito forte e cheia de significados.

Quando pensamos no caso de pacientes de manicômios desse período podemos de fato encontrar historias de pessoas que foram deixadas ali por abandono ou ganância. Era comum pessoas sãs serem entregues a essas instituições por seus familiares, como forma de mantê-las reclusas.
Mas há também aqueles que, de fato, tinham do seu passado apenas sua mala. Suas memórias (bem mais precioso que podemos ter) já haviam sido perdidas.

Além disso, a fotografia, para mim, também tem um sentido muito especial.

Sou historiadora, conservadora e restauradora de fotografias dos séculos XIX e XX.
E como historiadora, lido muito com as memórias das pessoas e sei o quanto objetos pessoais são elementos de ligação com uma trajetória, um passado, uma vida. Despertam sentimentos e emoções que muitas vezes não cabem entre duas linhas. São carregadas de sentimentos e portam como poucas coisas aquilo que é precioso para cada um.

E é nesse sentido que o ensaio fotográfico é tão forte.
Somos alçados a estas vidas através de seus pertences pessoais. As malas são por assim dizer metáforas de vidas vividas que se foram, sobram como repositório de vestígios, pistas de um passado diverso.
É como se nós próprios estivéssemos embarcando em uma longa viagem.

Lógico está que esta viagem dependerá de onde partimos, com qual olhar, e com quais inquietações. Por isso a diferença do olhar do historiador, do escritor de ficção, ou mesmo de um psicólogo verá de maneira diferente do que um jornalista olhando para os mesmos objetos.
O fundamental é termos a dimensão exata do que este ensaio revela: a humanidade vivida e experienciada deixada nesses pequenos vestígios.

Através do singelo olhar do fotógrafo, foi-nos possível conhecer o conjunto de objetos, e descobrir neles indícios e links da vida vivida e sentida desses pacientes. Seu ensaio fotográfico tornou-se, pelo seu conjunto, uma narrativa.

Convido-os a vir comigo e ver o resultado desse ensaio. Preparei uma apresentação para que tenham a oportunidade de perscrutar algumas dessas muitas vidas e seus fragmentos:

[slideshare id=33919125&doc=willardasylumsuitcases1-140424183413-phpapp02]

Conheça mais o projeto e seu idealizador clicando aqui:

Na área de História chamamos de Cultura Material o trabalho de ver nesses objetos pequenas notas de existências e pequenos trechos de possíveis longas histórias.
Da reunião desses objetos tem-se uma micro-história.
Os objetos assim, possuem uma biografia, uma trajetória que o insere em um determinado contexto.

São como pontos que tecem um fio… cada fio conta uma história.

Como destaco em um artigo que escrevi sobre a fotografia e cultura material, que você pode ler na íntegra aqui, de onde o trecho abaixo foi tirado:

“Seria bom frisar que, no caso do documento fotográfico, temos sempre um objeto único e, portanto, com características muito peculiares. No entanto, se tecermos a rede das tramas que nos trouxeram a estes objetos, sozinhos ou em coleções, chegaremos a horizontes mas amplos.” (Rezende, 2007)

Lidar com tais documentos tridimensionais requereu por parte do fotógrafo um cuidado extremo, e mais do que tudo: apoio interdisciplinar de profissionais de várias áreas. Acompanhe um vídeo produzido para mostrar como foi o trabalho de produção do ensaio fotográfico:

[vimeo 29772611 w=640 h=360]

Todo esse trabalho feito pelo museu de identificar cada um dos pacientes e suas respectivas malas podem ser conhecidos, eis o link.
Gostaria que percebessem porque a História é algo tão fascinante para mim.
Na realidade, tais fragmentos abrem janelas de possibilidades que fornecem pontes de acesso, elos que ligam a um outro tempo. Sem estes toda a leitura do conjunto ficaria dificultada.

Ao fotografar tais objetos, o fotógrafo nos direciona o olhar. Fragmenta e enfoca o tema para fixarmos nossa atenção. Depois desse momento, todas as leituras são possíveis a partir do repertório, interesses e indagações de cada um.
Um historiador olhará de forma diferente que um autor ficcional, por exemplo. Cada um lançará viés próprio.

As imagens nos remetem a uma certa intimidade de um tempo e de determinadas histórias que estavam perdendo suas referências, identidades e memórias. Confinadas num espaço de reclusão podem ser alcançadas pelos rastros e vestígios que deixaram e que traziam de uma vida pregressa, que teve que ficar do lado de fora dos muros de sua reclusão.
Muitos deles deixaram suas vidas ali mesmo na instituição.
Nunca mais retornaram às suas origens.

Por serem registros tomados com sensibilidade nos trazem uma beleza quase roubada de uma existência que se foi. Uma história que passou.

O projeto do fotógrafo de fato nos permite caminhar por esse horizonte de análise de documentos e o qual convencionamos chamar de Cultura Material. Lógico que aqui não é uma aula, mas é um meio de conhecerem um pouco outras formas e fontes documentais que servem à pesquisa e à organização documental.

Percebam como ‘documento’ é uma categoria muito mais ampla do que simplesmente a que o senso comum costuma imaginar?

E, ao término, uso este post para indicar-lhes como se faz um trabalho de curadoria. Não apenas no que tange ao trabalho do fotógrafo e curadores da exposição no museu, mas para o meu próprio caso.
Notem que aqui vocês tem exemplificado como se realiza a curadoria de conteúdos. Tão em voga enquanto produto, mas muito longe de ser feito corretamente.
Espero ter podido mostrar como a curadoria de conteúdos acontece de acordo com a metodologia que indiquei em outro post, intitulado “Curadoria de Conteúdos: O que é? Quem faz? Como faz?”

Além disso, contribuiu para toda a construção do conteúdo e mesmo do ensaio fotográfico algo fundamental a qualquer profissional: saber usar a empatia. Sem ela provavelmente você não teria terminado a leitura deste post.

Encerrando, gostaria de saber:
“Conseguiu decidir o que tua mala conteria?
Que pistas deixaria para investigações e elucubrações futuras?
O que teus vestígios revelariam?
Qual seria a narrativa que tua mala possibilitaria?”

E de tudo o que viu? Qual a sua narrativa?

Como podemos ajudar?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para auxiliá-lo na melhor de tratar acervos documentais que possam compor patrimônio cultural documental, dentre eles Projetos de Preservação e Conservação Documental e Fotográfica.

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Este post é uma versão revisada e atualizada da versão publicada originalmente no Blog Pensados a Tinta sob o título: “Como se constrói uma Narrativa Fotográfica?

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Referências:

Ginzburg, Carlo. “Mitos, Emblemas e Sinais – Morfologia e História“. São Paulo, Companhia das Letras, 1986.
Meneses, Ulpiano T. Bezerra de. “Memória e Cultura Material: Documentos Pessoais no Espaço Público”.
Meneses, Ulpiano T. Bezerra de. “A cultura material no estudo das sociedades antigas“.
Rede, Marcelo. “Estudos de cultura material: uma vertente francesa“.
Rezende, Eliana Almeida de Souza. “Construindo imagens, fazendo clichês: fotógrafos pela cidade“.
Rezende, Eliana Almeida de Souza. “Um Ensaio de Ego-História

Créditos:
Todas as imagens aqui apresentadas são de direitos autorais do fotógrafo Jon Crispin

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* * Conheça:

Mais imagens podem ser vistas aqui:
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Interdisciplinaridade: essencial para profissionais de Informação

Por: Eliana Rezende

Introdução*
Sou uma humanista com fortes tendências a inter, trans e multidisciplinaridade e isto não surgiu como algo oferecido numa formação universitária, mas sim a partir de demandas e “leituras” do universo em que atuava.
Historiadora de formação, arquivista por vocação, neste caminho cruzado transformações sociais, culturais, tecnológicas, foram determinantes para entender que espaço ocupar com a bagagem que trazia. Herdeira de uma tradição que vinha do mimeógrafo e máquina de escrever, assisti o surgimento, uso e massiva utilização de tablets e smartphones, com conteúdos armazenados em nuvem, linkados e hiperlinkados de formas diversas.

Leitores, leitura, produtores e armazenadores de conteúdos e de dados, descobrindo novas formas de se apropriar da informação e produzir conhecimento.
No espaço de minha carreira, o mundo se travestiu e foi preciso entender e atuar de forma a não perder o que se tinha, mas ao mesmo tempo não vagar por um não lugar.

Minha proposição aqui é muito mais expor uma inquietação provocativa e lançar aos futuros historiadores e demais profissionais das áreas de Ciências Humanas e
Aplicadas que lidam com a informação, questões em relação ao seu trabalho de investigação e lida com as fontes produzidas na contemporaneidade de princípios do século XXI, suas opções e formas de atuação.

O caso do historiador é específico, lida com fontes: rastros, pistas, vestígios deixados, voluntária ou involuntariamente, que atravessam épocas, transpõem espaços, vencem intempéries, descasos, o tempo e as muitas formas de deterioração intrínseca e extrínseca de seus suportes. Tais fontes encontram por parte do ofício do historiador e demais cientistas sociais diferentes usos, e em vários casos funções e pertencimentos que são próprios do fazer-se “prova” ou “testemunho”. Compõem uma narrativa multifacetada de pessoas, lugares, culturas, sociedades.

Artífices que tecem intrincados caminhos deixados por fontes prováveis e improváveis, os historiadores, transformam-se em porta-vozes de um tempo, de uma trajetória feita por questões e investigações. Conexões são feitas e refeitas, caminhos investigativos desbravados a luz de diferentes métodos e matrizes teóricas. Em muitos casos, o caminho é árduo e construído a partir de hiatos, de não-ditos, de silêncios e omissões. Urde-se a construção de uma trama que circunda um objeto fazendo disso a História, nem certa nem errada, apenas por um ângulo ou prisma diverso. (REZENDE, 2014)

Diante de tal complexidade, laboriosa e detalhada, que cada fonte solicita e da quantidade de suportes e de registros de que dispomos, oferece-se ao olhar pesquisador ampla gama de produtos que servirão como fonte de pesquisa e matéria-prima para a História, e em muitos casos para a produção de Conhecimento. (REZENDE, 2014)

Por outro lado, vivemos num tempo coetâneo (DUQUE, 2011) em sua essência.
Nossa sociedade vive a construção de um novo paradigma sobre a forma como se produz e gere conteúdos e informação. E por isto, a atuação como arquivista surgiu para mim como uma demanda e uma ânsia de continuar a assegurar ao futuro matéria-prima de seu passado. Já que o arquivista trabalha no presente, zelando pelo passado para garantir que o futuro tenha uma Identidade a partir de sua herança pregressa.

O arquivo representa para o historiador a brecha mais desejável, a fotografia de um instante paralisado em palavras do dia a dia, do miúdo. Não nasce como na narrativa historiográfica ou literária a partir de uma intenção de escrita e discurso. Simplesmente acumula-se sucessivamente em pequenos trechos de longas histórias. O arquivo não nasce para entreter, instruir ou informar. É apenas um instrumento administrativo usado com fins de prova (nos casos de tributos, registros acadêmicos, registros médicos, etc.) e muitas vezes de punição (quando tomamos os casos de arquivos judiciários).

Ao leitor desavisado parecerá que o arquivo possui notas de verdade. Que de repente aqueles nomes, relatos, lugares e acontecimentos falam diretamente a si. Ganham vida numa dança que mistura fantasia e realidade, imaginação e inquietação investigativa. Dos arquivos emerge o vozerio do passado de forma ruidosa e barulhenta nos permitindo um enxergar retalhos de vidas e existências. Nem verdadeiras, nem falsas: apenas prismas.

Esta é magia dos arquivos: a possibilidade do mergulho num outro tempo por meio de registros da vida cotidiana, pequenos delitos, crimes ou desavenças de rua, discursos registrados em atas públicas, ou listas de nomes, impostos, terras. Uma gama sem fim de possibilidades, de personagens, de situações de vida urbana, social, cultural.

Os relatos chegam-nos fragmentados, às vezes mutilados. O trabalho minucioso de reunir, organizar e disponibilizar tais fragmentos é a responsabilidade maior do arquivista. Em suas mãos está a possibilidade de narrativas serem construídas, caminhos percorridos, trilhas visitadas. Reunião e organização existem para que a dispersão, fragmentação e novas construções se deem na poderosa urdidura de pesquisadores. Um caleidoscópio de narrativas propiciadas a historiadores e outros pesquisadores pelo trabalho meticuloso de arquivistas.

Os arquivos são, portanto, feito de excessos: de possibilidades, de falas, de narrativas, de suportes, de informações várias. É horizonte para o que pesquisa e para o que dele cuida. Por isso meu fascínio e dedicação em ajudá-los a prosseguir em sua missão de perpetuação: ora como historiadora, ora como arquivista. Diante disso, não é difícil perceber que as preocupações com acervos em diferentes instituições impõem reflexão e aplicação de metodologias e procedimentos que garantam o acesso à informação contida nestes documentos sob os mais variados suportes para as gerações futuras. Seria inadmissível que estes registros não vencessem o tempo e não alcançassem olhos, corações e mentes atentas para deles extrair um relato, um viés, uma interpretação.

Mas arquivos e documentos não se apresentam apenas em formatos analógicos. Foi-se o tempo. Apesar disso, ainda temos nos documentos analógicos a grande concentração de massa documental.

Deste universo de informação farta, mas com obsolescência galopante, atuo de forma a encontrar alternativas que conciliem passado, presente e futuro. Afinal, é preciso se colocar diante destes tempos de imediaticidade, produção em massa e, ao mesmo tempo, obsolescências e transitoriedade de suportes.

O COMPROMISSO PROFISSIONAL DOS PROFISSIONAIS DE INFORMAÇÃO
Gosto sempre de incentivar as pessoas interdisciplinarmente. Não creio num mundo compartimentado, creio num mundo que integre vários modos de pensar! É este novo mundo que se descortina para nós. Buscar conexões possíveis entre áreas e manter o espírito aberto para dialogar, e se surpreender,é o que nos deve manter ativos e atuantes.

Num mundo de tantos excessos, a importância maior não está em apenas produzir informações, mas essencialmente em distribuir criativamente o que se tem e manter uma inquietação necessária aos acréscimos. Para tanto, não creio em receitas prontas, e muito menos daquelas que seguem em listas com os 10 pontos, os 6 ou os 5 pontos. Isso não existe! Creio que o primeiro passo efetivo a ser dado é reconhecer que as receitas não servem às pessoas e suas atuações profissionais! São eficientes na culinária! E dependendo de quem as faz ainda pode dar errado, só com perdas de ingredientes.

De novo insisto que a questão da interdisciplinaridade me seduz e não consigo pensar em trabalho que não seja assim, em especial quando este se volta à economia social – locus essencial de minha atuação.

Gosto dos grupos e das possibilidades advindas por múltiplos olhares. Em minha experiência vejo a necessidade de muita flexibilidade. É um esforço pessoal, diário e constante, mas me sinto recompensada. Preciso lidar com pessoas de diferentes áreas e formações para que juntos possamos construir nas instituições normas, procedimentos e ações em torno da Gestão de Informação e seu uso para a produção de Conhecimento e Inovação.

No desempenho de atividade, noto que o grande hiato entre diferentes áreas é a segmentação e, destarte, a dificuldade de interlocução.
As pessoas costumam estar sempre muito voltadas para o seu ‘centro’ e desperdiçam oportunidades de ver o que está ao seu redor. A pretensa busca de especializações criou nichos segmentários e cada vez mais os profissionais sabem menos sobre o que lhe circunda, e onde estão inseridos.
Considero isto erro grave nas áreas ligadas às Ciências Humanas e Aplicadas.

Questiono muito sindicalizações e brigas mesquinhas e pequenas sobre quem deve ocupar este ou aquele espaço ou vaga. Fico perplexa em saber da existência de órgãos de controle para inspecionar e multar! A compartimentação acaba sendo responsável por vermos historiadores que não sabem sobre temporalidade documental e usos e aplicações que são da seara da Arquivística.

Arquivistas por sua vez cometem equívocos imensos ao tratar de aspectos relacionados à Memória e na compreensão de conjunturas sociais, culturais, históricas entre outros. Esquecem-se que documentos são produzidos em relações sociais.
Bibliotecários perdidos tentando tratar conjuntos documentais arquivísticos como coleções bibliográficas e com um gap imenso em relação a aspectos culturais, sociais e históricos na construção de acervos através do tempo. Sinto que aos historiadores falta uma carga preciosa e técnica de formação para lidar com fontes, documentos, informação. E aos arquivistas, bibliotecários uma formação técnica demais e que os faz ter perdas imensas de leitura e formação social/cultural. Não conseguem compreender relações e inter-relações que acontecem fora de normas e procedimentos técnicos. Falta-lhes em boa parte das vezes uma visão mais holística e integrada do campo social.

Creio que neste ponto sou muito mais adepta à metáfora do fazedor de pontes. Não deve haver muros nem divisões e acho salutar que as fronteiras sejam movediças e todos troquem suas fontes e aprendam com a flexibilidade. Essa é uma característica muito importante a ser desenvolvida por profissionais concatenados com os novos tempos.

Valorizo muito os que sejam capazes de saber liderar equipes trans e multidisciplinares. Os que conseguem ter sempre uma atitude de facilitador para que trocas e aprendizagens se façam. Para isso acredito muito naquele que tem uma atuação empática e de acesso ao outro: só assim o valor de subsidiar esclarecimento de dúvidas, estímulo à interação e o compartilhamento se efetivarão.

Os profissionais de Informação neste século XXI precisam ter características especificas.
Precisam ser alguém que não apenas conheça, mas que faça circular atributos da cultura social, institucional: valorizando-a e aprimorando-a tanto quanto possível a partir da experiência de todos. Precisam ter espírito curioso e interessado: ser humildes e reconhecer que aprendem sempre, e todos os dias. E mais do que isso: devem ser generosos em partilhar e distribuir o que sabem! Devem ter profundo interesse pelo aprimoramento e aprendizagem não apenas de si próprios, mas de todos os que lhes cercam coletando de cada oportunidade e pessoa o seu melhor.

De outro lado, noto que as pessoas ao se formarem esperam ter a contrapartida dos anos de estudo, dedicação e, muitas vezes, dinheiro investido, quer em mensalidades, quer em livros e cursos. A estabilidade acaba sendo um grande chamariz para que muitos busquem um concurso público e lá enterrem todos os dias de sua vida. Entretanto, muitos se esquecem de que é preciso ter um perfil para isso. Do contrário, a tão desejada segurança se transformará na mais absoluta prisão. Daquelas que temos as chaves e não conseguimos partir, como se arrastássemos correntes pesadas com bolas de ferro presas aos pés.

O fim disso todos sabem: resmungões convictos reclamam todo o tempo de rotinas e salários, como se alguém os tivesse obrigado a isso ou aquilo. Impacientam-se e decidem enclausurar-se diante de uma tela classificando e codificando, esquecendo-se que o fim último de tudo o que faz deveria ser a sociedade, o Humano em última instância.

De outro lado, outros tantos sonham com uma carreira Docente numa Universidade Federal ou Estadual. Nada de errado, mas “infelizmente” (coloco entre aspas porque considero correto) o recém Mestre ou Doutor está longe de estar em condições de assumir uma cadeira em qualquer boa Universidade. Precisará construir sua carreira. Muitos desses são o que chamo de “alunos profissionais”. São PhD em bolsas, seminários e artigos. Mas falta-lhes o essencial.
Só possuem diplomas!

Aqui enveredo para outra coisa importante: ter um diploma não dá uma carreira a ninguém! Mas há uma diferença grande entre profissão e carreira e essa precisa de tempo para se consolidar. Sou muito adepta de que mesmo docentes exerçam funções de consultoria ou afins, para que consigam enxergar as reais demandas de mercado (entendida como a sociedade do mundo real, e não a academia que em muitos casos representa uma bolha ideal). Vejo que, em muitos casos, falta uma perspectiva empreendedora de arriscar: aplicar toda a teoria e quilos de bibliografia para fazer a sociedade rodar.

Enfim, olhar a carreira como uma possibilidade de empreender e inovar em seu ramo de atividade.Ousar ter ousadia, experimentar! Não há espaço para tantos Mestres e Doutores.Terão que definitivamente encontrar formas criativas de se empoderar do seu diploma e conseguir construir uma carreira que faça sentido hoje e que entregue ao futuro uma herança. A sociedade de consumo se estende a tudo e não apenas a objetos materiais. E é em relação a tais temas que temos que pensar.

As dificuldades que encontramos com este novo momento de nossa história educacional coloca-nos o desafio de lidar com um novo conceito de atuação e relação a ser estabelecida entre discentes e docentes, a produção de conhecimento e sua aplicação profissional. A formação geral dos discentes revela que o território da aplicabilidade está sempre muito distante dos livros – pouco se escassamente lidos, diga-se de passagem. A mudança de nomes de disciplinas e conteúdos não é sinal de atualização.

Em verdade, há que se mudar paradigmas e modelos mentais! O que temos presenciado nas Universidades são novos rótulos para disciplinas, especializações e afins usadas com velhas formas de aplicação. Instigo a todos a pensar que a passividade ante ao dado é que deve ser combatida, e ser amplamente discutida para causar inquietação necessária, para produzir perguntas que mereçam boas construções de soluções para aplicação.
Nunca se deve achar que o diploma é o seu objetivo. Ele é apenas a primeira porta a se abrir.

Lembram-se do Filme Matrix?

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  • Artigo publicado originalmente com o título “Um Ensaio de Ego-História” na revista SUSTINERE – Revista de Saúde e Educação da UERJ, 2016

Referências:

  • BURKE, Peter. A escrita da história. São Paulo, Editora da UNESP, 1992.
  • CHARTIER, Roger. A ordem dos livros – leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. 2 ed. Brasília: Editora UNB, 1998.
  • CHARTIER. Robert (Org). Práticas de Leitura. São Paulo, Estação Liberdade, 1996.
  • CUNHA, Maria Teresa. Territórios abertos para a História. In: O historiador e suas fontes. São Paulo, Contexto, 2011.
  • DUQUE, Cláudio Gottschalg (Org.). Comunicação Científica Contemporânea e de Vanguarda. Ciência da Informação Estudos e Práticas. Brasília: Centro Editorial, 2011.
  • FARGE, Arlete. O Sabor do Arquivo. Tradução de Fátima Murad. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo (EDUSP), 2009.
  • FURET, François. A oficina da história. Lisboa, Gradiva, 1985.
  • HUNT, Lynn. A Nova História Cultural. São Paulo: Martins Fontes. 1992
  • LÉVY, Pierre. A Revolução contemporânea em matéria de comunicação. Revista FAMECOS, Porto Alegre, n. 9, dez. 1998.
  • LE GOFF, Jacques. Memória/História. Enciclopédia Einaudi, vol. 1, Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da Moeda.
  • LE GOFF, Jacques. CHARTIER, Roger; REVELL, Jacques. A Nova História. Coimbra, Almedina, 1990.
  • LE GOFF, Jacques; Nora, Pierre. Histórias: novos problemas, novas abordagens, novos objetos. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1976.
  • NORA, Pierre. Ensaios de ego história. Lisboa, Edições 70 Ltda., 1989.
  • PINSKY, Carla Bassanezi; LUCA, Tania Regina (Org.). Apresentação. O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2011.
  • REZENDE, Eliana A. de Souza. Em tempos de tintas digitais: escritos e leitores. In: Anais do II Seminário Internacional História do Tempo Presente, Programa de Pós-Graduação em História (PPGH), Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Florianópolis, 2014
  • REZENDE, Eliana A. de Souza. Desafios da contemporaneidade: as tecnologias como política de preservação de patrimônio cultural – documental. Disponível em . Acessado em 23/05/2016.
  • REZENDE, Eliana A. de Souza. Blog Pensados a Tinta. Disponível em . Acessado em 23/05/2016.

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Memórias Digitais em busca da Eternidade

Por: Eliana Rezende

De novo a questão das obsolescências e permanências.
A crescente demanda por informação e acesso tem imposto alguns limites e soluções precisam ser buscadas.
Como não perder tudo o que se produz? Como e onde armazenar? Para quê e para quem? Com quais finalidades? E com quais custos?
São muitas as perguntas!

Creio que a partir do momento que tais tais questões e reivindicações surgem é de fato um progresso interessante.
Além disso, destaco mais dois outros pontos importantes: a busca por um direito de acesso à informação e de outro o exercício de transparência e cidadania em suas múltiplas esferas.

Diriam alguns que Tecnologia da Informação é um eterno reinventar, por que existe a barreira das leis da física. Noves fora isso, o restante é com o departamento de marketing.
Mas será?
Poria outros dois mais: o financeiro que destina recursos, e porque não a preservação de documentos para o futuro?

Como historiadora, um dos principais obstáculos que temos é a garantia de acesso a documentos através do tempo. A longa duração para historia pode significar a eternidade, já para a tecnologia ela representa tão somente casas que vão abaixo dos dois dígitos e que ficam em torno de 3 ou 5 anos. A conta não fecha!
Haja visto a quantidade, por exemplo, de links e arquivos digitais que se perdem todos os dias. Somos a geração que mais produz informações em toda a história da humanidade, mas também a que mais perde.

Já convivo nos dias atuais com perdas irreversíveis e isso vale tanto para suportes físicos quanto digitais. Por isso, a minha preocupação sempre presente com a preservação documental sob vários aspectos: sem ela teremos vácuos impossíveis de serem recuperados pelas sociedades futuras.

Um exemplo interessante é o caso do Livro do Apocalipse, de William o Conquistador, escrito em couro no ano de 1086. Sobreviveu por 900 anos, chegando até nós. Mas uma versão digitalizada da obra, gravada em 1986, não pode mais ser lida em 2006, apenas 20 anos depois.
Seria cômico, se não fosse trágico!

E os problemas se multiplicam quando pensamos na quantidade imensa de Bibliotecas Digitais que são formadas e que poderão facilmente estar perdidas para sempre.

E em relação a Portais institucionais, sites e blogs temos sérios problemas.
Uma massa imensa do que produzimos nasce, vive e se desenvolve em meios digitais. É editado, alterado e recortado nestes meios e posso assegurar que ninguém se preocupa com suas versões anteriores.
Mas onde estão mesmo estas versões?
Quem era esta instituição em sua primeira versão de Portal ou Site?

Ninguém sabe ou saberá…

Não consigo compreender como ninguém possa estar preocupado com as inúmeras páginas de conteúdo que desaparecem quase que na mesma velocidade em que são produzidas. Até 2020, segundo expectativas, teremos produzidos 44 zetabytes de informações.
Para se ter uma ideia, 1 zetabyte equivale a 2.000.000  de anos de música!

A despreocupação vale para conversas em redes e imagens… muitas imagens.
Ninguém registra estas correspondências ordinárias e nem seu movimentado alfabeto de construção. Séculos adiante não teremos como saber as formas de registros coloquiais que nossa geração produziu. Léxicos e formas de expressão estarão para sempre perdidos. Provavelmente ainda teremos hieróglifos egípcios e as tábuas de argila mesopotâmicas e nada sobre nossas comunicação rápida digital.

Inventamos a internet para ser apagados por ela! Não deixaremos sequer rastros.
O descarte imediato de tudo leva-nos para um não lugar. Um espaço virtual, sem forma e vazio.
Não daremos aos nossos descendentes a possibilidade de conhecer nossos pensamentos por registros cotidianos, que antes eram tão bem feitos por diários, cartas e outros tipos de registros.

Há ainda os textos e hipertextos, numa leitura que há muito deixou de ser linear. Perderemos conteúdos e as leituras hiperlinkadas que cada texto produziu.

Enfim, nosso presente é editado e recortado com desprezo incondicional por sua gênese.

O mesmo ocorre com muitos manuscritos ficcionais e obras literárias várias.
O tempo dos manuscritos editados à mão pelo artista não existem mais e assim, muito de seu processo criativo se perde. As versões editadas e limpas chegam sempre às editoras sem o rastro dos caminhos de uma escrita.
Esta ausência inviabilizaria uma publicação como a que ocorreu com Mário de Andrade, que recentemente teve uma edição da obra e seus manuscritos. Uma riqueza documental propiciada por originais, cartas, rascunhos e tão belamente trabalhados no IEB/USP.

A situação é tão inquietante que no Reino Unido estão fazendo a solicitação para que escritores entreguem seus computadores antigos ao invés de os jogarem fora para a British Library e, utilizando-se de programas de investigação forense e perícia reconstituem por metadados tais caminhos criativos de grandes autores.
Uma tarefa que aos poucos também me parece inviável, já que seria um forma de arqueologia digital (manter computador, software e hardware), e fazer a manutenção disso no tempo, também não me parece razoável e nem possível.

O mesmo vale para importantes pesquisas científicas  publicadas. Temos sempre um artigo limpo e editado e nunca os caminhos rascunhados, desenhados, arquitetados e editados, percorridos.

Sorte teremos se daqui a 100 anos o artigo final esteja preservado!

O valor destes manuscritos são fáceis de ser mensurados quando pensamos em Isaac Newton, Albert Einstein, Leonardo Da Vinci. Que seria de nós se apenas tivéssemos sua última versão?
Sem sabermos suas indecisões e por onde andaram seus pensamentos e invenções? É deste trajeto que me refiro quando falo em processo criativo deletado dia a dia.

Um exemplo bem acabado do que cito foi que cinco séculos após a morte de Leonardo Da Vinci cientistas italianos conseguiram interpretar seu projeto para um carro, e recriá-lo a partir de suas anotações. A invenção é considerada um precursor do automóvel moderno. Conheça-o clicando na imagem:


Óbvio está que não poderemos, a bem da sanidade, preservar “tudo” o que se produz. Mas há que haver políticas que visem a preservação digital de nossa produção social, cultural, intelectual e científica. Não se pode tolerar a ideia de que séculos adiante, igual aos Maias, seremos reconhecidos como aqueles que não deixaram herança aos seus descendentes.

É aqui que entra uma das minhas maiores motivações profissionais: ajudar a salvar do esquecimento e da obsolescência, os vestígios de nossa civilização.  As instituições precisam se dar conta que NECESSITAM de uma política de preservação digital, tanto quanto de ferramentas para produção e uso de informação no agora. Não terá valido de nada tudo o que uma organização, pessoa, instituição ou sociedade criou se não for capaz de preservar isso para o futuro.

Imagino que duas coisas são fundamentais: uma reconhecer que temos tantos problemas quanto produção massiva de informação. Outra, que apesar de tudo não precisamos abrir mão de tudo e entrar num desânimo pessimista.

Políticas sérias de preservação digital, com um olhar que vá bem além do horizonte imediato, podem minimizar problemas. É um caminho que requer planejamento e investimento em recursos (tempo, dinheiro e pessoal).
Possível e viável, desde que planejado e desejado.

Se você se encontra neste difícil entroncamento, consulte-nos. Auxiliaremos a encontrar uma Solução que lhe dê acesso à informação, mas ao mesmo tempo tome em conta políticas de preservação digital e da informação contida em diferentes documentos e suportes.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer.

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* Versão atualizada e revisada de post publicado originalmente no meu  Blog Pensados a Tinta

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O desafio das Soluções na Era da Informação

Por: Eliana Rezende

É usual abrirmos sites e portais e vermos que as ofertas mais comuns são de soluções. Palavra que de tão utilizada parece esvaziar-se de seu sentido real.
A primeira pergunta que nos deve ocorrer é: mas afinal, o que significa oferecer uma Solução? No que ela se diferencia de uma Ferramenta? E como elas se relacionam com Tecnologia e Gestão de Informação?

A grande questão em geral, quer para clientes e muitas vezes para vários profissionais, é não saber ou perceber o que diferencia Solução de Ferramenta. Fala-se de ambas como se fossem sinônimas ou equivalentes uma da outra. Por isso, creio que o melhor a fazer é esclarecer cada uma delas e de que forma elas aparecem no contexto do trabalho que desenvolvo na área de Gestão da Informação.

Se nos reportarmos ao dicionário Ferramenta significa:

“(…) Qualquer instrumento que se use para a realização de um trabalho (…)”

Ao mesmo tempo, Solução é definida como:

“(…) Do latim solutĭo, tem duas grandes acepções. Por um lado, trata-se da ação e do efeito de resolver uma dificuldade ou uma dúvida. Por outro, a ação e o efeito de dissolver.
No primeiro caso, a solução supõe a satisfação de uma preocupação ou a razão com que se desbloqueia um problema.
Solucionar algo consiste, portanto, em resolver o mesmo ou dá-lo por concluído.
A Solução seria então, aquilo que termina ou encerra um assunto ou uma situação = conclusão, desfecho, desenlace, termo (…)”

Se no dicionário encontramos esta diferença tão bem marcada, como ela fica quando tais Soluções são pensadas por profissionais da Informação?

Sumariamente, diria que a Ferramenta é sempre pensada para ser simples, barata e de aplicação pontual e restrita. Depende só de você fazê-la funcionar.
Serve a uma determinada função e praticamente se encerra em si mesma. Por sua simplicidade e facilidade de aplicação tende a ser barata e tem resultados rápidos e bem mais limitados. Não adianta dourar a pílula: ferramenta tem valor restrito exatamente por possuir alcance igualmente restrito.
Isso em si não é um defeito, ou problema.
A ferramenta nasce da demanda pontual e busca atender esta, no menor tempo possível e com os melhores resultados possíveis, dentro deste universo.

A Solução por sua vez, possui um alcance muito maior, e tem como principal característica trazer uma nova concepção ou forma de realizar um trabalho ou processo. Sua complexidade está em ter que ser muito mais inter e transdisciplinar, movimentando áreas diversas. As Soluções acontecem no tempo e a partir de muito estudo, análise e customização entre demandas, necessidades e possibilidades. É enfim, uma nova maneira de fazer ou gerenciar fluxos de trabalho.
Em geral, a Solução depende de muitos e em alguns casos, como nos trabalhos que desenvolvo, requerem uma mudança de cultura organizacional.

Nos dois casos, tanto para Ferramentas como para Soluções, a Tecnologia poderá estar presente. Mas ela não será determinante ou exclusiva num ou noutro caso.

Um exemplo que gosto de citar é um dos resultados do trabalho que desenvolvi de implantação de Gestão Documental junto ao Município de Curitiba em 32 Secretarias de Governo. Se acompanhar no gráfico abaixo verá que o atendimento ao usuário que levava inicialmente 40 dias para ser feito, ao final de apenas dois anos de trabalho passou a ser desenvolvido em apenas 3 minutos a partir da demanda inicial. O que significa dizer que no mesmo período de tempo inicial (40 dias), poderiam ser atendidos 19.200 cidadãos (a 3 minutos cada).

Houve o desenvolvimento de uma ferramenta tecnológica que auxiliasse isso, mas por si só ela não traria todos os benefícios de redução de prazos e localização dos documentos. Foi necessário todo um novo conjunto de práticas e ações que foram incorporadas às rotinas dos servidores para que este resultado pudesse ser obtido em tempo tão curto. Um Buy-in e Empoderamento dos colaboradores do novo processo. A soma de todas estas variáveis constituiu a SOLUÇÃO para este caso específico.

Daí a minha afirmação de que Ferramentas e Tecnologias sozinhas nada fazem se não houver por trás um trabalho de elaboração de uma Solução! E mais: não há Soluções que sejam únicas ou definitivas! Cada cliente, e cada demanda, necessitará de estudo e soluções diversas. Portanto, deduz-se que não existem receitas prontas!
Cada caso é um caso.

Por isso, que em muitos casos Ferramentas transformam-se, paradoxalmente em fonte de problemas e dificuldades de várias ordens. Isso porque são pensadas em atacado. Como se todos os clientes tivessem o mesmo problema e portanto, a ferramenta serviria a todos.

Diante de todo o exposto, cada vez mais foi ficando claro para mim que a ER Consultoria trabalharia para oferecer Soluções aos clientes, mas não aquelas vendidas e consumidas como mágica. Seriam Soluções que, de fato, pudessem fazer com que os clientes tivessem atendidas suas demandas em relação ao trato da informação e todas suas conexões possíveis, de acordo com uma metodologia que desenvolvi.

Tal metodologia própria de trabalho procura integrar Gestão de Informação e Memória Institucional com vistas à produção de Conhecimento e Inovação.
Uma perspectiva multidisciplinar e holística, que prima pelo trato da informação em todas as suas dimensões: produção, armazenamento, circulação, disponibilização e preservação, com vistas ao fortalecimento da Identidade Institucional.
O fim último de todo o trabalho interdisciplinar é a produção de Conhecimento e Inovação para as organizações.

Assim, tais Soluções estariam assentadas em um tripé fundamental: Consultoria, Assessoria Técnica e Capacitação com vistas à produção de Conhecimento e Inovação.

De que forma isso se daria?

Sinteticamente diria que este tripé é composto por Consultoria, que analisa e https://www.eliana-rezende.com.br/consultoria/propõe soluções, Assessoria Técnica que além de analisar, acompanha a implementação das soluções propostas, e a Capacitação que cria condições para governança e replicação de conhecimentos internos, pós assessorias.

Cada Solução é sempre desafiadora, pois é única e precisa ser pensada em um universo multidisciplinar segundo o perfil de cada cliente e suas demandas. Necessariamente precisa ser assim, já que a Informação é o recurso mais abundante e caro em todas as instituições, pois sem utilização adequada perde-se como um excedente. Estranhamente é a chamada ‘Era da Informação’ que mais tem produzido e perdido seus recursos com espetacular velocidade.
Uma sangria que as organizações simplesmente não podem dar-se ao luxo de possuir.

A área de concentração da ER Consultoria que é a Gestão de Informação e Memória Institucional é técnica e bastante especializada, muitas vezes desconhecida pelos próprios clientes que detêm acervos e necessidades. Em muitos casos, nos chegam sem ter claro o que de fato necessitam. Na maior parte das vezes buscam alternativas para apenas um problema específico final e não enxergam a complexidade por trás de sua solicitação, ou mesmo as possibilidades e potencialidades que seu projeto tem.

Casos podem ser citados a partir de meu portfólio de trabalho, que os convido a conhecer, clicando na figura abaixo:

Observe que as modalidades de Projetos desenvolvidos foram assentados exatamente no tripé Assessoria Técnica, Consultoria e Capacitações. E mais: a maior concentração nestes cases está justamente na Assessoria Técnica – com uma forte atuação da ER Consultoria em todos os processos.

O que é certo e objetivo último de todo este trabalho é garantir que as Soluções da ER Consultoria possam capacitar/emancipar funcionários e empresas a seguir aplicando todo o conjunto de praticas e técnicas adquiridos no decurso de execução de seus projetos por meio do tripé acima descrito.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer.

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Por que Ferramentas de GED não são Gestão Documental?

Por: Eliana Rezende*

Não é de hoje que uma pergunta nos meios institucionais se coloca.
Afinal, podem os softwares de GED/ECM e um profissional de tecnologia substituir a figura de um profissional que realize a Gestão Documental?

Ou: pode uma ferramenta de GED ser responsável por todas as ações que envolvem Gestão Documental?
E muito recentemente: como uma IES pode cumprir a determinação do MEC de em até 24 meses se adequar à Portaria nº 22 de 21 de Dezembro de 2017 sobre Acervos Acadêmicos?

Tal preocupação não apenas se justifica como também encontra sólidos motivos: no mercado proliferam diferentes tecnologias que são oferecidas como vantagem competitiva no que diz respeito ao tratamento de documentação. Em muitos casos, são oferecidos como a Caixa de Pandora, onde todos os problemas em relação à produção e gestão de documentos estaria solucionada. Mas como muitos já aprenderam, e à duras penas, isso nem sempre acontece. É comum encontrarmos o argumento que com ferramentas de GED os problemas com papel acabam e tudo se transformará magicamente……Gastos se extinguirão e o papel desaparecerá….

Mas, em verdade as coisas não são tão simples ou lineares quanto isso. Muito mais está  envolvido, como por exemplo aspectos relacionados à obsolêscencia digital, preservação digital consequente desta obsolência, segurança, autenticidade e temporalidade documental, para citar apenas alguns.

Mas, que fatores devem ser tomados em conta no momento em que se decide por essa ou aquela estratégia?
Sugiro que, para abordarmos tal tema comecemos por estabelecer definições para cada um dos termos que envolvem esta questão, e qual a sua abrangência ou a que tipo de instituição e objetivos, eles se aplicam.

Em primeiro lugar é preciso definirmos o que vem a ser Gestão Documental e de que forma esta se diferencia de um GED/ECM. Para isso sugiro a leitura de outro post; Gestão Documental para Racionalidade e Transparência Administrativa, que fiz e onde procurei estabelecer essa diferença.
Esclarecidos ambos, agora é o momento de definirmos o que vem a ser a digitalização. Para o Conarq (CONSELHO NACIONAL DE ARQUIVOS), digitalização pode ser definida como:

“Um processo de conversão dos documentos arquivísticos em formato digital, que consiste em unidades de dados binários, denominadas de bits – que são 0 (zero) e 1 (um), agrupadas em conjuntos de 8 bits (binary digit) formando um byte, e com os quais os computadores criam, recebem, processam, transmitem e armazenam dados.
De acordo com a natureza do documento arquivístico original, diversos dispositivos tecnológicos (hardware) e programas de computadores (software) serão utilizados para converter em dados binários o documento original para diferentes formatos digitais. No entanto, o produto dessa conversão não será igual ao original e não substitui o original que deve ser preservado.
A digitalização, portanto é dirigida ao acesso, difusão e preservação do acervo documental”.

Outra confusão usual é confundir documento digitalizado com documento digital.
De novo, nova definição se faz necessária. Vamos a elas:

Digitalização – Processo de conversão de documento para o formato digital por meio de dispositivo apropriado, como um escâner.

Documento digital – Documento codificado em dígitos binários, acessível por meio de sistema computacional.

Documento eletrônico – Gênero documental integrado por documentos em meio eletrônico ou somente acessíveis por equipamentos eletrônicos, como cartões perfurados, disquetes e documentos digitais. Em verdade, poderíamos dizer que ele é um precursor do documento digital.

Como se nota, cada um dos termos possui horizontes diversos. E que, como tais, possuem aspectos positivos e negativos, vantagens e desvantagens. Para os objetivos deste post, concentrar-me-ei apenas na questão Gestão Documental vs Digitalização. Em outras oportunidades abordarei suas relações com documentos digitais, microfilmagem, processos híbridos e implantação e implementação de Projetos de Preservação e Conservação Documental.

Os usos e aplicações de sistemas eletrônicos/digitais nos meios institucionais, no entanto, são uma realidade concreta com a qual lidamos dia a dia. Agiliza o acesso à informação, ao mesmo tempo que favorece seus tramites. Isso é fato. É  preciso apenas darmos à estes seus devidos lugares e aplicações. Nem supervalorizando nem os desvalorizando.

Em geral, a digitalização pode ocorrer em diferentes etapas da Gestão Documental, muito mais como uma forma de favorecer o acesso aos documentos, ou mesmo como uma política de preservação de originais, em especial quando estes possuem valor histórico e precisam ser protegidos de fragilidades geradas por uso excessivo ou inadequado.

Sobre isso, veja meu post sobre o “Uso de tecnologias como política de preservação de patrimônio cultural – documental“. Ali apresento algumas considerações fundamentais ao se tomar em conta quando esta for a situação.

Em todos os casos, e do ponto de vista legal, a digitalização representa apenas e tão somente uma cópia, como ocorria anteriormente com fotocópias reprográficas. Sua maior e principal vantagem é ser um meio eficaz para tramitar informações por meios eletrônicos, como é o caso do e-mail. Ela não possui valor legal, e muito menos substitui seu original.

No entanto, temos outro universo de produção documental que requer muito mais atenção ao se analisar políticas de digitalização para os casos de documentos com guardas permanentes e de valor histórico. Neste ponto a discussão precisa, e deve, ganhar outro contorno. Diferentes variáveis precisam ser tomadas em conta.  O acesso dos mesmos não deverá ser pensado de forma imediata apenas. O tempo precisará ser considerado e a obsolescência mora neste caminho.

O que ocorre em geral, quer por desconhecimento ou por boa fé, é que muitas empresas contratantes destes serviços esperarem que a solução tecnológica resolva seus problemas de organização documental. No entanto, é importante que se ressalte, que tais soluções tecnológicas não representam o trabalho de Gestão Documental, que necessita de maior cabedal, elaboração de normas e procedimentos muito mais amplos. Tal como o nome indica tais soluções são apenas uma ferramenta dentro de um universo muito mais amplo que é a Gestão Documental.

Como forma de explicitar isto, preparei a apresentação a seguir onde procuro mostrar qual o universo e abrangência da Gestão Documental num universo institucional privado e em setores públicos, onde a responsabilidade é ainda mais pesada.

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É  sempre bom ressaltar que a digitalização necessita de um trabalho de organização, pois, se houver um caos no meio físico apenas estaremos trocando o suporte: de físico para digital.

Digitalização e ferramentas de GED não resolvem problemas nem de organização e nem de busca, se os envolvidos não souberem o quê e como buscam. Ferramentas não sabem além daquilo que nós as informamos. Todo o trabalho para a recuperação de informação é esforço intelectual de profissionais. Neste contexto, repito o que sempre digo: “informação boa é a que encontramos”. Delegar a tais ferramentas esta tarefa é gerar nada além do que lixo digital, sem valor algum.

Além disso, a digitalização e ferramentas de GED por si só não resolvem uma gama imensa de ações e que estão diretamente ligadas à Gestão Documental, como: elaboração e aplicação de tabelas de temporalidade, cumprimento de prazos prescricionais estabelecidos em legislação para diferentes documentos, políticas de preservação, sigilo e acesso a documentos.

Outro grande equívoco é acreditar que a digitalização oferecerá a panaceia de resolver um dos maiores problemas dos Arquivos, que é sua falta de espaço, por meio da eliminação de documentos físicos. O que juridicamente torna-se inviável devido a uma ausência de legislação que autorize uma situação como esta.

Por questões de ampla obsolescência, a simples substituição de documentos físicos por digitalizados ou mesmo digitais não significaria economia de custos. Ela obriga a ações de preservação que representam custos elevados para manutenção das mídias para garantir o acesso aos mesmos. Investimentos em tecnologia que envolvam políticas de preservação digital custam recursos financeiros, humanos e tecnológicos pelo tempo, e em geral as pessoas se esquecem disto. Simplesmente consideram os custos iniciais e deixam de olhar pela perspectiva do tempo.
Falta sob esta ótica um olhar gestor.

Projetos de digitalização e mesmo de aplicação de ferramentas de GED precisam de recursos financeiros que garantam a aquisição, atualização e manutenção de versões de software e hardware, como forma de cumprir requisitos funcionais estabelecidos pelo CONARQ, que garantam a preservação e o acesso a tais documentos, a médio e longo prazo, sem prejuízo de qualquer ordem.

Uma outra variável a ser considerada é a de que o grande problema na recuperação de informação não está nos sistemas automatizados e sim na etapa anterior, ou seja, na organização. Analogia que pode ser aplicada aos Arquivos. Sem organização e uma mudança de cultura organizacional que contemple a co-responsabilidade de todos na produção e gestão desses documentos, de nada adiantará adotar o melhor aparato tecnológico. Se o caos físico existir ele apenas estará sendo transferido de suporte: sairá do analógico e poderá ser encontrado em abundância no digital. O inverso acaba sendo verdadeiro: uma boa estrutura de organização e co-responsabilidade que zele por princípios da Gestão Documental encontrará lugar em qualquer tecnologia.

Mesmo nos casos de digitalização para simples tramitação precisa-se estabelecer critérios e hierarquização. Digitalizar indiscriminadamente tudo pode ser um tiro no próprio pé. Gerará um aumento indiscriminado do que simplesmente não interessa e que do ponto de vista de consulta não se justificará.

Diante de tudo o que foi considerado até agora, nem de longe esta ampla oferta de soluções tecnológicas colocam em risco a atuação de profissionais sérios e comprometidos. Mais cedo ou mais tarde necessitarão da atuação do profissional em Gestão Documental para solucionar e rever os gargalos surgidos e para estabelecer procedimentos em relação ao futuro dos documentos já criados e dos que estarão por vir.

Vejo em todo este processo, de discussão e elaboração de estratégias, uma excelente oportunidade de mostrar o quanto é importante um trabalho multidisciplinar não apenas para solucionar problemas presentes, mas como também para prevenir problemas no futuro.

Não creio em compartimentação. Creio em trabalhos de equipe com a orientação de profissionais de diferentes áreas que tem na Informação sua principal matéria prima. Colaboram sempre nesse sentido arquivistas, historiadores, especialistas em tecnologia, profissionais do direito (dado que muitos documentos possuem prazos estabelecidos em legislação devida), bibliotecários e administradores para ficar com o mínimo de profissionais.

Creio que o grande desafio é colocar todos em volta dessa grande roda que gira e que como sempre digo: deve funcionar como um imenso sistema solar (lembre-se das figuras na apresentação que mostram a Gestão Documental de forma sistêmica). Cada um com sua função e olhar, mas todos em torno da Gestão Documental.

Gosto da metáfora até porque é a forma que trabalho e de onde vejo os resultados surgirem!

Se você ou sua instituição se defrontam com tais questões e buscam a forma mais adequada para implantar ou implementar uma política de Gestão Documental, entre em contato pela nossa página, pelo e-mail ou pelo telefone (55.11) 4215-1924 para elaborarmos um Projeto totalmente customizado de acordo com as demandas de sua instituição.

Consulte nosso portfólio e clientes e observe a nossa atuação em cada uma das instituições públicas e privadas e a forma como foram propostas soluções compatíveis à cada necessidade. O mesmo podendo ser feito no caso de você ou sua instituição. Além disso, podemos orientar e capacitar colaboradores, in company e on line.


* Texto atualizado e modificado a partir de post original publicado no Blog Pensados a Tinta

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