Todos os posts de Eliana Rezende Bethancourt

Trílogo (dos amantes e da poetisa)

Por: Eliana Rezende Bethancourt e Lionel Bethancourt

E, porque te amo muito.

A Poetisa:
“Ficamos assim: você joga as queixas no telhado, eu ponho as manias de lado, você lava a escadaria, eu rego o jardim.
Podemos varrer juntos as nódoas secas aderentes ao passado. Se você se habilita, eu me disponho, num desafio à desdita.
Você acende a luz, eu desempeno o sonho, enquanto você ensaia o passo, eu troco a fita. Na mesa torta, a toalha colorida.
O resto é fácil: basta mandar flores ao futuro, derrubar o muro e acreditar na vida.”
(Flora Figueiredo)

O Amante:

Te amo muito, sabes disso?
Se não sabes, que seja nosso segredo, nosso melhor segredo. O (segredo) que nos mantêm quentes nos dias frios e satisfeitos nos dias quentes.
Que nos faça abrir os olhos de manhã num afã para ver a mesma luz que ilumina o outro. Que nos faz olhar o céu, e trocar um beijo escondido, ao ver o mesmo azul que nos cobre a ambos.
Que mesmo à distância nos permita a surpresa, o calor e o perfume de um abraço longo, e apertado e sem motivo. E sentir o milagre das flores rescendendo escondido atrás de cada curva do teu corpo. Enquanto o thai dos teus universos me oferece égide e gládio contra a tristeza da tua ausência.
Sabes que nunca tinha pensado na minha coleção de imagens como no “tapete voador” que são? Me levam confortável, num piscar do olhos, aos tempos que quero.
Eis porque te quero tanto.

A Amada:

Quero sim caminhar contigo sobre pétalas e folhas caídas no jardim e sob a sombra de uma árvore encontrar o frescor e o descanso para um abraço apertado e um beijo molhado… um toque suave e carinho dobrado…
Nada sob tapetes e tudo sob lençóis: corpos quentes e sinuosos num encontro de dança e afagos… Janelas serradas (cortinas livres e fechadas) e portas escancaradas para que o amor passeie pela casa, sem censuras, sem travas ou temores.
Que os tons das cores sejam também tons de sorrisos, de pinturas de sonhos feitos à quatro mãos rabiscados por corpos e impressos em vida pulsando.
E que os frutos colhidos sejam doces e saborosos, experimentados por lábios que compartilham palavras, afetos, juras… Que os projetos sejam muitos e que cada nuvem tenha seu laço de amor para enfeitar os sonhos de uma vida partilhada e compartilhada.
A mim basta…. e contigo ao lado não creio que me falte coisa alguma!

E porque te amo muito…

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Post publicado orginalmente no meu Blog, o Pensados a Tinta
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Trincheira das Palavras

Escrito e lido por: Eliana Rezende Bethancourt

Desafiam, instigam, maquiam… e, certamente provocam verdadeiras plásticas em sentidos, coisas, objetivos e relações.
Palavras que carregavam seu sentido e essência veem-se alteradas e/ou modificadas em uma forma de sequestro de significados, numa assepsia acéfala e às vezes, perversa .

A provocação aqui está em exatamente mostrar o quanto palavras foram extirpados dos nossos dicionários, e passaram a sofrer um processo de assepsia pela escrita e pela fala.
Termos, por exemplo, como velhice e morte passam a sofrer um processo de domesticação e afastamento como sendo algo abjeto, mesmo sendo parte de algo natural e que de fato fecha um ciclo do que integra a chamada existência. Em alguns casos, se transformam em termos tabus, considerados inapropriados à diferentes ocasiões.

Defendo o uso de tais palavras, livre de trincheiras, plásticas, maquiagens!

Por isso, em relação a estes termos como envelhecimento e morte quero tudo o que delas fazem parte. Se viver e envelhecer significar ter as marcas que o tempo me fez (quer na face, quer na alma), a experiência acumulada pela velhice dos meus anos e porque não dizer que quero a Boa Morte… no sentido da dignidade do encontro com um fim, porque não as usar?
Que eu possa ter a dignidade e naturalidade de viver isso tudo sem intermediários em seu momento final: tubos, máquinas ou mesmo palavras que roubem o sentido daquilo que de fato se vive.
Pois morrer e envelhecer são parte, negar isso é contradizer o que é natural.

Nossa sociedade está se habituando a mudar nomes como uma interferência asséptica, esquecendo-se que, envelhecer e morrer, possuem seus sentidos e significados, mudar as palavras não tira o sentido que eles têm.

Por isso, sou adepta de me chamarem como a vida assim quis. E se estiver velha, que me chamem de velha!

Talvez uma das formas que as usam para não enfrentar posicionamentos é exatamente nominar as coisas de outras formas. O enfrentamento não ocorre e as trincheiras das palavras servem apenas para dar sentidos outros ao que verdadeiramente se sente.

A sociedade que persegue a beleza das formas e a juventude infinita, se esquece de que o tempo é sinônimo do acúmulo e que para a maioria dos casos deveriam tornar as pessoas melhores, mais tolerantes e com uma capacidade de interação maior, sem agressividades ou desrespeitos.

Infelizmente o tempo não faz isso a todos e ferir pelas palavras passa a ser um meio subalterno de tentar chamar atenção para si. Donde chamar velho será xingamento. Forma amiudada de querer ser superior, pois mais jovem. Este recurso servirá apenas para pôr luz sobre as dificuldades de lidar consigo próprio e com o outro, nas relações pessoais, sociais, interpessoais e profissionais.

A velhice e a morte são faces da mesma moeda chamada vida e tê-las conosco é sinal de que entendemos o que todo um ciclo significou. É a moeda de troca que nos dá o simples direito de existir.

Certa vez um integrante de Grupo, o Professor Emicles Manguinho Filho, me disse algo lindo: que na Bahia (mais especificamente no interior), comunga-se com essa forma de pensar, porém, os poetas interioranos, na sua simplicidade, usam como sinônimo para o idoso do texto o termo “veiança“.
Achei absurdamente fantástico isso!
Longe de ser uma maquiagem que tenta trazer uma plástica de sentido, “veiança“,  ao contrário é uma bela palavra, em especial se tomarmos o seu sentido de produção cultural. Algumas palavras funcionam como roupagem e adorno para o sentido do que queremos transmitir.

Assim, “veiança” é uma delícia de fato!

Mas no mundo corporativo não é bem assim.

É comum o uso de palavras que chegam emprestadas de outras línguas, que camuflam e sofisticam fazeres sem conteúdo: a falácia da igualdade de programas de inclusão mal conduzidos, que acabam por segregar os diferentes; a responsabilidade social reduzida à uma ação assistencialista à comunidades, passando longe do ideal de desenvolvimento; o discurso da qualidade de vida no trabalho, enquanto se extrai sangue diretamente da jugular dos executivos, consultores e funcionários… são contradições que escancaram o que de fato se esconde atrás de trincheiras de palavras usadas apenas como camuflagem.

Nestes espaços, seus velhos são chamados de sêniors e rapidamente o mercado tenta substituir seus cabelos brancos por Júniors, recém chegados de seus MBAs. 
Velhos e jovens deveriam ser complementares, imprescindíveis uns aos outros na vida e nas organizações. E não vale dizer, por exemplo, que os velhos são a experiência enquanto os jovens trazem a inovação. Gerir capital Intelectual nas organizações fará com que haja simbiose e valor destas relações. Sem preconceitos.

Para este caso, estamos diante de fronteiras invisíveis criadas e tecidas nos espaços sociais, culturais e até profissionais. Os rótulos procuram enquadrar, segregar, e em vários casos, funcionam para manter ao longe o que é considerado indesejado ou inadequado aos objetivos de grupos, corporações ou indivíduos.
Numa cultura que se sustenta por consumo, substituição e juventude a qualquer preço, ser velho ganha o sentido de ultrapassado e passível de receber uma plástica de rótulos e funções.

Talvez por isso, ocorra a substituição do “sênior” por um “jovem talento” (palavras que tentam sanear espaços corporativos, dando-lhe um verniz feito de novos termos para velhos nomes, funções ou atribuições). Sênior e Júnior não podem ser tomados como antônimo um do outro! E cada dia mais Capital Intelectual é simplesmente posto fora do mercado de trabalho para ser substituído por “sangue novo”. Escrevi largamente sobre isso no artigo ‘Juniorização e perda de Capital Intelectual nas Organizações

Mas há muito mais.

A reflexão neste sentido é fundamental e nos deve fazer pensar. É fato que não mudamos uma sociedade inteira da noite para o dia, mas criar zonas de crítica e percepção é o mínimo que se deve esperar de profissionais atuantes e preocupados com a sua inserção, e a de outros.

Há também uma outra abordagem.

Há um componente que é a dimensão de autorrepresentação e de como as pessoas querem ser vistas.
As pessoas tendem a pôr ressalvas e não gostar que lhe chamem velho. Toma-se como uma forma menor de adjetivar, já que convivemos numa sociedade em que a tirania do sempre novo se impõe como necessidade de aceitação.
Isso de fato preocupa.

Vejo a necessidade de (re)significação no sentido de utilização de um termo que não merece “saneamento ou assepsia”, merecia ter seu sentido inicial. O que ocorre é que essa (re)significação deve partir do individuo, de se assumir como tal, em primeiríssimo lugar e, sem culpa ou desculpas utilizar socialmente o termo aos demais quando for o caso.
Mas sem dúvida, a escrita para consumo social coloca dia-a-dia o emprego das palavras, seus significados e apropriações culturais e sociais.
O escrito nunca é igual ao lido, e por ter a interpretação do outro pode gerar ruídos.

Me inquietam relações, sejam elas sociais, culturais, profissionais e até as midiáticas!
Para além do humano dou especial atenção a escrita e as muitas manifestações possíveis de comunicar pensamentos, ideias e as trocas, em especial as simbólicas: já que nossas moedas de troca e valor passam essencialmente pelo pensamento partilhado e compartilhado.

Por esta minha postura, já me disseram que isso seria conformismo: me render à velhice e à morte.
Mas não é conformismo. É simplesmente considerar que é parte de um grande ciclo. E que como tais merecem ter começo, meio e fim.

Não aceitá-las pode gerar em alguns certo amargor e isso não é bom nem para o individuo, nem para os que o cercam. Se tomarmos como parte, a velhice, passa a ser libertadora.
Aprendemos que somos os nossos melhores e mais presentes companheiros e que quando todos se forem, nós estaremos ali habitando nossa alma e povoando nossos mundos que existem por meio de nossos pensamentos.
Nos libertamos do compromisso de “o que você vai ser quando crescer?”. Nos libertamos da ansiedade de não saber o que resultará de nossas vidas, os amores que teremos, a vida que viveremos. Já fizemos e trilhamos o caminho da nossa história. Não há projeções inalcançáveis adiante. Haverá sim, possibilidades concretas a partir do autoconhecimento adquirido com a experiência dos anos. Não nos impomos tarefas que sabemos, não seremos capazes de realizar. E descobrimos que o maior de todos os luxos é o Tempo que temos para dedicar a nós e ao que aprendemos a gostar no decurso dos anos. As cifras não fazem sentido e o que fica de bom é tudo o que foi plenamente vivido, e não necessariamente o que nos foi remunerado.

É bom saber que o Tempo pode ser um grande aliado da vida que temos e da existência que partilhamos. E quiçá das rugas que teremos. Nesta linha de aceitação e compreensão que a vida nos marca e pinta da forma que ela quer, fiz comigo mesma o exercício de assumir os tons que a vida me pintou. E assim ganhei nos primeiros meses de 2021 em período pandêmico os tons prateados que contam um pouco da história construída e vivida até aqui. É a escrita do Tempo deixando seus traços no meu corpo: é a Escrita do Tempo sem trincheiras, máscaras ou disfarces.

A antropóloga Miriam Goldemberg, em suas pesquisas sobre o comportamento humano, colheu que o mais importante seria a qualidade das rugas e não a sua quantidade. Disse ela que o riso e o sorriso continuado, provoca rugas, porém, rugas com orientação para cima; diferentes das rugas convencionais.

Acho que só se pode brincar assim os que tem assumidos os seus anos! Aqueles que têm lá suas dificuldades tentam maquiar, “botocar”…esconder… Quem já não viu a exposição que chega a ser patética de pessoas que querem ter uma idade que não têm: pintam o cabelo, os cortam como quando tinham 20 anos, ou pior: usam as roupas desse tempo e ainda insistem com a sessão juvenil das lojas de departamento!?
Saber rir das próprias limitações é também se ver como velho, mas nem por isso como algo a ser descartado sem importância! Se dê valor e se respeite não como algo a ser descartado, mas como alguém pleno, inteiro, que basta a si próprio e que parou de estar preocupado com o que os outros pensam sobre você. Lembre-se que todas a vidas que viveu estão lá, no fundo dos teus olhos e podem ser alcançados com as memórias que te pertencem e que foram guardadas para tais momentos.

Uma vez me disseram algo que só agora entendo: “Eliana, minha cabeça pensa como quando eu tinha 20 anos… meu corpo é que tem 70!”. Inúmeras vezes me olho no espelho e me lembro exatamente do que eu pensava aos 5 anos de idade, quando minha altura só permitia que eu visse meus olhos refletidos no espelho da cômoda do quarto da minha mãe. Acho que a mente não envelhece… o corpo é que não entende bem e segue acumulando os anos!

Mas se assim é, porque então mudar seus nomes? Usemos as palavras para significar o que precisam significar. Não as usemos como trincheiras para esconder ou maquiar.

Afinal, quem precisa de plástica para as palavras?

*Adento Pós-Pandemia

Quando este post foi escrito em sua primeira versão a pandemia por COVID19 era apenas uma ficção científica.
Lido no contexto de pós pandemia o texto precisa ser redimensionado.
A morte nos chegou de forma abrupta e retirou de muitos o direito ao que chamei acima de “Boa Morte” (aquela que ocorre de forma a respeitar a naturalidade deste acontecimento). Muitos a encontram sem os intermediários necessários (medicamentos, respiradores) e não tiveram escolha ou qualquer possibilidade de paz no momento de partir. Famílias destroçadas não puderam fazer uma despedida como seria de se esperar e os lutos se arrastam em intermináveis dores.
Por isso, é preciso compreender o texto acima num contexto de normalidade e escolhas. Algo muito diferente de um momento pandêmico onde a morte chega breve, abrupta, sem escolhas e não como parte de um ciclo natural.

* *Post atualizado de publicação feita originalmente no meu Blog, o Pensados a Tinta.
Se desejar Ouça eu ler para você (escolha a opção abrir com: Music Player for Google Drive) da versão original.

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A reprodução não autorizada desta publicação bem como apropriação intelectual, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais. (Lei nº 9.610/1998)

De Leitores e Leituras

Por: Eliana Rezende Bethancourt

De novo sobre leitores e leituras. Instigando todos a pensar um pouco…

Em “Utopia de um homem que está cansado“, Borges descreve o encontro do narrador com um homem de quatro séculos, que vive no futuro – ‘um homem vestido de cinza’, cor que envolve os mensageiros da estranheza em vários contos do escritor argentino – e que faz assustadoras revelações. Uma delas é a extinção da imprensa, “um dos piores males do homem, já que tendia multiplicar até a vertigem textos desnecessários”. (BORGES)

À revelação do desaparecimento da imprensa no mundo do futuro, o narrador responde com um longo discurso:

“Em meu curioso ontem (…) prevalecia a superstição que entre cada tarde e cada manhã acontecem fatos que é uma vergonha ignorar. O planeta estava povoado de espectros coletivos, o Canadá, o Brasil, o Congo Suíço e o Mercado Comum. Quase ninguém sabia a história anterior desses entes platônicos, mas sim os mais ínfimos pormenores do último congresso de pedagogos, a iminente ruptura de relações e as mensagens que os presidentes mandavam, elaboradas pelo secretário do secretário com a prudente imprecisão de que era própria do gênero.
Tudo se lia para o esquecimento, porque em poucas horas o apagariam outras trivialidades. (…)
As imagens e a letra impressa eram mais reais do que as coisas. Só o publicado era verdadeiro”
. (BORGES)

A verdade é que neste tempo distante e assustador de Borges extinguiram-se não apenas os jornais, mas também os museus e as bibliotecas. Inexistiam monumentos, feriados ou espaços de rememoração; inexistiam cidades. Dito de outra forma: todos os espaços destinados a cultura, convivência e memória foram extintos, restando apenas uma grande ode ao esquecimento, nada era feito para lembrar ou fazer recordar.

Tal como ocorre aqui no texto de Borges, a leitura parece ser feita sob muitas circunstâncias, para o esquecimento.
Gostaria de levá-los a repensar a literatura e suas relações com seus leitores e o contexto de produção de suas obras.

Isso porque a leitura sempre vai além do texto. É preciso tomar em conta o leitor, o escritor, o texto, a época em que o texto é produzido, bem como o tempo em que o mesmo é lido. Cada texto assim pode ser sempre recriado, reinventado a cada vez que é reinterpretado e/ou assimilado.
Mas vejo que cada vez mais essa forma de ler parece ser algo bem além do que nossa civilização seja capaz de fazer. Distraídos, dispersos e na maioria das vezes ávidos apenas pelo novo que chega, deixa essa possibilidade de leitura para trás.

Para este caso, a leitura tal como a conhecíamos no mundo analógico, talvez esteja encontrando o seu final. O déficit de atenção e a indisposição pela verticalização inviabilizam este tipo de leitura. Refiro-me àquela leitura quase que feita como degustação. Pausada em cada trecho, parágrafo ou ideia para melhor assimilá-la. Flutuar com os pensamentos por entre as linhas e pelos não ditos. Divagar por entre trechos, sensações ou mesmo silabas. Encontrar as brechas que rementem a outros encontros e pensamentos.
Percorrer uma obra é como visitar uma cidadela muralhada e oferece diferentes roteiros e percursos. Oferece experiências diversas para cada um que se aventura sobre ela. O bom escritor consegue caminhar com muitos tipos de leitores. E assim a mágica entre obra, leitores e leituras se dá.

Com as leituras feitas em tempos de textos hiperlinkados ou com um deficit de atenção e interesse abaixo dos razoáveis, aqueles que se dedicam à escrita terão que possuir uma sensibilidade ainda maior. Se pretendem alcançar seus leitores, deverão estar atentos ao modos que estes leem.

E assim, a literatura (seja ela de ficção ou não-ficção) e provavelmente, seus autores terão que tomar esse dado para além dos suportes e grau de interação possível e provável. O leitor sempre em fuga torna-se um “ser que quica”: pula de um lugar ao outro, com mentes dispersas, dedos ávidos e concentração ligada num modo mínimo.
E-books, por exemplo já conseguem determinar o tempo de concentração por página, velocidade de leitura por página e obra, o que ajuda a determinar o quanto um leitor de fato se detém sobre o que lê. Agora determinar o grau de proveito dos mesmos continua uma incógnita. O escritor nunca saberá se suas tintas de fato alcançaram seus leitores ou se simplesmente plainaram sem interagir de fato com o escrito.
Tempos novos, interessantes e de muitos desafios.

Crédito: Orelha do Livro

Felizmente acho que muito poucos ainda põem em questão o término do livro.
Há algo aqui que envolve a qualidade de leitores. O bom leitor é arguto, perspicaz e caminha com o escritor. Busca todo o tempo interlocução de ideias e conteúdo. E talvez aqui exista a maior fragilidade a ser vencida. O verdadeiro leitor é antes de tudo um ser crítico. Não no sentido pejorativo de gostar ou não das coisas, mas no sentido de saber ser interlocutor fazendo as perguntas adequadas ao lido e as transpondo para seu universo de atuação. É assim que se constrói repertório: ler; questionar; reformular e aplicar. Empoderar-se do lido e transformá-lo em seu.

Com os tempos de superficialidade de leituras temos cada vez mais pessoas apenas reproduzindo o lido, e é neste sentido que quero instigar os leitores a irem além do escrito e propor novos caminhos para antigos questionamentos. É fundamental que os que desejam ser verdadeiros leitores aprendam a de fato interagir com o autor: dialogar por meio de uma leitura eficaz.
Em outro artigo procurei mostrar como “Ler de forma produtiva“. Nele aponto diferentes formas de transformar sua leitura em algo verdadeiramente proveitoso.
Experimente!

Procurando ser bastante objetiva, nossos tempos oferecem uma complexidade e diversidade sobre o perfil de leitores e leituras.
Entenda:

Conseguimos ter vários tipos de leitores, talvez o primeiro deles seria os leitores analógicos: aqueles mais contemplativos de leituras lentas e longas, nascidos e crescidos num tempo de leituras e produção textual totalmente analógica. Este tipo de leitor se relaciona com a leitura de uma forma totalmente diferente dos chamados nato-digitais. Em geral, preferem publicações em formato físico e tem nos livros objetos pessoais de companhia e vida. Transitam com eles enquanto os lê e destinam locais especiais para que sejam armazenados, lidos, contemplados ou apenas vistos. Seus livros ganham espaços em bibliotecas, mesas de centros e escrivaninhas onde surgem não apenas como objeto para leitura, mas também são usados decoração, ou mesmo como forma de ostentação de status quo ou erudição. Em muitos casos são de fato, manipulados e usados como referência. Tê-los em mãos oferecem aos seus leitores uma experiência tátil que chega pela capa e tipos de encadernação, formato, gramatura de papel e qualidade do papel, dos tipos de letras impressas e das ilustrações usadas. Possuem um odor próprio: onde celulose e tintas se misturam e trazem um odor que lhe são próprios. Oferecem aos seus possuidores o prazer das sensações.

A seguir temos um outro tipo de leitor e que prefiro chamá-los leitores híbridos: não são nato-digitais, mas são intermediários entre os tempos analógicos e os digitais. Conseguiram assimilar as duas maneiras de produzir e ler textos, e de acordo com seu interesse vão de um à outro sem grandes dificuldades. De certa forma ainda interagem com os textos digitais da mesma forma que interagem com os textos analógicos, ou seja, leem de forma mais linear e atenta, alguns chegam a optar por concluir uma leitura para seguir por outra e assim sucessivamente. Ainda apreciam os livros em formato analógico, mas em vários casos optam pela praticidade de um e-book e começam a investir em bibliotecas mais digitais pela suposta economia de espaços e acessos. Será possível que este leitor híbrido tenha seus aparelhos digitais preferidos para leitura tanto quanto o leitor analógico tem seus livros preferidos.

Mas há o leitor que é ubíquo (aqui usando uma expressão de Santaella, 2013) na sua forma de ser: interage com suas leituras ao mesmo tempo que interage com o ambiente e com outros aparelhos. Usa fartamente possibilidades não lineares de leitura e segue indo de um lugar ao outro. Clica e pula por várias telas, meios, textos, imagens, sons. Concentra-se em ter os aparelhos mais recentes e provavelmente terão várias abas e aparelhos abertos em temas diversos. Em muitos casos, interagem ao mesmo tempo com o ambiente em que estão inseridos e os veremos conduzindo e ouvindo um podcast ou audio-livro, ou estarão usando mais do que um aparelho para funções diversas, incluindo-se até o uso de mensagens e telefonemas.
Para este perfil os textos não podem ser longos demais sob o risco e pena de serem abandonados sem muitas cerimônias.
A velocidade de rolagem das telas digitais fará quem em geral leiam apenas os primeiro parágrafos e rapidamente se dirijam para as linhas finais. Não aguarde deste tipo de leitor uma fidelidade canina ou fixação em cada palavra ou pensamento desenvolvido.

Se de um lado temos a possibilidade de ter um número maior de alfabetizados como em nenhum outro momento da história, por outro lado estes encontram-se dispersos e desatentos. A leitura deixou de ser algo restrito a muito poucos, mas a contrapartida é ter leitores mais dispersos e desatentos.

O que fica de fato é que cada vez mais teremos tipos de leituras para leitores diversos, e caberá aos que escrevem ter sempre isso em mente para conseguir encontrar-se com seus leitores.

Referências:
BORGES, Jorge Luis. “Utopia de um homem que está cansado
Danziger, Leila – O Jornal e o Esquecimento
Orelha de Livro
MARTINS, Vagner Basqueroto. “E-books em tablets: um estudo sobre a opinião de leitores adultos acerca de sua experiência de uso”. Curitiba, 2016 – Dissertação de Mestrado em Design, UFPR
SANTAELLA, L. Repercussões na Cultura e na Educação. São Paulo: Editora Paulus, 2013.

* Post atualizado de publicação feita originalmente no meu Blog, o Pensados a Tinta

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Linkedin primeiros passos: como ter e saber usar

Por: Eliana Rezende Bethancourt

O mundo pós surgimento de pandemia apresentou enormes dificuldades em relação ao mundo do trabalho e emprego. Milhões pelo mundo perderam seus empregos e o Linkedin surge para muitos como uma espécie de janela para oportunidade. Uns, para conseguir uma recolocação, outros por força de circunstâncias ou escolhas pessoais um caminho para empreender. Entretanto, como ocorre em todos os lugares que são novos para seu usuário as dúvidas vão se avolumando, fazendo com que muitos se sintam simplesmente perdidos.

Imagino que o começo de tudo é ter claro em primeiro lugar, o que de fato você deseja. Ou seja, quer estabelecer uma rede de contatos para Networking de longo prazo, eventuais parcerias, ou aprofundamento em temas e debates de sua área de competência? Ou quer apenas ver se encontra uma oportunidade e disparar alguns currículos?

O Linkedin, como toda e qualquer forma de relacionamento, pode ir melhorando com o tempo. Você vai conhecendo pessoas e estas a você, vai vincando sua “marca pessoal” e ganhando com isso credibilidade. A pressa nesta circunstância é prejudicial e não o levará a lugar algum. Por isso, olhe a ferramenta como um campo de plantio. Se não cuidar e cultivar não conseguirá resultados. E estes nunca virão em tempo instantâneo.

Por isso, algumas dicas:

Tente não ser aquela pessoa que parece, a quem vê seu currículo ou sua postagem, que é mais um desesperado pedindo peloamordeDeus uma vaga. Ou daqueles que mascateiam o tempo todo: “vendem” de tudo, ou simplesmente são repetitivos e insistentes demais com postagens que, às vezes não possuem o apelo ou interesse do público alvo. É preciso que sua experiência e autoconhecimento o ajudem a entender quando precisa mudar a direção do quê ou como propõe as coisas.

Neste artigo procurei me concentrar em diferentes pontos que o usuário da plataforma precisa ter em mente ao preencher seu perfil. O conjunto destas dicas de boas maneiras, ações e comportamentos que auxiliam num bom relacionamento em rede denominamos de Netiqueta, e que são regras de etiqueta aplicadas à redes sociais. O Linkedin também possui as suas. Portanto, vamos conhecer algumas destas regras de Netiqueta aplicadas ao Linkedin.

Está começando agora, é recém formado, não sabe como preencher e o que colocar em seu perfil?
Então está na hora de ler este artigo:

Vamos a isso?

Como dar visibilidade ao seu perfil?

  1. É fundamental preencher seu perfil por completo!

Em geral, as pessoas por pressa ou mesmo por não saber como, são sintéticas demais e deixam muitos campos e áreas sem preenchimento. Vejam, a plataforma oferece muitos campos e muita facilidade para o seu preenchimento. Permite inclusive anexar documentos em formato Word, PDF, apresentações, Slideshare dentre outros recursos que auxiliam a defini-lo como profissional e sua área de atuação. Explore isto!

É necessário lembrar-se que você está numa rede profissional e precisa mostrar o que pensa, como pensa e como atua. Por isso, forneça o máximo de pistas neste sentido.

Ao iniciar o preenchimento de seu perfil decida-se de uma vez por todas se o fará em português ou outro idioma. Isto é muito importante. Ás vezes a pessoa imagina que colocar uma descrição em inglês, por exemplo, e o restante em português é interessante. Sou da opinião que você deve redigir tudo em excelente ortografia e coerência. Se não dominar completamente outro idioma escreva em bom português. É melhor um bom português do que uma outra língua fruto de tradutor de Google. Também escolha uma idioma só para escrever. É muito confuso ver trechos num idioma e trechos em outro. Se não pretende sair do país escreva em português fluente e correto, e ponto! Não complica.

O preenchimento deve também levar em conta uma regra universal que é a de NÃO utilizar as letras em caixa alta. Usá-las em rede significa que você está gritando. Portanto, não use sob nenhuma hipótese a letra em caixa alta, mesmo que seja apenas para seu nome ou profissão.

Ao preencher seu perfil tome em conta palavras-chave que dão a exata dimensão da sua área de atuação profissional. Certifique-se de que elas favoreçam sua localização em um mecanismo de busca. Pense em hastags que possa usar para te identificar.
Evite hifens, traços, pontos e vírgulas, desenhinhos figurinhas divertidas ou outros sinais que provavelmente confundirão tais mecanismos de busca. NUNCA utilize estes sinais gráficos para compor seu nome (quer no princípio, quer no final). Usar isso significará que não será encontrado de forma alguma em uma busca por nome ou atuação feita pelo algoritmo. É preciso que você pense em maneiras de facilitar que recrutadores ou clientes te encontrem rapidamente, e por isso escolher as palavras certas é tão importante.

E reforço: em toda esta construção do seu perfil, explore as palavras-chave que ajudam a te identificar.
O Linkedin possui algoritmos que adoram encontrar termos que ele usa. Explore isso!
Não sabe como fazer? Faça buscas por perfis semelhantes ao teu e descubra as que melhor te definem.

Ao preencher os campos como: Experiência ou Formação Acadêmica, forneça mais do que o nome da instituição.

No campo Experiência, procure sintetizar qual foi sua função e os trabalhos que desenvolveu. Procure pensar que este é o momento em que você falará sobre como transita na sua área de atuação e de que forma contribui para tornar sua experiência boa não apenas para você, mas eventualmente para uma instituição e para seus colegas de trabalho. Lembre-se: “desempregado” não é ocupação ou profissão, portanto, nunca coloque isso como sua identificação. Utilize sempre ou sua última função, ou o termo que seja mais adequado caso pense em mudar de área de atuação. Aquela palavrinha que você ouviu por aí que virou modo por um um tempo: “em transição de carreira”, não esclarece nada. Ninguém sabe onde você estava e para onde quer ir. Seja claro e objetivo e diga à saída o nome da função ou ocupação que pretende. Sem voltas, por favor. Direto ao ponto.

No campo Formação Acadêmica, busque colocar além do nome da instituição a formação obtida, cursos complementares e eventualmente linhas e programas escolhidos (em especial nos casos de Especialização, Mestrado e Doutorado). Se você é recém formado ou sem experiência use este campo para tentar mostrar de que forma sua escolha intelectual poderá lhe ajudar a atuar como profissional. Explore isso e deixe claro o que aprendeu em sua formação. Na profissão pode escrever: “professor em formação”, “escritor em lapidação”, “Arquiteto em construção, por exemplo. Seja criativo!

Ao mesmo tempo, não misture as duas coisas (formação acadêmica e experiência):

Ao colocar o nome de sua instituição não misture à sua atuação. Sua Faculdade não é o seu Emprego. Explico: às vezes, a pessoa coloca “professor” num campo e em seguida coloca o nome da instituição que cursou sua faculdade, mas ela não que deu aula ali. É importante que você deixe claro onde estudou e que o separe de sua área de atuação.
Ou pior: há pessoas que colocam o nome da instituição e não dizem que curso fizeram! SEMPRE indiquem isso, e a seguir, se considerar necessário coloque a área que atua, já que muitos não atuam no curso que fizeram. Por isso, coloque cada coisa em seu devido lugar. Se você não se preocupar com isso seu perfil mostrará a confusão em que você se encontra e a dificuldade que tem entre separar as coisas.
Seja organizado.

Ainda falando de instituições: não use apenas siglas. As siglas fazem sentido para quem compartilha um mesmo ambiente, cidade ou estado. Em outro lugar elas não farão nenhum sentido. O Linkedin é uma plataforma que permite que seu perfil seja visto no mundo todo. Por isso, escreva o nome da instituição completo, seguido pela sigla e a cidade e Estado a que pertencem. Pode parecer bobagem, mas as pessoas não precisam saber o que suas siglas significam.

Outra situação a ser evitada: colocar um currículo qualquer ou mesmo Lattes em PDF. Ninguém irá abrir!
A plataforma do Linkedin é exatamente feita para que a pessoa que esteja fazendo a seleção tenha ali todas as informações. Portanto se esmere em deixar TUDO na plataforma sem anexar outros currículos. Se tiver coisas importantes a citar ESCREVA.
E mais uma coisa: o Linkedin não é Lattes, por isso, as informações precisam ser bem mais objetivas e diretas. Tal como as redes, as plataformas Lattes e Linkedin são diferentes, com objetivos e recursos diferentes. Cabe a você mediar tais informações adequadamente.

2. Tente obter indicações de outros profissionais

Ainda no preenchimento do perfil, auxiliam muito, as indicações profissionais ou de formação educacional. Ter tais indicações dão a medida do profissional que é, dito por quem conviveu com você. Mas lembre-se: muitas de tais indicações poderão ser checadas por futuros empregadores. Não coloque ali nada que de fato não tenha realizado. Isso seria uma péssima publicidade pessoal e profissional, além de falha ética!

Por outro lado, não constranja profissionais que acabou de conhecer na rede solicitando indicação. Este pedido deve ser feito para pessoas que de fato te conhecem e podem recomendar seu trabalho porque trabalharam com você, ou conhecem sua reputação.

Sobre tais recomendações e as formas de fazê-las saiba mais aqui:

3. Crie uma URL personalizada

O Linkedin também oferece a possibilidade de você ter uma URL personalizada que contenha seu nome. Configure uma para você. Onde? Aqui:
Outro recurso disponível é você configurar seu perfil para deixar claro que está disponível para uma vaga. As diferentes funcionalidades para isso, além de como fazer buscas por vagas. Aqui alguns links fundamentais:

Procura por emprego de maneira privada

Informar aos recrutadores que você tem interesse em um novo emprego

Defina suas preferências de deslocamento para pesquisas de emprego

Mostrar, ocultar e editar seu perfil público

4. Como escolher a foto adequada?

Agora chegamos a um ponto sensível.

Não é meu objetivo fazer uma lista de “nãos”. Mas creio que alguns pontos são fundamentais e gostaria que os tomassem como sugestão.

Em primeiríssimo lugar: sua foto do perfil deverá funcionar como sua imagem profissional.

É sua identidade, passaporte para a empresa ou para o ramo de atividade que quer desenvolver. É, portanto, pessoal e intransferível. Sendo assim, não lhe parece estranho você estar ao lado de alguém (filhos, companheiros/as, amigo/a), ou ter ao fundo uma paisagem de férias e descontração ou mesmo estar vestido para as mesmas? Sei que em fotos de descontração tendemos a estar mais soltos e sorridentes. Mas temos que avaliar se esta imagem é adequada para nossa área de atuação.

Lembre-se:

A boa impressão e imagem postada andam juntas neste caso. Seu companheiro, amigos, parentes ou filhos não são você como profissional: atente para isto!

Vejam, as áreas criativas tendem a ser mais beneficiadas neste sentido e o rigor é menor. Mas em outras áreas há um ‘dresscode‘ que precisa ser considerado.

Fique de olho também para a qualidade desta imagem. O perfil do Linkedin impõe um determinado tamanho para a mesma. Se esta for grande demais ao compactá-la você a poderá distorcer e comprometer a nitidez e definição. Cuidado com aquelas fotos que você recorta porque acha que está bem e aí sobra a parte de um outro corpo: vem mãos, braços, orelhas, cabeças de quem estava do seu lado e você cortou. Por favor, seja caprichoso!
Tente pensar em foco e ângulo. Não há nada mais irritante para alguém que tem que ver centenas de currículos se deparar com uma foto em diagonal ou de ponta-cabeça. Facilite…

Se os homens precisam zelar para não aparentar desleixo ou desconcentração demais, como camisas abertas, gravatas afrouxadas, bermudas ou afins; para as mulheres fica ainda bem mais difícil, explico:

As mulheres precisam tomar cuidado com excessos de brincos, colares, estampas, maquiagem. O espaço da foto é pequeno e às vezes tantos acessórios acabam escondendo a pessoa. Deve-se ter cuidado com decotes, cavas e afins. Você não vai desejar que tenham uma imagem errada ou equivocada de você. Na maior parte das vezes o ditado “menos é mais” se aplica.

Ah! e por favor sem fotos fazendo biquinhos com a boca. É uma foto completamente fora de propósito para esta rede social. Guarde os biquinhos para outras redes.

Se o corpo fala quando for tirar uma foto de braços cruzados cuide para não dar a impressão de que é uma pessoa fechada demais e que não aceita críticas. O braço cruzado tem esta leitura de não abertura. Se optar por ela coloque um bom sorriso no rosto para equilibrar o peso dos braços cruzados.

Uma dica fundamental antes de escolher uma foto é se perguntar:

– “na minha entrevista de emprego eu apareceria da forma como estou na foto?”

Se a resposta for sim e você tiver o mínimo de bom senso esta será a imagem adequada.

Ah! Não seja literal. É uma foto do perfil e não sua foto de perfil.

5. Invista na construção de uma rede forte. Mas como fazer isso?

Esta talvez seja a pergunta que mais movimenta as pessoas em seus objetivos quando decide criar um perfil no LinkedIn.

Repito aqui o que sempre digo sobre o assunto: aqui no Linkedin, quantidade não significará qualidade. Esteja atento a que suas escolhas de conexão sejam de fato pessoas que poderão agregar valor profissional à sua atuação. Sempre tome em consideração o porque quer fazer contato com uma pessoa e a faça saber! Ao dirigir-lhe um convite tome algum tempo e escreva uma mensagem personalizada. Isso já dá uma boa primeira impressão. Ás vezes você não terá uma segunda chance.

Outro ponto a considerar: Linkedin também é uma rede social, e como qualquer relacionamento custa a se fortalecer. E este fortalecimento virá a partir do momento que as pessoas te vejam como um profissional respeitável dentro de sua área de atuação. Por isso, construa um bom nome, uma boa reputação a partir da qualidade do que oferece como troca.

Como sugestão leia aqui como a rede LinkedIn é formada e como são seus graus de acesso a elas.

5. Faça bom uso das postagens

É importante que você compreenda que as postagens são seu meio de comunicação com esta rede que você está tentando construir com zelo e profissionalismo. Por isso, alguns cuidados são fundamentais:

Sempre analise a pertinência do que posta e o quanto esta postagem tem de fato a ver com sua atuação profissional e da sua rede profissional.

Enquanto em outras redes você pode falar sobre qualquer coisa, e estas não precisam ter que ver com nada que seja sua atuação profissional, por aqui a coisa é diferente. Necessariamente precisa ter em mente esta conexão.

E só para reforçar:

  • Nunca, nem sob tortura, poste temas que sejam irrelevantes, propagandas e vendas que não interessem a ninguém a não ser a você mesmo. Não distribua SPAM!

RESUMINDO:

  1. Preencha seu perfil por completo: não misture formação com ocupação! O nome de sua Faculdade não é o seu emprego ou função.
    Desempregado não é função. Portanto, dê o nome certo a função que é capaz de desempenhar e/ou a que irá investir como carreira.
  2. Obtenha indicações de outros profissionais
  3. Crie uma URL personalizada para chamar de sua
  4. Escolha uma foto que seja adequada ao seu perfil profissional: você não está de férias, a passeio ou procurando um relacionamento.
  5. Invista na construção de uma rede forte: escolha pessoas que possam ajudá-lo a somar e crescer.
  6. Faça postagens adequadas à sua área de atuação ou ocupação. Gatinhos, autoajuda e ‘tenha um bom dia’ deixe para as outras redes.

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Importância do Rigor Metodológico e Conceitual em Memória Institucional

Por: Eliana Rezende Bethancourt 

À guisa de uma introdução:

A escrita coloca a quem escreve, o desafio de ponderar palavras e elaborar conexões de sentido. Diante disso, um esclarecimento: minha fala pauta-se a partir da observação que venho fazendo em relação ao oferecimento de cursos e outras formas de capacitação e/ou consultorias que tem proliferado nas redes, até propiciada pelos recursos online aos quais temos acesso. 

Uma tempestade perfeita se formou onde de um lado, temos a tecnologia acessível, e de outro pessoas disponíveis com tempo ou recursos, querendo realizar cursos e aperfeiçoamentos, ou demandas que necessitam de uma consultoria ou assessoria técnica. Engana-se aquele que acredita que, por ser uma capacitação ou consultoria, esta deva ser desprovida de rigor, e que qualquer coisa poderia ser aceita, já que são poucas horas destinadas a ela.

Os pilares que sustentam, e que firmam toda uma carreira, assentam-se obrigatoriamente na formação teórica, acadêmica e no rigor metodológico. São pilares que prezo e persigo tanto em mim, quanto no meu trabalho, meus alunos e nos profissionais que me cercam, ou nos clientes que me procuram.

Em geral, e até por uma demanda que chamamos de coerência, este rigor Conceitual e Metodológico devem ser acompanhado por ações profissionais que os sustentem. A seriedade imposta deve ser ainda mais rigorosa quando nos dispomos a ensinar ou a desenvolver um trabalho que repercutirá numa comunidade ou organização (seja ela qual for). A docência e o profissionalismo em áreas de conhecimento técnico é um compromisso público e ético com a área em que atuamos e com aqueles com quem compartilhamos nossos conhecimentos ou experiências.

Colocando uma lupa

Como é óbvio, não é possível cobrir todas as formas de capacitações ou consultorias e assessorias técnicas em diferentes áreas. Portanto, me aterei a minha área específica de atuação acadêmica e profissional que é a Gestão de Informação e a Memória Institucional. Leitores de outras áreas podem tirar proveito do que escrevi pensando em conexões com suas áreas especificas de formação e/ou atuação.
Meu debate procura reforçar a noção de que em todas as áreas há os que se esmeram em Conceituação e Método aplicáveis à sua prática profissional. Mas há também os que consideram isso supérfluo e até desnecessário, por considerarem que o que importa é mesmo a cifra ao término e ao cabo. Para estes últimos não há a preocupação, pois consideram que os demandantes pouco sabem e por isso tanto faz.

No decurso de minha experiência, e por diferentes vezes, me defronto com cursos ou consultorias oferecidas que pecam exatamente pela falta de compromisso ético com o rigor e a qualidade do que se oferece. Em alguns casos, tais cursos ou consultorias apresentam fragilidades conceituais, técnicas, metodológicas e chegam a ser oferecidos de uma forma mercadológica, onde preços e certificados são oferecidos e suas entregas muitas vezes, à domicilio!

Consigo compreender que existam, na livre concorrência e nas leis de mercado, sistemas mercadológicos tais como os descritos acima e que também existam alguns profissionais que se submetam a isso. O que definitivamente não sou capaz de aceitar são fragilidades conceituais e muitas vezes grandes equívocos propiciados pela tábula rasa da ausência de consistência teórica e intelectual sendo oferecidas como vantagem e capacitação.

Exemplo neste sentido é a área de Gestão Documental, por excelência uma área multidisciplinar, e isto lhe dá como característica predominante a possibilidade de trocas e experiências com diferentes saberes. Mas simplesmente não pode ser confundida e colocada de uma forma como se tudo pudesse estar junto e misturado, sem um detido e aprofundado estudo dos diferentes conceitos que a compõe.

Dentre eles cito os que são mais gritantes e perceptíveis na área que atuo: Memória Institucional, Gestão Documental, Processos Híbridos (microfilmagem e digitalização) e célebres frases indevidas e erradas como: “arquivos inativos”, “arquivos mortos”, ou afirmar que Arquivo seja Memória Institucional e que GED é Gestão Documental. Usual é também considerar que Informação possa ser tomada como Conhecimento. Algo impensável, já que Conhecimento representa uma a informação processada e transformada em experiência pessoal e intrasferível.

Pode ficar ainda pior quando técnicas são confundidas, como por exemplo, não saber diferenciar storytelling, depoimento, história de vida ou entrevista e de como estes poderiam ser realizados em um Projeto de Memória Institucional.
Ou não ser capaz de entender como a Memória Institucional acaba sendo uma parte importante do que seja a Memória Social, e que esta definitivamente tem que ver com Tabelas de Temporalidade Documental, e NUNCA com colecionismo ou escolhas que compõe uma lógica que está há anos-luz de ser um Método adequado. Coloco propositalmente temas que se tocam, mas são de áreas diversas e possuem concepções teóricas e metodológicas diversas, não porque seja errada a interdisciplinaridade, mas sim a incapacidade por parte de alguns de transitar por todas estas áreas sem praticar alguns equívocos conceituais.

Infelizmente tenho visto muitos confundirem Linhas de Tempo e “relíquias institucionais” com Memória Institucional e com História.
Em outros casos, vejo Memória Institucional ser confundida com Arquivo. Apesar dos arquivos fornecerem subsídios para que se possa chegar ao que denominamos Memória Institucional, Arquivo NÃO é Memória Institucional. Assim como Memória Institucional NÃO significa uma cronologia composta a partir da produção de documentos, como querem alguns arquivistas.
Alguns usam a expressão “resgate de Memória“, como se esta fosse uma ‘entidade’ a ser buscada em alguma parte, para ser embalada e mostrada como produto. Esquecem-se ou simplesmente não sabem que a Memória é forjada no território social, que é constituída a partir da História e que esta não existe à priori: é uma construção subjetiva a partir de um determinado ponto de vista e/ou repertório, em última instância é forjada a partir de relações sociais complexas e que possuem diferentes vetores.

O “equívoco” é grave quando se supõe que a partir de escolhas realizadas por áreas de Comunicação ou Marketing se acumulem documentos e objetos para formar o que chamam de Memória Empresarial ou Museu. Cabe sempre lembrar que documentos NÃO nascem para ser isso ou aquilo. São produzidos no âmbito de FUNÇÕES desempenhadas por pessoas ou organizações e por isso, a escolha aleatória por terceiros não passa em grande parte de achismos e de reunião de objetos e coisas que poderiam bem compor um “gabinete de curiosidades”. Decidir por critérios outros que este ou aquele documento ou objeto é histórico é, em grande parte um erro que não se sustenta por rigor teórico e metodológico. Ainda que se faça esta ou aquela pesquisa denominada histórica, esta está longe de ser rigorosa. Representa apenas uma forma de maquiar e dar lastro à coleção reunida por objetos e eventuais ditos documentos.

São portanto, equívocos cometidos em série e que atinge de morte áreas como a Arquivologia e a História.
Há também equívocos que consideram que a produção de documentos arquivísticos da Administração Direta e Indireta de Órgãos Públicos são Memória Institucional, o que NÃO é real. A Memória Institucional é uma construção e não fruto apenas de Tabelas de Temporalidade (apesar destes documentos ser utilizados como fontes). Ainda dentro desta mesma esfera e no campo da Administração Pública, os documentos permanentes (que são os de valor histórico) devem cumprir seus prazos legais como tais. Poderão ser utilizados como fonte histórica, mas NUNCA ser subtraídos dos conjuntos documentais de que são parte. Aqui temos um exemplo bem acabado do seja teoria e metodologia aplicáveis à diferentes áreas e que possuem em comum um conjunto documental. Uma área NUNCA poderá prescindir da outra ou suplantá-la.

Também NÃO é Memória Institucional elaborar Linhas do Tempo ou escrever textos bonitinhos para integrar livros comemorativos ou mesmo exposições. Não é também colecionar imagens num álbum de fotos antigas, ou fazer colagens de ‘curiosidades’. Reduzir o trabalho a isso significa oferecer “perfumarias” desprovidas do que seja o verdadeiro significado da Memória Institucional. É preciso ir muito além disso. Como repito constantemente: a Memória Institucional não é um produto em si. É sim, meio para fortalecer a Identidade e Cultura Organizacional. É favorecer a produção de Conhecimento e Inovação dentro das organizações além de ser importante na valorização do Capital Intelectual nas organizações.

São tão graves esses equívocos que, colocar tais termos em cursos ou consultorias oferecidas, mostra à partida quão grave e preocupante é a qualidade do que se abordará! Quem se propuser a ir por esta seara deverá estar firmemente embasado por 4 áreas, talvez 5: Arquivologia, História, Tecnologia, Biblioteconomia e Gestão. Sendo a História a mais complexa e com maior rigor de leituras e metodologia. As demais áreas são técnicas e de aplicação. Diante disso, conceitos caros à História como Memória, Identidade, Sociedade, Cultura, etc, devem ser tratados a fundo e muito bem fundamentados. Utilizar tais conceitos sem conhecimento de causa é pelo menos uma temeridade.

Vejo a multidisciplinaridade como meio eficaz de aprendermos e nos esmerarmos com o aprendizado e nunca, nem que seja por um minuto sequer apropriar-nos de forma errada, equivocada ou despretensiosa de uma área tão grande de conhecimento.

Não aceitem ser ludibriados! Solicito que tenham atenção. Verifiquem, analisem, peçam indicação.

Um diagnóstico preliminar
A formação profissional, metodológica e técnica é algo sério e todos devemos zelar por isso! Se não souber avaliar, peça ajuda de quem saiba! Não temos que saber tudo sobre tudo, mas temos o dever de esclarecer quando houver problemas graves.

Um equívoco custa caro ao seu emitente, mas pode ser muito mais caro ao consumidor do mesmo! Exatamente por preocupar-me com os que buscam o saber é que estou me posicionando. Os discentes ou clientes muitas vezes, não possuem ferramentas para discernir, às vezes são jovens demais, inexperientes e oriundos de outras áreas. Por isso, temos que nos colocar e esclarecer quando possível quando detectamos tais problemas.

Acho que é um misto de várias coisas, em especial para os casos de cursos para que tais problemas ocorram.
De um lado, há uma busca de ter sempre na prateleira alguma coisa de consumo rápido e raso… sem grandes compromissos ou aprofundamentos. Este uso é comum, e temos casos de conteúdos ficarem ali sendo “fornecidos” por anos à fio. Já vi casos que os docentes morreram e o conteúdo permanece ali disponível. Isto em geral ocorre com modalidades em formado EaD previamente gravados, ou mais recentemente em formatos de conteúdos online. Estes obedecem uma lógica de oferecer ao maior número possível de pessoas o mínimo sobre algum tema. Com isto possuem um atrativo simples: custos módicos, certificados rápidos e a fantasia de capacitação.

Em outros casos, pode haver má fé: pessoas apropriando-se de ideias e proposições de outros e tentam costurar algo que sirva à vários “corpos”.

E numa que talvez seja a forma mais grave, que é a falta de cabedal e sustentação intelectual e conceitual que compromete a formação de outros. Considero essa a forma mais grave pois quando ensinamos estamos nos comprometendo com a ética da partilha de Conhecimento, mas este deve assentar-se de forma sólida numa formação devida. Nunca poderá ser aceitável uma pessoa que não seja de determinada área ser irresponsável de abarcar saberes que desconhece, ou que os saiba apenas de superfície. O que digo, é que não há problema algum em visitar áreas afins, beber e constituir perspectivas para atuação pessoal e profissional. Mas nunca apropriar-se indevida e equivocadamente daquilo que não sabe só como forma de tornar palatável a venda de um produto ou serviço (no caso aqui me refiro a cursos de capacitação e/ou consultorias).

Talvez o maior remédio que temos contra isso é que as pessoas aprendam a selecionar.

Creio que muitos espaços são indevidamente ocupados exatamente porque os que o deveriam fazer isso deixam as brechas.

Uma torre fortificada numa Ilha da Fantasia

Cito como exemplo, a minha área – as Ciência Humanas -, que é também território de aplicabilidade e prática e infelizmente muitos acham que só são profissionais se estiverem na academia… deixam com isso, espaços que poderiam ser seus na sociedade, em empresas e instituições, para serem ocupados por profissionais que possuem talvez boa vontade mas lhes falta consistência, aprofundamento e na maioria das vezes, leituras da formação.
Seria interessante que os profissionais se desencastelassem da academia e fossem ao mundo real atuar de forma aplicada quer ministrando capacitações, quer prestando assessorias técnicas ou consultorias!
A sociedade ganharia muito!

O fato a que me refiro é de que muitos profissionais encastelam-se em suas “fortalezas” intelectuais: produzindo apenas para seus pares e deixam de alcançar o cerne da sociedade. Mas creio que discursos esvaziam-se quando ficamos em discussões epistemológicas, conceituais ou de especialidades sem o pé na realidade. Aí o que temos é apenas, e tão somente, conteúdos que massageiam egos e inflam vaidades.

Preocupo-me muitíssimo, e aí falo dentro da minha área de atuação (sou historiadora, de graduação à pós-doc), que exista essa cisão de que o profissional de gabinete quase nunca saiu de sua zona de conforto e em muitos casos, não conhece as demandas de mercado e das instituições que não sejam as acadêmicas. Sabe pouco sobre a aplicação de tantos conhecimentos discutidos apenas na academia em um formato teórico. A metáfora que gosto de usar é a da Ilha da Fantasia. Alguns intelectuais ficam apenas dentro da academia, numa bolha que não o coloca no confronto direto com as demandas da realidade. Seria muito interessante que tais intelectuais pegassem seus barquinhos e fossem ao continente para ver o que se passa. Voltariam com outros olhares para a sua pequena ilha.

O inverso também é verdadeiro. Alguns saem da Ilha, vão ao Continente e NUNCA mais retornam à sua origem. Ou seja, afastam-se do rigor que é tão caro e necessário na Academia. Acredito sinceramente que o profissional do século XXI precisa e deve trafegar entre a ilha e o continente e saber levar de cada um o que há de melhor. Este seria o melhor dos mundos.

A História durante toda sua existência, e com especial força durante todo o século XIX, lutou para instituir-se e figurar como Área de Conhecimento. São discussões longas, cujos iniciadores não viveram para ver o final. Mas é muito importante que as aproximações feitas entre áreas diversas representem um esforço sério de embasamento teórico, metodológico e técnico (quando for o caso).

Arquivologia e Biblioteconomia iniciaram essas discussões ainda há pouco e há também as Ciências da Informação, que reivindicam um outro espaço de ocupação, o que indica uma longa e árdua discussão em campos teóricos e epistemológicos não cabíveis de fato ao espaço deste artigo.

Uma proposição
Acho que deve haver a busca do caminho do meio: há sim discussões teóricas, metodológicas e epistemológicas no universo de constituição e aplicação desses saberes, mas há também um território de aplicabilidade que não se encontra na academia e que nem por isso deva ser feito de forma pouco consistente. Um não deve servir de impedimento ao outro. A responsabilidade fica assim na mão de profissionais que devem estar inteirados, atualizados, preocupados e responsavelmente determinados a aplicar os mesmos em suas respectivas áreas de atuação.

Considero que estes equívocos ocorrem exatamente porque muitos profissionais de academia não assumem seu papel de agentes no âmbito social e fornecem as brechas para que profissionais sem muitos escrúpulos mascateiem o que deveria ser algo mais sério: que é a formação profissional. Este é um ponto que me inquieta.

Às vezes, os pesquisadores nos cursos de pós graduação (aqui refiro-me mais aos Mestrados e Doutorados) permanecem num mundo à parte e o que digo é que toda essa competência de fundo conceitual, metodológico, teórico precisa aparecer na sociedade e nos produtos oferecidos a instituições públicas e privadas e que não fiquem restritas às salas e discussões em aula. É altamente salutar fazermos isso! Em hipótese alguma sou contra a produção acadêmica e escrever e compartilhar deve ser nossa preocupação.
Não me coloco contra a realização de cursos e capacitações oferecidos em ambiente de web. Desde que os respectivos profissionais sejam responsáveis e tenham estofo intelectual, teórico e metodológico para isso. Esta responsabilidade sim, fará com que haja produção de Conhecimento. E é com ela que me preocupo e esforço todos os dias. 

É contra esse mercantilismo que me coloco!

A dica que fica é: quer aprimorar seus conhecimentos? Estude, investigue para poder saber escolher entre joio e trigo. 

Ou então:

Quino, Picasso revisitado

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Trilhas de Aprendizagem como Rotas para Conhecimento

Por: Eliana Rezende Bethancourt

Em um mundo feito de bits, imagens, dados e muita informação, muitas vezes, ficamos com a sensação de que estamos perdendo tempo e importância das coisas. Meu papel é ajudá-lo a não ser tragado por tudo e, simplesmente, definir o que é importante, porque, para quê e com quais objetivos.

ER Consultoria oferece a seus clientes soluções que visam atender todas as suas demandas em relação ao trato de informação. Quer através de Cursos e Capacitações In Company ou por meio de desenvolvimento (implantação e implementação) de Projetos específicos, nas áreas de Gestão de Informação, Gestão de Conhecimento, Memória Institucional e Implantação de Centros de Documentação e Memória.

Pensando nisso, e no quanto a experiência em rede pode ser uma excelente oportunidade de troca e aperfeiçoamento profissional, criamos o conceito de “Trilhas de Aprendizagem” para realização de cursos In Company e que estão diretamente ligadas às áreas de Informação, Gestão de Conhecimento, Responsabilidade Histórica e Memória Institucional.

O formato de trilha visa facilitar os caminhos de aprendizagem para que cada instituição escolha os temas que mais lhe dizem respeito e de acordo com suas necessidades e escopo de Projetos ou Ações..

Na ER Consultoria, chamamos de Rotas para Conhecimento o cruzamento de nossas Trilhas de Aprendizagem Principais e Trilhas Alternativas de Aprendizagem.

As Trilhas são uma incrível oportunidade de flexibilização de temas que servem ao aperfeiçoamento e capacitação aos profissionais de Informação, Gestão de Conhecimento, Memória Institucional e Patrimônio Cultural/Documental.

Aqui, você acessa as Trilhas de Aprendizagem Principal, com temas voltados à Gestão Documental, Curadoria de Conteúdos, Preservação Digital, Implantação de Centros de Documentação, Elaboração de Projetos de Memória, entre outros.

Nas Trilhas de Aprendizagem você encontra cursos que embasam toda uma linha de atuação ao universo institucional e que envolvem o trabalho de trato da Informação com vistas à produção de Conhecimento e fortalecimento de Identidade e Cultura Organizacional.

Conheça também alguns cursos que estão em nossa grade de Trilha de Alternativas de Aprendizagem:

▪ Oficinas de Preservação e Conservação de Materiais Fotográficos (fotografias, slides e negativos de vidro e celulose). Considerados como documentação histórica, possuem valor permanente e constituem patrimônio documental das instituições possuidoras. Os materiais fotográficos necessitam de armazenamento em condições adequadas para sua preservação. As oficinas de preservação e conservação auxiliam com técnicas especificas para higienização, guarda e indexação destes materiais.

▪ Divulgação de Acervos Públicos e Privados: possibilidades e potencialidades – Como aplicar, de forma otimizada, as diferentes ferramentas de divulgação, em especial as da web 2.0.

▪ Gestão Documental para Racionalidade e Transparência Administrativa – O curso pretende discutir como a racionalização aplicada à gestão arquivística pode gerar benefícios não apenas imediatos de atender demandas de clientes (internos/externos) que procurem dados para prova, e como elemento essencial para a constituição de uma memória e identidade institucional e social.

▪ Boas Práticas de Preservação e Conservação de Patrimônio Cultural e Documental – Identificar as práticas essenciais para a manutenção de acervos em diferentes suportes de acordo com normas que respeitem a integridade física dos documentos.

▪ Normas e Procedimentos de Sigilo e Acesso à Informação – Permitir o acesso seguro à informação contida em documentos físicos e digitais preocupa as instituições públicas e privadas em razão do grande volume de documentos gerado.

As trilhas são compostas por cursos customizados para necessidades institucionais e são ministrado no formato webconferência ao vivo In Company. Não temos condições de ministrar cursos para pessoas individuais dada as dificuldades de conciliação de agendas.

Por exemplo:

* Sua instituição se angustia com o volume cada vez maior de imagens fotográficas que são produzidas? Possui dificuldades em sua localização? E as fotografias em suportes de papel ou vidro? Estão armazenadas adequadamente? Como fazê-las durar para a posteridade?

* O que é preservação digital, e como ela se aplica ao seu universo institucional?

* Para que serve e como se faz uma avaliação de documentos?

* Como implantar um Centro de Documentação e/ou Memória?

* Como garantir segurança, acesso e preservação à informações contidas em documentos físicos e digitais?

* Quanto tempo preciso guardar os documentos que produzo? Como estabelecer prazos?

A liberdade de escolher sua Trilha de Aprendizagem, determinar datas e os horários de preferência e em qual sequencia de composição de cursos é um dos diferenciais das nossas capacitações. Cada instituição possui demandas próprias, e por isso cada cusro é absolutamente customizado. Conheça os cursos e suas ementas, escolha a sequencia que preferem e se desejar, pode incluir também os cursos das Trilhas Alternativas de Aprendizagem.

Consulte-nos e saiba como compor a Trilha perfeita para sua Instituição.

Como podemos ajudar?

Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para o desenvolvimento e a aplicação da Gestão Documental e Memória Institucional em empresas de diferentes segmentos e suas áreas de atuação. Além de podermos orientar e conduzir diferentes projetos que envolvam o trato com documentação, ou a Implantação de Centros de Documentação e/ou Memória.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer

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Ceda lugar ao novo

 Por: Eliana Rezende Bethancourt

Em uma sociedade onde consumir é a regra, ter e ostentar seja o natural, parece estranho falar em ceder espaço.
Proponho substituir a tão batida palavra desapego, por ceder espaço, dar lugar.
A palavra desapego teria um significado muito interessante, mas de tão usada e repetida parou de ter o sentido que se esperaria dela. Como tantas outras palavras, perdeu valor por ser moeda fácil e de quase nenhuma aplicação.

Ceder lugar dá ao desapego o sentido mais próximo do seu significado original.
Ao falar em ceder lugar, parto de uma constatação muito simples: as pessoas em geral distraem-se muito com o ter e esquecem-se do ser.
E explico porque considero o ter uma tremenda perda de energias:

O que temos não podemos levar a todas às partes, já o que somos vai conosco pela vida, pelo tempo e espaço. Por isso sempre é bom arranjar meios para simplesmente ser“.  (Eliana Rezende Bethancourt)

Os entulhos espirituais, emocionais ou materiais devem, por força de nossa saúde e bem estar, ser eliminados.

Aqui faço uma metáfora simples que é da minha área profissional e que se aplica com propriedade à vida: os documentos em um trabalho de Gestão Documental obedecem uma Temporalidade. Transcorridos o tempo e suas funções são eliminados, e somente os de muito valor são preservados para à posteridade, num para sempre eterno.
Com este processo garantimos que apenas aquilo que tem valor sobreviva ao tempo, e o restante, que ocupa recursos e espaços desnecessários são entregues ao seu fim.

Imagine que maravilha poder olhar para uma relação que nos desgastou, um emprego que nos sugou, uma pessoa que nos vampirizou, e simplesmente dar-lhes um tempo limitado. Feitos todos os estragos e aprendizados em nossas existências, partirem sem deixar rastros!
E nós, por outro lado, sem permanecermos num infinito retorno e amargor desses desencontros. Entenderíamos como apenas algo que tinha uma função, e que tendo sido cumprida cederia a vez à próxima aprendizagem. 

Se fôssemos capazes de definir prioridades para as nossas vidas e saber desapegar-nos daquilo que não importa, interessa ou acrescenta, estaríamos sempre leves para cada novo que chegasse. 

Penso na vida, um pouco, como um longa viagem e que como tal não permite excesso de bagagem. Todos sabem o que uma mala com sobrepeso representa numa longa viagem, não é mesmo? Quase sempre, um esforço desmesurado que ao fim não vale o que nos custa.

Os inexperientes descobrem, à duras penas, que não adianta levar uma mala cheia, que voltará quase sempre sem ter sido mexida, e que os pesos e contrapesos darão apenas dores musculares e taxas extras nos aeroportos.

Pense a vida como aquela ponte que nos leva de uma margem à outra. Ninguém pensaria em sobre ela construir um prédio com fundações. Uma ponte é apenas caminho, passagem. Seu objetivo é nos levar de um ponto a outro. Não se fixa residência sobre uma ponte! Assim é a vida. Um caminho que deve ser feito de mãos livres, mente, coração e olhos abertos, ouvidos atentos a tudo o que for apresentado aos sentidos.

Em geral, tal como as malas arrastadas por uma viagem inteira, as mãos, os corações e as mentes ocupadas em carregar os entulhos passados não permitem que estejam abertas para receber o Novo da vida. Como aceitar algo com as mãos, se elas estão presas e seguram algo que já passou?

É preciso se convencer que não se pode seguir pela vida acumulando e tendo tudo.
Escolhas precisam e devem ser feitas, e quando aprendemos esse desapego simples que é até de se questionar sobre se de fato precisamos mesmo daquele parafuso ali naquela gaveta, sentimos uma liberdade de ser que não se compara a compulsão do ter.

Um exemplo muito simples mostra esta compulsão pela posse e ostentação futura: as pessoas viajam e em vários casos, em vez de tentar sentir sua viagem, seus odores e sabores, ficam disparando fotografias para todos os lados e a distração em fotografar os tira da concentração de viver o momento.
Querem uma imagem para postar na rede. Clicam rapidamente para ter o consentimento de esquecer.
Desapego aqui seria preocupar-se em fixar imagens e sensações em si… e não em um gadget!
E de novo temos o sentido do que é o ter e o ser.
Ao término da viagem haverá uma coleção de imagens, mas e a verdadeira viagem, aquela que é um deslocamento da alma e dos sentidos? Será reduzidas a imagens e selfies? Tão pouco, não é? Isso para mim é o maior exemplo de pobreza. Ainda que as imagens sejam de pores do sol pelo mundo!

O horizonte do desapego é largo, e pode incluir tantas coisas.
Se bem conduzido, passará longe de ser perda! Ao contrário, será extremamente rico e para alguns chegará a ser libertador.

Mas não falo apenas daquela bolsa, sapato, roupa ou brinquedo tecnológico. Falo de sentimentos, pessoas, empregos, funções que já não nos servem mais e que insistimos em mantê-las nos armários de nossas existências, quer por medo de não encontrar substituto, quer por medo de sermos rapidamente substituídos e descobrir que afinal, nem éramos assim tão indispensáveis.

É preciso compreender que podemos achar que temos a posse de algo, mas em verdade somos possuídos. Somos possuídos por medos, inseguranças, fragilidades. A posse longe de dar conforto e segurança aprisiona, tira objetivos e se transforma em uma gaiola que temos a chave, mas temos medo de usá-la.

Descobrir que o melhor que temos está dentro, e, pode ir junto por toda a parte, é o melhor dos aprendizados.
Infelizmente alguns levam a vida a toda e não aprendem essa lição e a do acúmulo lhe toma toda a existência.

Assim, se você passou um ano inteiro sem calçar um sapato, usar uma bolsa, uma roupa fantástica que você pagou os tubos, não ligou uma única vez para aquela pessoa, talvez seja um forte indício de que você precisa exercitar o desapego. Se passou um ano inteiro, perdeu todas as oportunidades que poderia ter, e portanto, definitivamente não precisa disso para si.

Ceda espaço… ceda lugar ao novo.
Faça isso tudo circular nos armários, gavetas, garagens, na vida!
Afinal, tudo é um empréstimo que a vida te deu: usufrua, sem apego apenas com discernimento.

* Post publicado originalmente no meu Blog, o Pensados a Tinta

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Tempo: Valioso e Essencial

Por: Eliana Rezende Bethancourt

Ouça eu ler para você (escolha a opção abrir com: 
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Não contem a ninguém: mas hoje faço Aniversário.
É a passagem do Velho Senhor dos Tempos em mais uma ronda. Alcança-me os anos e mostra-me a conta dos meus dias.
Penso sobre tudo e concluo que a vida é mesmo sábia. Nos dá os anos para que não vivamos tudo de uma só vez. Viver, portanto, é ter a paciência para moldar um espírito inteiro!
Olhando para frente, e para trás, parece-me que tenho muito menos a viver do que já vivi. Eles passam e ganhamos certas coisas, na exata medida que outras se vão.
É a Lei das compensações:

Aos 18 meses de idade

Se a pele perde viço, os pensamentos ganham razão. Os bons argumentos se fazem desta.
Se o tônus do corpo se perde a mente e as ideias ganham contornos e robustez. Sabem que precisam ser edificadas fortes para que firmes se sustentem.
Se o corpo pode falar, o silêncio ao lado da escuta pode ser bom conselheiro. Descobre-se o verdadeiro sentido de se ter dois ouvidos e apenas uma boca: é preciso sempre ouvir mais do que falar.

Se as paixões não são avassaladoras, há o terno calor do amor companheiro que aquece e segue por onde quer que possamos ir.

Se os olhos precisam de óculos, a perspicácia ganha agudeza. Enxerga-se adiante num futuro que ainda é esboço, nas entrelinhas de gestos, de não ditos.
Descobrimos que em toda nossa trilha, com tantas idas e vindas, cada um de nossos dias foi vivido em nossa exclusiva companhia. O Tempo nos faz solidários e generosos com o que somos. Estaremos juntos até a última de nossas respirações. Assim nada de animosidades, rancores, maus sentimentos. O maior de todos os amores deve ser gentil, suave e sem culpas ou arrependimentos: é de nós para nós mesmos.

Substituem-se sonhos por realizações. Na ronda do Tempo percebemos o que fomos e o que nos tornamos e como a alquimia dos sonhos transformou nossas vidas, materializou projetos, redimensionou ideais. Criou pontes entre passado, presente e futuro.
Tudo em perfeita sincronia para que os anos nos cheguem e tenhamos o que barganhar.
Muito interessante e sábio.

Do outro, e até porque os anos passam e o saldo tende a diminuir rapidamente, não temos tempo a perder. O Tempo nos faz saber que correr para enriquecer é o remédio para todas as doenças. E que o lucro obtido será gasto para comprar a cura das doenças acumuladas pelo estresse, noites mal dormidas, trânsito pesado, reuniões intermináveis.
Não se lucra quando se subtrai.

O Tempo é valioso e essencial, tece-nos a trama de quem somos, nos dá memórias e vinca nossa identidade pelas eras e pelos espaços por onde trafegamos, portanto:

Não há Tempo para se perder com a fogueira de vaidades e com coisas sem importância.
… . É sim, Tempo para cultivar generosidades;
Não há Tempo para se ocupar de existências alheias.
… . É sim, Tempo de colher o que se plantou;
Não há Tempo para discussões sem proveito ou lutas insanas.
… . É sim, Tempo das almas maduras que buscam apenas o essencial;
Não há Tempo para perder com invejas, fúrias, preconceitos, mesquinharias (físicas ou espirituais)
… . É sim, Tempo de sedimentar o que de fato foi construído;
Não há Tempo para desejos de vingança ou ganâncias.
… . É sim, Tempo de perpetuar para não esquecer nossa brevidade no lapso tempo/espaço;
Não há Tempo para disputas, melindres ou guerras de egos e poder.
… . É sim, Tempo para alargar o espírito.

Enfim, não há Tempo para mediocridades e posses. Não servirão de nada para o lugar que iremos!

Talvez o caminho ao final seja de novo inverso: nascemos sem nada (física, mental, material, espiritualmente) e deveríamos, se aprendemos algo do Tempo, levar de volta um espírito alargado.

Se ao nascer começamos a morrer, olhando-se de lá para cá, talvez ao morrer começamos a nascer daqui para lá.

Sigo pensando que quero que meus anos passem, para que ao final possa dizer no meu Testamento:

Não deixo bens…
Não acumulei nem construí nada que possa ser roubado ou destruído.
Não possuo nada de valor material para ser perdido.
Não tenho nada que possa ser penhorado, trocado, vendido

Tenho apenas: 
Voltas que dei pelo mundo
Encontros delas resultados;
Amores vividos, 
Caminhos compartilhados,
Escolhas e mudanças de rumos e rotas
Paisagens que vi pelas janelas, em todos meus deslocamentos.

Culturas que conheci
Templos que entrei
Arquiteturas que vi
Pontes que atravessei
Muralhas que adentrei
Ruas por onde andei;

Mares que naveguei
Odores e sabores que experimentei
Pores-do-sol dourados que assisti
Amanheceres de luz que vi
Gotas de chuva caídas em dias quentes de verão
Luas de prata e douradas suspensas com meus pensamentos distantes
Tons de outono
Sombras frondosas e folhas em matizes sépia
Horizontes cor de esmeralda
Céus estrelados de dois hemisférios;

Sons que escutei
Brisas que senti
Músicas que dancei
Brindes que fiz
Vinhos que amei
Livros que li;

Vistas de sonhos sendo construídos
Quadros e esculturas que apreciei
Pensamentos que arquitetei
Linhas que escrevi
Tramas que teci
Ligações que estabeleci
Sorrisos que distribui;

Desculpem-me todos…
Os erros que cometi.
Não tive tempo de acumular artigos

Estive todo tempo ocupada em Viver!…

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Perspectivas e Aplicações para Gestão de Conhecimento

Por: Eliana Rezende Bethancourt

O fascínio pelo Conhecimento é universal e atravessa épocas. É dele que se originaram inovações e invenções. Mudanças foram catalisadas e muitas delas revolucionaram sociedades inteiras. Isso não é diferente no mundo contemporâneo, em especial quando, aparentemente, delegamos à tecnologia tudo de bom ou ruim que nos possa acontecer.

É consenso no mundo corporativo que o Conhecimento é um ativo de valor e muito necessário para todo e qualquer ramo da atividade humana. Apesar disso, e de ser tão importante, porque gera tantas dúvidas? Porque  acaba sendo tão subutilizado e até desperdiçado? 

Talvez o caminho inicial de responder a tais perguntas esteja na opacidade de alguns conceitos que são caros ao conhecimento.
Vejamos:
É comum a confusão recorrente entre oferta e disponibilização de informação como sendo caminho direto para que haja Conhecimento. Imagina-se que tendo uma oferta abundante de informação o conhecimento torna-se mera consequência.
Entretanto, é preciso que isto fique muito claro: informação sem contexto ou sem ser transformada em experiência não é coisa alguma. Se acumulará de tal forma que poderá transformar-se em uma massa amorfa, sem importância ou valor.
Este talvez seja o erro mais comum que a maioria das pessoas comete, que é o de confundir dados, informação e conhecimento. Alguns os tomam como sinônimos e outros os confundem barbaramente. Para tanto, escrevi há algum tempo um post onde procurei esclarecer cada um deles. O artigo chama-se: “Dados, Informação e Conhecimento. O que são?”
É fundamental tal compreensão, pois sem isso estaremos andando em círculos e não chegando a lugar algum. 

Retomo aqui um pensamento que externei em um outro artigo que intitulei “Qual o Perfil do Gestor de Conhecimento?“, onde procurei deixar bem claro que:

“(….) me aflige a confusão que muitos fazem de gestão de conhecimento com ferramentas tecnológicas.

Não se lida com intangíveis com um pensamento que vem de forma binária.

Eu própria tenho minhas reservas até mesmo em relação ao termo “Gestão do Conhecimento”, e considero que em geral somos capazes de fato de gerir informação. Não há como gerir o que seja alheio ao indivíduo. Acho que prefiro a expressão “Gestão de Informação para a produção de Conhecimento. (…)”

Sob esta ótica, para que o trabalho de Gestão do Conhecimento aconteça é necessário a integração de vários profissionais que utilizem conceitos, modelos, métodos e métricas, desenvolvidas por várias disciplinas, compondo um crescente leque de conhecimentos que, passo a passo, formará as bases teórico-metodológicas de uma disciplina científica. Em geral, a Gestão de Conhecimento se bem feita terá como principio básico o sentido de reutilização, de retroalimentação, já que sempre se pautará naquilo que já preexiste. Nada surge do vácuo. Toda produção de conhecimento atual só existe porque alguém anteriormente pensou e lançou bases. 

Graficamente diria que a informação é matéria-prima para produção de conhecimento e que este em presença de criatividade pode gerar inovação. Esta, por sua vez produzirá mais conhecimento que necessitará ser registrado como informação.
Temos assim o circulo virtuoso da produção de conhecimento: Sob esta ótica, o conhecimento é, como dito acima fruto de reutilizações de saberes anteriores. Mas até para se utilizar as informações encontradas o indivíduo necessita saber fazer as perguntas certas. Necessitará de alguma experiência sobre o que será de valor para si e o que não lhe servirá. Por isso, minha imagem não começa com dados e sim com informações, pois estas já foram trabalhadas e reunidas de alguma forma. Está como dizemos, estruturada. A dispersão dos dados problematiza ainda mais as dificuldades para a produção de Conhecimento, já que seus registros não possuem um contexto e não estão estruturados de modo a fazer sentido. 

Da soma dos saberes desta integração fica claro que a tecnologia sozinha não tem potencial de produção de Conhecimento.
Assim, é o Conhecimento que gera inteligência organizacional, vantagem competitiva e valor. Não se trata apenas de gerir ativos de Conhecimento, mas também da gestão dos processos que atuam sobre tais ativos, o que inclui desenvolver, preservar, utilizar, reutilizar e compartilhar Conhecimento.

Em geral, diferentes instituições, e mesmo alguns profissionais (uns bem intencionados e outros nem tanto) “vendem” tecnologias como sendo sinônimo de Gestão de Conhecimento. Esquecem-se de que a tecnologia é apenas meio. NUNCA será um fim em si mesma e NUNCA fará coisas por si só. Por enquanto obedecerá formulários lógicos com pouca, ou alguma criatividade.

Delegar à ferramentas o que tem a ver com competências igualmente intangíveis, como o é a produção de Conhecimento, é um equívoco colossal. Uma instituição passa longe de poder gerir conhecimento. Muito menos qualquer pessoa (e isso, por mais bem intencionada que esteja!). Cabe ao ambiente organizacional e ao Gestor de Conhecimento oferecer condições adequadas para que a produção de Conhecimento se dê, através de estímulos, trocas e possibilidades interpessoais acima de tudo. Mas se o Conhecimento se dará e produzirá frutos ninguém pode garantir, já que tal produção é individual e intransferível.

Fazer circular a Informação no ambiente organizacional para que se produza Conhecimento e eventualmente Inovação, fortalece aspectos que vincam a cultura organizacional. Entender que o grande motor desta circulação é a generosidade do compartilhamento de saberes é um caminho interessante, apesar de ser lento e longo na opinião de gestores com pensamento binário. A generosidade do saber e o compartilhamento decorrente de experiências que podem gerar frutos: uma vela que acende outra não perde sua luz, numa citação de Thomas Jefferson. 

O papel da Gestão de Conhecimento é exatamente oferecer ambientes favoráveis para que as pessoas estejam estimuladas a compartilhar, dar ideias, inovar, trabalhar em equipe e resolver problemas de forma colaborativa. É portanto, uma grande fonte de contribuição para a inovação e produção de conhecimento dentro de uma organização.

Sem este universo em mente, não há ferramentas tecnológicas que possam fazer algo pela instituição.

Esta forma de pensar a Gestão de Conhecimento no ambiente organizacional está muito atrelada à forma como lido com a Memória Institucional e a forma como esta é meio para valorizar o Capital Intelectual nas organizações. Aqui está o link fundamental entre o conhecimento tácito e implícito e a roda que faz girar a inovação ao mesmo tempo em que fortalece e vinca a cultura e identidade de uma instituição. Perceber esta costura fina é fundamental e está longe de poder ser relegada a mera aplicação e usos de ferramentas.
Fazer isso é subutilizar o que é verdadeiro patrimônio e valor dentro das organizações.


É preciso lembrar e ter sempre em mente que compartilhar conhecimento nas organizações, ele:

  1. Não diminui;
  2. Se multiplica
  3. Cria Inovação capaz de gerar ainda mais conhecimento;
  4. É validado em todas às sua expressões, ou seja, pode ser utilizado desde a alta gerência até o chão de fábrica.

Como podemos ajudar?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para auxiliá-lo na melhor configuração de um Projeto de Gestão de Informação com vistas à Gestão de Conhecimento.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer.
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Arquitetura tumular: a cidade dos mortos no mundo dos vivos

Por: Eliana Rezende Bethancourt

Há muitas formas de visitar a morte.
Às vezes, a visitamos pela experiência sofrida assistindo a debilidade que avança, os dias que chegam ou o convívio com uma sentença de morte provocada por uma doença sem cura, ou um acidente que ceifa vidas e planos.
A experiência sentida para todos estes casos é a da perda ou dor. Paira sobre nossas mentes e nos faz saber que, mesmo em sua ausência, sua presença pode ser constante enquanto não chegar.
Seu lugar em nossas vidas está também nos espaços que ocupa. Espaços simbólicos, emocionais ou físicos, não importam. Os tempos e espaços destinados para a morte em nossas vidas ocupam nossos corpos, mentes e até mesmo lugares específicos para seu culto/lembrança.

Dentre os lugares de morte o cemitério talvez seja o de maior representatividade no mundo. E aqui, independente de culturas ocidentais ou orientais é um espaço do Sagrado e de reverência ao que ele guarda. 

Os cemitérios são exatamente o local, e a cidade dos mortos, no mundo dos vivos. 
Representam esta cidade que está calada e desenhada, porém viva como um recado, uma lembrança, um alerta. É arquitetura esquadrinhada, que possui seus lugares e hierarquias e até mesmo imposição de posições sociais, prestígio, status e valores que podem ser observados através de todo um conjunto de símbolos que chamamos de arquitetura tumular. Exemplos não faltam de elementos desta arquitetura de vivos para o mundos dos mortos, e neste ponto apresento alguns destes elementos que utilizamos como estudo na área que denominamos em História de Cultura Material.
Os jazigos, seus túmulos e toda a referência mobiliária e de objetos prestam-se a um excelente meio de análise e abordagem de um tempo: oferecem ao pesquisador referências interessantíssimas e muitas vezes ausentes em outros tipos de fontes como: nomes, datas de nascimento e morte, preferências sociais, culturais e relações familiares trazidas por meio de dedicatórias e despedidas onde os nomes e laços de parentescos ficam expostos.
Convertem-se em acervos “vivos” da Memória de um tempo e das vidas de seus ocupantes, os seus laços e suas relações.

Há todo um conjunto de signos iconológicos que favorecem a interpretação sobre o período de sua produção e em qual contexto social e cultural foi utilizado como representação. Em tempos mais recentes as fotografias surgem como outro elemento carregando mais informações sobre o morto. Sua fisionomia, e em alguns casos, sua sisudez ou sorriso nos desafiam o olhar. Fixados num determinado espaço/tempo nos dirigem o olhar,  nos inquirem… Recortados em um contexto são imagem cristalizada de um projeto que se interrompeu. A imagem, por excluir a morte, é carregada de vida e energia. Talvez por isso, tenhamos a empatia do olhar que se comunica e troca. É impossível não pensar sobre aquele rosto, a história que tinha e como chegou ali: alguns muito cedo, outros após uma existência plena com cônjuges, filhos, netos e até bisnetos.
Englobam-se no que chamamos arquitetura tumular a arte representada pelas esculturas que ornamentam os túmulos. Representam visões de mundo de um tempo, de uma sociedade, de grupos familiares e pessoas, fornecem elementos caros à construção de uma memória de si e do seu entorno social. Um conjunto rico, e muitas vezes valiosíssimo de expressão artística, fazendo muitos cemitérios ter programas de visitas guiadas por seus túmulos para amantes desta arte ou para acadêmicos de diferentes áreas.

Muito interessante entender que os cemitérios, tal como as cidades tem uma história de implantação e definição tanto estética quanto dos seu lugares e limites no tecido urbano. Não surgem espontaneamente, e são sim fruto de um projeto social para estar inserido no mundo dos vivos.

Por isso, é preciso entender as circunstância em que os cemitérios foram se secularizando. O espaço destinado aos mortos era sempre um local de proximidade: eram colocados, por exemplo, nos terrenos em volta das casas, ou nos espaços considerados sagrados das igrejas e seu entorno. Isso propiciava a proximidade e alguma privacidade a estes corpos abandonados pela vida, ceifados por diferentes motivos. A secularização dos cemitérios levou estes corpos a compor um outro espaço só que desta feita coletivo. Os mortos seguem assim um destino comum reservado a todos e longe das casas e seus quintais que os abrigaram por toda vida. Neste local, o espaço da morte é definido e demarcado para estar nas bordas das cidades e a partir de uma concepção higienista de sociedade, onde a doença e a morte precisam ser isoladas e retiradas do convívio familiar. Experimentar a doença e morte deixa de ser um ato corriqueiro e familiar (algo que até então era usual e costumeiro) e começa a possuir espaços definidos para isolar, cuidar e quando não for mais possível, enterrar. A doença, a dor e a morte eram assim levadas para outros territórios. São territórios da morte.

Os túmulos de uma mulher católica e seu marido protestante, que não puderam ser enterrados juntos devido aos regulamentos do cemitério. Eles morreram na década de 1880.
Nota: as mãos segurando sobre a parede divisória. Localizada em Roermond, Holanda.
Por: Lindsey Fitzharris

Uma cidade aprisionada
A sociedade deste período (e falamos em algo a partir do século XVII e XVIII, com maior incidência a partir do século XIX) passa a ter diferentes instituições que procuravam isolar, controlar e disciplinar. É deste período que vemos o surgimentos de instituições como quartéis, conventos, escolas, manicômios, hospitais e porque não cemitérios?! A lógica para todos os casos é sempre a mesma: murar, cercar e facilitar a vigilância fornecendo espaços esquadrinhados, milimetricamente individualizados, entradas e saídas quase que exclusivas e horários rígidos para trânsito e permanência. A individualidade garantida é a do próprio corpo que ocupa celas, cadeiras, camas ou para nosso caso, o jazigo, a sepultura.

Para os cemitérios, a ordem de fechamento, que se mantém até os dias de hoje, revela a nítida separação entre o simbólico: Luz e Sombras, que remete ao perigo das almas que habitam o “mundo subterrâneo e escondido das profundezas”. Não devendo por isso, comunicar-se com o mundo dos vivos no período onde reinam as Trevas.

Esta cidade dos mortos a que nos referimos acima recebe dos vivos, em seus primeiros séculos, consideráveis investimentos: a morte e os sentimentos em relação a ela precisavam ser mostrados por meio de mausoléus ricos em detalhes, com muitos acessórios e peças vindas da Europa. Artistas, escultores e artífices da morte eram contratados para entalhar detalhes de vida e personalidade do morto em pedras, mármores, granitos. materiais que pela dureza e durabilidade remetiam à Eternidade, Permanência, Presença do Ausente.

À medida que a sociedade sofre a perda do poder aquisitivo, os túmulos deixam de ser locais de ostentação e a arquitetura tumular parece empobrecer. É o período de popularização de cruzes, sem a riqueza escatológica de períodos anteriores. A cor predominante continuava sendo o branco. Mas o investimento na morte se reduz enormemente.

Em períodos de maior opulência, como entre os anos 1900 e 1930 no Brasil, a morte passa a ser vista como um grande espetáculo e momento onde se pode mostrar a força e o poder.

Com isso toda uma produção artística atende esta população endinheirada e opulenta das cidades que se metropolizam. As cruzes passam a ser paulatinamente substituídas por crucifixos.
Tal como a cidade extra-muros, não há homogeneidade entre seus ocupantes. Riqueza e poder possuem elementos explícitos de ostentação. Daí a riqueza que estes elementos oferecem como território de análise para construções mentais, sociais e culturais. É um território de representações, sem dúvida! Mas tais construções iam além: os cemitérios podiam segregar não apenas por seu mobiliário e posição social. Desde o passado remoto, os mortos poderiam ser incluídos ou excluídos a partir de seus dotes ou preferências espirituais. Quanto mais considerados próximos da Divindade mais próximos poderiam ser enterrados dos templos e locais de adoração. Em tempos mais recentes os cemitérios criaram a segregação religiosa. E assim protestantes não podiam ser enterrados em cemitérios cristãos, suicidas não podiam ser enterrados em solo cristão, nem mulçumanos em cemitérios não-mulçumanos e assim sucessivamente. A morte e seus corpos carregavam o estigma espiritual de suas opções e escolhas feitas em vida. 

Ter em mente todos os elementos citados acima não significa esquecer-se de outras dimensões.
Passear por suas Alamedas propicia um silêncio e um contato com o tempo de histórias que já se foram, personagens petrificados em sorrisos de fotografias, em frases nas placas com datas, locais de nascimento, dedicatórias, epitáfios ou mesmo frases avulsas que sintetizam  pensamentos e ideias dos que foram ou dos que ficam. A comunicação entre vivos com seus mortos e dos mortos por meio de seus epitáfios são gravados em pedras e materiais de longa resistência como mármores, granitos. São assim um convite à permanência e resistência ao tempo e intempéries. Afinal ali estarão, imóveis… colocadas para resistir às muitas estações e gerações. Só farão sentido se assim forem e se assim conseguirem se manter frente à passagem do tempo por elas.

Estes escritos são, portanto, o registro do Tempo. São um mergulho de alma que nos remete a vidas que se passaram e relações que se entrelaçaram. Vínculos expostos publicamente num gesto final que pretende ser de resistência ao esquecimento.  Este território da morte perdido na cidade dos vivos é um território de transição: local de saudades de lembranças, abandonos, vidas que se deixam, vidas que permanecem.  Esta transitoriedade presente e calada nos faz pensar sobre permanência e imanência, e mostram a relação que seres humanos possuem entre si e com a sua representação de seus medos, suas inseguranças, esperanças e até fé.
Inevitável não pensar em alguns casos como o abandono chega e avança: delapidação, vandalismo, esquecimento, estão presentes em muitos destes locais.

Em outros lugares, ao contrário, somos levados a observar o cuidado com a lembrança personificada pela presença viva de flores e plantas. Afinal, estas servem para nos fazer lembrar que a vida possui seus ritmos, obedecem estações e estão em meio a esse tempo passado.

Os cemitérios, tanto como as cidades, envelhecem e até morrem. Deixam de ser territórios de lembrança, culto e devoção. Vencidos pelo tempo, muitos apenas deixam de existir. Outros, tal como muitas cidades ganham robustez com a passagem do tempo por meio dos personagens que ali tem seu destino final. Oferecem a todos o testemunho de um outro tempo e seguem sendo uma cidade de mortos no mundo dos vivos.
Paradoxal portanto, que este mergulho nesta cidade dos mortos, revela o quanto de vida pulsante existe em suas ruelas, quadras, muros e extra-muros. 

Os Mortos e o Luto em Tempos de Pandemia

Não poderia deixar de abordar o tratamento dado a morte e seus corpos em tempos de pandemia. 

A Pandemia de COVID19 trouxe ao mundo uma outra relação com todos os ritos relacionados aos mortos e seus parentes: desde os processos de isolamento no período crítico de internação, até sepultamentos sem velórios acompanhado por apenas uma ou duas pessoas. A experiência do luto deixa de ser restrito a um grupo familiar e ser compartilhado por cidades, países, continentes. A vivência da doença e morte é levada ao paciente como experiência solitária. A morte e sua materialização ocorrem em valas comuns ou sepulturas que se espalham pelos cemitérios aguardando caminhões frigoríficos e filas intermináveis de carros funerários. A morte ganha um status de linha de produção com excedentes de corpos insepultos.  Os corpos perdem o direito dos seus ritos: procedimentos de tanatopraxia (lavagem e preparo do corpo para o rito fúnebre) por exemplo, deixam de ser feitos. Os corpos possuem terão que passar por procedimentos de limpeza com produtos adequados, são embalados em plásticos com zíper e entregues para sepultamento em um caixão lacrado. Sem velórios, os corpos seguem para o sepultamento ou cremação acompanhados por no máximo quatro pessoas.
As despedidas comuns aos entes queridos deixam de ser possíveis, e em muito casos a pessoa que entra no hospital para isolamento nunca mais retornará. 

O Brasil, apesar de todo o negacionismo em relação às mortes, teve cemitérios lotados, covas rasas, retroescavadeiras, caminhões frigoríficos e até valas comuns! Tudo revelando a forma como a doença inesperada escancarou despreparos, desrespeitos e alguma negligência por parte de autoridades. Afinal, a cidade dos mortos pobres nas cidades dos vivos, significa invisibilidade constante. Os cemitérios apenas existem nas áreas periféricas para dar destino aos corpos que abandonam a vida por doenças e mortes violentas. Não cumprem uma função social de conforto, mas mais uma vez de exclusão e silêncio.  

Exemplar destas cenas são rapidamente localizadas, mas creio que dois cemitérios representaram muito bem o que foi a invasão de um inimigo oculto na vida das cidades. O cemitério de Manaus nos ofereceu cenas que serão icônicas do que significa improvisação e um estado acéfalo: valas comuns e retroescavadeiras.

Outro exemplo as imagens aérea do maior cemitério de São Paulo (Vila Formosa) com covas abertas antecipadamente aguardando seus mortos, que chegavam em filas de carros fúnebres. 
Sem ritos, túmulos ou cerimônias e despedidas, as cruzes brancas com números identificam os mortos em valas estreitas e rasas. Uma explosão demográfica na cidade dos mortos: crescimento desordenado, sem planejamento, vias de acesso ou quadras…

O espaço, que em uma configuração planejada seria de uma determinada dimensão tem as sepulturas delimitadas por madeiras para separar o espaço mínimo entre os corpos e sua urna. Tal a quantidade de corpos perfilados.  

O tempo ainda nos mostrará com maior amplitude as cicatrizes nos tecidos destes solos, sagrados para alguns, e suas consequências na forma de entender este processo de mortes coletivas e a lida com o luto. De concreto temos é um novo espaço criado pela pandemia nas áreas periféricas de todas as cidades: um espaço que não mais apresenta uma arquitetura tumular, mas simplesmente caminhos perfilados de caixões, justapostos lado-a-lado. 

A desigualdade se manterá entre ricos e pobres, já que para o caso dos endinheirados seus corpos serão depositados em seus mausoléus e túmulos de família. A escrita da pandemia nos cemitérios da cidade deixará seu desenho de exclusão e indiferença muito bem marcados. 
Não concluo, pois há uma pandemia em ação. Os corpos que deixa atrás de si contam trechos de muitas histórias. 

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Rezende, Eliana Almeida de Souza.  “Os historiadores e suas fontes em tempos de Web 2.0“. Publicado nos Cadernos do CEOM, ‘Documentos: da produção à historicidade”, Capa > v. 25, n. 36, Editora Argos, Chapecó, 20 (acessado em 01/11/2020)
Rezende, Eliana Almeida de Souza. “Ventres urbanos: cidades e sanitarismo“. Revista Ler História. Dossiê Guerras Civis, Lisboa. n. 51, 2006. pp 135-165 (acessado em 01/11/2020).
Rezende, Eliana Almeida de Souza. “Construindo imagens, fazendo clichês: fotógrafos pela cidade” (acessado em 01/11/2020)

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