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Planejamento Estratégico e Responsabilidade Histórica

Por: Eliana Rezende

Existem muitas definições para o quê seja Planejamento Estratégico. Estas variam de acordo com: a área de aplicação, o seu formulador e os objetivos para os quais será criado.
Escolho como definição de trabalho a que diz:

“(…) Planejamento estratégico para nossas necessidades, é um sistema de escolhas sucessivas e hierarquizadas entre alternativas que se prefiguram dentro de um universo de conhecimentos em expansão dirigida, com o propósito de racionalizar e orientar a ação com vistas à consecução de determinados fins – dadas, de um lado, certa disponibilidade estimada de recursos e, de outro, uma série, também estimada, de obstáculos” (Couto e Silva).

Em outras palavras, o Planejamento Estratégico é utilizado como ferramenta onde se pode antecipar tendências, problemas, oportunidades, diagnósticos com o objetivo de encontrar maiores e melhores soluções.
É, entre muitas ferramentas, o meio que os gestores encontram para atingir seus objetivos de forma adequada e satisfatória de acordo com um plano previamente traçado.

No âmbito de atuação no qual a ER Consultoria atua, toda instituição é vista como sendo possuidora de um ciclo de vida próprio, e que com ele há o surgimento de necessidades específicas, que variam de uma organização jovem, para uma organização madura ou para uma secular.
Há que se tentar entender como esta organização se coloca e como impacta e é impactada pelos ecossistemas (tanto contextos internos quanto externos) à sua volta.
Em comum, todas tem que zelar pela qualidade das informações produzidas e as formas como são armazenadas.

Podemos afirmar que as organizações podem ser divididas em pelo menos três ciclos de existência:

  1. Jovem: que coincide com seu momento de surgimento. Definições estratégicas sobre o que é, a quem serve, alcance, âmbito de atuação, e concorrência são fundamentais para dar-lhe um perfil. É neste momento, e sob a ótica da Informação, que a organização necessita estabelecer critérios sobre o quê preservar, para quê e com quê finalidade e que faz parte da principal definição do que seja Gestão Documental nas organizações.
    É neste momento que se precisa determinar tipos de documentos produzidos e armazenados, ambientes físicos ou digitais (onde serão criados, tramitados e armazenados), normas e procedimentos para criação, segurança, sigilo e acesso, bem como determinação de prazos de guarda ou eliminação visando o cumprimento de legislação vigente.
  2. Madura: Uma empresa madura continuará a aplicar as determinações acima descritas, mas deverá se preocupar também com sua imagem institucional e a forma como sua produção documental é armazenada, divulgada e preservada para as gerações futuras. É onde a prática da Responsabilidade Histórica começa a ser uma demanda tão séria como vem sendo hoje em dia a Responsabilidade Social, nas Organizações.
  3. Secular: Para as empresas seculares, o fortalecimento de sua Identidade e Cultura Organizacional se colocam como prioritárias. Além, é claro, do cuidado com seu Patrimônio Cultural/Documental, matéria-prima para continuidade de Produção de Conhecimento e Inovação. Ao mesmo tempo, a Responsabilidade Histórica se consolida como prática e garantia de solidificação de uma imagem junto a `toda uma comunidade’. Essa inter-relação entre Organização e Sociedade se consagra como a forma que a Responsabilidade Histórica se coloca.

Mas afinal, o que é Responsabilidade Histórica nas organizações?
A construção do termo Responsabilidade Histórica nas organizações chega a ser recente e ainda possui um debate, tanto conceitual quanto historiográfico, restrito. Poucos profissionais a abordam. Paulo Nassar, em sua tese de doutorado, em 2006 a menciona,  mas não chegou a se aprofundar conceitualmente para a construção do termo. Na tese o termo surge como título de um tema e se encerra aí.

De forma sintética, e a partir da forma como tomo o termo para os objetivos deste artigo e no âmbito de minha atuação profissional, considero que a Responsabilidade Histórica ocorre quando a organização compreende seu papel histórico para com a sociedade que a cerca e para com as futuras gerações.
Tal comprometimento com o futuro das gerações se refletirá em ações de preservação e conservação de seus patrimônios culturais/documentais, técnicos e de capital intelectual.
Sob a perspectiva de minha atuação esta conscientização se dá quando a organização decide tratar a forma como suas informações são produzidas, tramitadas e armazenadas através de políticas consistentes de Gestão Documental e Memória Institucional, visando o fortalecimento de sua Cultura e Identidade Organizacional através do tempo. Passam neste sentido, longe de ações às quais denomino de “perfumarias” que servem muito mais como ações de marketing e subprodutos como exposições, artigos ou mesmo livros comemorativos. Tais ações NÃO SÃO a Responsabilidade Histórica em si, representam apenas produtos de marketing. Responsabilidade Histórica PRECISA ir além e de forma muito mais consistente e que estar amparadas metodologicamente e estruturalmente em ações inter e trasndisciplinares como citamos acima.

A Responsabilidade Histórica, quando bem compreendida por uma organização, acionará todo um conjunto de boas práticas que reforçarão a Identidade e a Cultura Organizacional e terá amplos reflexos sobre a sociedade à sua volta. Cria-se com isso um ciclo virtuoso onde quanto mais forte as raízes históricas de uma organização, maiores serão suas chances de perpetuar-se no tempo e no espaço.

Independente de sua fase institucional, as empresas demandam por parte de seus gestores uma comunicação estratégica que permita que seus valores sejam facilmente compreendidos pelo público externo (desde clientes até concorrentes) e por seu público interno (funcionários, gestores e fundadores).
Compreender que a organização possui um papel que é social e também histórico, dentro da sociedade, é praticar a Responsabilidade Histórica. O que significa dizer: cuidar, preservar e disponibilizar seu Patrimônio Cultural e Documental, para as futuras gerações.
Ter, esta preocupação garantirá a contínua produção de conhecimento e inovação. Ao mesmo tempo que a História Institucional se fortalece.

Portanto, sob a ótica tomada para este artigo, a Responsabilidade Histórica é um conceito abrangente que comporta todas as demais formas de responsabilidade hoje presentes dentro das organizações, tais como: a social, cultural, jurídica, civil, ética, ambiental, de preservação e retenção do capital intelectual nas organizações, entre outras. Daí a necessidade de integrar-se como uma política (no sentido de continuidade) dentro da organização e ser planejada estrategicamente para atingir seus fins.

Se a organização de fato se preocupar com sua permanência no tempo e a forma como responderá as demandas da sociedade à sua volta, será imprescindível um planejamento estratégico que tome em conta seu papel histórico e a imagem que procurou vincar no Tempo.

É bom que se faça a distinção entre Imagem e Identidade organizacional.
A Imagem é  como as pessoas vêem e/ou percebem a organização e tem como característica principal ser intangível. A Imagem é, portanto, subjetiva, exterior à organização.
A Identidade por outro lado, é o que de fato a organização é e faz, é tangível. Podemos afirmar que sua existência se dá pelo tripé: o que diz, o que faz e o que dizem e acham dela.

Ações de Planejamento Estratégico com uma visão de Responsabilidade Histórica será sempre um trabalho interdisciplinar e deverá ser pensado como Comunicação Organizacional, já que produtos e subprodutos servirão às áreas de Publicidade, Marketing, Relações Institucionais, Recursos Humanos, entre outros.

Cabe ressaltar que toda a produção envolvendo ações de Responsabilidade Histórica, como: exposições itinerantes e/ou permanentes, tanto de imagens quanto de objetos museológicos, produção de vídeos, coletas de depoimentos, storytelling ou mesmo a formação de Centros de Documentação e Memória, terão papel fundamental como espaço de produção, manutenção e preservação daquilo que é  Patrimônio Cultural da organização, e também espaço para valorização do Capital Intelectual.

É neste universo que a Memória Institucional se coloca como um elemento fundamental, tanto do Planejamento Estratégico, como na Responsabilidade Histórica das organizações. Somente as empresas que entendam este seu papel, tanto técnico quanto social, cultural e histórico, podem se orgulhar de levar a sério sua Identidade e Cultura Organizacional.
Sem Responsabilidade Histórica, a Cultura e Identidade Organizacional, serão apenas termos esvaziados de sentido.

*  Se sua organização pensa e aceita o compromisso de ter Responsabilidade Histórica, e pensa em elaborar uma ação de Planejamento Estratégico para ter uma boa reputação no futuro, com o fortalecimento de sua Cultura e Identidade, nos contate. Teremos imenso prazer em pensar como realizar um trabalho de Memória Institucional com Responsabilidade Histórica. Ao mesmo tempo, poderemos pensar em formas de zelar por seu Patrimônio Patrimônio Cultural/Documental.
Teremos enorme prazer em pensar numa Solução customizada para as suas demandas, ou para o tratamento técnico documental de acervos documentais e fotográficos e sua preservação e conservação.

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Referências:
BOSI, Ecléa. Lembrança de velhos: memória e sociedade. São Paulo: T. A. Queiroz, 1979.
KUNSCH, Margarida M. Krohling. Planejamento estratégico para a excelência da comunicação. In: KUNSCH, Margarida M. Krohling. Obtendo resultados com relações públicas. 2a. ed. rev. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2006. p. 33-52.
LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Unicamp, 2003.
NASSAR, Paulo. Relações Públicas na construção da responsabilidade histórica e no resgate da memória institucional das organizações. São Paulo: Difusão, 2007.
______. Comunicação organizacional e as novas relações públicas. In: DINES, Alberto, NASSAR, Paulo e KUNSCH, Waldemar Luiz (orgs.). Estado, mercado e interesse público: a comunicação e os discursos organizacionais. Brasília: Banco do Brasil, 1999.
REZENDE, Eliana Almeida de Souza.“Um Ensaio de Ego-História” na revista SUSTINERE – Revista de Saúde e Educação da UERJ, 2016.

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Patrimônio Cultural e Responsabilidade Histórica: uma questão de cidadania

Por: Eliana Rezende Bethancourt

Ainda vivemos o rescaldo de uma das maiores tragédias culturais que nosso país assistiu bestializado: 200 anos de pesquisa e trabalho científico viraram cinzas sob os olhos televidentes do Brasil e do mundo. Era domingo, perto das 19 horas no primeiro dia da “Semana da Pátria”.
Ironias à parte, eram um dia e horários nobres para que assistíssemos o inominável desfecho de séculos de desprezo ao Patrimônio que é de todos. Nosso Patrimônio Cultural/Documental foi consumido pelo descaso, por cupins e chamas!
Naquele momento faltavam palavras… sobravam dor e estupor.

O regresso civilizacional que demonstramos e nossa impotência de ser fiel guardador de um Patrimônio único e precioso que não é de um Museu, mas da Humanidade. Sim, Humanidade! Pois, Patrimônios Culturais pertencem à toda a civilização humana: é Responsabilidade Histórica que devemos à nossa geração e às futuras.

Mas afinal, que povo, que sociedade somos nós?
Pergunto, pois o momento atual não é o de sair à caça de bruxas e bodes expiatórios, sem qualquer crítica reflexiva. Fazer isso nada mais será do que escancarar, apenas e tão somente, espasmos de um discurso raso e oportunista.

Buscam-se “culpados” e “responsabilidades”, mas sem uma verdadeira e profunda preocupação. Em verdade, venhamos e convenhamos: o descaso e desrespeito ao Patrimônio Cultural e Histórico no nosso país foi construído e exercido há séculos, e por todas as camadas e segmentos da sociedade. Não ocorrem do dia para noite. Em alguns casos é fruto de séculos.

É exemplo disso, o relatório de 1844 que o então Diretor do Museu Nacional, Frei Custódio Alves Serrão, responsável pela instituição entre os anos de 1828 e 1847, apresentava sobre as condições precárias do Museu, então com 26 anos de vida.
Em suas palavras: “A Seção de numismática e artes liberais, arqueologia, usos e costumes das nações antigas e modernas acha-se em uma sala cujo teto ameaça ruína, visto as grandes fendas do estuque que continuamente se alargam“.
Diferentes relatórios se sucederam e as dificuldades não cessaram.
A maior prova deste fato foi o ocorrido no fatídico 02 de Setembro de 2018.

Pensemos sobre a sociedade que temos e que conseguimos produzir nestes nossos poucos séculos de existência. Será mesmo que como conjunto, podemos ser considerados um povo que exerce sua cidadania zelando e cuidando do que seja seu Patrimônio Cultural? Quantos de nós, individualmente ou como instituição, cumprimos o papel cidadão de responsabilidade histórica para com as futuras gerações?

Um breve olhar nos faz ver que nossa sociedade saiu direto do analfabetismo funcional para as redes sociais, sem escala, crivo ou pensamento crítico. Consome-se diversão através de grandes telas pixeladas e dificilmente, estes mesmos consumidores estiveram de fato dentro de um museu consumindo a cultura que necessitou de séculos para ser produzida.

Pergunte a quem está ao seu lado, quantos livros ou artigos leu no último mês, e quantos vídeos compartilhou no YouTube. Os analfabetos funcionais na nossa sociedade podem não ler, nem compreender um único parágrafo, mas não se descolam de seus Smartphones, e a quantidade de compartilhamento e likes movimentados em um único dia, indicam que absolutamente nada é lido, nem pensado. Uma sociedade espasmódica e plana, que não sabe o nome dos museus de sua cidade, as exposições que abrigam e com quem dialogam. Mas que distribui como ninguém correntes de Whatsapp e fotos fazendo biquinhos no Instagram e Facebook.

Descaso, cupins e chamas…
O que me aflige, é que o tempo passará, e em breve até os poucos indignados se calarão, pois não terão mais ouvidos para além das imagens sensacionalistas produzidas em um dia de intensas reportagens televisivas voltadas única e exclusivamente para garantir consumo de imagens e dar aos cofres das empresas de mídia anunciantes ávidos por consumidores voláteis.

Em pouco tempo a revolta estará calada, e voltaremos a ver patrimônios serem pichados, sujados, vandalizados, roubados, destruídos. Quer por inciativas individuais, quer por iniciativa das Administrações Públicas e Privadas, que estarão cada vez mais negando ou tirando recursos para “investir” em outras áreas.

Ou será que já esquecemos do que ocorreu com Museu da Língua Portuguesa, ou o Instituto Butantã com um acervo biológico incomensurável?
Ou o incêndio, que em 2005, destruiu, em Franco da Rocha, o Arquivo Histórico do Hospital Psiquiátrico do Juqueri? Boa parte dos registros da história da nossa psiquiatria virou cinzas.

Ou as águas do temporal de 2 de janeiro de 1990, que invadiram a Biblioteca de Filosofia e Ciências Sociais da USP atingindo em cheio os livros colecionados a duras penas desde a chegada da Missão Francesa que fundou a USP?
Ou a enchente do Rio Pinheiros nos meados dos anos 1980, na Vila Leopoldina, que inundou o pavilhão do Tribunal de Justiça de São Paulo onde era abrigado um acervo de 200 anos do Arquivo do Judiciário? Mais de um metro de água suja cobriu muitas centenas de processos, entre eles os 180 volumes do processo da Revolução de 1924. Um dos volumes era exclusivamente de fotografias, um documento visual da tragédia ocorrida em São Paulo naquele ano. Aquele arquivo era fundamental para o estudo de questões sociais, referência de teses acadêmicas sobre temas fundamentais de nossa história social, como criminalidade e anomia social.

Ou quem sabe o incêndio que consumiu o Museu de História Natural da UFMG, que abrigava segundo a instituição 265.664 itens entre peças e espécimes científicos preservados e vivos, em diferentes áreas de Conhecimento, como: Arqueologia, Paleontologia, Geologia, Botânica, Zoologia, Cartografia Histórica, Etnografia, Arte Popular e grande quantidade de Documentação Bibliográfica e Arquivística. O espaço ainda contava com um auditório, viveiro de mudas, uma lagoa, um anfiteatro ecológico e um jardim sensorial.

Ou seja, estamos conseguindo nos jogar nas trevas da ignorância e do alheamento para com a produção de diferentes saberes. Será mesmo isso o que queremos como Nação, como Sociedade e como Comunidade Científica e Acadêmica?

O Culto à Ignorância
Arquivos, Bibliotecas e Centros de Documentação significam para a humanidade verdadeiros templos: fiéis guardadores do saber e da construção do Conhecimento através dos Tempos e das Eras. Sem eles perdemos nossa Identidade. Perdemos o sentido do: de onde viemos e para onde vamos. São nestes espaços que a pesquisa e a investigação se adensam, fortificam-se e geram saberes perpetuando-se para futuras gerações. Desprezar isso é a barbárie social e cultural de toda uma civilização.
Uso as palavras textuais do professor José de Souza Martins:
Subestimar, depreciar e abandonar os acervos que registram, preservam e acumulam o saber vivo de muitas gerações mortas de pesquisadores e cientistas é renunciar à ciência. Descuidar dos acervos de arquivos, museus e bibliotecas é a morte do próprio conhecimento“.

É preciso que abandonemos o culto à ignorância e ao desrespeito ao passado. E infelizmente nosso país tem sido zeloso neste culto. De alto abaixo: de secundaristas à gestores de multinacionais – o culto à ignorância e à reverência ao deus mercado e ao imediatismo tolo tem sido a regra. Vive-se o hoje pelo hoje e se esquecem de quem não tem passado não possui lastro para construir presente nem futuro.

Assisto atônita como profissional da informação e lidando com Memória Institucional, um descaso descomunal com o que é considerado apenas “gasto”. Gestores, ditos “profissionais”, possuem uma visão que não alcança um palmo e se esquecem de que sua gestão passará, mas a História do que formos e fizermos, para o bem ou para o mal permanecerá. As vantagens e cifras obtidas em negar o que é devido à História, cobrará uma fatura altíssima no futuro. O gestor que não consiga ter vistas ao futuro não praticará a gestão, e sim ingerência.

O descaso que presenciamos pode ser de amplas proporções com labaredas imensas, consumindo trabalhos de séculos em horas. Ou pode ser no descaso praticado diuturnamente com as más condições de vida e trabalho oferecidas à profissionais e seus acervos. Pode ser nas goteiras que não abandonam telhados, fissuras e rachaduras que insistem em trincar paredes, nos armários ou materiais para acondicionamento que nunca chegam, nas tecnologias que já chegam ultrapassadas. Pode ser na mão-de-obra que nunca é contratada ou no recurso que é sempre esparso e insuficiente. Pode ser na perda de capital intelectual por meio de políticas de juniorização das instituições, quando experientes profissionais simplesmente são encostados ou demitidos para dar lugar a jovens ambiciosos mas sem qualquer experiência. Não importa! O fim último é sempre o mesmo: perda de Patrimônios e subtração de nossa História, com impactos profundos sobre funcionários ainda zelosos e a Memória Social de diferentes gerações.

Os documentos (entendidos aqui como todos os registros da atividade humana) em diferentes suportes, são verdadeiros sobreviventes. São sobreviventes de descasos múltiplos, mutilações, abandonos, desprezos, ataques de forças da natureza (enchentes, vendavais, insetos, terremotos, incêndios), ou talvez o mais nefasto deles: o ataque dos humanos (vandalismo, roubo, depredação, desprezo, abandono, ingerências de várias ordens e instâncias). No capítulo ingerências poderia escrever um tratado escrito em frente e verso sobre as diferentes formas que gestores, que em teoria deveriam zelar por seus patrimônios, tornam-se por ignorância ou determinação, algozes do passado e do futuro: imprimem ao presente e às suas gestões a determinação da destruição. Acreditam ser perenes. Quando em verdade passarão, mas os estragos causados permanecerão como testemunhas silenciosas de sua passagem, suas práticas, feitos, desfeitos  e omissões.

Por outro lado há os que acham, de novo, que Patrimônios se reconstroem! Acham que basta destinar alguma verba e tudo estará “reconstruído”. Uma palavra de cautela aqui: em primeiro lugar não há “reconstrução” para o que é imaterial! E não há reconstrução para Patrimônios da Humanidade, há sim, esforços de “restauração”. Mas esta está condicionada há muitos fatores e possivelmente, não poderá ser efetuada em sua integridade.

No caso do Museu Nacional, se em alguns casos a pedra e o cal podem ser “restaurados”, há coleções construídas no decorrer de 200 anos de pesquisa e trabalho científico que não poderão. São trabalhos feitos à mão por centenas de pesquisadores e existências inteiras dedicadas à pesquisa e produção de conhecimento. O Conhecimento é construído e tessido a partir do acúmulo e do diálogo estabelecido com seu predecessor.
Por isso, o trabalho de produção de Conhecimento a partir de estudo e pesquisa é algo que não está em uma prateleira para ser buscado e recolocado em seu lugar. Não há peças de reposição! Diferentes pesquisadores já morreram há décadas e com eles seus saberes que estavam cristalizados no conjunto de suas coleções e estudos.
E aqui é preciso compreender a forma específica que um Museu se constitui. Em nada se parecem com valores, cifras e acúmulos bem conhecidos dos cultuadores do “deus mercado”. Há coisas que definitivamente o dinheiro não compra!

O que importa, é que o acontecido no Museu Nacional do Rio de Janeiro serviu para colocar em debate aspectos relacionados à preservação e conservação de documentos e coleções imbuídas de valor histórico.

Conservação Preventiva como Políticas de Preservação de Patrimônios
Antes de pensarmos em restaurar, precisamos ter o sentido do que são ações e Políticas de Preservação que devem nortear instituições com acervos tão ricos e especiais. A noção de preservar tem que ver com uma atitude de prevenção, é algo que se estende a modos que impliquem uma conscientização que pode ser de um grupo, uma pessoa ou uma instituição.

Como forma de auxiliar nesta definição, apresento de forma sintética como todos estes termos polissêmicos podem ser entendidos.

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O mais importante em ações que envolvem políticas de preservação e conservação são sua manutenção no tempo. Para isso definições de prioridades e estratégias de como utilizar recursos são fundamentais. E aqui entra um aspecto fundamental: a prevenção não ocorre com grandes montantes de vez em nunca, mas em ações contínuas. Precisam ser entendidas como políticas de preservação e conservação preventiva, que precisam ter ser espaço garantido no decurso do tempo.

Vamos compreender alguns equívocos recorrentes:
Em muitos casos, argumenta-se que é preciso utilizar diferentes processos tecnológicos para “salvar” tais documentos. Mas é preciso que se diga que coleções formadas e guardadas em Museus possuem uma característica para além do que é oferecido por documentos bidimensionais: a digitalização ou microfilmagem torna-se inviável já que tais documentos são objetos tridimensionais, dotados de características muito específicas e únicas, e denominados por isso, de Cultura Material. A principal característica deste tipo de registro pauta-se sobre sua existência material, única e carregada de sentidos tanto quanto de forma e conteúdo.

Não há reflexão possível ou provável a partir da sua ausência ou falta. A imaginação serve pouco, pois carece de análise que só os indícios podem trazer.

O que teremos neste caso, seria uma redução das potencialidades de uma documentação nascida a partir da experiência tridimensional (cor, textura, peso, etc) para sua redução à bidimensionalidade de uma imagem escaneada. Não há aqui crítica pela crítica, mas sim uma característica indissociável do que seja o objeto tridimensional e o bidimensional. A digitalização aplicada a este conceito reduziria possibilidades de pesquisa e investigação próprios e caros à Cultura Material.

Processos de digitalização podem e devem ser introduzidos em Políticas de Preservação e Conservação de Patrimônios, mas nunca como uma medida pós tragédias. Convém que sejam pensadas e implementadas como estratégias de conservação preventiva. Para entender melhor este tema, sugiro a leitura de um artigo que escrevi intitulado “Uso de tecnologias como política de preservação e conservação de patrimônio cultural/documental“.

Uma nota de atenção
Há ainda os ditos liberais de plantão que acreditam que empresas privadas dariam melhor conta dos desafios administrativos de um Museu. Mas aí entramos em outras questões: um Museu está relacionado à Cultura e Identidade Nacionais. Não podem ter lastro com intenções e oscilações do deus mercado. Se iniciativas privadas possuem um interesse grande pela imediaticidade de retornos, custos e cifras seria muito complicado para uma instituição que tem sua responsabilidade marcada pelo seu compromisso com o tempo e longe de vínculos com o Mercado.
Se tais instituições privadas querem o bem dos Museus podem sim auxiliar fornecendo possibilidades financeiras e de boas práticas gerenciais, mas com um sentido colaborativo e não como responsáveis diretos e únicos.

Patrimônios da Humanidade pertencem ao conjunto de toda a sociedade e precisam ser tratados como bem de todos, e portanto, devendo ser garantidos através do tempo para a posteridade. Não podem estar regulados por interesses de mercado onde cifras, metas e bilheterias servem de métricas.
O papel de inciativas privadas é dotar tais instituições de condições para se perpetuarem no tempo e garantir que seus acervos fiquem guardados em segurança cumprindo seu papel histórico e social. Ao fazer isso, as empresas envolvidas estarão cumprindo seu papel de Responsabilidade Histórica para com a sociedade presente e futura.

Adendo pós-incêndio na Cinemateca Brasileira:
Um roteiro de como se destruir a Memória de um país

Tal como temia, após o incêndio do Museu Nacional outras grandes tragédias o sucederam. Em 29 de Julho de 2021, o fogo encontrou a Cinemateca Brasileira. Era mais elemento de destruição somado ao abandono em que a instituição se encontrava. Até o Ministério Público Federal chegou a processar a União por abandono do acervo em julho de 2020.
A trágica histórica da Cinemateca Brasileira encontrou seu pior enredo em 2019 quando o governo federal anunciou que não iria renovar o contrato com a organização que tomava conta da Cinemateca. Mesmo sem receber seus salários, parte da equipe que lá estava continuou trabalhando por amor ao acervo e medo que este fosse completamente destruído pelo abandono e descaso. Mas infelizmente em agosto de 2021, o secretário especial da Cultura, Mario Frias, exigiu que todos saíssem e as chaves fossem entregues. E assim aconteceu.

O restante da tragédia todos sabemos:
Filmes antigos com base de nitrato de celulose, necessitam de trabalhos de preservação e conservação como forma de prevenir incêndios e outras formas de deterioração. Sem elas o roteiro de destruição de consumaria mais dia menos dia, tal como ocorreu em diferentes ocasiões.

A Cinemateca Brasileira (criada por intelectuais amantes e estudiosos de cinema) sofreu diferentes incêndios no decurso de sua história:

1957: A Cinemateca havia se separado do MAM para obter independência jurídica e administrativa e conseguir apoio financeiro público. Finalmente havia se tornado a Cinemateca Brasileira (antes, era a Filmoteca, um departamento de cinema dentro do MAM).
“Ali, estavam guardadas películas dos primórdios do cinema nacional, documentários da vida do país” dos últimos 30 anos, diz o texto, “entre fitas do interior e películas alemãs, francesas, inglesas, russas e norte-americanas”.
1969: Um novo incêndio, desta vez em prédio dentro do Parque do Ibirapuera consumiu cerca de 300 filmes.
1982: Desta vez 1,5 mil filmes foram perdidos por um novo incêndio.
2016: Neste incêndio, foram mais de mil rolos de filmes perdidos. Segundo o site da instituição, o fogo destruiu 731 dos 44 mil títulos guardados na Cinemateca.
2021: Ainda não se sabe qual parte do acervo se perdeu neste quinto incêndio. Um manifesto divulgado por ex-funcionários da instituição lista itens do acervo que estava armazenado na Vila Leopoldina e que pode ter sido perdido ou afetado pelo incêndio. Itens como todo o acervo documental das polícias do audiovisual brasileiros, como o Arquivo Embrafilme. Também havia ali parte do acervo de documentos do arquivo Tempo Glauber, “inclusive duplicatas da biblioteca de Glauber Rocha e documentos da própria instituição”, diz o manifesto.

O manifesto dos trabalhadores da Cinemateca classifica o incêndio de quinta (29/7/21) como um “crime anunciado, que culminou na perda irreparável de inúmeras obras e documentos da história do cinema brasileiro”.

Entrevista concedida ao Jornal El País e publicada em 10.08.2021 em versão espanhola para público internacional.

É evidente que não bastam indignação, dor, revolta. Estamos diante de um projeto de destruição da cultura em nosso país. E este vem sendo vencedor…infelizmente!

É fundamental que intelectuais e profissionais de diferentes áreas e setores se unam e encontrem formas, atitudes e ações que de fato alternem este estado de coisas.

Cada um a sua maneira deve buscar forma colaborativas e criativas de ajudar a salvar acervos, história e memória. Da minha parte sigo colaborando como sei.

Como a ER Consultoria pode ajudá-lo?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria para utilizar as informações contidas nos documentos em diferentes tipos de acervos e/ou arquivos para Projetos de Memória Institucional com vistas ao fortalecimento de Identidade e Cultura Organizacional em empresas de diferentes segmentos e suas áreas de atuação. Além de ofereceremos metodologias e técnicas adequadas para a Preservação e Conservação de Acervos e seus suportes físicos ou digitais.

Se você possui dúvidas sobre como tratar seus diferentes patrimônios entre em contato e encontraremos uma forma de auxiliá-lo quer por uma Assessoria Técnica Especializada ou por meio de Capacitações Técnicas ao seu corpo de profissionais.

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* Versão atualizada a partir do incêndio na Catedral de Notre Dame acontecido em 14/04/2019 e com o incêndio do Museu de História Natural da UFMG, ocorrido em 15/06/2020 e do incêndio na Cinemateca Brasileira em 29/07/2021.

Referências:
Artigo Morte da Memória Científica de José de Souza Martins, escrito em 2010 no Estadão.
A Construção do Conceito de Patrimônio Histórico: Reconstrução e Cartas Patrimoniais Reportagem  BBC – NEWS/Brasil

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Ler de forma produtiva. Mas como?!

*Por Eliana Rezende

Muito se tem dito e escrito sobre a qualidade dos leitores em tempos de tantos estímulos digitais.
Desconcentração e desinteresse tendem a encabeçar quase todas as listas.
A seguir e bem de perto estão a preguiça, dificuldade de retenção e compreensão do que se lê.

Sem entrar nos méritos da alfabetização ou sua ausência, do analfabetismo funcional e problemas com o ensino desde sua base, algumas sugestões podem e devem ajudar quem, de fato, quer ou precisa ler e ainda não aprendeu como.

Aqui a sugestão é para leituras técnicas ou de conteúdo profissional e que necessitam de uma outra forma de leitura daquelas que destinamos a romances e entretenimento de horas de lazer.

Vamos ver se consigo:

  • Crie o hábito de tracejar o que lê. Isso mesmo! Use um lápis (nada de marcadores e canetas! Estes estragam seu livro). Procure um lápis macio (6B ou mesmo um integral seriam fantásticos). Se estiver lendo em um tablet use o recurso de pintar o trecho que quer destacar.
  • Munido desta ferramenta aprenda a sinalizar o que lê. Encontre uma sinalética que te dê pistas se o assunto é interessante, repetitivo, se você já leu em outro lugar, etc.
  • Não grife parágrafos inteiros! Escolha palavras que sintetizem a ideia do parágrafo. Assim quando bater os olhos na página não terá que ler todo o conteúdo novamente.
  • Procure anotar títulos que te façam saber do que o parágrafo ou a página tratam.
  • Relacione a leitura desta página com outra que a complemente, ou mesmo outra obra e autor.
  • Estabeleça uma relação com o autor. Faça-lhe perguntas e procure encontrar as respostas enquanto lê. Dessa forma ficará atento e a concentração será consequência deste diálogo silencioso.
  • Este recurso também pode ser usado quando lembrar do argumento de outro autor. Interpele o atual sobre o que o outro disse e tente encontrar uma resposta satisfatória.
  • Tenha sempre um dicionário por perto. A leitura é fantástica para descobrir novos significados para as palavras, bem como seu emprego na construção de uma ideia.
  • Achou uma palavra nova? Não a perca! Escreva ao lado dela o seu significado. Você provavelmente não decorará de primeira.

Logo nas primeiras páginas pergunte-se:

  1. Qual é o objetivo do autor? O que o autor quer com seu escrito? Ele está vendendo uma ideia ou um produto? É importante descobrir qual é o seu objetivo para que ao término da leitura você possa qualificar de boa ou má sucedida sua obra em relação a você. Isto será importante para que você seja capaz de argumentar se gostou ou não do que leu e o quanto ficou convencido pelo exposto.
  2. O que ele está defendendo?
  3. Com quem ele fala? Conversa ou rebate a ideia de outro autor? Ou tenta expor e propor uma nova ideia ou conceito?
  4. De onde o autor fala? Ele é do mercado de trabalho, da academia ou é um empreendedor? Atentar para isso pode ajudar a compreender seus argumentos. Ele procurará falar aos seus pares e saber quem são lhe ajudará a ter mais ferramentas para compreende-lo.
  5. Qual a data da publicação? Essa é uma pergunta interessante, já que se for um autor contemporâneo trará temas mais recentes. Mas às vezes é uma publicação escrita há décadas! Talvez seja um clássico, ou uma leitura obrigatória dentro da área de conhecimento. Saber quando uma obra foi escrita evitará que cometamos erros de interpretação, ou mesmo notar ausências de abordagens, pois estas só ocorreram muito mais tarde.
  6. O autor consegue convencer você ao final? Veja, o convencimento aqui é você cruzar o que era o objetivo inicial dele e como ele foi conduzindo você. Ao final, valeu a pena o percurso? Ele conseguiu cumprir o objetivo que se colocou?
  7. Suas ideias são claras ou já viu outros autores explicando melhor? Tente fazer estas conexões. Isto significará que você não está mais na superfície e que sua leitura está ganhando consistência.
  8. Ao concluir a leitura de um tópico ou capítulo, pergunte-se: “o que mesmo o autor falou?”. E neste momento escreva em duas ou três linhas o que respondeu. Isso lhe ajudará a ir fixando as partes importantes de cada capitulo, seção ou tópico. Ao término da leitura poderá se arriscar a ler tuas anotações e fazer a mesma pergunta só que para o livro todo e redigir um parágrafo síntese.
  9. Pode parecer bobagem, mas fazer isto pouco a pouco o ajudará a ir fixando o conteúdo e imprimindo sua compreensão ao que leu. Com certeza você irá mais longe em sua compreensão.

Se prestou atenção, os recursos para ler um livro físico são os mesmos que você também pode usar em um livro ou paper digital. A via é a da comunicação. É preciso estabelecer uma relação de troca com o texto, com o escritor. Fale com ele! Feito isto não há leitura que seja difícil ou dura.

Será que quer aplicar comigo estas dicas que falei?
Experimente! E depois me conte!

*
Os procedimentos para uma boa leitura auxiliam e muito nos meios possíveis para estabelecer trocas em especial as acadêmica e profissionais.
A leitura acurada é meio de tornar a informação muito mais proveitosa, e sim, matéria-prima para a produção de conhecimento.
ER Consultoria, atenta às muitas formas de “ler” possui como missão, portanto, prestar serviços de Gestão de Informação que possibilitem aos seus clientes: fortalecimento de sua identidade institucional e cultura organizacional, disponibilização de matéria-prima para a produção de conhecimento e inovação, além de valorização do capital intelectual existente no interior de cada organização.

Consulte-nos e saiba como podemos auxiliá-lo, ou consulte nosso Portfólio de clientes e o quê eles tem a dizer sobre nosso trabalho.

* Post publicado originalmente no meu Blog, o Pensados a Tinta

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Chamem o carteiro: preciso de boas notícias!

Por: Eliana Rezende

Em que ponto, em que rua ou travessa de sua existência seu carteiro parou?
Sim, aquele personagem que o visitava todos os dias, mas não com faturas de contas ou boletos bancários, cobranças várias, mas sim, aquele que lhe trazia notícias de longe?
Aquele que por anos a fio visitava toda a sua rua e conhecia cada morador por nomes, hábitos e caligrafia?*

Incrível como o tempo e as tecnologias nos afastam de alguns personagens urbanos. O carteiro era destas figuras que por largos tempos eram esperados todos os dias de forma ansiosa num misto de muitos sentimentos. Às vezes havia euforia, risos, contentamento, outras tantas tristeza, preocupação, melancolia, saudades…

Sua vinda representava que alguém em alguma parte havia tomado tempo de suas horas e nos dirigido palavras… muitas carregadas de emoção. Algumas noticias chegavam acompanhadas de pequenos retalhos, detalhes, inserções: pétalas de flores, fotografias, marcas de batom, papéis coloridos, folhas secas,pequenos objetos, recortes de uma existência ou de um momento vivido.

O tempo das escritas manuscritas perdem-se na história, e em alguns casos já não são nem mais referência de coisa alguma. O carteiro e suas cartas em papéis perfumados e coloridos povoam hoje mentes de poucos e em geral, tem em comum uma mesma geração. A mesma que colecionava envelopes, papéis, selos, canetas coloridas. Uma geração que sabia como ninguém o sentido da escrita de próprio punho e o significado de cunhar palavras com tinta sobre papel. Uma geração que entendia a escrita como um gesto de doação e entrega. Afinal, tempo, sentimentos, pensamentos, projetos levam tempo tempo de arquitetura e generosidade de doação.

Era este personagem que carregava em suas mãos nossos amores, segredos, saudades, esperanças, promessas, planos. Em pedaços pequenos, geometricamente cortados eram carregados em ordem numérica no crescer ou decrescer da ordem das casas distribuídas pela rua. A organização das cartas obedecia uma ordem toponímica e geográfica para que o enredo de histórias e lugares se dessem. Afinal eram histórias tramadas à distância que encontrariam numa toponímia qualquer seu desfecho e destinatário.

Apesar de organização antecipada e rígida, pois obedecia uma sequência de localização, nem por isso, deixava de saber o nome do remetente e destinatário. Chamava pelo nome e tinha a certeza de saber de quem se tratava.

Amigo íntimo de cães, senhoras, gatos, moleques e bolas. Tinha de driblar todos para conseguir cumprir sua função que era a de nos fazer chegar as mensagens que trazia.

Sabia guardar segredos e zelava para que nunca uma carta encontrasse mãos erradas ou indevidas. Zeloso cuidador. Fiel guardador. Atento portador.

Em dias de chuva o cuidado era redobrado: afinal a água que vinha do céu não podia estragar sua preciosa carga. Se tivessem que ser molhadas que fossem pelo sal das lágrimas de contentamento ou tristeza de um destinatário qualquer, mas nunca por uma faxina de São Pedro pelos céus da cidade!

Com o seu andar percorria diferentes trajetos, muitas vezes sinuosos, em trechos que poderiam ser longos, incertos e até perigosos. Caminhadas de dias inteiros eram comuns e lugarejos em vilas e aglomerados dos mais distantes tinham a segurança de ser visitados por ele e sua mala de pequenas preciosidades.

Em sua mala à tira-colo havia também revistas, livros, informativos, encomendas diversas.

E ainda haviam os postais.

Ah…os postais!
Quanta imaginação e emoção provocavam.
Receber um era daqueles sinais de mais alta estima e conta. Afinal alguém distante em viagem de passeio ou negócio havia parado, escolhido, postado e enviado uma mensagem que vinha como imagem recortada de um sonho de deslocamento. Quantas gavetas e quantas caixas estes postais encheram por tantos lugares através do tempo. Ofereciam ao seu destinatário a possibilidade de simplesmente embarcar em trechos de belas histórias, em roteiros imagéticos que seriam em um encontro de retorno completamente detalhado e destrinchado com notas e explicações. Com sorte ainda ganhariam fotografias posadas trazidas pelo viajante. E para além de tudo traziam a escrita em próprio punho do emissor.
Em seu verso eramos agraciados com um carimbo de local e data e quase sempre um belíssimo selo. Uma composição para os sentidos e imaginação. Verdadeiros objetos de cultura material, e hoje quase extintos em seu sentido de troca. Únicos e especiais traziam a marca indelével do tempo e da composição de um remetente distante.
Perderam uso e interesse a partir da proliferação de selfies e demais registros digitais: rápidos, mas extremamente descartáveis e até impessoais. As possibilidades de ampla reprodutibilidade tiraram a aura do registro. Seguem apenas como mero instantâneo. Quem faz e quem recebe dificilmente será tocado, como ocorria com o postal trazido pelas mãos do carteiro.

O postal era uma preciosidade que só nos alcançava graças às mãos e ao trabalho de nosso personagem carteiro.
Portador de tantas histórias miúdas, acontecidas como que a conta-gotas e dia a dia sentia-se feliz e orgulhoso de participar desta troca.

Às vezes chegava-nos urgente, com pressa: trazia um telegrama. Era comum quase esperar sua abertura para saber se haveria risos ou tempestades. A euforia e pressa do destinatário em geral não esperava o portão se fechar.
As palavras aqui eram curtas, cifradas e teriam que valer pela urgência na entrega.

Hoje os tempos são outros. Não sabemos nem o nome e nem a cara de muitos carteiros. As casas diminuíram muito e na imensidão de prédios e condomínios contam com a ajuda de caixas impessoais com números e chaves. Nunca sabemos quem por lá andou e em geral, o volume que nos chega passa muito longe de ser agradável ou motivo de memórias e lembranças. Apenas cumprem uma função logística de distribuição, onde o que conta é mesmo um número dentro de um escaninho ou caixa.

As noticias alcançam-nos por outras vias. Talvez mais rápidas e imediatas, mas com certeza sem a aura de tempo e cuidado dispendido em sua elaboração e destino.

Daí meu pedido tão simples: “Chamem meu carteiro: quero boas noticiais!!!”

O carteiro como tantos outros que figuram como personagens urbanos tem encontrado muitas transformações ao longo do tempo, em em vários casos, simplesmente desaparecem no cenário urbano ou social.
Trabalhos de Memória Institucional podem resgatar tais personagens e suas práticas de trabalho e nos fazer valorizar tradições e saberes que muitas vezes só se alcançam através de relatos e memórias.

Possui em sua comunidade ou instituição trabalhadores/personagens que tenham esta relação com seu entorno? Gostaria de saber como valorizá-los e transformar tais registros em Patrimônio Cultural? Consulte-nos. Teremos imenso prazer em pensar um Projeto de Memória que melhor se adeque à sua demanda.

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* Post publicado originalmente no meu Blog, o Pensados a Tinta.
A inspiração foi do meu carteiro de infância que me acompanhou por toda a minha fase de adolescência até a vida adulta. Meu carteiro ficou na minha rua até se aposentar. Cresci, casei, mudei e nunca mais tive um carteiro para chamar de meu.

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Juniorização e perda de Capital Intelectual nas Organizações

Por: Eliana Rezende

“Os tempos são outros e renovar é preciso”, um mantra que vem se repetindo cada vez mais.
Por caminhos diversos, empresas e instituições estão vivendo, no Brasil e no mundo, um processo de substituição de grandes gurus por pequenos guris. Este processo atroz de descarte de capital intelectual impacta toda a sociedade e a forma como esta retém valores.

Os primeiros, que representam a experiência acumulada, a vivência de práticas e um olhar perspicaz e holístico pelos segundos: afoitos, sempre com pressa e, em geral… inexperientes. Boa parte de sua bagagem resume-se a notas de rodapé obtidas em anos de formação e pós-graduação como alunos profissionais (alguns parecem se especializar em acumular bolsas e títulos sem fim, e nunca encarar o mercado de trabalho, daí a expressão aluno profissional)
São produto de um mundo compartimentado, feito de teclas e muitos sons que produzem dispersão: seres aparentemente multitarefas, mas que em verdade possuem uma grande dificuldade de concentração e acuidade/profundidade nas relações, abordagens e intervenções. Em muitos casos, falta-lhes a flexibilidade eloquente de quem com empatia se antecipa aos problemas e as dificuldades  compondo saídas e alternativas satisfatórias, sem prejuízos ou perdas.

E diante disso, que nos vemos numa grande encruzilhada: ao praticar a ‘juniorização’ com vistas à redução de custos e de forma muitas vezes indiscriminada, as organizações estão plantando dificuldades que colherão muito em breve.

Ao partir, os mais experientes levam consigo aquilo que de maior valor e ativo uma organização pode ter: seu Capital Intelectual. Este não pode ser transmitido por osmose. Necessita de tempo… Afinal a principal virtude destes é a sabedoria atrelada à experiência: e aqui não há receitas rápidas…há o fio do tempo tecendo tramas que sustentarão as fibras do bom caráter de um líder equilibrado e respeitado.

Quando uma organização não percebe isso, perde potenciais que nunca verá crescer.

Infelizmente, nos últimos anos tenho tido oportunidade de assistir em muitas organizações do que chamei acima, de um verdadeiro bota-abaixo de gurus por guris. Pressa, atropelo, presunção, improvisação são os primeiros produtos.

A seguir, uma tentativa pífia de bota-abaixo para, num ato de pura insegurança, querer substituir a experiência pregressa pelo dito “novo e eficiente”. Em verdade, na maioria das vezes o novo não é tão novo assim, e a dita eficiência é mais um sinônimo de precipitação. O espaço destruído torna-se estilhaço e fazer brotar em terra arrasada leva tempo.

Se as instituições se apercebessem de que mora neste Capital Intelectual o verdadeiro valor das organizações muitos problemas seriam evitados. Não seria preciso reinventar a roda.
Mas na prática é o que vemos…

É neste cenário que cada vez mais fica claro para mim que Projetos de Memória Institucional, se bem conduzidos, propiciam de um lado o fortalecimento da Cultura e Identidade Organizacional e de outro favorecem a valorização do Capital Intelectual presente nas organizações. Esta costura fina tornará juniores melhores pois a experiência de um beberá na energia do outro.

O trabalho daí surgido é interdisciplinar e empático, favorecendo e tecendo relações pelo tempo e pela experiência. Não há meio de não resultar. O dividendo será uma organização que soube se manter no Tempo por meio da troca. Sem dúvida, em tempos de tanta escassez um verdadeiro feito!

Esses funcionários antigos e experientes são a melhor mentoria que um jovem profissional poderia ter, e sem dúvida com um valor agregado superior a qualquer MBA.

É preciso pensar que o Capital Intelectual funciona como um repositório humano onde informações valiosas que propiciariam a produção de novos Conhecimentos e Inovação estão ali depositados. Acessá-los é abrir a porta de um grande tesouro institucional.

Além disso, utilizar a Memória Institucional como valorização do Capital Intelectual das organizações resultará em auxiliar a sanar uma dificuldade sempre constante quando se fala em Gestão de Conhecimento, que é a de se achar que a escolha de ferramentas resolverá por si só a produção e circulação de Conhecimento. O que não é fato. A opção por ferramentas sem um trabalho prévio de fortalecimento da Cultura e Identidade Institucional trará opacidade a todo o processo e os resultados esperados dificilmente chegarão. Daí a noção que desenvolvi e argumentei no post “O Desafio das Soluções na Era da Informação”.

A Memória Institucional, por possuir um cabedal interdisciplinar, fornecerá condições adequadas para a circulação do Conhecimento nas organizações, tal como representada na figura a seguir:

A Memória Institucional se colocaria como elemento aglutinador e central, favorecendo as trocas, em especial as intangíveis. Daí nossa opção por uma representação gráfica de bolhas: podem sem vistas, dimensionadas, relacionadas, interseccionadas, mas se tocadas de forma inadequada rompem-se e desfazem-se. É esta a metáfora que melhor exemplifica o trabalho meticuloso e altamente eficiente que a Memória Institucional pode alcançar.

Mas afinal, o que seria o Capital Intelectual?
Entre tantas definições hoje feitas e por diferentes áreas, opto por escolher a que define Capital Intelectual como sendo a somatória dos ativos tangíveis e intangíveis que estão relacionados aos que dão sentindo intelectual às suas ações. Mais do que ativos materiais compostos por máquinas, ferramentas e mesmo valores monetários, os ativos intangíveis que tem em sua criatividade seu principal valor são agentes potencializadores de produção de conhecimento organizacional, já quem por meio de seu conhecimento acumulado são capazes de gerar e distribuir informações para que mais conhecimento e inovação se dê. São portanto, Patrimônio Intelectual.

Diante disso, é explicita a importância destes para toda e qualquer instituição, sem importar seu ramo de atividade ou porte.

Cada indivíduo neste todo organizacional compõe uma memória que é coletiva da organização e que se assenta no tripé: aquisição, retenção e recuperação da informação (Walsh e Ungson, 1991). Observe, segundo os autores citados como isto se dá:

“(…) Relativamente ao processo de retenção os autores apresentam um elenco de seis “caixas de retenção” da informação, sendo cinco delas internamente à organização e uma externa, conforme a seguir:

indivíduos – só os indivíduos compreendem a relação causa efeito, o porquê de uma decisão, eles retêm informações baseado em suas próprias experiências e observações;
cultura – modo aprendido de perceber, pensar e sentir sobre os problemas e que é transmitido para os membros da organização;
transformação – há informação incorporada nas várias transformações que ocorrem na organização, exemplo matéria prima transformada em produto acabado;
estrutura – reflete e armazena informação sobre a percepção do ambiente da organização;
ecologia – experiências interpessoais de empregados são afetadas pelo leiaute físico da organização, exemplo local mal iluminado gera baixa produtividade e conflitos; e, finalmente,
os arquivos externos – empregados antigos retêm grande quantidade de informações sobre a organização, especialmente sobre o tempo em que nela atuaram. (…)”

Relação entre Capital Intelectual e Memória Institucional

É neste momento que um Projeto de Memória Institucional com vistas a valorização de Capital Intelectual passa a fazer toda a diferença no âmbito institucional.

Anteriormente, em outro post que fiz sobre Memória Institucional disse que:

“(…) a partir do conjunto formado por instalações, máquinas, equipamentos, pessoas e missões que uma Instituição se firma e se põe e, impõe ao mercado, aos funcionários e a toda à sociedade. Este conjunto é considerado Patrimônio Institucional. E as pessoas em seu interior são seu Capital Intelectual.
Neste sentido, quando falamos em Memória Institucional estamos falando de um conjunto de experiências que, reunidas, dão a dimensão e os contornos de uma instituição no tempo e no espaço.(…)”.

Por isso, a intersecção Memória Institucional e Gestão de Conhecimento se dão no trabalho de valorização do capital intelectual das organizações. É o trabalho sensível de lidar com a experiência e a história que dará sustentação, direção e objetivos sólidos à uma organização e a fará distinguir-se das demais, não apenas pelo valor monetário expresso em cifras, mas por valores muito mais caros e valiosos, intangíveis em sua maior parte.

As empresas que saem na frente em compreender o valor deste bem intangível dentro de suas organizações conseguem fortalecer sua Identidade e Cultura Organizacional por manter viva as suas raízes e origem: de onde vieram e com quais objetivos e para onde pretendem chegar. A ponte entre este passado de surgimento e seu futuro está exatamente nas mentes destes que compõem o Capital Intelectual da organização. Os cérebros maduros de uma organização são de fato seu maior ativo e valor:

Conforme citei antes no post: “Profissionais na maturidade como ativo organizacional“:

“(…) Fantástico ter a exata noção de que, tal como um músculo, o cérebro quando exercitado, nunca deixa de responder. E que o tempo aliado às experiências vividas e experimentadas podem fornecer conexões muito mais certeiras do que as que ocorrem nos jovens: já que estes contam apenas com o que lhes é extrínseco. Ainda aprenderão a transformar vivências em experiência.
São de fato, os artifícios que o tempo e a existência nos oferecem e brindam. 
Importante pensar o tempo não como uma caminho de perdas! Pode e deve ser um caminho de libertação, já que maduros deixamos as inseguranças e inexperiências próprias da juventude para trás. 
Ganhamos a possibilidade de aliarmos experiência com ação. E isso cá entre nós é o caminho para alargamento do espírito!
E isso que as instituições precisam e devem perceber. Nossa sociedade está envelhecendo e manter-se-á muito mais tempo em período de maturidade do que o seu contrário. Vale a pena redimensionar conceitos e valores. Só assim este beneficio se estenderá à pessoas, organizações e sociedades.(…)”

A valorização do capital intelectual por meio de um Projeto de Memória Institucional significa não ser apenas uma efeméride a mais na organização, mas de fato um meio de produzir conhecimento sem descartar nem desperdiçar os valores existentes.

É esta costura indelével entre a experiência e a juventude que os Projetos de Memória Institucional agregam valor ao Patrimônio Intelectual das organizações e as ajudam a mostrar a si mesmas e a sociedade que estão inseridas o que são, de onde vieram e para onde vão com os cérebros que possuem na sociedade onde estão inseridos. É assim que a instituição praticará a Responsabilidade Histórica para com a sociedade que a acolheu e absorveu.

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Referências:
WALSH, James P.; UNGSON, Gerardo Rivera. Organizational Memory. Academy of Management Review, v.16, n.1, pp. 57-91, 1991.

*
Como desenvolver um Projeto de Memória Institucional que atenda demandas de valorização de Capital intelectual e Gestão de Conhecimento e como a ER Consultoria pode auxiliá-lo:

  • Definir qual caminho seguir
  • Como pensar em um Projeto de Memória Institucional com olhar interdisciplinar?
  • Como relacionar Gestão de Conhecimento e Memória Institucional para valorização de Capital Intelectual numa organização?
  • Como um trabalho interdisciplinar de Memória Institucional pode fortalecer a Cultura e Identidade da Instituição ao mesmo tempo em que organiza e distribui informação para a geração de Conhecimento e Inovação?
  • Como utilizar as metodologias de Storytelling e História Oral?
  • Como através de um Projeto de Memória divulgar e fortalecer a imagem corporativa/institucional?

Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para auxiliá-lo na organização da Informação produzida hoje. De forma a poder ser instrumental para as futuras gerações, ao mesmo tempo em que se constitui como matéria-prima para que a Memória e Identidade Institucional se fortaleçam, e a Cultura Organizacional se mantenha através do tempo.

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Geração TouchScreen

Por: Eliana Rezende

Sons, telas, toques, luzes, imagens, palavras.
Um mundo feito de estímulos, desterritorializado e fracionado em ações e reações.
Os deslocamentos cada vez mais significam trafegar por redes, espaços e tempos muito mais do que com os corpos, que presos em meios de transporte estão sempre mais aprisionados do que as mentes, as retinas, a audição.

As narrativas e formas de comunicação, cada vez mais cifradas, ganham na economia silábica sua expressão máxima. As imagens tentam substituir todo um conjunto de ideias que antes precisavam da grafia de alfabetos inteiros.

Com isto temos em formação uma geração que, pela primeira vez, consegue ter cindidos corpo e mente. As relações se ‘desterritorializam’, e tempo e espaço ganham uma outra dimensão: se ‘glocalizam!’ (Isso mesmo, se glocalizam, neologismo para designar local e global ao mesmo tempo, onde território físico não significa.) Ante a avalanche de conteúdos, informações e estímulos encontramos cada vez mais pessoas que vivem o que está se convencionando chamar de: “idade mídia”. Relações e vidas constituem-se de formas entrecortadas, cifradas e dispersas. Tecidas pela imediaticidade, estímulos que vem de todos os lados e de complicada assimilação e análise.

O mundo glocalizado a partir de suas redes sociais, numa frase que já esta virando clichê, aproximou pessoas antes separadas por um oceano e cria fissuras maiores que as das Ilhas Marianas entre quatro paredes.

É comum em salas de um mesmo ambiente doméstico cada um estar conectado ao mundo, sem saber o que se passa na mente de quem senta ao lado.

Famílias e jovens não sabem bem como lidar com seus limites de consumo e de possibilidades relacionais. Vive-se com culpa e excessos de todos os lados: pais pela escassez de tempo fornecem aos filhos parafernálias tecnológicas que os mantém ocupados e distraídos.

Duas palavras talvez sejam fundamentais em todo este processo: fracionamento e aceleração. Dessa matemática feita por duas variáveis, temos como resultante a imediaticidade.

Corpos e mentes fragmentados em seus espaços físicos, mentais e emocionais, em geral a mercê de estímulos de todas as ordens e uma profunda dificuldade de reunir e sintetizar percepções de forma mais elaboradas e consistentes.

As sociabilidades ganham com isto, também, uma nova forma de entender realidade, até então tradicionalmente concebida como territorialidade, ligada essencialmente ao espaço geográfico, local, material, presença e de convivência; encontra agora o conceito de tele realidade, onde a realidade pode ser experimentada de um outro ponto de vista de espaços e tempos. As redes e seus meios de comunicação colocam a possibilidade de tele (vivências), desmaterialização, globalidade, distância. Tudo em tempo real.
Existir ganha um novo sentido.

Segundo Rubim (2000):

“(…) A singularidade dessa nova circunstância societária vai incidir nas cruciais questões da realidade e da existência. Essa dupla composição “fragmenta” a realidade contemporânea em uma realidade contígua, (con)vivida no entorno por cada individuo, em uma realidade remota, porque não inscrita no mapa de proximidades, agora tele(vivida) planetariamente e em tempo real como teler realidade (…) 

“(…) O caráter composto da realidade na contemporaneidade possui outra significativa consequência: ele impõe o descolamento entre existência e o existir publicamente. Hoje, a mera existência física já não assegura um existir social , expediente automático em uma sociabilidade de tipo comunitário, na qual a existência física e publica praticamente coincidem, pois a contiguidade do território, a exigência da presença e as dimensões possíveis do mundo garantem o compartilhamento, o movimento de tornar comum coisas e pessoas, enfim a publicização. Nesta circunstância societária existir fisicamente significa, sem mais, ter existência pública. (…)”

Essa cisão entre real e virtual, público e digital talvez seja o maior de nossos desafios. As existências se multifacetam, ao mesmo tempo que cindem corpos, almas, sociabilidades, pessoas…

Nem bom nem mau em si. Apenas uma nova forma de relação com tempo, espaço e estímulos.

De tantos fragmentos e estilhaços movidos em velocidade e em substituição constante é que nossos adultos do futuro serão formados. Dispersão e em vários casos dificuldade de estar profundamente absorto e comprometido com algo, passa a ser um desafio para cada um.

Em verdade o que temos são verdadeiros caleidoscópios de relações efêmeras.

Fica o desafio:
Como usar e potencializar todas essas habilidades de um mundo feito de tantos estímulos em prol de melhores adultos?

Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para auxiliá-lo na organização da Informaçãoproduzida hoje. De forma a poder ser instrumental para as futuras gerações, ao mesmo tempo em que se constitui como matéria-prima para que a Memória e Identidade Institucional se fortaleçam, e a Cultura Organizacional se mantenha através do tempo.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer.

Referência:
Rubim, Antonio Albino Caneias. “A Contemporaneidade como idade mídia”. [link]:

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Post publicado originalmente no meu Blog: o Pensados a Tinta

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O que é Arquitetura de Informação para Portais Institucionais

// Por: Lionel Bethancourt

A Arquitetura de Informação é fundamental quando queremos comunicar ideias e informações. Mas em geral, as pessoas e instituições esquecem-se completamente disso quando elaboram seus Portais Institucionais.

Observe:

O span de atenção do usuário é miticamente curto. Imagine um usuário tentando entender e, ao mesmo tempo ler, o que está escrito na sua página. Antes da página carregar totalmente, ele já saiu apertando somente um botão! Não importa o quão importante seja a sua mensagem, serviço ou produto.

Para Krug (2000): “Quando desenhamos uma página web, faz todo sentido imaginarmos um usuário racional e atento. É natural assumir que todos usem a internet da mesma forma como a usamos. E, como todo mundo, pensamos que nosso comportamento seja mais ordenado e sensível do que realmente é.”

O que é Arquitetura de Informação?
Arquitetura de informação (AI) é ordem e sentido.
Os ‘loci informacionais’ (Oliveira, 2016) onde as informações digitais são assentadas. Esta estrutura, e sua repetição, faz com que as informações sejam mais fáceis de serem compreendidas. E que varias informações, diferentes mas relacionadas, possam ser aproveitadas ao mesmo tempo sem causar confusão ao usuário.
Ou, o que é muito pior: frustração.

Würman a define como: “a emergente ocupação profissional do século XXI que aborda as necessidades da Era, focada na clareza, na compreensão humana e na ciência da informação”.

O objetivo principal do arquiteto de informação é:
Definir a missão e visão para o portal, equilibrando entre as necessidades da organização e àquelas da audiência.
Determinar quais conteúdos e funcionalidades haverá no portal.
Especificar como os usuários encontrarão a informação no portal, definindo sua organização, navegação, nomenclatura e sistemas de busca.
Mapear como o portal irá acomodar mudança e crescimento.

Pode parecer óbvio, mas a Arquitetura de Informação é sobre o que não é óbvio. Os usuários somente percebem a Arquitetura de Informação quando ela não funciona, ou seja, quando os objetivos não são alcançados ou quando problemas surgem. Contudo, quando ela funciona, imediatamente o atribuímos a qualquer outro elemento (gráficos, sistema de busca, et-cetera), e não ao trabalho bem executado do Arquiteto de Informação. Não há uma descrição adequada para os componentes intangíveis que constituem a arquitetura na web page.

De fato, se a Arquitetura de Informação pode ser descrita como uma disciplina, ela não será uma disciplina com limites definidos (Batley, 2007).

Os elementos da Arquitetura de Informação são: sistemas de navegação, sistemas de nomenclatura, sistemas de organização, indexação, métodos de pesquisa e metáfora. Estes elementos são difíceis de mensurar e por isso mais difíceis de comparar. Mas, uma vez em funcionamento eles se transformam em ecossistemas. “Onde contextos e meios estão tão fortemente interconectados que nenhum elemento único pode se destacar como uma entidade isolada” (Morville, 2014).

O arquiteto de informação deve ter que identificar tanto os objetivos do portal, quanto as informações sobre, e com, o qual será construído. Muitos designers esquecem, por exemplo, que espaços brancos são componentes tão importantes quanto qualquer outro componente da página.

Organizando a Informação
Nosso conhecimento do mundo depende muito da nossa habilidade de organizar a informação. Organizamos para entender, explicar e controlar. (Krug, 2000)
A Arquitetura de Informação, muito como a biblioteconomia, organiza a informação para que as pessoas possam encontrar as respostas certas às suas perguntas. E a internet nos brinda com um ambiente muito mais flexível onde a organizar.

A tarefa que antes era própria dos bibliotecários, a força descentralizadora da internet obriga a cada um de nós, hoje.
Como nomear conteúdo? Existe algum sistema de busca que possamos emprestar? Quem catalogará toda essa informação? Isso foi serviço unicamente de bibliotecários, antigamente, hoje todos fazemos.
Uns mais, outros muito menos.

Devemos também levar em consideração que, por mais etéreas e fugazes que sejam as web pages num portal, elas, por definição (informação + suporte = documento) são documentos (Rezende, 2007). E, tanto quanto na Gestão Documental, estamos atrás de racionalidade e transparência administrativa.

Apesar disso, organizar informações não é assim tão fácil, não. Por exemplo; cada um de nós temos nossa própria versão sobre quase qualquer tema. Fazer com que (quase) entendamos o mesmo, enquanto as alternativas incluem formas, cor, som e movimentos é extenuante. Sempre haverá uma outra forma de explicar a mesma coisa.
Hierarquia, conteúdo e forma, um tripé fundamental quando pensamos em Arquitetura de Informação.

Depois de tanta organização e sistemas disto e daquilo, o único elemento da Arquitetura de Informação que sobra é a metáfora.
Apesar que a web é muito diferente da televisão, perceba como termos da última são usados na primeira. A metáfora é a ferramenta usada para mostrar conceitos novos como situações familiares (Nielsen, 2000). Para comunicar ideias complexas e gerar entusiasmo (Rosenfeld, 1998). É executada quando seu portal ensina, explica ou surpreende usando “degraus” que levam o usuário do ponto A até o ponto X que seu portal quer.

Crédito de Imagem: Equilíbrio – Lionel Bethancourt

Uma vez resolvidos todos estes elementos; selecionar, indexar e hierarquizar a informação, escolhido os sistemas de busca e traduzidos os conceitos à linguagem reconhecida pelo usuário, sua arquitetura de informação estará disponível.
É  somente a partir deste momento que o Design de Informação terá melhores condições de desenvolver um projeto visual.

Nunca esqueça que o arquiteto de informação trabalha para melhorar (moldando, adequando) o conteúdo do cliente, junto com os desenvolvedores e designers, para facilitar a transmissão de informação e conceitos novos e, finalmente, para que o usuário se sinta tranquilo e consiga entender as informações contidas no portal.
Usualmente visitamos e voltamos a visitar portais que achamos úteis.

Resumindo, Arquitetura da Informação é sobre entender e transmitir, com eficiência e eficácia, a ideia geral do portal e seu contexto.

Como podemos ajudar?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para auxiliá-lo na melhor configuração de uma Arquitetura de Informação para o seu Portal Institucional que de fato atinja seu público alvo.

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Referências:
Rezende, E. e Bethancourt, L., Design de Informação: O que é e para quê serve?, acessado em 22/10/2017
Enciclopedia de Clasificaciones (2017). “Tipos de páginas web”. Recuperado de: http://www.tiposde.org/internet/172-tipos-de-paginas-web/, acessada em 10/10/2017
Goto, K. & Cotler, E., Web ReDesign | Workflow that Works, New Riders, 2001.
Krug, S., Don’t Make Me Think! – A common sense approach to web usability, New Riders/Circle.com Library, 2000.
Nielsen, J. e Tahir, M., Homepage usability, New Riders, 2001.
Nielsen, J., Designing Web Usability, New Riders, 1999.
Niederst, J., Web Design in a Nutshell, Second Edition, O’Reilly, 2001.
Oliveira, H.P., Arquitetura de Informação Pervasiva, 2015. e-book
Rosenfeld, L. e Morville, P., Information Architecture for the World Wide Web, OReilly, 1998.
Tipos de Portais, in WGabriel, “Tipos de Portais”, http://wgabriel.net/arquitetura-da-informacao-e-webwriting/tipos-de-portais-web/, acessada em 10/10/2017.
.
Bônus
Preste atenção pois vai precisar saber:
Pervasibidade: Capacidade ou tendência a propagar-se, infiltrar-se, difundir-se total ou inteiramente através de vários meios, canais, sistemas, tecnologia, etc.

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KODAK: uma história de derrocada ou de longevidade?

Por: Eliana Rezende

Era 19 de Janeiro de 2012.
A então centenária companhia fotográfica Eastman Kodak, de 135 anos de existência, por meio de um comunicado oficial anunciava:
“A companhia e suas subsidiárias nos EUA entram com pedido voluntário de ‘proteção’ ao Capítulo 11 da Lei de Falências dos Estados Unidos”.
Pioneira dos processos fotográficos a Kodak que tinha sede em Rochester (Nova York) entrava com pedido de concordata.

Você aperta o botão e nós fazemos o resto”.
Esse era o slogan daquela que foi a mais importante fábrica de câmeras e filmes do mundo até seu pedido de concordata.
A Kodak, criada por George Eastman em 1888, foi a primeira a apostar na popularização da fotografia por meio de um modelo de câmara portátil.

Crédito: Reprodução internet. Revista do Correio. Propaganda da Kodak do século 19.

Diante de tal acontecimento, a pergunta por todo o mundo e em todos os meios empresariais era:
Faltou à KODAK visão de futuro?

A pergunta era e é tão instigadora!
Explico:
Como uma historiadora, especialista em preservação e conservação de fotografias do século XIX e XX, não podia deixar de pensar em como uma empresa com uma longevidade imensa podia ser acusada de falta de visão de futuro.

Não poderia pensar em falta de visão para uma empresa que por mais de 100 anos mudou completamente a forma de registrar as imagens do mundo.
Uma empresa que por meio de sua simplificação tecnológica retirou dos ateliês fotográficos a tão sonhada possibilidade de retratar-se: de se expor e por meio de uma pose registrar uma imagem de si para a posteridade…que com um slogan tão simples como: “você aperta um botão e nós fazemos o resto”, mudou comportamentos, atitudes e representações.
Influenciou hábitos, culturas e transformou a publicidade, o jornalismo, as artes impressas – para ficar só em alguns exemplos – numa outra coisa totalmente diversa de tudo o que já havia existido até então.

Até a opção da escolha do nome teve essa preocupação: um som que soasse igual em todo o mundo… daí a palavra Kodak.

Com imagens que eram fixadas em emulsões em gelatina ou com clara de ovos em placas de vidro desde sua invenção (1839) a fotografia passou à rolos de filme com a invenção da KODAK, onde podiam se trocados e revelados transformados em objetos que materializavam imagens de momentos. Era sem dúvida, uma empresa com grande capacidade empreendedora aliada ao domínio de diferentes técnicas.

Em termos estratégicos do século XIX eles atenderam, em muito, os aspectos que tomavam em conta inovações e o perfil da sociedade que estava à sua volta. Souberam imprimir por meio de um dispositivo novas concepções e formas de relações sociais, culturais, comerciais.

A partir dos anos 1920, a KODAK passa a ter ampla publicidade nas revistas ilustradas mostrando as vantagens de uma máquina portátil, além de oferecer sugestões de situações cotidianas em que se podia utilizar a fotografia.

As pessoas eram incentivadas desde crianças a manipular as câmaras para delas obter as imagens de lembranças agradáveis. Os registros fotográficos eram trabalhados nas revistas ilustradas como sendo o meio para favorecer ou alimentar determinados valores: o lazer desfrutado em família, o carinho dos pais pelos filhos ou o registro de horas agradáveis ao lado de amigos e familiares.

Às vezes grandes passos passam desapercebidos no seu tempo: não encontraram terreno fértil para se desenvolver. Em outro tempo e sob outras condições tornam-se amplamente fecundos.
As artes, a literatura, a técnica, a medicina… entre outras áreas de saber que o digam!
Em um momento da história social e cultural, a Kodak representou o que havia de mais inovador e ambicioso.
Revolucionou padrões e criou um novo paradigma para a sociedade.

Vejo as organizações como seres que se constituem e dialogam com seu tempo. Mas como tudo tem seu momento de ápice e derrocada. Infelizmente uma empresa desse porte e com uma história tão consistente tenha se perdido exatamente no caminho que ela própria trilhou por mais de 100 anos e com muito sucesso, sem medos de inovar e de romper com antigas formas.

Ela não se sustentava sobre o nada, e inúmeras vezes mostrou capacidade de ler e atuar no mundo e na sociedade em que estava. Tinha como principal tradição o componente criativo e empreendedor. Era o seu DNA!

Alguns argumentarão que, só para resumir, estavam os tais prováveis erros capitais e como a empresa tentava solucioná-los. A listas enumerando os erros da empresa cresciam, bem como os debates sobre o mesmo. Dentre eles, escolho as palavras de Mércia Neves*. Além dela, você pode também ler outros com perspectivas semelhantes e que cito como as mais constantes:

1 – Ignorar as mudanças do mercado
Desde o início dos anos 90, o fim do filme fotográfico era visto como questão de tempo. A Kodak tentou negar essa realidade de todas as formas e manteve seu modelo de negócios inalterado. O que foi feito – Nos últimos cinco anos, a Kodak vem tentando reduzir sua dependência dos produtos de fotografia tradicional, um negócio que, apesar de decadente,ainda é o mais lucrativo da empresa
2. – Hesitar ao adotar novas tecnologias
A primeira câmera digital foi desenvolvida pela Kodak em 1976. A empresa, no entanto, levou 25 anos para levar esse negócio a sério, quando o mercado já estava tomado pelos concorrente. O que foi feito: A empresa deu uma forte guinada em direção às câmeras digitais e se tornou líder nos Estados Unidos em 2003. Hoje, esse é um negócio pouco promissor em razão das margens reduzidas
3. – Desprezar a inovação
A Kodak sempre foi pródiga nos gastos com pesquisas, o que resultou em uma vasta base de patentes. No entanto, a maioria das inovações ficava na gaveta ou era licenciada a terceiros. O que foi feito- Antigas inovações da empresa, como as telas de OLED e sistemas de impressão com jato de tinta, foram recuperadas, atualizadas e aplicadas no desenvolvimento de novos produtos
4. – Manter uma estrutura fossilizada
Uma das heranças negativas do fundador George Eastman foi uma cultura corporativa hierarquizada e lenta na tomada de decisões. Isso atrasou dramaticamente as mudanças na empresa. O que foi feito – Uma das prioridades da reestruturação foi injetar sangue novo na empresa e mudar a cultura corporativa. Hoje, 60% dos funcionários da Kodak têm menos de três anos de empresa.”
À luz desse cenário prever o futuro da Kodak já era uma “aposta de alto risco”.
É nítida aqui ma postura equivocada dos que estavam a frente no comando e que eram movidos por outras causas que no atual momento não conseguimos perceber bem porque”.

Exposto isso, creio mesmo é que análise mais completa se dará dentro de várias décadas quando se poderá olhar todo o percurso e verificar que foi que faltou…

Em História não julgamos contemporaneamente: deixamos o tempo trazer as respostas. Todo e qualquer julgamento é precipitado e não encontrará soluções que se sustentem. Serão apenas e tão somente pontos de vista. No imediatismo do momento poderemos fazer juízos de valor que simplesmente não serão cabíveis em algumas décadas. A História é antes de tudo feita por movimentos, e que em muitos casos ocorrem de forma quase imperceptível.
Será preciso pensar a empresa, o seu tempo e a cultura social… muito mais do que aspectos técnicos e organizacionais.

Como digo… olho sempre como humanista…

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*O post aqui chega a ser uma homenagem póstuma a uma grande profissional que foi interlocutora em vários debates dos quais eu participei ainda no inicio de minha atuação em Grupos de Discussão no LinkedIn, Mércia Neves.

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Esta é uma versão revista e atualizada de um post publicado originalmente no meu Blog, o Pensados a Tinta 
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Design de Informação para Portais Institucionais

Por Eliana Rezende e Lionel C. Bethancourt

“No começo, a internet era simples. Quando a conheci, nos começos de 1993 (trabalhando para a O’Reilly Global Network Navigator) havia somente um navegador para ver as páginas web, e ele funcionava exclusivamente na plataforma Unix. Existiam somente uns doze comandos que faziam tudo ser interessante. Desenhar uma página web era uma tarefa relativamente simples.
Não ficou simples por muito tempo.”

Niederst, Jennifer, “Web Design in a Nutshell”, 2001.

Aceitemos como fato, que toda informação moderna, ou é criada ou será digitalizada mais cedo ou mais tarde, para o espaço mais caro e inexistente da face da terra. Toda a informação histórica contida em documentos analógicos irá mudar para digital brevemente.

Quando lidamos com informação, muitas perguntas nos ocorrem, e as dúvidas subsequentes são de várias ordens.

Nosso mundo tecnológico, digitalizou-se de tal forma, que hoje a informação está em todo lugar, mas se não houver por parte de quem comunica uma intenção clara, tudo se perde, e ao final o resultado será apenas um grande ruído branco.

É preciso que se diga, que a informação é originada de dados, e que sem um objetivo, intenções bem definidas e disseminação eficiente, não resulta em praticamente nada.
Estas afirmações simples e prosaicas, nem sempre são entendidas, nem levadas a sério por aqueles que tratam a informação, ou a disponibilizam de alguma forma.

Há algumas décadas saímos dos registros e impressos analógicos para chegarmos a um mundo de bits, links e hiperlinks. E aqui os problemas começam.

Vejamos como as camadas de informação podem ser visualizadas no mundo WWW.

As Páginas da Internet, as webpages, são documentos, escritos basicamente, em código HTML (acrônimo para HyperText Markup Language). Tais documentos contêm, na sua forma mais simples: hipertextosbarras de navegação, imagens e links. Este código é exibido pelos navegadores de internet, browsers, em monitores de computador, telas de celulares e tablets. Apenas saiba que, dependendo de como ele seja mostrado, este código pode ser definido como estático ou dinâmico.

O que vemos quando abrimos um endereço web (URL), usando o famoso: www.etcetera-etcetera.com.br, é o resultado da somatória da arquitetura e do design de informação e a informação que o autor quer transmitir.
E a forma como ele deseja que você, o usuário/a, reaja àquelas informações.

Lembre que, a arquitetura define estrutura e o design define a forma da informação que vemos. Mesmo muito antes de saber que esse endereço específico existisse. Isto pode ser chamado de comunicação visual. No caso específico das páginas de internet, este é um processo que o autor, o desenvolvedor e o designer deveriam fazer juntos.
Um processo multidisciplinar!

Conteúdo, hierarquia e forma 
Um Portal de internet é, entre outras coisas, um conjunto de webpages criadas com o propósito específico de informar sobre um tema, produto ou serviço definido, separando-o dos seus parecidos ou semelhantes. Estas informações são, na maior parte das vezes, de propriedade/autoria do “dono do domínio”. Pois nada impede que existam páginas de avaliações ou opiniões, em blogs ou portais, além daquelas dos produtores ou donos da marca, serviço ou produto.

Na ER Consultoria, cada vez mais nos deparamos com os mesmos problemas ao analisar a criação e usabilidade de portais de clientes. Muitos se esquecem que, depois de lançados, os Portais precisam de cuidados constantes. Atualizações focais e atendimento aos clientes/usuários são diários ou, pelo menos, semanais. Alguém precisa se responsabilizar pelas atualizações e a intermediação com os clientes e usuários.

Veja os elementos que consegue identificar nos portais; arte, comunicação, administração, lógica, e por ai vai. Imagine fazer portais com somente um desses elementos.
Agora imagine fazer seu portal com um desses elementos faltando!
 
Independente de qual for a ferramenta utilizada para desenvolver e montar seu portal, ele deverá obedecer certos critérios para poder atingir seus objetivos.
São estes critérios que fazem a diferença.
Aqui entramos no universo o qual chamamos de design de informação

Em geral, as pessoas se esquecem que todo o conjunto de informações possui pelo menos duas partes.
Uma que é interna e que exige uma diagramação que favorecerá as conexões entre os dados, para que estes façam sentido e possam ser lidos e interpretados por um público alvo.
E outra externa, o público-alvo ao qual as informações se dirigem e que procuram de forma muito diferente dos padrões do programador.

É esta linha tênue que deixa de ser respeitada e que, apesar de transcorridas tantas décadas, encontramos sites e portais que nada nos dizem, vazios de forma e conteúdo, recheados apenas e tão somente de pequenas pirotecnias de programação e cores.

Pode ocorrer também outra situação ainda pior para o design de informação: ainda que a informação exista, que haja competência técnica por parte de quem alimenta os bancos de dados, e que sejam ricos em possibilidades, o mau design simplesmente tornará tudo submerso e opaco.
A página torna-se estéril, desinteressante e muda.

São páginas que precisam de tutoriais, manuais, para poder ser utilizadas, num universo visual, econômico e restrito. Um universo onde as imagens valem mais que mil palavras, se não gostamos das imagens, não leremos nenhuma delas.

Conteúdo
Aqui é o ponto nevrálgico e a razão de ser de seu site ou Portal. Se você não sabe exatamente o que quer, como quer, para quem e porque, deixe para outra ocasião! Neste ponto, insistimos muito que é fundamental grandes conversas para alinhar objetivos.
Aqui sempre fazemos o cliente entender o que de fato precisa fazer para que suas metas sejam alcançadas.

Consideramos que é muito importante que, se seu site ou portal for de conteúdo, consultorias e afins, ele precisa ter solidez, consistência. Por outro lado, se você está oferecendo um produto ou serviço, não confunda seu cliente gerando voltas imensas e desnecessárias.

Tudo o que estiver no seu site ou portal tem que fazer sentido e dirigir-se ao seu público alvo de forma clara, sem rodeios.

A Informação precisa ser visualmente agradável, ao ponto de incentivar a navegação e consequentes descobertas quer a usuários comuns, quer a pesquisadores ou técnicos. O que significa dizer, que um único template usado para diferentes portais ou sites não oferecem os requisitos acima colocados.

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Entre em contato pela nossa página ou pelo e-mail para assessoria técnica na construção do seu Portal Corporativo de acordo com suas demandas ou da sua instituição. E com o benefício de poder escolher se ela será em português, inglês ou espanhol.

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Referências

Tipos de Portais, in WGabriel, “Tipos de Portais”, http://wgabriel.net/arquitetura-da-informacao-e-webwriting/tipos-de-portais-web/, acessada em 10/10/2017.
Enciclopedia de Clasificaciones (2017). “Tipos de páginas web”. Recuperado de: http://www.tiposde.org/internet/172-tipos-de-paginas-web/, acessada em 10/10/2017.
Rosenfeld, L. e Morville, P., Information Architecture for the World Wide Web, OReilly, 1998.
Nielsen, J. e Tahir, M., Homepage usability, New Riders, 2001.
Nielsen, J., Designing Web Usability, New Riders, 1999.
Niederst, J., Web Design in a Nutshell, Second Edition, O’Reilly, 2001.
Design de Informação: O que é e para quê serve?, acessado em 22/10/2017
e mais outros…

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Encontro Nacional de Memoriais do Ministério Público

Por: Eliana Rezende

Entre os dias 27 e 28 de julho de 2017, na Sede do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) ocorreu o VIII Encontro Nacional de Memoriais do Ministério Público com o objetivo de compartilhar informações e trocar experiências entre profissionais e instituições ligados às áreas de documentação e memória.

O evento procurou apresentar práticas e experiências atuais desenvolvidas em diferentes instituições e que interessam diretamente à centros de memória. Na ocasião ocorreram palestras proferidas por profissionais reconhecidos em diferentes áreas de conhecimento, dentre os quais tive a honra de ser a responsável pela Conferência de Abertura.

A Conferência foi intitulada: “Centros de Documentação e Memória: Espaços de Preservação e Salvaguarda de Patrimônio Documental e Identidade Institucional“, e que pode ser assistida em sua integra abaixo, tocou em aspectos práticos e metodológicos relacionados à Centros de Documentação e Memória, além de suas relações com a transparência administrativa, gestão documental, organização e acesso à informação com vistas à produção de conhecimento.

Confira a conferência na íntegra clicando na imagem abaixo:

A ER Consultoria pode ajudá-lo em Projetos para Memória Institucional ou Implantação de Centros de Documentação.

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